Especial. Produtos de charcutaria com “ligeira” perda de vendas
O consumo de produtos de charcutaria começou a cair no final do último ano, depois da Organização Mundial de Saúde (OMS) ter colocado estes produtos no mesmo patamar de risco para a saúde pública em que coloca o tabaco
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Ana Catarina Monteiro
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O consumo de produtos de charcutaria começou a cair no final do último ano, depois da Organização Mundial de Saúde (OMS) ter colocado estes produtos no mesmo patamar de risco para a saúde pública em que coloca o tabaco.
A “declaração de guerra” da OMS às carnes que passam por algum processo de transformação – seja salga, fumeiro ou adição, apontando para o facto de estarem ligadas ao cancro colo-retal, baseou-se numa investigação da IARC (Agência Internacional para a Investigação sobre o Cancro). Os 22 especialistas responsáveis pelo estudo dizem haver “provas suficientes” da ligação de risco, especificando até que a ingestão de “menos de duas fatias de bacon por dia” – 50 gramas – aumenta em “18%” a probabilidade de se desenvolver a doença conhecida como cancro do intestino.
Além de posicionar as carnes processadas, como bacon, salsichas, fiambre, presunto, entre outras, enquanto “alimentos cancerígenos”, notícia que veio a público em outubro passado, a organização alertou ainda para o consumo de carnes vermelhas, como a de vaca, vitela ou porco, como sendo “possivelmente” cancerígenas.
Desde então, os produtores de carnes de porco têm vindo a sofrer com a queda do consumo e foi inclusivamente criado um “gabinete de crise” no início de dezembro para sensibilizar a opinião pública e apelar ao consumo da carne de porco nacional.
“O setor de charcutaria foi bastante prejudicado no último ano devido à crise que ainda se faz sentir no País e não só. Ainda que sejam produtos alimentares, não são considerados bens essenciais na alimentação diária. Mas, acima de tudo, as notícias devastadoras que alvejaram a charcutaria no último trimestre do ano fizeram com que sofresse uma quebra muito acentuada”, dá conta Marta Ferro, diretora comercial e de marketing da Fercarnes.
Último trimestre com dificuldades
Até setembro de 2015, os resultados das vendas dos produtos de charcutaria, concretamente fiambre, salsichas em vácuo e presunto, não apresentavam grandes quedas, segundo os dados da consultora Nielsen. A categoria de fiambre mostra um recuo de 2% em valor para os 141,5 milhões de euros, assim como uma queda de 2% em volume para os 19,2 milhões de quilos vendidos nos primeiros nove meses do ano. Apesar disso, as marcas de fabricante conseguiram melhorar a sua performance, aumentando as vendas em 7% e ascendendo a uma quota de mercado de 48%. Ao mesmo tempo, as marcas próprias perdem 5% do consumo em hipers, supermercados e lojas tradicionais, onde a categoria de fiambre foi comprada por 80% dos lares em Portugal Continental.
Adquirida por 63% das famílias portuguesas, no mesmo período, a categoria de presunto, por sua vez, não mostra descidas. O volume de vendas de presunto cresceu 6% para os 3,7 milhões de quilos, conquistando o valor de 52 milhões de euros. Quer as marcas próprias (4%) como as de fabricante (2%) cresceram, mas são as marcas da distribuição que lidera o mercado com uma quota de 52%.
Com uma penetração mais baixa ficam as salsichas em vácuo que, ainda assim, até setembro não revelavam quebras acentuadas. A categoria caiu apenas 1% em volume para os 3,8 milhões de unidades vendidas nos primeiros nove meses do ano passado. Mas, no entanto, cresceu 2% em valor para os 6,8 milhões de euros, sendo que as marcas de fabricante foram as únicas a crescerem (9%), apesar de não deterem a maior quota de mercado (39%).
“Embora o mercado no seu conjunto esteja a registar uma ligeira perda de vendas, a Porminho teve aumentos significativos nos produtos de livre-serviço, nomeadamente fatiados”. No ano transato, a produtora conquistou um aumento de vendas “em valor de cerca de 6% em charcutaria, continuando a crescer pelo sétimo ano consecutivo”, explica Rui Carvalho, diretor Comercial da Porminho.
“Crescimento esse que poderia ser de dois dígitos não fossem dois factores a criarem constrangimento na atividade, nomeadamente a situação em Angola e o abrandamento do consumo de charcutaria no último trimestre do ano”, aponta também o diretor da empresa que atingiu um “volume de negócio de 42 milhões de euros” em 2015, sendo que a exportação “pesa 15%” do total.
Consumidor quer alimentos equilibrados
“No que diz respeito ao mercado, em particular ao comportamento dos consumidores, continuamos a verificar que a procura de soluções de conveniência, soluções económicas e produtos equilibrados do ponto de vista alimentar, continuam a liderar as preferências dos consumidores. É visível que a grande agressividade promocional, nomeadamente dos principais ‘players’ da distribuição, tem um impacto importante na criação do impulso de compra e nas opções dos consumidores”, revela o diretor Comercial da Porminho, que prevê para 2016 “um aumento da dinâmica concorrencial entre as marcas mais relevantes, esperando que se possa estimular o mercado no sentido de recuperar os níveis de consumo”.
2015 foi um ano negativo para a Fercarnes que, “em termos gerais, apresentou quebras em todos os meses do ano face ao período homólogo do ano anterior”. A falta de dinâmica do negócio foi agravada pela “atuação pouco significativa nas grandes superfícies” uma vez que produz um produto “pouco massivo, onde impera a qualidade e não o preço”, sublinha a Marta Ferro.
O ramo de atividade principal da empresa é o “fabrico de enchidos regionais”, além de operar também no segmento de talho e comercializar outros produtos de charcutaria, como fiambre, presuntos, entre outros. “A categoria que mais tem tido dificuldade em vingar nos últimos tempos é de fato a dos enchidos. Nos fiambres o consumidor tem substituindo o porco pelas aves e na carne fresca igualmente, mas enchidos só há de porco”.
O setor das carnes, sobretudo as regionais, “ainda que seja um setor pouco visível e aparentemente com pouco impacto, tem algum peso a nível nacional, gerando cerca de 16 mil postos de trabalho em aproximadamente 700 empresas, divididas em grandes, médias, pequenas e micro empresas, mas com maior incidência nas duas últimas”. A responsável considera que esta indústria portuguesa ainda é vista com “pouca relevância” e que o consumidor “infelizmente não está tão bem informado como deveria”.