As declarações de colheita e produção da campanha 2024/2025 totalizam 6,9 milhões de hectolitros, representando um decréscimo de 8% face a 2023/2024, revela o Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) numa nota publicada este mês. Na campanha anterior, foram produzidos 7.542 milhões de hectolitros de vinho em Portugal.
De referir que as previsões do IVV, publicadas a 30 de julho de 2024, já apontavam para este cenário, com uma estimava uma quebra de 8% na colheita, relativamente à anterior campanha. Em relação à média das cinco campanhas anteriores, houve uma redução de 0,1% na produção.
Quebras acima dos 20% em 5 regiões
Na generalidade, as produções por região vitivinícola registaram um decréscimo comparativamente à campanha anterior. As maiores quebras foram sentidas nas regiões dos Açores, da Bairrada, do Dão, da Península de Setúbal e de Lisboa, tendo sido superiores a 20%.
Na campanha 2024/2025, a região vitivinícola dos Açores produziu cerca de 4 mil hectolitros de vinho, segundo o IVV, uma quebra de 54% em relação à campanha anterior. Na Bairrada a quebra foi de 30%, o dobro do previsto pelo IVV em julho. A região produziu 175 mil hectolitros na atual campanha, contra os 251 mil produzidos em 2023/2024.
A região do Dão viu a produção cair 24%, para 214 mil hectolitros de vinho (foram 281 mil em 2023/2024). A previsão inicial apontava para uma quebra de 15%, com o míldio, “apesar dos tratamentos efetuados”, a provocar alguns prejuízos, indicava o IVV na nota de julho.
Também na Península de Setúbal a quebra ultrapassou os 20%. A região produziu 454 mil hectolitros na campanha 2024/2025, quando na anterior tinha registado 590 hectolitros, o que corresponde a uma diminuição de produção na ordem dos 23%. Na região vitivinícola de Lisboa a quebra foi de 21%. Foram produzidos 1.212 milhões de hectolitros na atual campanha, quando na anterior a produção chegou aos 1.539 milhões de hectolitros.
Quebras menos acentuadas em 4 regiões
Nas regiões produtoras de Trás-os-Montes, Tejo, Alentejo e Madeira, as quebras ficaram abaixo dos 20%.
Na nota divulgada em julho, sobre a estimativa de colheita, o IVV previa um aumento de produção de 8% na região de Trás-os-Montes, que acabou por não se concretizar. Porém, a quebra foi baixa: 1% (correspondente a 99 mil hectolitros de vinho) em relação à campanha de 2023/2024 (101 mil hectolitros).
No Alentejo, onde o IVV previa um decréscimo de 10%, a quebra foi de 8% em relação ao ano anterior – 1.133 milhões de hectolitros contra 1.233 milhões em 2023/2024. A região vitivinícola da Madeira registou uma quebra de 13%, indica o IVV (dados previsionais), em linha com a previsão de julho, que apontava para uma redução de 14% na produção de vinho em relação ao ano anterior.
Por último, na região do Tejo, a previsão inicial do Instituto da Vinha e do Vinho era de uma quebra de 5%. “Perspetivava-se uma produção superior à do ano passado, mas os fortes ataques de míldio travaram essa estimativa”, referia o IVV na nota de julho último. Mas a quebra acabou por ser maior, na ordem dos 14%, correspondente a uma produção de 651 mil hectolitros de vinho (foram 760 mil hectolitros na campanha anterior).
Regiões com mais produção
Entretanto, a quebra não foi sentida em todas as regiões e houve, inclusive, duas, que contrariaram as previsões iniciais. Nas regiões do Algarve e da Beira Interior “registaram-se aumentos de produção, face a 2023/2024, superiores a 20%”, avança o IVV.
No Algarve a subida foi de 27%, para 21 mil hectolitros de vinho (foram 17 mil hectolitros em 2023/2024), muito acima da estimativa de “uma campanha com um aumento de 7%”, apontada pelo IVV em julho, “impulsionado pela entrada em produção de novas vinhas com uva de qualidade e boa maturação”, avançava. O Instituto referia ainda a rega localizada e a precipitação ocorrida na primavera como fatores que beneficiaram o desenvolvimento das videiras.
Já na região da Beira Interior, onde as previsões iniciais apontavam para um crescimento de 15%, a produção aumentou 21% em relação à campanha anterior: 225 mil hectolitros de vinho (186 mil hectolitros em 2023/2024).
Também na região de Távora-Varosa a produção ficou acima das previsões iniciais do IVV, que indicavam ser “semelhante à campanha passada”. A campanha 2024/2025 acabou por se traduzir num aumento de 16% em relação à anterior, para 61 mil hectolitros de vinho (52 mil em 2023/2024).
Verdes e Douro contrariam tendências
As regiões dos Verdes e do Douro acabaram mesmo por contrariar as previsões iniciais e a tendência de quebra global na produção.
Nas previsões de julho, o IVV referia que para a região vitivinícola dos Vinhos Verdes era esperada uma quebra na produção de 5%, fruto “do aumento das temperaturas médias e precipitação, face a 2023”, que favoreceriam “o desenvolvimento vegetativo, mas aumentaram a incidência de míldio e Black Rot”. Mas a região acabou por registar uma subida de 10%, para uma produção de 1.015 milhões de hectolitros (na campanha de 2023/2024 foram 924 mil hectolitros).
Já no Douro, apesar de terem ficado parcelas e hectares de vinha por vindimar, fruto do excesso de produção em relação à procura, a produção aumentou 5% em 2024/2025.
Segundo o Instituto dos Vinhos do Porto e Douro (IVDP) nesta vindima, 237 parcelas não foram vindimadas ou foram parcialmente vindimadas, com a área de vinha não vindimada a corresponder a 117,4 hectares, ou seja 0,29 % da área de vinha DOP (Denominação de Origem Protegida) da Região Demarcada do Douro.
Mas o resultado da campanha 2024/2025 acabou por saldar-se por um aumento de produção: foram 1.632 milhões de hectolitros de vinho, contra os 1.562 produzidos na campanha anterior.
DOP e IGP dominam a produção
No global do país, as produções declaradas como aptas a Denominação de Origem Protegida (DOP) e Indicação Geográfica Protegida (IGP) continuam dominantes, “atingindo nesta campanha 91% da produção nacional”, revela ainda o IVV.
E em linha com o que tem ocorrido nos últimos anos, predomina a produção de vinhos tintos, representando 57% do total. “O volume dos vinhos brancos, ligeiramente acima dos 2,5 milhões de hectolitros, tem um peso de 36% na produção nacional e os vinhos rosados de 7%”, indica ainda o Instituto que aponta entre os fatores que contribuíram para o decréscimo global na produção, a instabilidade meteorológica durante o ciclo vegetativo da videira, “que favoreceu o surgimento de doenças, com especial incidência do míldio”.