Em que áreas a indústria portuguesa está a utilizar inteligência artificial?
O Hipersuper conversou com Vítor Hugo Gonçalves, CEO da Água Monchique, e Tiago Sacchetti, diretor da Bosch Industry Consulting, para perceber em que áreas da indústria estão a aplicar Inteligência Artificial, quais os resultados preliminares e assim como antecipar o potencial de aplicação da tecnologia
Rita Gonçalves
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O Hipersuper conversou com Vítor Hugo Gonçalves, CEO da Água Monchique, e Tiago Sacchetti, diretor da Bosch Industry Consulting, para perceber em que áreas da indústria estão a aplicar Inteligência Artificial, quais os resultados preliminares e qual o potencial de aplicação da tecnologia nas fábricas
Reduzir o tempo de execução de determinadas tarefas, eliminar tarefas repetitivas, libertando os trabalhadores para outras de maior valor acrescentado, programar, monitorizar e controlar a produção, identificar oportunidades de eficiência na fábrica, detetar anomalias no processo de produção, responder a consultas de fornecedores e clientes de forma personalizada, elaborar relatórios em tempo real para apoiar tomada de decisão. Estas são apenas algumas das potencialidades de aplicação da tecnologia de Inteligência Artificial (IA) na indústria.
A Bosch está a adotar ferramentas de inteligência artificial generativa no desenvolvimento de produto e na produção, tanto na programação, monitorização e controlo, como na qualidade e redução da pegada ambiental. “A IA generativa (IAgen) permite otimizar processos de produção e sistemas, resultando numa maior eficiência operacional e no aumento da qualidade dos produtos em fábricas inteligentes”, avança Tiago Sacchetti, diretor da Bosch Industry Consulting, em entrevista ao Hipersuper, dando como exemplo a indústria automóvel, onde a multinacional de origem alemã utiliza a IAgen para otimizar o design de componentes, reduzindo o tempo de desenvolvimento e melhorando a eficiência dos produtos.
A empresa prevê continuar a aplicar a tecnologia na previsão e planeamento da produção. “A IA generativa pode analisar dados históricos e em tempo real para prever a procura, otimizando o planeamento da produção, logística e manutenção, resultando numa melhor gestão de recursos e na redução de custos operacionais”.
Inovação, digitalização e marketing
A empresa portuguesa Água Monchique está a incorporar a tecnologia nas áreas de inovação, digitalização e marketing, nomeadamente na utilização de chatbots, business development, análise de dados e design. Vítor Hugo Gonçalves, CEO da companhia, explica ao Hipersuper que, de forma geral, a empresa algarvia utiliza a IA no dia a dia com o objetivo de otimizar o trabalho e reduzir o tempo de execução de determinadas tarefas. “Na área de atendimento ao cliente, estamos a experimentar e a desenvolver diferentes chatbots com IAgen para verificar a sua aplicabilidade e integração com os nossos sistemas e para responder a consultas de fornecedores e clientes de uma forma mais natural e personalizada”, exemplifica.
O produtor da água alcalina utiliza ainda a tecnologia na área comercial e de marketing em previsão de comportamentos de mercado e do consumidor, assim como na análise de trends e de dados, legendagens e dobragens automatizadas com tradução automática preservando as características da voz do locutor original, desenvolvimento de imagens e criações gráficas, entre outras.
Os resultados preliminares são promissores, indica o CEO. “Verificamos sobretudo uma significativa redução do tempo na execução de determinadas tarefas. A introdução de IA permite de forma quase imediata ter alguma estruturação no trabalho que vai ser executado e reorganizá-lo de forma mais rápida para o que pretendemos ser o resultado final. A redução de custos é também uma realidade”.
A Bosch definiu como objetivo que, em 2025, todos os produtos da Bosch contenham IA ou tenham sido desenvolvidos ou fabricados com a sua ajuda. “Isto não implica necessariamente que a tecnologia de IA seja a generativa, mas dado o seu potencial é bastante provável que seja mesmo disruptiva”, explica Tiago Sacchetti.
“Economia de custos de seis a sete dígitos por ano e fábrica”
A Bosch utiliza IAgen em algumas fábricas para criar imagens sintéticas que são usadas para treinar modelos de IA de inspeção ótica. “Isto permite, por exemplo, treinar a deteção de modos de falha cuja probabilidade de ocorrência é baixa ou muito baixa, aumentando assim a fiabilidade do sistema com um esforço muito reduzido”, conta Tiago Sacchetti.
A empresa de engenharia e tecnologia lançou a plataforma interna Ask Bosch para perguntas e soluções em contexto profissional. “Funciona basicamente como o ChatGPT, com a diferença que os dados inseridos permanecem protegidos e não vão para as mãos de terceiros para treinar ou melhorar seus próprios modelos”, detalha o gestor. A divisão Bosch Research desenvolveu por sua vez um sistema baseado em IA que identifica anomalias e mau funcionamento no processo de produção e melhora a qualidade do produto. “Este software está agora em uso em cerca de 50 fábricas, com mais de 2.000 linhas de produção conectadas”. Além disso, duas dezenas de fábricas utilizam a Machine Vision AI, solução concebida pela unidade de máquinas para fins especiais que ajuda a detetar características difíceis de identificar, como riscos e lascas em superfícies e defeitos em costuras de soldadura.
Os resultados são animadores. O diretor da Bosch revela que, dependendo do tamanho da fábrica e do tipo de produção, a IA pode ser usada para obter ganhos de produtividade e economia de custos de entre seis a sete dígitos por ano e fábrica. E dá exemplos. “A fábrica em Bursa, na Turquia, reduziu o consumo de água em 30%, o consumo de energia em 6% e a sucata em 9%, enquanto, também, aumenta a eficiência da planta em quase 10%”. Já na fábrica de Hildesheim, por exemplo, a análise de dados baseada em IA ajudou a reduzir em 15% os tempos de ciclo durante o aumento da produção de novas linhas, enquanto na fábrica em Estugarda-Feuerbach novos algoritmos reduziram os processos de teste de componentes de três minutos e meio para três minutos. “A IA generativa também permitiu a redução do consumo energético e aumento da eficiência energética”, sublinha.
Potencial de utilização da tecnologia
O potencial de aplicação da tecnologia na indústria de engarrafamento de água é “enormíssimo”, adjetiva . “Em todas as áreas em que podemos aplicar sistemas de digitalização é possível utilizar IA generativa com análise preditiva”, explica Vítor Hugo Gonçalves, detalhando que, à medida que os fluxos de trabalho do setor se tornam cada vez mais digitais, geram inevitavelmente mais dados, dados esses que são ouro. “Os algoritmos de IA podem analisar esses dados para transformá-los em informações acionáveis, ajudando os players da indústria a prever e a adaptar-se às mudanças que vão surgindo e, desta forma, otimizar as suas operações”.
Explicando que, muitas vezes, é difícil determinar qual a área mais valiosa e prioritária para a melhoria do negócio, o gestor adianta que a IA pode analisar dados dos fluxos de trabalho para revelar pontos fracos e destacar as alterações que teriam o impacto mais significativo, ajudando os líderes a tomar estas decisões. “Com este input, a indústria pode ajustar-se para minimizar as perdas e capitalizar antecipadamente as novas tendências. Em tudo o que sejam tarefas repetitivas, vemos oportunidade de eliminação do erro humano, ao mesmo tempo que libertamos os nossos colaboradores para tarefas de maior valor acrescentado. Elaboração de relatórios e compilação de informação agregada que permita tomar decisões e identificar oportunidades de eficiência ao nível da produção, manutenção, qualidade, entre muitas outras. O cruzamento de informação de dados de forma automática, com alertas predefinidos que hoje são difíceis de identificar em tempo real”.
A Monchique irá continuar a testar a aplicação da tecnologia na área industrial, comercial, de qualidade e marketing. “Todas as áreas são suscetíveis de verem a introdução da IA como uma ferramenta que potenciará a eficiência operacional, redução de custos e identificação de oportunidades de melhoria contínua. Esperamos ter resultados ao nível de eficiência da gestão e auxílio na tomada de decisões baseada em informação gerada em tempo real. Esta compilação de informação e tratamento por parte da IA generativa vai permitir ligar todas as áreas de uma forma mais integrada e rápida”.
Código de ética
A Bosch criou um código de ética para a IA. “Tal como todas as tecnologias disruptivas, é importante conhecer o seu potencial, refletir na sua aplicabilidade, definir uma estratégia e aplicá-la. O nosso código de ética para a IA é um documento que justamente resulta desta reflexão estratégica”, começa por dizer Tiago Sacchetti. A convicção da empresa é que a tecnologia terá um impacto muito abrangente: pode provavelmente colocar pressão competitiva no operador de máquinas e no engenheiro, mas não vai substituir o operador de máquinas e o engenheiro que usam IA.”
Devemos explorar a tecnologia sempre guiados pelo nosso código de ética. Na prática isto significa começar por formar as pessoas em IA (adequando o nível de formação às competências das pessoas), promover o seu uso (através de projetos exploratórios) e modificar processos para assegurar um benefício duradouro”, acrescenta o responsável.
A Bosch disponibiliza atualmente mais de 40 cursos dedicados à IA cobrindo áreas tão abrangentes como logística das cadeias de fornecimento, programação de máquinas, valorização de dados industriais, liderança de equipas e resolução de problemas. A empresa criou uma plataforma de colaboração com IA, denominada Skill Hub, que “permite aos colaboradores potencializar o seu desenvolvimento pessoal e profissional, gerir a carreira e, acima de tudo, participar em projetos e atividades com base nas suas capacidades, interesses e necessidades dos negócios”.
Na Monchique a IA é abordada sob uma perspetiva inovadora, encarando-a não como uma ameaça à substituição de postos de trabalho, mas como uma ferramenta que auxilia na adaptação a novas responsabilidades. “Estamos empenhados em investir em programas de formação para capacitar os nossos colaboradores na compreensão e utilização destas novas tecnologias. Não negligenciamos o esforço futuro de requalificação para aqueles cujas funções possam vir a ser mais automatizadas”, salienta o CEO da empresa.
Nos projetos em curso “priorizamos a inclusão de todas as partes interessadas para compreender de maneira abrangente as necessidades específicas de cada função, por forma a desenhar soluções mais eficazes. Estamos particularmente atentos ao surgimento de novas funções centradas no desenvolvimento, supervisão e otimização de sistemas de IA”, conclui.
*Artigo originalmente publicado na edição 419