Portugal produziu mais vinho e mais azeite em 2023
Portugal registou em 2022/2023 a maior produção de vinho desde 2001 e a segunda campanha oleícola mais produtiva de sempre.
Ana Grácio Pinto
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O ano agrícola 2022/2023 em Portugal foi o mais quente desde que há registos sistemáticos, que começaram no ano agrícola 1931/1932. A produção de maçã foi igual à de 2022, a de pera e de cereja decresceram, enquanto a dos cereais para grão registou a piro campanha de sempre. Também diminuíram as produções de Kiwi, de castanha e de citrinos, excetuando-se a de limão. Em contrapartida, cresceram a produção de arroz, de vinho – que aumentou em quase todas as regiões, e de azeite.
Estes são alguns dos dados das Estatísticas Agrícolas 2023, que o Instituto Nacional de Estatística revelou nesta terça-feira.
Ainda em relação ao tempo, os dados do INE sublinham que dos nove anos agrícolas que registaram temperaturas médias superiores a 16°C, cinco aconteceram na última década. “O ano agrícola registou uma precipitação total de 947,8mm (superior em 103,5mm à normal 1981-2010), classificando-se como chuvoso. No entanto, a primavera de 2023 foi a segunda mais seca desde 1931 (atrás da primavera de 2009, com 96,3mm) e a mais quente deste século”, revela o documento.
A boa notícia foi que a precipitação acumulada no outono/inverno possibilitou alguma recuperação dos níveis de armazenamento das albufeiras e regadios privados, permitindo que a campanha de regadio decorresse com normalidade.
Os recordes no vinho e no azeite…
O INE confirmou que, no ano passado, a produção de vinho aumentou em quase todas as regiões, atingindo os 7,4 milhões de hectolitros: foi o valor mais elevado desde 2001. Outro número positivo chegou da produção de azeite, que ultrapassou os 1,75 milhões de hectolitros (160,8 mil toneladas). Foi a segunda campanha oleícola mais produtiva de sempre, mas o elevado teor de humidade das azeitonas “dificultou a extração de azeite, o que resultou numa funda menor”, indica o relatório.
Os dados divulgados esta terça-feira referem ainda qie apesar de dificuldades pontuais de escoamento e armazenamento do milho para grão, devido à concentração das colheitas antes das chuvas, houve um aumento de produção de 7%, face a 2022.
A produção de arroz subiu 15% devido aos aumentos de área e, principalmente, de produtividade, e de tomate ascendeu a 1,69 milhões de toneladas (+19%), posicionando esta campanha como a segunda mais produtiva. A área de tomate para a indústria foi de 17,2 mil hectares (+13%) do que em 2022.
O relatório sobre o ano agrícola 2022/202 revela também que em 2023, a superfície ardida em Portugal correspondeu a 34,5 mil hectares no Continente e 5,2 mil hectares na Região Autónoma da Madeira, o que posiciona 2023 como o terceiro ano menos severo da última década.
… e as quebras na produção
As temperaturas altas influenciaram a campanha dos cereais para grão de outono/inverno 2022/23, muito marcada pela seca severa da primavera. Como resultado, foi a pior de sempre para todas as espécies cerealíferas, resultado dos decréscimos de áreas, exceto cevada, e de produtividades.
Pelo segundo ano consecutivo a produção de pera diminuiu (-11%, face a 2022), tendo sido mesmo “a pior campanha desde 2012 devido às condições meteorológicas adversas”, revela o INE, acrescentando que “a intensificação do fogo bacteriano tem exercido uma pressão acrescida sobre o setor”, e tem obrigado ao arranque e abandono de muitos pomares nas zonas afetadas.
Também diminuiu a produção de cereja, que em 2023 foi de 11,8 mil toneladas, o que corresponde a menos de metade da alcançada em 2022. Mais uma vez, fruto das condições meteorológicas adversas, que afetaram os pomares e condicionaram todo o ciclo, desde a diferenciação floral, floração e vingamento do fruto até à maturação.
A produção de kiwi decresceu 8%, “mas a qualidade dos frutos foi muito boa”, evidenciando calibres regulares, com reflexo positivo nos preços. E á exceção do limão, os citrinos também tiveram uma redução significativa das produções, explicada pela boa produção do ano anterior e pela seca severa, nomeadamente no Algarve, onde houve restrições na utilização de água para rega. “Nas variedades de laranja tardias o decréscimo foi da ordem dos 50%, contribuindo decisivamente para a diminuição global de 26%”, indica o anuário agrícola do INE.
E pelo terceiro ano consecutivo, a produção de castanha foi condicionada por problemas fitossanitários, agravados pelas secas, com impacto na qualidade e quantidade da produção global colhida, que foi inferior em 1/3 em relação à média do último quinquénio.
Já a produção de maçã foi semelhante à de 2022, embora na região do Oeste tenha registado um decréscimo de 15%, compensada em parte pela produção em Trás-os-Montes, que aumentou cerca de 8%, tendo parte da produção sido desviada para a indústria.
Menos produção animal, mais leite
A produção total de carne situou-se nas 904 mil toneladas, um decréscimo de 1,1%, quando comparada com 2022.
A produção de carne de reses (468 mil toneladas, incluindo a carne de bovinos, suínos, ovinos, caprinos e equídeos) teve uma descida de 4,3%, enquanto a produção de carne de animais de capoeira (inclui galináceos, perus e patos) cresceu 2,7%, tendo atingido as 421 mil toneladas.
A produção bruta de ovos de galinha totalizou 152 mil toneladas, um aumento de 1,8%, com o volume de ovos para consumo (131 mil toneladas) a crescer 1,6% e o de ovos para incubação (22,0 mil toneladas) a aumentar 3,2%, face a 2022.
A produção total de leite contabilizou 1.996 milhões de litros, correspondente a um aumento de 1,4% relativamente a 2022, com o volume de leite de vaca (1 901 milhões de litros) a aumentar 1,6% e os leites de ovelha e cabra com decréscimos de 2,6% e 4,9%, respetivamente.
“A produção da indústria de lacticínios nacional em 2023 resultou num maior volume total de produtos lácteos, evolução que ficou a dever-se ao acréscimo ocorrido nos produtos frescos (leite para consumo superior em 2,5%), já que o total de produtos transformados teve uma ligeira redução, com a produção de queijo a diminuir 4,8%, enquanto a manteiga e o leite em pó aumentaram 14,9% e 18,0%, respetivamente”, lê-se no relatório.
Indústrias alimentares: 17 mil milhões de euros em vendas
O anuário agrícola do INE confirma as indústrias alimentares como a principal atividade da produção industrial nacional, com 16,5% do total das vendas em 2023 (14,7% em 2022), ano em que 77,4% do valor das vendas das indústrias alimentares teve como destino o mercado nacional (-0,2 p.p. face a 2022) e 16,9% a União Europeia (+0,1 p.p. face a 2022).
O valor das vendas das indústrias alimentares em 2023 fixou-se nos 17 mil milhões de euros, mais 1,3 mil milhões de euros face a 2022. A atividade de ‘abate de animais, preparação e conservação de carne e de produtos à base de carne’ foi a mais valorizada das indústrias alimentares com 20,0% do total do valor de vendas (19,2% em 2022).
Já a indústria das bebidas faturou 3,7 mil milhões de euros em 2023, mais 166 milhões de euros que em 2022, tendo a ‘indústria do vinho’ contribuído com 49,5% do total do valor das vendas (51,9% em 2022).