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O mito da fidelização

A fidelização é um foco estratégico para muitas marcas mas apenas 6% dos consumidores são fiéis. A maioria nem se lembra qual a última marca que adquiriu. César Valencoso, da Kantar Wordlpanel, mostra como apostar na angariação de novos clientes pode impulsionar a receita

Ana Catarina Monteiro
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O mito da fidelização

A fidelização é um foco estratégico para muitas marcas mas apenas 6% dos consumidores são fiéis. A maioria nem se lembra qual a última marca que adquiriu. César Valencoso, da Kantar Wordlpanel, mostra como apostar na angariação de novos clientes pode impulsionar a receita

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A fidelização é um foco estratégico para muitas marcas mas apenas 6% dos consumidores são fiéis. A maioria nem se lembra qual a última marca que adquiriu. César Valencoso, da Kantar Wordlpanel, mostra como apostar na angariação de novos clientes pode impulsionar a receita.

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As marcas de grande consumo assumem, regra geral, duas vias de crescimento: através da penetração – ou seja, apostando na angariação de novos clientes – ou seguindo uma estratégia de fidelização dos clientes já conquistados. Mas qual das duas formas de aumentar a receita se mostra mais efetiva? Para muitos diretores de marketing, a resposta parece ser a fidelização da carteira de consumidores. No entanto, um estudo levado a cabo pela Kantar Wordlpanel demonstra que, por norma, os consumidores não são fiéis e o aumento de vendas está correlacionado com o foco na penetração por parte das marcas.

A análise em questão, para a qual a consultora tem acompanhado há quatro anos o comportamento de compradores de mais de dez mil marcas repartidas por 79 categorias, em 16 países, foi apresentado em Lisboa no passado mês de março por César Valencoso, diretor de Consumer Insights Consulting e de Comunicação da multinacional.

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César Valencoso, diretor de Consumer Insights Consulting e de Comunicação da Kantar Worldpanel


“Apenas 4% dos consumidores de Coca-Cola são fiéis”

Segundo o estudo da Kantar, a Coca-Cola, uma das mais reconhecidas marcas no mundo, consegue apenas uma fidelização de 4% no universo de bebidas carbonatadas. Já a marca de detergentes para a roupa Ariel detém uma taxa de fidelização de 15%. “Em Espanha, uma média de 95% dos consumidores não são fiéis. A nível global, apenas 6% do público de uma categoria compra exclusivamente uma marca”, sublinha o diretor que, com base neste estudo, escreveu o livro “Impulsa a marca, aumenta as vendas” para “desmentir alguns dos mitos ligados ao marketing”.

Por outro lado, a pesquisa revela que quem compra em exclusivo uma marca exprime uma baixa frequência de compra. “No linear, onde metade das decisões de compra são tomadas, quanto mais variedade de oferta houver, relativamente ao mesmo tipo de produto, menos fidelidade os compradores mostram. Quando um produto não está na prateleira que fica posicionada ao nível dos olhos do consumidor, é comprovado que as vendas caem. O que é feito da fidelização neste caso?”, questiona César Valencoso.

Um total de 55% dos consumidores que participou no estudo não se lembra qual a última marca que comprou. Por outro lado, em média, por ano, 50% dos que adquirem uma determinada marca são novos clientes. “Perde-se metade do portefólio de clientes em um ano. Por isso, a fidelização não serve para explicar a realidade das marcas. O crescimento da penetração, por sua vez, está interligado com o aumento da quota de mercado, como se depreende no estudo”, frisa o responsável.

Como incrementar a penetração da marca

Se a penetração explica o crescimento, as marcas devem então apostar no recrutamento de clientes “dominando o inconsciente do número máximo possível de consumidores e estando presente em todos os pontos de venda”. Em termos práticos, para impulsionar a penetração da marca, estes são, segundo o diretor, alguns dos passos a seguir:

1- Trabalhar os pontos estratégicos que permitam que a marca seja mais reconhecível;

2-  Privilegiar a cobertura de lojas face à frequência de compra, tendo consciência de que há sempre alguém disposto a comprar;

3- Pensar a segmentação como um conceito de posicionamento e não de alcance. As marcas devem ambicionar serem compradas por todos os targets, ainda que sejam mais indicadas para um determinado segmento de público. Por exemplo, 70% das pessoas que consomem produtos sem lactose não são intolerantes à substância;

4- Preço não é estratégia. O custo dos seus produtos deve ser tão elevado quanto o posicionamento da marca no mercado o permitir e as promoções devem ser pensadas com base na visibilidade que vão trazer. Estas são uma ferramenta que serve para ganhar penetração, uma vez que atraem novo consumidores, mas a sua eficácia não está relacionada com a proporção do desconto;

5- Inovar mais do que a concorrência. Para que baixar o preço não se torne o único caminho para atrair consumidores, há que criar valor alargando a marca a novos territórios, a novos segmentos de público e momentos de consumo.

César Valencoso, diretor de Consumer Insights Consulting e de Comunicação da Kantar Worldpanel

Três perguntas a…

César Valencoso, diretor de Consumer Insights Consulting e de Comunicação da Kantar Worldpanel

Metade da carteira de clientes de uma marca altera-se todos os anos. Não obstante, no estudo da Kantar, a marca de iogurtes Activia surge como a que mais consegue manter os consumidores (75%). Por que a Activia está acima das restantes marcas em termos de taxa de manutenção?

Porque ocupa muito espaço no linear. Esta é a chave que faz com que tenha mais probabilidade de compra, uma vez que há menos opções de marcas para comprar e é mais provável que comprem a Activia. Não é que o consumidor goste mais dos seus iogurtes mas a marca consegue esta manutenção por ter um produto bom, bem explicado e capaz de se afirmar no linear. O que faz com que tenha mais repetição de compra.

De acordo com a Kantar, a maioria das inovações lançadas no mercado passam por “me too’s” ou produtos idênticos a outros já existentes, levando a uma elevada taxa de mortalidade dos novos lançamentos. Como devem as marcas pensar a inovação?

O ideal é ser capaz de apresentar inovações disruptivas. Agora, não vale a pena investir numa grande inovação num ano e depois ficar cinco sem inovar, porque vão copiar o produto e a empresa não vai ser vista como inovadora. As marcas devem ter um programa de inovação, o que significa trazer para o mercado produtos inovadores todos os anos. Mas não se trata de lançar qualquer pequena melhoria. Muitas vezes chamamos inovação a produtos que não o são realmente e estes lançamentos têm um efeito diminuto ou nulo nas vendas. Por isso é necessário compreender que a inovação é importante e ajustar um plano para colocar no mercado produtos disruptivos. Só assim é que a marca consegue impulsionar as vendas.

O melhor caminho para ganhar penetração no mercado passa por alargar a marca a categorias em que não está centrada?

Se não houver muito mais inovação para trazer ao mercado numa determinada categoria, muitas vezes é mais efetivo que se alargue a outras. Mas deve-se pensar em criar uma nova categoria. As três grandes formas de inovar são: procurar atrair consumidores que não compram a categoria; enveredar por um momento de consumo diferente; ou investir num novo uso para um determinado produto como, por exemplo, transformar um alimento de difícil confeção em algo fácil de cozinhar. A filosofia de tornar melhor um produto já existente, para ser consumido de igual modo, não faz aumentar as vendas de uma marca.

Sobre o autorAna Catarina Monteiro

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I&D

Está a IA a revolucionar a forma como as empresas encontram e selecionam talentos?

João Salvador Oliveira, associate director | digital da Randstad Portugal responde.

A Inteligência Artificial está a revolucionar a forma como as empresas encontram e selecionam talentos, e esse impacto é profundo em várias etapas do processo de recrutamento.

Ferramentas de IA conseguem analisar e filtrar grandes volumes de currículos rapidamente, selecionando candidatos com base em critérios predefinidos, como qualificações, experiência e competências. Isto poupa tempo, pois é um processo automatizado e reduz o viés humano inicial.

A IA pode prever o sucesso de um candidato num cargo específico, com base na análise de dados de desempenho de colaboradores atuais e anteriores. Ferramentas de análise preditiva ajudam a identificar padrões em candidatos que têm maior probabilidade de sucesso na organização.

Existem também algumas empresas que já utilizam chatbots para interagir com candidatos nas fases iniciais do processo, respondendo a perguntas, agendando entrevistas e recolhendo informações importantes. Isto melhora a experiência do candidato e agiliza a comunicação.

Algumas soluções de IA utilizam a análise de linguagem natural e vídeos para avaliar traços de personalidade, estilo de comunicação e competências sociais durante as entrevistas. Estas ferramentas complementam as entrevistas tradicionais e ajudam a identificar qualidades que podem não ser visíveis em currículos.

Outra das áreas onde a IA atua é na diversidade e inclusão, ajudando a mitigar vieses inconscientes, assegurando que as decisões de recrutamento sejam baseadas em competências e qualificações, em vez de fatores como género, idade ou etnia. No entanto, é crucial garantir que os algoritmos não perpetuam preconceitos, o que requer um esforço contínuo para construir sistemas justos.

A análise de dados em tempo real também é possível com IA, pois fornece insights em tempo real sobre o mercado de trabalho, ajudando as empresas a ajustar as suas estratégias de recrutamento com base em tendências e necessidades emergentes. E, por isso, não podemos deixar de falar no impacto que esta está a ter já no mercado de trabalho, seja nas empresas e nos seus processos, como nos profissionais em si.

Um estudo da Randstad publicado no início deste ano dá nota de que em Portugal a IA pode levar à perda líquida de 80,3 mil empregos, que se traduzem na automatização de 481 mil e na criação de outros 400 mil. As estimativas colocam no topo dos empregos atuais que poderiam estar em risco os setores das atividades administrativas e das atividades informáticas e telecomunicações. A verdade é que a IA é uma realidade e os profissionais já a encaram como uma mais valia também. Veja-se, os dados do Randstad Employer Brand Research 2024 referem que cerca de 1 em cada 10 empregadores já utiliza a IA numa base regular; entre a geração mais jovem (GenZ), a utilização aumenta (17%). Bem mais de metade dos trabalhadores portugueses espera que a IA tenha pelo menos algum impacto no seu trabalho. Este valor é ainda mais elevado entre aqueles que já a utilizam no local de trabalho. A influência da IA na satisfação com o trabalho é esmagadoramente positiva, especialmente entre a Geração Z (69%) e nos trabalhadores com um elevado nível de educação (70%).

Apesar dos avanços, o uso de IA no recrutamento ainda enfrenta desafios, como a necessidade de supervisão humana para evitar preconceitos nos algoritmos e assegurar uma abordagem equilibrada. A IA não substitui a supervisão humana, mas complementa e optimiza o processo de recrutamento. Estas transformações reflectem-se também no sector tecnológico em Portugal, onde cada vez mais empresas estão a adoptar soluções de IA para atrair talentos, promovendo diversidade e eficiência no processo de selecção.

 

Sobre o autorHipersuper

Hipersuper

Bebidas

Diogo Costa: “Estamos sempre atentos às necessidades e preferências dos nossos consumidores”

A marca Activia continua a inovar para responder ao crescimento do mercado de bebidas funcionais, especialmente no segmento da saúde digestiva. Diogo Costa, diretor de marketing da Danone, sublinha que a Activia mantém a sua relevância com base em três pilares estratégicos: a escuta ativa dos consumidores, a inovação no portefólio e uma comunicação eficaz.

A crescente procura por alimentos funcionais tem impulsionado o dinamismo do segmento de leites fermentados com probióticos. Para Diogo Costa, o sucesso da Activia reside, em grande parte, na capacidade de ouvir o consumidor e adaptar-se às suas necessidades. “Estamos sempre atentos às necessidades e preferências dos nossos consumidores em Portugal, e é a partir dessa conexão direta que conseguimos adaptar a nossa oferta”, afirma.

Esse foco no consumidor traduziu-se, por exemplo, no lançamento da gama Activia Triplo Zero em 2023, uma resposta direta a dois grandes insights do mercado: a crescente preocupação com a redução do consumo de açúcar e a maior procura por produtos sem lactose. “Esta gama tem trazido excelentes resultados com crescimento a dois dígitos em volume, valor e penetração”, explica Diogo Costa, salientando a importância da inovação no portfólio para acompanhar as mudanças no mercado.

Além da gama Triplo Zero, a Activia tem também apostado na expansão da sua linha de kefir, que já conta com cinco referências e continua a crescer, refletindo as tendências de consumo mais recentes. “Pretendemos continuar a expandi-la, acompanhando as novas tendências de consumo”, refere.

Outro ponto crucial para o sucesso de Activia tem sido a constante validação de insights junto dos consumidores, ajustando as suas campanhas de comunicação para garantir que estas sejam eficazes. “Temos investido fortemente na validação de insights junto dos consumidores, testando constantemente para identificar quais os elementos que geram maior relevância e conversão”, explica Diogo Costa. Esta estratégia permite à marca manter-se presente e relevante na vida dos consumidores, ajustando continuamente as mensagens e campanhas.

O papel dos especialistas em saúde e nutrição

Os especialistas em nutrição e saúde desempenham um papel fundamental na promoção dos benefícios das bebidas probióticas da Activia, reforçando o seu posicionamento como uma marca funcional de referência. Diogo Costa destaca que, para além da investigação e desenvolvimento rigorosos, a colaboração com estes profissionais é essencial para validar a proposta de valor dos produtos. “Chegamos mesmo a sentar-nos com especialistas para encontrar mais insights e reforçar a nossa proposta de valor”, afirma.

Esta colaboração resulta numa promoção orgânica e natural dos produtos da Activia por parte dos especialistas durante as suas consultas, reconhecendo a relevância das bebidas probióticas como parte da alimentação diária dos seus pacientes. “Eles reconhecem o benefício e relevância dos nossos produtos enquanto parte diária da alimentação dos seus pacientes”, salienta Diogo Costa.

A Activia aposta numa oferta diversificada e adaptada a diferentes perfis de consumidores, sempre com uma base científica sólida. A linha de kefir, por exemplo, é uma das inovações que tem sido bem recebida, combinando os tradicionais fermentos da marca com grãos de kefir, que proporcionam uma fermentação com 16 microrganismos específicos distintos. “Este é o tipo de inovação e superioridade que trazemos, sempre assente em evidência científica comprovada”, reforça Diogo Costa.

 

Sobre o autorAna Rita Almeida

Ana Rita Almeida

I&D

Está a IA a revolucionar a forma como as empresas encontram e selecionam talentos?

Daniela Lourenço, brand leader da Manpower, responde.

Hipersuper

Por Daniela Lourenço, brand leader da Manpower

A Inteligência Artificial (IA) está a transformar o mundo do trabalho, nomeadamente os processos de recrutamento das empresas, oferecendo oportunidades significativas para uma seleção de talento mais rápida e eficaz. Segundo o I mmersive Tech Report, da Experis, sete em cada dez organizações já adotaram novas tecnologias, como IA, Realidade Virtual (RV) e Machine Learning (ML) nos seus processos de recrutamento, ou planeiam fazê-lo nos próximos três anos.

São várias as vantagens que estas novas tecnologias trazem ao recrutamento. Em primeiro lugar, as tecnologias de IA aumentam a sua eficiência através da automatização das fases iniciais do processo, permitindo às organizações obter mais rapidamente perfis de candidatos ajustados às suas necessidades. Isto reduz o tempo e o esforço que os recrutadores têm de despender na seleção de perfis, permitindo-lhes concentrarem-se noutros aspetos críticos do processo de contratação, onde a interação humana é privilegiada.

Além disso, através da análise preditiva potenciada pela IA é possível ir mais longe e identificar as futuras necessidades de talento associadas à estratégia das empresas e preparar, de forma antecipada, uma base sólida para responder a essas necessidades, quer seja através do recrutamento ou de iniciativas de upskilling ou reskilling, ajustando as competências dos colaboradores às necessidades emergentes.

A IA permite ainda reduzir o enviesamento e a subjetividade nos processos de recrutamento. Através de critérios objetivos, e eliminando fatores subjetivos como idade, género ou etnia, promove um recrutamento mais justo e inclusivo. A este nível é, no entanto, fundamental, que a os algoritmos de IA sejam desenvolvidos de forma ética e inclusiva, sendo este um dos principais fatores de preocupação identificados pelas empresas, apesar do entusiasmo que mostram relativamente à IA.

Também a utilização de assistentes virtuais e chatbots tem sido transformadora, permitindo uma comunicação imediata com os candidatos, respondendo a dúvidas, fornecendo feedback instantâneo e acelerando o processo de contratação. Esta interação personalizada não só melhora a experiência do candidato como também proporciona às empresas informações relevantes sobre os perfis, permitindo otimizar futuras interações.

A análise aprofundada que a IA permite fazer na seleção dos candidatos está, assim, a revolucionar a forma como as empresas encontram e selecionam o talento, promovendo um recrutamento mais eficaz, objetivo e justo. Ao mesmo tempo, não podemos deixar de sublinhar que, apesar de oferecerem importante benefícios, as tecnologias de IA não estão lá para substituir os recrutadores – mas sim para os reforçar. Os candidatos continuam a valorizar a interação humana e os recrutadores têm de encontrar o equilíbrio certo entre a automatização que permite poupar tempo e o envolvimento pessoal ao longo do processo de recrutamento, de modo a poder encontrar as pessoas certas para as funções certas.

Sobre o autorHipersuper

Hipersuper

Entrevista

Afonso Almeida: “A intermodalidade e a multimodalidade são o presente e o futuro da logística de transportes”

Entrevista com Afonso Almeida, presidente da Associação Portuguesa de Logística.

Hipersuper

As empresas do setor da logística e transportes precisam que avance o TGV entre Lisboa e Porto e a ligação entre Lisboa e Madrid. É ainda urgente terminar a nova ligação entre Sines e a fronteira espanhola, avançar a nova fase de Sines e, acima de tudo, “que se tomem as decisões certas com uma visão estratégica em termos logísticos para o país e com uma rapidez bem superior ao passado”, defende Afonso Almeida, presidente da Associação Portuguesa de Logística, nesta entrevista ao Hipersuper.

É possível quantificar o peso do setor da logística e transportes na economia nacional?
Não é fácil ter dados totalmente concretos sobre o peso da logística e transportes na economia nacional, mas estudos internacionais apresentados em conferências indicavam que estes setores tinham na economia mundial um peso de mais de 10%. Estes últimos anos, com um aumento significativo das entregas on-line e tudo o que está por detrás desta atividade, fez seguramente com que tenha existindo um crescimento no peso do setor da logística e transportes na economia portuguesa.

Para a APLOG, e, consequentemente, para os players da logística e transportes, quais deviam ser as prioridades do atual Governo em termos de infraestruturas?
Em termos de infraestruturas, existem diversas prioridades. O aeroporto foi uma decisão importante, após tantos anos de espera. Esta decisão irá também desbloquear e permitir um maior planeamento de outras infraestruturas, tais como uma terceira travessia do Tejo, a questão do TGV, entre outras infraestruturas necessárias para suportar todo este projeto. A nível da ferrovia é fundamental o avanço do TGV entre Lisboa e Porto, mas também acelerar a ligação entre Lisboa e Madrid.
Para o transporte de mercadorias, é fundamental terminar o mais rápido possível a nova ligação entre Sines e a fronteira espanhola, de forma a estramos ligados à Europa de forma mais eficiente, permitindo que os produtos que possam chegar aos nossos portos e muitas das nossas exportações possam ter uma alternativa de transporte mais sustentável e mais rápida. No caso dos portos, é também importante avançar com a nova fase de Sines e terminar também ligações mais eficientes com o Porto de Leixões, entre muitas outras obras que estão planeadas e a decorrer. É, acima de tudo, fundamental, que se tomem as decisões certas com uma visão estratégica em termos logísticos para o país e com uma rapidez bem superior ao passado.

A APLOG e a KPMG juntaram-se para realizar um estudo sobre a maturidade e as praticas ESG dos operadores logísticos, nas suas várias valências. Do que consta e o que pretendem? E de que forma será uma mais-valia para os associados?
Pretendemos com este estudo contribuir para aumentar a disseminação do conhecimento sobre: os requisitos e práticas de sustentabilidade atuais, e potenciais espaços para melhoria e desenvolvimento para os múltiplos agentes que actuam nas cadeias logísticas.
Quanto à mais valia para os associados, será um maior conhecimento e partilha de como está a maturidade das empresas relativamente às praticas ESG.

A intermodalidade e a multimodalidade são o futuro? Os custos ainda são impeditivos de uma maior procura por parte dos clientes? Uma maior oferta ferroviária é a ‘peça que falta’?
Sem dúvida que a intermodalidade e a multimodalidade são o presente e o futuro da logística de transportes. É fundamental definir qual o papel do nosso país em termos logísticos e definir prioridades e pensar não a curto prazo, mas a médio longo prazo. Qual a estratégia, quais as indústrias que queremos apostar, o que fazer para tornar o nosso país mais competitivo e atrair cada vez mais fluxos de produtos e matérias primas através dos nossos portos, tornando cada vez mais Portugal como uma porta de entrada na Europa para produtos vindos da Ásia, Américas e África.
Para sermos mais atrativos, temos que ser mais eficientes, investir em mais tecnologia, reduzir a burocracia e sermos muito mais rápidos nas tomadas de decisões. A peça ferroviária é sem dúvida importante e tem que estar alinhada com os nossos portos e também com uma definição clara de que localizações são prioritárias para serem implementados os novos hub’s logísticos. Essa definição deverá ser integrada a nível do governo, com a colaboração das entidades regionais e autarquias. É preciso trabalho de equipa e liderança.

A integração de tecnologias como Big Data e Inteligência Artificial está a moldar o setor. Em Portugal, as empresas estão a ‘abraçar’ as oportunidades da logística 4.0?
As empresas do setor logístico têm feito um esforço brutal, em especial nestas últimas décadas no sentido de modernizarem e utilizarem as tecnologias disponíveis tais como o Big Data, Digitalização, Automação, Robotização, Inteligência Artificial entre outras ferramentas. A evolução tem sido muito grande. Quando falamos em empresas, temos nalguns casos que distinguir entre empresas multinacionais e empresas portuguesas, nomeadamente as PME´s que representam mais de 90% do nosso tecido empresarial. Em termos de empresas nacionais de dimensão, os investimentos estão a ser feitos no sentido de tornar as suas empresas mais competitivas e eficientes. No caso da PME´s, esse esforço também existe, mas nalguns casos poderão não ter a mesma capacidade de investimento e de recursos humanos preparados para todos estes desafios.

Nesse sentido, a capacitação dos trabalhadores para esta logística mais digitalizada é uma dificuldade?
É um fato que para muitas das funções que são necessárias hoje nesta logística mais digitalizada, são precisos recursos humanos muito mais bem preparados e com formação adequada para responderem aos desafios que hoje são colocados. É um facto que, para muitas funções, existe uma escassez de recursos humanos com formação adequada, tais como operadores de empilhador, motoristas entre muitas outras atividades. Existe falta de pessoas especializadas e é necessário que as empresas por um lado consigam atrair as pessoas, por outro terem que dar formação específica e no final conseguirem reter as pessoas. Este é seguramente um dos maiores desafios que as empresas têm hoje. É preciso dar mais atenção às pessoas e proporcionar um trabalho e um ambiente que seja mais motivador.

Apesar de ainda estar abaixo dos seus pares europeus, em Portugal o e-commerce tem crescido (o Barómetro de E-commerce previa o crescimento das vendas online no 1º semestre de 2024 e comparação ao período homólogo de 2023). Para a APLOG, quais são os desafios da logística no e-commerce?
Este é um setor que explodiu durante e após a pandemia. As vendas on-line continuam a crescer e essa tendência deverá continuar a aumentar. Para isso muitas empresas tais como operadores logísticos e empresas especializadas em transportes e nomeadamente no last mille têm vindo a equipar-se de forma cada vez mais profissional, para poderem responder de forma adequada aos desafios que o mercado está a colocar. Vieram novos projetos, novos hub´s com muita tecnologia, automação, digitalização e ferramentas muito sofisticadas de planeamento e controle das operações. A resposta penso que no geral tem sido muito positiva e os avanços são contínuos. A questão da sustentabilidade é também um tema muito relevante, nomeadamente com a eletrificação das frotas nas grandes cidades a ser já uma realidade bastante relevante.

No geral, quais são os obstáculos da moderna logística e quais serão os grandes desafios a enfrentar no futuro próximo?
Os obstáculos passam por diversos fatores, tais como a falta de recursos humanos especializados, em alguns casos, falta de imobiliário logístico disponível em zonas ao redor de Lisboa e Porto em timings que sejam exequíveis para as empresas, nomeadamente novos projetos internacionais em que a capacidade de resposta na implementação desses projetos pode ser determinante na escolha de Portugal ou escolherem outras geografias que possam trazer mais rapidez e qualidade. No futuro a curto prazo, questões como as taxas de juro, inflação e custos energéticos poderão ser relevantes para a concretização de alguns projetos. É também muito importante que os potenciais investidores sintam estabilidade nas diferentes decisões políticas em áreas como a fiscalidade, a justiça entre outras.

Esta entrevista foi publicada na edição 427

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Crescimento dos pagamentos fracionados impulsiona transformação no comércio

Fomos falar com Alexandre Carrera Lejeune, responsável da FLOA para a Península Ibérica, Alexandre Fernandes, country manager da Klarna para Portugal e Espanha, e Laurence Griseti, diretora de recrutamento clientes e parcerias do Oney Bank em Portugal que partilham a sua visão sobre o mercado de soluções de pagamento fracionado e flexível.

Em Portugal, 71% dos consumidores já utilizam o BNPL, posicionando o país como o segundo na Europa com maior adesão a esta solução, apenas atrás da Alemanha. A flexibilidade proporcionada pelo pagamento fracionado, sem juros em muitos casos, está a transformar-se num fator decisivo para os consumidores. Fomos falar com Alexandre Carrera Lejeune, responsável da FLOA para a Península Ibérica, Alexandre Fernandes, country manager da Klarna para Portugal e Espanha, e Laurence Griseti, diretora de recrutamento clientes e parcerias do Oney Bank em Portugal que partilham a sua visão sobre o mercado de soluções de pagamento fracionado e flexível.

A FLOA, filial do grupo BNP Paribas, revelou recentemente os resultados do seu estudo anual sobre tendências no setor dos pagamentos, realizado em parceria com a Kantar. O relatório destaca o crescimento do mercado de “Buy Now, Pay Later” (BNPL) na Europa, com quase 7 em cada 10 cidadãos europeus a recorrerem a esta modalidade (68%). O pagamento fracionado afirma-se como uma solução amplamente adotada pelos consumidores, que as consideram essenciais no planeamento de compras.
Os dados do estudo mostram que 71% dos consumidores portugueses já utilizaram soluções BNPL, com 41% a reportarem uma utilização regular. Estes números estão alinhados com a média europeia, onde 68% dos inquiridos afirmam usar o BNPL e 44% são utilizadores regulares.
Portugal é, atualmente, o segundo país europeu com maior adoção do BNPL, apenas atrás da Alemanha. Os consumidores portugueses utilizam ligeiramente mais o pagamento a prestações (59%) do que o diferido (57%).
Em termos de frequência, 51% dos utilizadores portugueses recorrem ao BNPL entre uma a três vezes por ano, um valor superior à média europeia de 40%. Por outro lado, 26% dos consumidores em Portugal fazem oito ou mais compras anuais com este método de pagamento, em comparação com 40% dos europeus.
As categorias de produtos mais compradas com soluções BNPL em 2023 refletem mudanças no comportamento de consumo. Os eletrodomésticos lideram a lista (50%), seguidos por produtos tecnológicos (44%) e viagens (34%).

Solução para imprevistos
O estudo, que envolveu mais de 4.000 pessoas em sete países europeus (França, Espanha, Bélgica, Itália, Portugal, Alemanha e Países Baixos), destaca que os portugueses recorrem ao BNPL principalmente para lidar com imprevistos financeiros (64%), mas também como uma forma de adquirir produtos de maior qualidade ou mais sustentáveis (49%) e para compras de indulgência (39%).
A escolha do método de pagamento está mesmo a tornar-se central na experiência do cliente e em Portugal é o segundo critério mais importante na escolha de uma marca (37%), a par da notoriedade da mesma. A importância do BNPL é tão significativa que mais de metade dos utilizadores nacionais (54%) afirmam que mudariam de ponto de venda se este método de pagamento não estivesse disponível.
No comércio online, os consumidores portugueses ainda enfrentam alguns desafios, como a recusa de uma facilidade de pagamento (95%) ou a obrigatoriedade de descarregar uma aplicação (90%), fatores que muitas vezes levam ao abandono da compra. Em lojas físicas, a recusa de uma facilidade de pagamento (93%) ou a necessidade de fornecer dados pessoais (90%) são igualmente incómodos, e mais de 40% dos consumidores referem que estas situações podem fazê-los abandonar o estabelecimento.
O estudo revela também que o BNPL pode ser um impulsionador do consumo responsável, uma vez que 49% dos utilizadores portugueses pensam nesta solução como uma forma de adquirir produtos de maior qualidade ou mais sustentáveis. Além disso, 37% dos inquiridos indicam que seriam mais inclinados a comprar produtos em segunda mão se o BNPL estivesse disponível para este tipo de transação.

Retalhistas procuram soluções flexíveis

Segundo Alexandre Carrera Lejeune, responsável da FLOA para a Península Ibérica, a procura por soluções de pagamento flexíveis por parte dos retalhistas está em constante crescimento, acompanhando a evolução do comércio digital. “A procura dos retalhistas por soluções de pagamento flexíveis está em clara ascensão, impulsionada pela necessidade de acompanhar o crescimento do e-commerce, aumento de competitividade e expectativas/novos hábitos dos consumidores que agora querem mais opções, mais rapidez e uma experiência semelhante em loja e e-commerce e mais rapidez no momento da compra.”, refere.

Alexandre Carrera Lejeune, responsável da FLOA para a Península Ibérica

A FLOA destaca-se neste cenário como uma fintech especializada em Buy Now Pay Later (BNPL), oferecendo soluções simples e rápidas tanto para comerciantes como para consumidores. “A nossa solução de pagamento não necessita de registos complexos, downloads de aplicações ou documentação adicional”, explica o responsável da FLOA para a Península Ibérica, sublinhando que o objetivo é criar uma experiência fluida, semelhante a um pagamento tradicional com cartão, mas com maior flexibilidade.

Além disso, a FLOA tem como missão apoiar a digitalização do comércio local, facilitando a implementação de soluções de BNPL que impulsionam as vendas. “Da perspetiva de um parceiro, a FLOA vem trazer um novo método de pagamento fácil de implementar que ajuda a potenciar as vendas, seja no e-commerce ou nos pontos de venda físicos”, acrescenta Alexandre Carrera Lejeune..

Forte adoção pelos consumidores portugueses

Alexandre Carrera Lejeune destaca o interesse crescente dos consumidores portugueses por esta modalidade de pagamento, refletido nos dados do mais recente estudo da FLOA, em parceria com a Kantar. “O que temos vindo a observar é que a opção de BNPL já é utilizada nos mais diversos setores – eletrodomésticos, tecnologia, hotelaria ou formação.”

A flexibilidade oferecida pelo BNPL permite que os consumidores gerem melhor os seus orçamentos, sem recorrerem a créditos de longo prazo. “Esta modalidade oferece aos consumidores um controlo mais personalizado sobre o seu orçamento, permitindo uma gestão mais equilibrada para fazer face a despesas inesperadas, investir no desenvolvimento profissional ou pessoal, ou adquirir produtos de maior qualidade, durabilidade e mais sustentáveis”, partilha Alexandre Carrera Lejeune.
A possibilidade de pagamentos sem juros é um dos principais fatores de atração desta solução. “A possibilidade de realizar pagamentos sem juros tornou-se um fator facilitador na jornada de compra, pois elimina obstáculos relacionados ao custo do serviço”, destaca. De acordo com o estudo da FLOA, 54% dos utilizadores de BNPL em Portugal estariam dispostos a mudar de loja ou marca para usufruírem desta opção, reforçando o impacto que o BNPL tem nas decisões de compra.

A FLOA quer diferenciar-se pela combinação de tecn ologia avançada e segurança, oferecendo aos retalhistas uma solução inovadora que melhora a experiência de compra. “Com a expertise comprovada da FLOA, além do progresso do nosso software de inteligência artificial e machine learning, garantimos uma experiência ao consumidor eficiente e muito semelhante a um pagamento tradicional com cartão, sem complicações tanto para os retalhistas como para os consumidores”, explica Alexandre Carrera Lejeune.

Klarna expande soluções de pagamento em Portugal

A Klarna tem vindo a consolidar a sua presença no mercado português, oferecendo soluções de pagamento flexíveis e serviços personalizados, alinhados com as exigências dos consumidores. Segundo Alexandre Fernandes, country manager da Klarna para Portugal e Espanha, o mercado está a evoluir para uma maior personalização, tanto nas compras em loja física como no comércio online. “O mercado está sem dúvida a caminhar para uma maior personalização, seja na compra presencial em loja, como na compra online. Soluções de compras que permitam essa mesma personalização são muito procuradas pelos consumidores, pelo que, naturalmente, as marcas procuram-nas também, para corresponderem às expectativas e apresentarem uma oferta diversificada.”, refere o responsável da fintech.

Alexandre Fernandes, country manager da Klarna para Portugal e Espanha

A Klarna começou com uma oferta focada no Buy Now Pay Later (BNPL), mas evoluiu para se tornar uma plataforma de compras integrada, colocando o consumidor no centro da sua operação. “Se olharmos para a própria evolução da Klarna, que nasce focada numa solução de BNPL – Buy Now Pay Later – cresceu e desenvolveu-se para uma solução integrada de compras, focada no consumidor e na aproximação das marcas às suas expectativas”, explica Alexandre Fernandes.

A Klarna, que já colabora com mais de 575 mil operadores de retalho em todo o mundo, incluindo marcas como H&M, IKEA, Prozis e LaRedoute. quer fazer a diferença neste mercado. “A nível global temos mais de 85 milhões de utilizadores ativos a nível global e 2.5 milhões de transações diárias”, destaca Alexandre Fernandes, sublinhando o impacto global da Klarna no comércio e a sua capacidade de ajudar as marcas a impulsionarem o crescimento e a fidelização dos seus clientes.

Em relação à aceitação do pagamento fracionado em Portugal, Alexandre Fernandes reconhece que os portugueses têm, historicamente, uma certa resistência ao crédito devido aos juros associados. Contudo, lembra que o BNPL da Klarna oferece uma solução que coloca o ónus nos retalhistas, facilitando a compra para os consumidores. “Os portugueses são habitualmente mais avessos a soluções de crédito por causa dos juros, mas o pagamento fracionado transfere esse ónus para a marca, simplificando o processo de compra e expandindo o orçamento do consumidor.”, afirma ao nosso jornal.

Esta solução é especialmente útil em momentos de maior pressão orçamental, como o regresso às aulas ou a época natalícia, lembra. “Se olharmos para alturas do ano onde o orçamento está mais apertado, soluções de fracionamento são muito úteis. Falo por exemplo, do regresso às aulas, com gastos avultados em materiais escolares e livros, num momento pontual em que uma máquina de lavar roupa se avaria, ou até agora na altura do Natal.”

Apesar de os juros serem um fator importante, Alexandre Fernandes sublinha que a Klarna oferece muito mais do que apenas a opção de pagamento fracionado. “Os juros são um fator decisivo, mas todas as experiências e tendências de compra vão muito além deste fator, e queremos estar junto dos consumidores em todo o processo.”

Compras inteligentes e tecnologia inovadora

Para além do pagamento fracionado, a Klarna está a investir em ferramentas que respondem às necessidades dos consumidores em cada fase do processo de compra. “Sabemos, por dados próprios, que 97% dos portugueses compara o preço de um produto antes de o adquirir e a Klarna tem uma solução de alertas / notificações de descida de preços”, revela Alexandre Fernandes. Esta funcionalidade permite aos consumidores serem notificados quando o preço de um produto desce, ajudando-os a tomar decisões mais informadas.

Outra tendência destacada é o facto de muitos consumidores começarem o seu processo de compra online, mesmo que acabem por adquirir o produto numa loja física. “Sabemos também que, apesar de continuarem a comprar maioritariamente em loja física, o processo de compra dos consumidores portugueses começa em ambiente online com pesquisas nas lojas das marcas (73%) ou em motores de pesquisa (40%). Mais uma vez, a Klarna tem solução para esta realidade”, afirma Alexandre Fernandes.

A Klarna quer posicionar-se como uma solução que vai muito além do pagamento fracionado, transformando o comércio e colocando as necessidades dos consumidores no centro da sua estratégia de inovação. “A proposta da Klarna vai hoje muito além do pagamento fracionado, pois pretendemos revolucionar o comércio tendo as necessidades dos consumidores no centro da nossa operação e da inovação que trazemos ao mercado”, conclui Alexandre Fernandes.

“Somos pioneiros no pagamento fracionado”

Laurence Griseti, diretora de recrutamento de clientes e parcerias do Oney Bank em Portugal, acredita que a evolução da procura por parte dos retalhistas por soluções de pagamento flexíveis é um reflexo das necessidades dos consumidores e da conjuntura económica. “Como em qualquer setor de atividade, a evolução é sempre positiva e vem responder a necessidades presentes ou futuras. No nosso caso concreto, vemos esta evolução como algo muito positivo porque já somos pioneiros no pagamento fracionado”, afirma. A responsável destaca que esta tendência beneficia tanto os retalhistas como os consumidores finais, ao permitir uma gestão mais equilibrada dos orçamentos e um aumento do cabaz de compras sem esforço financeiro adicional.

Laurence Griseti, diretora de recrutamento de clientes e parcerias do Oney Bank em Portugal

O Oney Bank, com um forte enfoque no digital, aposta em soluções que combinam simplicidade, agilidade e segurança, especialmente num período de desafios económicos. “É importante oferecer aos consumidores diferentes soluções de pagamento e, acima de tudo, soluções de pagamento flexíveis”, sublinha Laurence Griseti.

A oferta do Oney Bank inclui uma vasta gama de produtos que se adaptam às diferentes necessidades dos consumidores e retalhistas, desde linhas de crédito e cartões co-branded a soluções de Buy Now Pay Later.

“O cliente pode pagar online ou em loja física, em 3, 4, 6, 10 ou 12 meses sem juros, e portanto, sem esforço adicional”, explica Laurence Griseti, reforçando que o Oney se distingue no mercado pela sua oferta abrangente, que abrange tanto o cliente final como o retalhista.

Laurence Griseti confirma que os consumidores portugueses demonstram um grande interesse pelo pagamento fracionado, especialmente no atual contexto económico. “A opção de pagamento fracionado adequa-se à realidade de muitos portugueses, principalmente se tivermos em conta as oscilações das condições económicas das famílias em Portugal nos últimos anos”, partilha.

A diretora de recrutamento de clientes e parcerias revela que, de acordo com o barómetro europeu das melhores práticas de compra de 2023, realizado pelo banco, “79% das pessoas acredita que os pagamentos fracionados são um incentivo para comprar produtos de economia circular”. Este dado sublinha a importância do pagamento fracionado na adoção de comportamentos de consumo mais conscientes e responsáveis, o que é uma prioridade para o Oney.

Além disso, Laurence Griseti destaca que o pagamento fracionado ajuda as famílias a manter os seus hábitos de consumo e a gerir melhor o orçamento, permitindo-lhes enfrentar imprevistos financeiros sem recorrer a créditos de longo prazo. “O pagamento fracionado também ajuda a enfrentar acontecimentos inesperados, que possam ter mais peso nos orçamentos familiares, e pode ser uma opção que ajuda a equilibrar as contas dos consumidores.”, diz.

Pagamentos sem juros

Um dos aspetos mais atrativos das soluções de pagamento fracionado do Oney Bank é a possibilidade de pagar sem juros, o que tem contribuído para a crescente adesão a esta modalidade. “A variável ‘sem juros’ é muito importante e ganha ainda mais relevo se inserida num pagamento fracionado”, afirma Laurence Griseti.

Contudo, a responsável sublinha a importância da literacia financeira, alertando que os consumidores devem estar informados sobre as diferenças entre soluções com e sem juros.

“É fundamental que a literacia financeira esteja presente na vida dos consumidores, para que saibam, por exemplo, que existem pagamentos fracionados com e sem juros e que deve haver uma responsabilidade partilhada, entre banca e consumidores, na transmissão de informação clara e transparente.”.

Algo que o Oney Bank valoriza e está empenhado em garantir que os consumidores compreendam as opções disponíveis. “Acreditamos que estamos a contribuir para a implementação no mercado das soluções sem juros, que, sem dúvida, facilitam o dia a dia dos consumidores”, conclui Laurence Griseti.

Artigo publicado na edição 427

Sobre o autorAna Rita Almeida

Ana Rita Almeida

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Nestas lojas cabem a história e o valor das conservas portuguesas

Da Comur – Fábrica de Conservas da Murtosa, uma das poucas em Portugal a manter métodos de produção artesanais, saem conservas que brilham nas 20 lojas O Mundo Fantástico da Sardinha Portuguesa em Portugal e na loja inaugurada em 2023 na Times Square, Nova Iorque. Esta última foi em 2024, a única marca portuguesa entre os finalistas dos Creative Retail Awards.

Pode dizer-se que a sardinha é o produto icónico desta rede de lojas, mas o portefólio reúne cerca de 30 variedades. A marca, que nasceu da vontade de celebrar as conservas de peixe como património da cultura portuguesa, comercializa as que são produzidas de forma artesanal na Comur, conserveira fundada em 1942 na Murtosa e adquirida em 2015 pelo Grupo O Valor do Tempo.

“Quando a Comur – Fábrica de Conservas da Murtosa se juntou ao Grupo O Valor do Tempo criámos O Mundo Fantástico da Sardinha Portuguesa, a marca visível por detrás da fábrica e onde cabe toda a história e magia. Queríamos criar algo mais do que apenas uma marca de conservas. Ambicionávamos ser um defensor ativo da gestão dos oceanos, um promotor da pesca responsável, um apoiante dos pescadores e das pessoas que trabalham, há gerações, na indústria conserveira portuguesa”, destaca Sónia Felgueiras, diretora de Marketing do grupo O Valor do Tempo.

Desde a abertura da primeira loja, em 2016, no Rossio, Lisboa, o projeto cresceu e levou as icónicas lojas um pouco por todo o Portugal Continental, Açores e Madeira. Em 2023 chegou aos EUA, com a abertura da loja na Times Square, Nova Iorque, e há a hipótese de, até ao final do ano, haver novidades sobre a abertura de um novo espaço da marca. As 21 lojas representam um volume de faturação anual de 20 milhões de euros.

Sónia Felgueiras afirma que a grande ambição do O Mundo Fantástico da Sardinha Portuguesa é dar a conhecer Portugal ao mundo através de um dos seus maiores ícones, “de uma forma original e com elevação, alinhando a marca com o projeto de economia social, que é a grande missão do Grupo O Valor do Tempo”.

“Hoje, com 20 lojas em Portugal e uma em Times Square, Nova Iorque, estamos seguros de que a nossa visão e estratégia não podiam ser mais diferenciadoras e bem-sucedidas”, assegura.

O legado da Murtosa
Iguaria que já ultrapassou as fronteiras nacionais, as conservas portuguesas são consideradas das melhores do mundo. Da fábrica da Comur saem anualmente 2,5 milhões de latas de conservas. Quando iniciou a sua atividade em 1942 esta era predominantemente dedicada às enguias, dada a abundância na Ria de Aveiro. A fábrica diversificou a produção, mas mantém até hoje os métodos de produção artesanais comuns à indústria conserveira da altura. “É à mão que todo o peixe é preparado delicadamente por quem herdou um legado de conhecimento de gerações”, explica Sónia Felgueiras, assegurando que esse legado é a chave do sucesso da empresa e permitiu diversificar a oferta.

Para além da sardinha nas suas muitas receitas populares – assada com pimentos, em tomate, alimadas ou simplesmente sem pele e sem espinhas, as lojas O Mundo Fantástico da Sardinha Portuguesa também comercializam conservas de bacalhau, polvo, salmão, corvina, dourada, robalo, búzios, cavala, mexilhão, e também opções vegetarianas. “Temos cerca de 30 diferentes variedades de conservas e continuamos na senda da inovação. Todos os anos lançamos novos produtos, de que destacamos os mais recentes, que têm tido grande recetividade, lagosta, caranguejo real, sardinha com mostarda e cavala com mostarda, por exemplo”, revela a responsável.

Lojas com história
O que diferencia as lojas da marca de outras lojas de conservas? Sónia Felgueiras assegura que O Mundo Fantástico da Sardinha Portuguesa criou um conceito único que aposta na experiência do cliente em loja, “proporcionando-lhe sensações novas e impactantes” através dos ambientes criados em cada um dos espaços. Que além do efeito visual, contam uma história. “Ora apostada num conceito de inspiração circense – o circo, tal como a sardinha, é nobre e popular – ora apostada na identidade de cada localização onde estão as nossas lojas, cada uma delas é única”, sublinha.

Se a loja de Óbidos é uma verdadeira biblioteca conserveira, a lembrar a génese literária da vila (onde se realiza um renomado festival literário internacional), em Coimbra o espaço foi buscar a inspiração na biblioteca Joanina da universidade – e recebeu em 2022, o prémio ‘Judge’s Choice’, tendo sido a primeira vez que um dos Creative Retail Awards veio para Portugal. Nos Açores, a loja ocupa o espaço de uma antiga retrosaria e em Évora houve o cuidado de vitrificar parte do chão da loja para tornar visíveis as ruínas romanas ali existentes. Já em Faro, o espaço faz lembrar um antigo armazém conserveiro da região.

Em agosto do ano passado, o Grupo O Valor do Tempo fez chegar um pouco da cultura gastronómica portuguesa à avenida mais famosa de Nova Iorque, com a abertura da 21ª loja O Mundo Fantástico da Sardinha Portuguesa, na Times Square. A loja marcou um novo capítulo no projeto de expansão da marca, abrindo caminho à sua internacionalização, e a escolha dos Estados Unidos da América veio de encontro a uma longa relação das conservas nacionais com aquele mercado.

“Nos Estados Unidos, as sardinhas portuguesas em conserva beneficiam de um prestígio histórico desde o início do século XX quando o consumo estava limitado às grandes cidades, especialmente Nova Iorque, que se destacava pelo preferência de conservas de maior valor acrescentado como a sardinha sem pele e sem espinha” revela Sónia Felgueiras, acrescentando que as conservas de peixe são “uma pedra angular da cultura americana moderna”, por se apresentarem como um produto pronto a comer, “saudável, saboroso, versátil, com larga durabilidade, com um portfolio alargado de peixes e fácil de transportar e viajar”.

Uma tendência de consumo que tem crescido exponencialmente no mercado norte-americano pelas particularidades já enumeradas e pela conveniência que as conservas de peixe trazem ao consumidor.

A Nova Iorque, a marca levou uma decoração dominada pelo verde e pelo dourado, num espaço que se apresenta como “uma requintada biblioteca conserveira para realçar a rica história das conservas de peixe em Portugal”, explica a responsável. Outro elemento em destaque é a roda gigante que decora a montra, com latas de conservas em movimento. O neón vermelho da montra exterior exibe “orgulhosamente” o nome ‘Portuguese Sardine’ e no interior um filme animado “transporta os visitantes para uma dimensão alucinante”, detalha ainda a diretora de Marketing do Grupo. Nesta biblioteca, onde as cores das latas de conservas ilustradas preenchem as prateleiras, não faltam também os livros. “Um souvenir que carrega a História de Portugal embrulhada em originalidade: é isso que a loja oferece”, sublinha.

Quem entra na loja é recebido pela música ‘Stars and Stripes Forever’, criada em 1896 pelo luso-americano John Philip Sousa (e outras do mesmo autor), e que se tornou na marcha nacional dos Estados Unidos da América. “Descendente de portugueses, John Philip Sousa representa bem a origem diversificada da nação americana, composta por múltiplas comunidades de imigrantes que concretizaram o sonho americano”, detalha Sónia Felgueiras.

Outro elemento em grande destaque são os seis bonecos músicos da loja, vestidos formalmente como antigamente, que representam uma banda filarmónica e foram inspirados nas festas populares portuguesas.

Questionada sobre o que poderá seguir-se a Nova Iorque, no que concerne à expansão de ‘O Mundo Fantástico da Sardinha Portuguesa’ fora de Portugal, Sónia Felgueiras é perentória: “O que se seguirá? O que os nossos sonhos ditarem”.
Para além de O Mundo Fantástico da Sardinha Portuguesa e da Comur, o Grupo O Valor do Tempo detém o Museu do Pão, a Casa Portuguesa do Pastel de Bacalhau, o Museu da Cerveja, A Brasileira do Chiado, a Mensagem de Lisboa, a Confeitaria Peixinho, a Joalharia do Carmo, o Figurado de Barcelos, a Casa Pereira da Conceição, o boutique hotel Hästens Sleep Spa e a Silva & Feijó. H

Uma marca portuguesa finalista dos Creative Retail Awards

As particularidades da loja O Mundo Fantástico da Sardinha Portuguesa em Times Square, colocou-a este ano, entre os finalistas dos Creative Retail Awards, uma distinção anual que reconhece o melhor que se faz no mundo em design e experiência no retalho. Foi a única marca nacional a estar na etapa final dos galardões, na categoria ‘Experiência no Retalho’, ao lado de marcas como a Nike, Disney e Fortnum&Mason.

Organizada pela Shop & Display Equipment Association (SDEA) e pela revista Retail Focus, os Creative Retail Awards são o palco dos melhores exemplos mundiais em matéria de experiência no retalho, design de loja, iluminação, visual merchandising e tecnologia, entre 21 categorias. Houve centenas de espaços candidatos de todo o mundo, mas apenas cinco chegaram a finalistas em cada categoria.

Sónia Felgueiras assume o “imenso orgulho e sentido de responsabilidade” com que a marca e o Grupo O Valor do Tempo receberam a notícia, especialmente por serem a única marca portuguesa entre os finalistas, “entre marcas gigantes”. “Esta distinção anual internacional reconhece o melhor que se faz no mundo em design e experiência no retalho, que representa uma prova de que estamos no bom caminho, apesar que gostarmos sempre de sentir que o melhor ainda está para vir”, refere.

Pouco mais de um ano passado da sua abertura na Times Square, a loja O Mundo Fantástico da Sardinha Portuguesa em solo americano é uma aposta ganha e consolidada. Sónia Felgueiras assegura que, para além do aspeto financeiro, aquele espaço funciona “como uma embaixada emocional de Portugal, contribuindo para reforçar o prestígio das conservas portuguesas no mundo”.

E dá como exemplo o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, comemorado este ano, e pela primeira vez, em Times Square, justamente na loja da marca, “num evento marcado pela emoção e pela presença de notáveis figuras da política portuguesa e americana”. Em paralelo, durante um jantar de angariação de fundos, o presidente norte-americano Joe Biden, brindou com um Vinho da Madeira oferecido pelo Grupo O Valor do Tempo. “O mesmo que foi usado para brindar à independência dos Estados Unidos da América em 1776, tendo Portugal sido o primeiro país a reconhecer a independência”, revela.

“Ao trazer para este evento o Vinho da Madeira, reafirmamos a nossa missão em solo americano desde que ali colocámos uma bandeira portuguesa em agosto do ano passado, com a loja The Fantastic World of the Portuguese Sardine: reforçar o passado histórico e cultural entre os dois países, antecipando as grandes comemorações dos 250 anos da Declaração da Independência, convidando todos os americanos para um brinde à liberdade, celebrando a mais importante efeméride nacional, agora ainda mais vincada pela sua ligação a Portugal”, enfatiza Sónia Felgueiras.

Artigo foi publicado na edição 427

Sobre o autorAna Grácio Pinto

Ana Grácio Pinto

Entrevista

Pedro Queiroz: “A Comissão Europeia deve assegurar que ninguém seja deixado para trás”

Pedro Queiroz, diretor-geral da FIPA, assegura que a indústria agro-alimentar está determinada “em posicionar-se na vanguarda da transição para a sustentabilidade”. Mas defende que é preciso uma atenção às necessidades de certos setores e empresas, em particular as PME, “que podem ter dificuldades com algumas das medidas/políticas que decorrerão do processo e da transição”.

Pedro Queiroz, diretor-geral da FIPA, assegura que a indústria agro-alimentar está determinada “em posicionar-se na vanguarda da transição para a sustentabilidade”. Mas defende que é preciso uma atenção às necessidades de certos setores e empresas, em particular as PME, “que podem ter dificuldades com algumas das medidas/políticas que decorrerão do processo e da transição”.

O que é necessário para que a adoção de medidas de sustentabilidade e a regulamentação a adotar nessa área, contribuam para o crescimento das empresas em particular e do setor como um todo, em Portugal?
A indústria agro-alimentar está determinada em posicionar-se na vanguarda da transição para a sustentabilidade, que é essencial para o bem-estar, a prosperidade e a longevidade das nossas economias, das nossas sociedades e do nosso planeta. No entanto, muitas empresas são confrontadas com desafios resultantes de uma amálgama de choques externos, como a pandemia de Covid, a guerra na Ucrânia e os crescentes desafios climáticos.
O desenvolvimento de um quadro comunitário para os sistemas alimentares sustentáveis constitui uma oportunidade para a União Europeia dar um passo decisivo no sentido da criação das condições de mercado e do desenvolvimento de uma base regulamentar adequada para que as empresas se tornem mais sustentáveis e mais competitivas. Devido à amplitude e à escala do setor, é inevitável que os operadores avancem a ritmos diferentes.
A Comissão Europeia deve, por conseguinte, assegurar que ninguém seja deixado para trás e que todos os intervenientes possam participar numa transição justa para sistemas alimentares mais sustentáveis. No caso particular de Portugal, deve ser dada uma atenção específica (por exemplo, sob a forma de apoio financeiro, formação, I&I, etc.) às necessidades de certos setores e empresas – em particular as PME – que podem ter dificuldades com algumas das medidas/políticas que decorrerão do processo e da transição. Do mesmo modo, os agricultores devem ser apoiados na transição para sistemas alimentares mais sustentáveis, a fim de promover a resiliência climática, melhorar a saúde dos solos, a qualidade da água e a eficiência.

O que é urgente trabalhar, a nível europeu, em termos de legislação, que venha de encontro ao crescimento da indústria agro-alimentar?
Deve ser desenvolvido um quadro regulamentar que permita fornecer os incentivos e o apoio financeiro e tecnológico necessários para que os intervenientes na cadeia alimentar possam assumir a referida transição para sistemas alimentares mais sustentáveis. Este quadro, deve estar assente na segurança jurídica, na clareza e em condições de concorrência equitativas para os operadores económicos, assegurando a harmonização a nível da UE e uma legislação com visão de futuro. O quadro regulamentar deve ainda centrar-se nas operações e não nos produtos, os critérios mínimos de sustentabilidade devem ser claros, realistas e baseados em dados científicos, deve reconhecer a força da diversidade dos sistemas alimentares da Europa e assegurar a viabilidade económica e a competitividade a longo prazo de toda a cadeia.

Que balanço faz do 9º Congresso da Indústria agro-alimentar?
O melhor indicador que temos é o conjunto de mensagens muito incentivadoras que recebemos da maioria dos participantes. Consideramos que estivemos ao nível das melhores expetativas e elevámos o nível de exigência. Tudo graças a um grupo de excelentes oradores – com percursos de grande nível no meio empresarial, no associativismo, na academia, na política e na administração pública -, uma plateia de elevada qualidade, uma estrutura organizativa muito bem oleada e, com um reconhecimento particular, uma equipa interna que “veste a camisola”. Foram abordados temas de enorme atualidade e ficaram mensagens e aprendizagens muito relevantes para o futuro do nosso setor. Mais uma vez, a FIPA conseguiu marcar a diferença.

Entrevista publicada na edição 427 

Sobre o autorAna Grácio Pinto

Ana Grácio Pinto

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Está a IA a revolucionar a forma como as empresas encontram e selecionam talentos?

Vanda Santos, diretora de serviço e qualidade da Adecco, responde…

Hipersuper

Os sistemas de Inteligência Artificial (IA) estão a transformar profundamente a gestão de recursos humanos nas empresas, trazendo mudanças significativas em várias áreas chave, nomeadamente no recrutamento, na gestão de talento ou na automação de tarefas. 

Vanda Santos, diretora de serviço e qualidade da Adecco, responde:

Nos últimos anos, a inteligência artificial (IA) tem-se afirmado como um catalisador de mudanças no mercado de trabalho. Não só está a redefinir funções e tarefas, mas também está a revolucionar a forma como as empresas encontram e selecionam talentos. Na Adecco reconhecemos que esta transformação é uma oportunidade ímpar para melhorar o processo de recrutamento, tanto do ponto de vista da eficiência do recrutador como também da experiência do candidato.

Os assistentes de recrutamento virtuais, cada vez mais utilizados na fase inicial do processo, são um dos melhores exemplos em como a IA melhora significativamente a rapidez do processo e a adequação entre o perfil do candidato e a vaga de emprego.

Por exemplo, a triagem de currículos, um dos processos mais demorados e desafiadores, pode agora ser otimizada através de algoritmos de IA. Estes sistemas analisam currículos em frações de segundo, identificando os candidatos que melhor correspondem às especificações da vaga. Possibilitam também o envio automático de testes de conhecimentos e aptidões, que complementam a análise das capacidades dos candidatos em aspetos identificados como críticos para uma função (por exemplo o nível de conhecimento de um idioma estrangeiro).

Outra tendência na utilização de IA no recrutamento são as entrevistas virtuais, onde a empresa define perguntas-chave, os candidatos gravam as suas respostas (em qualquer lugar e a qualquer momento) e a IA analisa as gravações, comparando-as com os critérios definidos.

Com base na informação gerada é possível disponibilizar rankings de adequação dos candidatos que responderam a um anúncio de emprego, o que não só economiza tempo, mas acima de tudo permite que as equipas de recrutamento se concentrem na avaliação qualitativa dos candidatos, em particular das suas competências comportamentais.

Estas tecnologias não só agilizam o processo, mas também ajudam a garantir uma avaliação mais imparcial, minimizando enviesamentos característicos de decisões humanas.

Além disso, a IA é reconhecida pela sua incomparável capacidade de análise de dados aportando informações relevantes na gestão do processo de seleção. Informações como o passado profissional de colaboradores bem-sucedidos, permite às empresas identificar padrões e características comuns, ajudando a prever quais novos talentos têm mais potencial para se destacar. Também a informação sobre as fontes de recrutamento que aportaram melhores resultados, permite planear os recrutamentos futuros de forma mais assertiva e direcionada.

Outro aspeto importante é o impacto positivo destes sistemas na experiência do candidato. Sistemas automatizados podem enviar feedback instantâneo, por exemplo do status de uma candidatura, responder a perguntas e até fornecer recomendações de desenvolvimento de carreira.

Por fim, é importante ressaltar que a IA não substitui a interação humana; antes, complementa-a. A verdadeira essência do recrutamento ainda reside no entendimento das necessidades dos candidatos e na construção de relações cada vez mais humanizadas. Na Adecco, continuamos a priorizar essa humanização, utilizando a IA como uma ferramenta para melhorar os nossos serviços e garantir que cada candidato se sente valorizado.

A inteligência artificial está, sem dúvida, a transformar o panorama do recrutamento. Ao abraçar estas tecnologias, estamos não só a encontrar talentos de maneira mais eficaz, mas também a oferecer uma experiência de recrutamento que coloca o candidato no centro de tudo. Esta é uma jornada que apenas começou, e estou entusiasmada com as possibilidades que nos aguardam.

Artigo publicado na edição 427

 

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Ângela Sarmento: “O atendimento ao cliente é uma das nossas prioridades”

Ângela Sarmento, diretora de marketing e comunicação do Grupo Apolónia, enaltece a aposta numa oferta diversificada, que combina produtos premium e básicos, e sublinha que esta tem sido essencial para o crescimento sustentado da marca. Em entrevista ao nosso jornal não tem dúvidas: a inovação e a satisfação do cliente continuam a ser pilares fundamentais para o sucesso do Apolónia.

Ângela Sarmento, diretora de marketing e comunicação do Grupo Apolónia, enaltece a aposta numa oferta diversificada, que combina produtos premium e básicos, e sublinha que esta tem sido essencial para o crescimento sustentado da marca no competitivo mercado do retalho alimentar. Além dos planos de expansão para Lisboa, Porto e Espanha, o grupo reforça o seu compromisso com a sustentabilidade, através de iniciativas como a redução de emissões de CO2 e o combate ao desperdício alimentar, enquanto mantém uma forte ligação à comunidade local. E não tem dúvidas: a inovação e a satisfação do cliente continuam a ser pilares fundamentais para o sucesso do Apolónia.

Como é que o grupo Apolónia tem conseguido manter-se relevante e diferenciado no mercado do retalho alimentar, especialmente num segmento que combina produtos premium e básicos?
Precisamente por isso, por combinarmos produtos distintos não só entre si, mas dos restantes players do mercado. Somos conhecidos por termos produtos diferenciadores e de qualidade superior, o que está diretamente ligado ao nosso principal foco que é a satisfação dos nossos clientes. Para isso, temos de responder não só às suas expectativas, mas também às suas necessidades de consumo.

Quais os principais resultados em 2023? Esperam crescer este ano?
Temos tido um crescimento sustentável ao longo dos anos e acreditamos que este ano não será diferente.

A presença de serviços como o sushi preparado na hora são elementos que diferenciam o Apolónia. Como surgiu a ideia de introduzir este tipo de serviços e como tem sido a aceitação por parte dos clientes?
É verdade que fomos o primeiro supermercado em Portugal a ter sushi preparado na hora e, na altura, isso foi altamente inovador, algo que está no nosso ADN. Gostamos de inovar, de trazer serviços distintos para os nossos clientes. A nossa equipa está constantemente à procura de soluções para inovar e acrescentar valor aos nossos clientes e é sempre com esse objetivo que vamos desenvolvendo os nossos serviços. A aceitação é geralmente boa, pois os nossos clientes já estão habituados ao nosso serviço diferenciador e, sobretudo, a serem ouvidos quando nos fazem sugestões.

Ângela Sarmento, diretora de marketing e comunicação do Grupo Apolónia

O conceito baseia-se na oferta de uma variedade única de produtos, tanto básicos como gourmet. Como é que conseguem equilibrar a variedade com a rentabilidade?
A nossa prioridade é a satisfação dos nossos clientes, pelo que a nossa preocupação principal é garantir uma oferta variada e de qualidade. Porém, na seleção de produtos e fornecedores, tentamos sempre garantir que as escolhas que fazemos são benéficas para os clientes, mas também para a empresa.

Os produtos estrangeiros desempenham um papel importante no Apolónia, desde a fundação. Como fazem a seleção destes produtos para garantir que respondem às necessidades e expectativas dos clientes?
Esta seleção é feita de várias formas. Começa na nossa equipa comercial, que procura ativamente por novos produtos, quer seja pelo meio dos fornecedores que temos, ou de novos, ou mesmo pelas viagens que faz para conhecer o que há lá fora. Passa também pela pesquisa que fazemos de tendências, mas sobretudo por escutarmos os nossos clientes e irmos ao encontro daquilo que procuram. Temos muitos clientes a sugerirem produtos, ou a pedirem-nos especificamente para termos determinadas referências e sempre que possível respondemos a esses pedidos.

Apesar da oferta de produtos de gama alta, rejeitam o rótulo de “supermercado gourmet”? Como define o posicionamento da marca em termos de oferta e público-alvo?
Durante muitos anos usámos a assinatura “O Verdadeiro Supermercado”, porque é isso que somos, um supermercado que tem os produtos que todos nós precisamos para o nosso dia-a-dia. Claro que temos produtos de gama alta, mas nas nossas lojas tanto é possível encontrar os produtos mais básicos e das marcas mais comuns, disponíveis em qualquer superfície comercial, como produtos de gama superior, ou mesmo exclusivos, e que respondem às preferências mais exigentes. Esta é uma característica intrínseca ao nosso objetivo de termos a maior variedade de produtos possível.
É verdade que temos um posicionamento de marca superior, muito ligado à qualidade dos nossos produtos e serviços, e claro que isso se reflete no nosso público-alvo que corresponde a indivíduos com um poder económico mais elevado. No entanto, acreditamos que o nosso supermercado pode ser para todos e tem produtos para todas as necessidades.

A expansão para o resto do país é um objetivo conhecido. Quais os planos? O conceito será diferente ou querem manter a mesma oferta de produtos e serviços?
Temos o objetivo de expandir para as zonas da grande Lisboa e do grande Porto, mas só irá acontecer quando surgir a oportunidade que responda não só às nossas exigências logísticas, mas também às necessidades do nosso target. Quando acontecer, a ideia será manter o nosso conceito, pois é por isso que somos conhecidos e é por isso que os nossos clientes de fora do Algarve nos pedem para abrirmos fora da região.

Expandir para Espanha é uma hipótese? Quais os principais desafios e oportunidades que vê neste mercado?
Sim, a expansão para o Sul de Espanha e Madrid é um objetivo a médio prazo. Estamos a falar de um mercado forte e diversificado, onde há uma procura crescente por experiências mais exclusivas e produtos de qualidade superior, o que está bastante alinhado com o nosso posicionamento. É uma boa oportunidade para expansão da marca, mas sabemos que teremos alguns desafios, como outros players já bem consolidados no mercado.

Que papel desempenha a comunidade estrangeira residente e os turistas no sucesso do Apolónia?
Todos os nossos clientes são importantes, então não fazemos distinção entre eles. Todos contam para o nosso sucesso e a estratégia é a mesma para todos: a sua satisfação. Isso passa por garantirmos que oferecemos produtos de qualidade, uma variedade inigualável e um serviço distinto. Claro que estamos atentos às nacionalidades que se têm vindo a destacar em termos de ocupação no Algarve e temos tentado responder às necessidades específicas das mesmas. Por exemplo, com o aumento do público americano temos vindo a notar um aumento da procura de produtos consumidos pelo mesmo, especialmente em alturas como o Thanksgiving, que já fez com que adaptássemos o fornecimento de perus para essa altura do ano.

Os clientes do Apolónia são conhecidos por sugerir produtos que gostariam de ver nas lojas. Como é que a empresa integra este feedback no processo de seleção e introdução de novos produtos?
Faz naturalmente parte da nossa estratégia. Talvez já tenham ouvido o lema do nosso fundador, o Sr. Avelino Apolónia, “Se não temos hoje, arranjamos para amanhã.”, e essa tem sido a base de resposta a esses pedidos. Sempre que algum cliente nos pede um produto em específico, avaliamos a viabilidade de comercializarmos o mesmo e só não o fazemos se não for possível.


O Apolónia trabalha com produtores locais para oferecer produtos frescos e regionais nas suas lojas? Considera que esta parceria é importante para reforçar a identidade da marca e responder às expectativas dos consumidores que procuram produtos de origem local?

A nossa vasta gama de produtos inclui, naturalmente, produtos locais e regionais. Sempre que possível, priorizamos a comercialização destes produtos, até porque tem sido uma tendência na procura.

Iniciativas como a Feira do Vinho e Queijo Apolónia são importantes? Qual o objetivo e qual o balanço que fazem?
Essas iniciativas são o que dá dinamismo às nossas lojas e promovem a nossa variedade de produtos, pelo que são naturalmente importantes. Não só porque nos ajudam a divulgar produtos de qualidade muitas vezes desconhecidos do público, como nos permitem mostrar a ampla variedade de referências que temos nas diferentes secções e categorias. O balanço é positivo, sobretudo nesta última Feira do Vinho e Queijo, em que promovemos a harmonização de dois produtos em que somos especialistas e que temos uma variedade inigualável no país. Houve uma boa adesão, os clientes gostaram e recebemos vários elogios pela iniciativa.

O Apolónia investe significativamente no atendimento ao cliente? Que tipo de formação recebem os colaboradores para assegurar esta experiência de topo? É diferenciador no contato com o cliente?
O atendimento ao cliente é uma das nossas prioridades, pelo que tentamos garantir que a nossa equipa está sempre ao nível que os nossos clientes estão habituados. Todos os colaboradores, assim que integram a equipa, na Formação de Acolhimento têm um módulo dedicado só ao atendimento ao cliente, onde aprendem a nossa filosofia de atendimento, os procedimentos gerais de atendimento e os procedimentos específicos. E sim, estamos certos de que somos diferenciadores no contacto com os nossos clientes. Quantos supermercados conhece em que existem colaboradores dedicados a ajudar os clientes a ensacar as compras e a levá-las ao carro? Ou que acompanham os clientes para aconselhar determinados produtos sempre que solicitado? Podia dar diversos exemplos de como o nosso contacto com o cliente é diferenciado e distinto. Não só porque estamos sempre disponíveis, mas porque sabemos aconselhar os nossos clientes, somos atenciosos e nunca descuramos o profissionalismo que nos caracteriza.

A aposta no mercado online é cada vez mais relevante no setor de retalho. O Apolónia tem planos para desenvolver as vendas online? Como é que trabalham a integração desta oferta na experiência de compra dos clientes?
Já há vários anos que temos loja online e que fazemos entregas em toda a região do Algarve. Recentemente, disponibilizámos as entregas em todos o país através da nossa loja online, de produtos não frescos, apesar de já o fazermos por pedido direto (por telefone ou email) desde sempre. Esta aposta faz parte do crescimento natural da marca, mas também da procura que existe pelos nossos produtos. Estamos naturalmente a trabalhar no desenvolvimento das vendas online e o próximo passo será encontrar uma alternativa para a entrega de produtos frescos em todo o país, garantindo a mesma qualidade que é possível encontrar nas nossas lojas físicas. A importância do desenvolvimento desta área de negócio está diretamente ligada à satisfação dos nossos clientes, pois enquanto não abrimos fisicamente fora do Algarve, esta é a forma que temos de fazer chegar os nossos produtos a todos os nossos clientes espalhados pelo país.

A sustentabilidade e a responsabilidade social são temas de grande importância para os consumidores. Que iniciativas tem o Apolónia em curso para garantir práticas sustentáveis e contribuir para a comunidade local?
Ao longo do ano, colaboramos com várias iniciativas de cariz social de instituições e grupos pertencentes às áreas envolventes das nossas 3 lojas físicas (Almancil, Galé e Lagoa). Somos uma empresa algarvia e consideramos importante contribuirmos para as diferentes causas e necessidades existentes na comunidade. Contribuímos essencialmente com a doação de bens ou cabazes alimentares, quer seja para iniciativas de apoio humanitário, animal, ou desportivo, pois é a melhor forma que temos de ajudar.
No que diz respeito à sustentabilidade, também temos várias iniciativas em curso nesse sentido: todos os dias combatemos o desperdício alimentar ao doarmos excedentes alimentares para instituições como a Refood ou o Banco Alimentar; temos painéis fotovoltaicos nas três lojas, que desde que foram instalados já nos permitiram evitar a emissão de 1360 toneladas de co2, o equivalente a 1860 árvores plantadas; estamos empenhados na promoção de uma mobilidade mais sustentável, com o alargamento do serviço de carregamento de veículos elétricos nas nossas lojas. Atualmente já estão disponíveis em Almancil e Lagoa, e até ao final do ano o serviço ficará também disponível na loja da Galé e temos disponíveis depósitos próprios para que os clientes possam depositar pilhas usadas, lâmpadas ou pequenos equipamentos elétricos.
Temos colaborado sempre com a APED na divulgação de campanhas de sensibilização com vista à promoção da cidadania ambiental e um consumo consciente, como foi o caso da campanha dos Resíduos Equipamentos Elétricos, que teve o intuito de mobilizar os cidadãos para a entrega destes equipamentos nos canais certos de forma a garantir a sua reciclagem; da campanha Datas Validade, para ajudar o consumidor a interpretar e distinguir as diferentes indicações e rentabilizar o consumo dos alimentos para evitar o desperdício; ou a campanha Plásticos, com foco no descarte adequado do plástico e o uso de alternativas reutilizáveis.

Qual é a sua visão para o futuro do Grupo Apolónia em Portugal? Onde vê o Grupo, por exemplo, daqui a cinco anos?
Vejo o Grupo Apolónia como uma empresa bem consolidada no mercado, mesmo estando fisicamente presente apenas no Algarve, pelo que o futuro só pode ser próspero. Tenho consciência de que o retalho alimentar é um mercado altamente competitivo, mas também sei que estamos à altura dos desafios que se avizinham, graças ao compromisso e dedicação da nossa equipa. Cinco anos é tempo suficiente para expandirmos a nossa presença de forma sustentável, com pelo menos mais uma ou duas lojas, e podemos alcançar o crescimento não só através das lojas físicas, mas também do fortalecimento das nossas plataformas digitais, oferecendo aos nossos clientes uma experiência omnicanal cada vez mais fluida. Se mantivermos a nossa essência, com foco no cliente e nos mantivermos atentos às suas necessidades e expectativas, o futuro só pode ser promissor.

Entrevista publicada na edição 427 do Hipersuper

Sobre o autorAna Rita Almeida

Ana Rita Almeida

João Baluarte, sócio responsável pelos estudos financeiros na OnStrategy

Entrevista

João Baluarte: “A existência de marcas verdadeiramente globais continua a ser um dos calcanhares de Aquiles do nosso crescimento económico”

João Baluarte, sócio responsável pelos estudos financeiros na OnStrategy, evidencia a força crescente de algumas marcas nacionais que têm conseguido afirmar-se num mercado altamente competitivo, impulsionadas pela consolidação, internacionalização e um contexto económico mais favorável. E aponta: “a existência de marcas verdadeiramente globais continua a ser um dos calcanhares de Aquiles do nosso crescimento económico. Com algumas exceções, continuamos a ter marcas, na sua grande maioria orientadas ao mercado nacional”.

A consultora OnStrategy apresentou recentemente os resultados do estudo anual das Marcas Portuguesas Mais Valiosas de 37 setores de atividade, desenvolvido recorrendo à metodologia de Royalty Relief, uma metodologia em conformidade com as normas ISO20671 (avaliação de estratégia e força) e ISO10668 (avaliação financeira), em que todas as marcas são auditadas e avaliadas com base em informação pública, nomeadamente relatórios e contas, dados de mercado e indicadores de força de marca.
Entre as 37 marcas líderes setoriais, identificadas a partir da totalidade das 100 marcas portuguesas mais valiosas, a CGD (+47%), o Pingo Doce (+38,4%), a Parfois (+34,12%), os CTT (+29,6%), a Wells (+29,4%) e a Portugalia (+28,6%) destacaram-se como as marcas que mais valorizaram face a 2023, sendo que a Distribuição/Retalho e Banca foram os setores que mais valorizaram.
Relativamente aos setores de produção, distribuição e retalho alimentar, as marcas líderes em 2024 foram o Pingo Doce no segmento de “Retail Food”, cuja proprietária Jerónimo Martins se destacou também como a marca de Holdings mais valiosa, a Delta, no segmento de “Beverages Non Alcohol”, a Super Bock, no segmento de “Beverages Alcohol”, a Lactogal, no segmento de “Food”, e a Portugália, no segmento de “Retail Restaurants”.

O estudo revela um crescimento significativo em várias marcas de retalho. Olhando para o mercado, quais os principais fatores que contribuíram para a valorização de marcas como o Pingo Doce ou a Parfois?
De uma forma geral, temos vindo a observar uma clara recuperação pós pandemia nas marcas no setor da distribuição e do retalho, com um claro reforço nos índices de força de marca. Por outro lado, o efeito inflacionista dos últimos anos permitiu um reforço nos volumes de negócio das principais marcas de retalho, conjugado com a manutenção ou reforço das suas margens operacionais, bem como o contexto altamente competitivo deste setor e dos seus subsetores e também da implementação ou reforço de fenómenos de consolidação e internacionalização. Adicionalmente, beneficiaram também de uma melhoria de risco da nossa economia. Todos estes efeitos resultaram numa melhoria no valor financeiro das marcas destes setores onde, são exemplos, a Parfois e o Pingo Doce.

No setor da distribuição e retalho alimentar, o Pingo Doce destacou-se com uma valorização de 38,4%. Neste setor, como tem observado o posicionamento e crescimento das marcas? É um setor forte e com muita concorrência. Como é que podem se diferenciar junto dos consumidores?
Mais do que destacar marcas, penso que é importante entender a tendência. O retalho e a distribuição em geral, são setores maduros e onde existe muita concorrência. Aquilo que temos vindo a observar é que o trabalho de marca neste setor tem vindo a revelar-se muito consistente, com os índices de força de marca a terem uma tendência de crescimento nos últimos cinco anos. A entrada de novos players no mercado e alguns fenómenos de consolidação também têm obrigado as marcas a serem muito competitivas e a terem, obrigatoriamente o posicionamento de marca correto, bem como ferramentas e mensagens consistentes e coerentes para as suas audiências. Aliado a um contexto inflacionista e a alguma ressaca do pós-covid, resultaram num crescimento bastante considerável nos dois últimos anos, beneficiando de um contexto atual e de um outlook económico positivo, em particular aquelas marcas que atuam maioritariamente no mercado português.
A marca Wells registou um aumento de 29,4% no seu valor. É uma marca que tem apostado na proximidade com o consumidor. Será também um fator de crescimento desta marca no segmento de “Retail Health & Wellness”?
Sim, sem dúvida. Neste caso, para além dos aspetos já referidos, beneficia também da situação específica do setor de retalho de saúde, ou seja, do crescimento da oferta de produtos farmacêuticos e dermocosméticos e também do aumento da oferta de prestação de cuidados de saúde.

A Parfois lidera no segmento de “Retail Specialist”. Quais são as principais tendências no setor de retalho especializado que a Parfois soube capitalizar para alcançar esta posição de destaque?
A Parfois tem um posicionamento de marca muito claro, uma segmentação de produto e de canais de distribuição muito assertiva e consistente, que aliada a uma estratégica de internacionalização permitiram alcançar essa posição de destaque. Diria mesmo que tem sido um exemplo no seu setor e no panorama das marcas portuguesas.

Como vê o posicionamento das marcas portuguesas nos vários setores? A inovação e o eixo da sustentabilidade fazem a diferença?
A existência de marcas verdadeiramente globais continua a ser um dos calcanhares de Aquiles do nosso crescimento económico. Com algumas exceções, continuamos a ter marcas, na sua grande maioria orientadas ao mercado nacional. O facto de um grande número das nossas empresas serem de pequena e média dimensão e, consequentemente a maioria das suas marcas, é um inibidor do seu crescimento, qualitativa e quantitativamente. Aquelas que por seu lado têm a escala que lhes permite sair fora de portas e alavancar a sua notoriedade e relevância, conseguem ombrear com as melhores nas suas indústrias. Nestas, a inovação e a sustentabilidade, seja ela ambiental, social ou económica, são fatores que têm cada mais relevância e pesam cada vez mais no total das dimensões e atributos que constituem a sua força de marca.

Considerando o contexto económico atual, quais são as suas previsões para a evolução das marcas de retalho e distribuição em Portugal, particularmente em termos de valorização e impacto no mercado interno e externo?
Quanto aos aspetos quantitativos que impactam a valorização, acredito que dependerá muito da economia internacional, mais do que da nossa economia. As tensões na Ucrânia e Médio Oriente, as eleições norte americanas e os seus impactos na economia europeia podem a ter algum impacto no seu crescimento e, inevitavelmente na portuguesa. Estes fatores podem ter impacto quer na evolução dos negócios quer na perceção de risco que poderá afetar o valor. Quanto aos aspetos comportamentais, de relação das marcas com os seus stakeholders, acredito que as principais marcas, sejam elas dos sectores do retalho e distribuição, ou dos restantes sectores continuarão a mostrar a resiliência e a consistente evolução que têm mantido nos últimos 10 anos, no rescaldo do pós Troika.

A metodologia Royalty Relief utilizada na avaliação das marcas baseia-se em dados públicos e indicadores de força de marca. Como é que esta metodologia se diferencia de outras formas de avaliação de marcas?
De uma forma geral, esta metodologia é aquela que é mais comumente aceite por auditores, banca e em disputas judiciais. É uma das metodologias recomendadas nas normas ISO 10668 e 20671, que definem os guidelines quantitativos e qualitativos de avaliação de marcas. De uma forma geral, é um processo que incorpora uma análise comportamental, definida por um Índice de força de marca, uma análise financeira, que incorpora projeções de volume de negócios, margens operacionais, royalties e taxas de desconto e uma análise legal, que inclui uma análise sobre a forma como a marca se encontra registada e protegida. Para cada uma destas dimensões recorremos a fontes de informação externas e a estudos de mercado, que permitem aferir da sua força nos segmentos e nas geografias onde atua. Nesse sentido, elimina muitos critérios de subjetividade que outras metodologias, como por exemplo o earnings split incorporam.

Esta entrevista foi publicada na edição 427 do Hipersuper

Sobre o autorAna Rita Almeida

Ana Rita Almeida

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