“Harder, Better, Faster, Stronger”, por Pedro Miguel Silva (Deloitte)
“Nas empresas até do consumidor se tem medo, assim como do poder que um pequeno dispositivo lhe dá. O poder de, em qualquer lado e em qualquer momento, consultar e partilhar informação, comparar ofertas e preços, pedir opiniões e dar a sua”
Rita Gonçalves
El Corte Inglés ilumina-se de azul para sensibilizar importância da luta contra o Cancro da Próstata
Quinta da Vacaria investe na produção de azeite biológico
Grupo Rotom reforça presença no Reino Unido com aquisição da Kingsbury Pallets
Diogo Costa: “Estamos sempre atentos às necessidades e preferências dos nossos consumidores”
Staples une-se à EDP e dá passo importante na descarbonização de toda a sua cadeia de valor
CTT prepara peak season com reforço da capacidade da operação
Já são conhecidos os três projetos vencedores do Prémio TransforMAR
Campolide recebe a terceira loja My Auchan Saúde e Bem-Estar
Montiqueijo renova Selo da Igualdade Salarial
Sensodyne com novidades nos seus dentífricos mais populares
Por Pedro Miguel Silva, Associate Partner da Deloitte
“Para mim este é um momento de angústia. Em toda a minha vida adulta eu acreditei na união destes dois territórios. Somos um povo unido por geografia, economia e família”. A 9 de Agosto de 1965 Lee Kuan Yew, primeiro-ministro e “pai” do estado moderno de Singapura, resistia às lágrimas enquanto discursava perante a nação após a expulsão do seu país da Federação da Malásia.
Foi um golpe severo nas ambições da cidade-estado, com uma população à data inferior a 2 milhões de pessoas, e que via na união à Malásia, com cinco vezes a sua população, a única via para se manter autónoma e sustentável economicamente fora do Império Britânico. Mas o país não paralisou com a deceção e o medo do futuro. Tornou-se o maior caso de sucesso de desenvolvimento económico dos últimos 50 anos e é hoje o segundo país do mundo em liberdade económica, terceiro em PIB per capita e competitividade e sétimo em inovação.
Pode-se argumentar que, tal como a Suíça antes ou o Dubai depois, Singapura beneficiou significativamente do seu contexto geográfico e demográfico para se tornar um entreposto comercial e financeiro das economias vizinhas e mais povoadas e captar uma fatia superior ao seu “fair share” do crescimento económico ocorrido em toda a região. Mas também será razoável afirmar que o mesmo não teria acontecido se o país e as suas elites não tivessem tido o engenho para definir um novo rumo e a organização para o navegar através da incerteza.
E que tempos incertos vivemos todos hoje, em Portugal como em França, no Brasil, em Angola, na Rússia, China ou EUA. Parece que em qualquer parte do mundo se vive com medo de algo, seja do desemprego, do terrorismo, da guerra ou do próprio governo. Nas empresas até do consumidor se tem medo, assim como do poder que um pequeno dispositivo lhe dá. O poder de, em qualquer lado e em qualquer momento, consultar e partilhar informação, comparar ofertas e preços, pedir opiniões e dar a sua.
Navegar um mundo tão VUCA (volatile, uncertain, complex and ambiguous) requer competências que nos é difícil adquirir, em particular aos que se encontram numa fase mais avançada da vida. Já não vamos ser estatísticos, geneticistas ou engenheiros de sistemas: estas “profissões do futuro” falam uma língua que não entendemos, mas são elas que nos explicam o que se passa hoje no mundo e o que será o amanhã. É natural ter medo desse futuro em que o consumidor é diferente e não entendemos os tradutores que o tentam entender. Também nascemos há demasiado tempo para ser “nativos digitais”, mantendo-nos presos a uma mente pelo menos ainda parcialmente analógica. É natural sentirmos que não conseguimos aprender novas linguagens.
Resta-nos a humildade para reconhecermos as nossas limitações, a motivação para as ultrapassar e a certeza de que não vamos conseguir fazê-lo se o medo nos paralizar. Nas palavras imortais dos Daft Punk, todos temos de nos tornar um pouco “harder, better, faster, stronger”.
– Harder no esforço e na perseverança. Um país, como Singapura, uma empresa ou um empreendedor só fracassa no dia em que paraliza e deixa de tentar.
– Better perante a sociedade. A nossa responsabilidade social não se mede hoje só pelo que fazemos menos ou de todo (poluir, explorar colaboradores ou espremer fornecedores) mas também pelo que fazemos ativamente para tornar este um mundo melhor.
-Faster a abraçar a inovação e a mudança, acolhendo-as com o mesmo entusiasmo e alegria com que vemos os nossos filhos a crescer. Temos que construir e testar rapidamente as nossas ideias: quanto menos arriscarmos mais o mundo nos vai continuar a assustar.
– Stronger nas relações que criamos com colegas, parceiros e, sobretudo, consumidores. Num mundo saturado de sons e ecrãs não se cativam mentes com descontos ou promoções, antes com inspiração e autenticidade. Não é a tecnologia, é a relação. As pessoas recordam-se dos anúncios de Natal da John Lewis (ou, este ano, do da Edeka) porque os associam a eventos ou pessoas relevantes na sua vida. Quantos se lembrarão das últimas campanhas de brinquedos ou promoções em cartão?
Falando da John Lewis, atente-se à seguinte frase do seu CEO, Andy Street, proferida numa altura em que 35% das suas vendas são já realizadas online: “a nossa missão é dar ao consumidor a melhor seleção possível de produtos no melhor ambiente possível de compra assistido pelos melhores colaboradores que nos é possível formar. Eu deitaria toda a tecnologia ao lixo se conseguisse estar totalmente seguro que conseguimos cumprir sempre e de forma consistente nessas três vertentes”.
Inspirador. Autêntico.