Crise faz disparar furtos
O índice de roubos no retalho sofreu uma reviravolta no ano passado. A crise está a contribuir para o “aumento exponencial” de furtos em estabelecimentos comerciais e de serviços, revela a CCP
Rita Gonçalves
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Os furtos de produtos nas lojas é uma das principais dores de cabeça dos retalhistas. O investimento em tecnologia e equipamentos anti-furto por parte dos lojistas tem permitido, desde 2004, diminuir o impacto dos roubos nas receitas das empresas de retalho mas no ano passado o índice das quebras sofreu uma reviravolta.
Os dados mais recentes sobre o nosso País dizem respeito ao período de Julho de 2010 a Junho de 2011. Segundo o Barómetro Global de Furto no Retalho, as quebras desconhecidas, que inclui o furto em lojas, por empregados e clientes, a fraude com origem nos fornecedores e os erros administrativos, aumentaram 7,3% no nosso País e custaram aos retalhistas nacionais 372 milhões de euros, ou seja 1,33% das vendas acumuladas do sector.
“O furto por parte de clientes, que inclui o pequeno furto mas também o furto organizado, continua a ser a principal causa da perda desconhecida em Portugal, com uma ligeira subida, ao atingir um índice de 48,9%”, revela ao Hipersuper Iván Baquero, director comercial para Espanha e Portugal da Checkpoint Systems.
A crise e os roubos
“O aumento da quebra desconhecida está certamente relacionado com a crescente degradação das condições de trabalho, o desemprego, a perda do poder de compra e consequente degradação social. Existe uma cultura instalada e tendente de pagar salários baixos que em consequência criam dificuldades nos orçamentos familiares e motivam o pequeno furto para compensar a cada vez menor capacidade financeira das famílias”, defende, por sua vez, António Bicho, director comercial da Maxicofre.
A relação entre o aumento dos roubos no retalho e a crise não é estabelecida apenas pelos empresários. A Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), em carta recentemente dirigida à ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, afirma que o cenário de crise que se vive em portugal “tem traduzido um aumento exponencial de furtos em estabelecimentos comerciais e de serviços” (ver caixa).
Os funcionários das empresas ocupam a segunda posição da lista de responsabilidade em matéria de perda desconhecida. “O furto interno, proveniente dos empregados representa uma taxa de 28,4%, os erros internos 16,2% e os fornecedores 6,5%”, revela o director comercial da Checkpoint.
Apesar de o furto estar a crescer nas lojas portuguesas, Nuno Figueiredo, sales manager da UTC Fire&Security, ressalva que Portugal continua a ser um dos países “com índices de perda desconhecida mais baixa da Europa, evidenciando algum esforço dos retalhistas, a operar no mercado nacional, no investimento em sistemas de prevenção e na elaboração de estratégias de dissuasão”.
O director comercial da Maxicofre, por outro lado, defende que os “empresários portugueses, graças a modelos de gestão economicistas, têm sido pouco sensíveis a esta temática e desinvestiram em soluções para mitigar este problema”.
Os produtos de elevado valor económico e de pequena dimensão costumavam ser os preferidos dos larápios. Produtos de barbear, perfumes, roupa e acessórios, são alguns exemplos. Mas, a lista de artigos de artigos mais susceptíveis de roubo está a aumentar. “Tendencialmente roubam-se artigos de luxo e tecnológicos e observa-se agora alguma evolução para os bens de primeira necessidade. Embora de baixo custo, são a única forma de uma franja de consumidores, infelizmente, cada vez maior, fazer face às necessidades de primeira instância”, revela António Bicho.
A redução do lucro é uma das principais consequências do aumento da quebra desconhecida. “Uma redução de 1% na retracção significa praticamente um aumento de 1% nos lucros da empresa”.
Embora o aumento dos roubos tenha ainda impacto no ambiente da empresa, como explica o sales manager da UTC. “O aumento da quebra é gerador de mau ambiente interno e externo, dado que 35% dos desvios são internos e as medidas a adoptar podem gerar mal-estar em termos de gestão de recursos humanos. Por outro lado, o clima de suspeição levado ao extremo pode criar conflitos com os clientes”.
O investimento dos retalhistas em soluções anti-furto cifrou-se em 98 milhões de euros entre Julho de 2010 a Junho de 2011, segundo Barómetro Global de Furto no Retalho. “Em Portugal, os crimes de custos com o retalho atingiram 410 milhões de euros, dos quais 312 milhões correspondem a crimes por furto e 98 milhões ao investimento efectuado em soluções anti-furto”, lembra Iván Baquero.
De acordo com Nuno Figueiredo, apesar de não ser conhecida a evolução do investimento em tecnologia para combater a quebra desconhecida, é provável que tenha diminuido, dado que “o investimento baixou em termos gerais em Portugal em todas as indústrias. Não nos supreende que o mesmo tenha sucedido nesta área e que algumas das opções tomadas tenham sido implementadas baseadas ‘no mal menor’ em detrimento da eficácia”.
O Futuro
Os empresários ouvidos pelo Hipersuper não têm dúvidas: a crise económica tenderá a agravar os furtos. “Face à condição económica, presume-se que a quebra se venha a acentuar, eventualmente, nos produtos de maior valor comercial e nos bens alimentares”, sublinha o responsável da UTC.
Por sua vez, o director comercial da Checkpoint, prevê que, devido à situação económica em Portugal, “os retalhistas invistam de forma mais eficaz em soluções que possam capitalizar rapidamente o investimento, concentrando-se em proteger acessórios com valor mais elevado e com elevado risco de roubo. Os retalhistas deparam-se com um tipo de roubo mais sofisticado, tanto a nível do furto por impulso como no crime organizado. Por isso, tendem a proteger-se com as últimas tecnologias, como detectores de metais e sistemas anti-furto que forneçam informações para uma boa gestão da quebra”.
A procura de dados e informação para aumentar o conhecimento, a aposta na formação dos recursos humanos e na inovação, assim como o investimento em políticas integradas e coordenadas de segurança, são, segundo Nuno Figueiredo, os principais desafios que os retalhistas enfrentam para fazer face à quebra desconhecida.
Para António Bicho, um dos principais desafios é fazer chegar a modernização dos sistemas de segurança e prevenção a todos os operadores do comércio tradicional. “Existe um segmento económico mais tradicional e de proximidade com algum atraso mas que já entendeu que para sobreviver é imperativo acompanhar o ritmo da concorrência e adoptar as mesmas medidas e processos”.