“Há mais empresas a exportar e menos a importar”, diz Miguel Cruz (IAPMEI)
O programa “Portugal Sou eu” entrou numa segunda fase, na qual a distribuição e suas marcas têm um “papel essencial” na divulgação da produção nacional. A indústria, por sua vez, está a inovar com novas formas de “aproveitar” a matéria-prima portuguesa
Ana Catarina Monteiro
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O programa “Portugal Sou eu” entrou numa segunda fase, na qual a distribuição e suas marcas têm um “papel essencial” na divulgação da produção nacional. A indústria, por sua vez, está a inovar com novas formas de “aproveitar” a matéria-prima portuguesa.
O programa Portugal Sou Eu (PSE) foi lançado pelo Governo de Portugal em dezembro de 2012, em substituição da iniciativa “Compro o que é nosso” da Associação Empresarial de Portugal (AEP).
A mesma associação faz parte do consórcio que gere atualmente o programa PSE, sob liderança do Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação (IAPMEI), agência governamental para a promoção da competitividade no tecido empresarial português.
Além da AEP, a CAP (Confederação dos Agricultores de Portugal) e a AIP (Associação Industrial Portuguesa) fazem a “divulgação específica do programa”, reconhecido pelo Governo como marca oficial dos produtos portugueses que apresentem uma “Taxa de Incorporação Nacional” igual ou superior a 50%.
50% das atribuições no agroalimentar
Neste momento, existem “3500 produtos e serviços” qualificados com o selo, sendo que “mais de 50% pertence ao setor agroalimentar”. Destes, “à volta de um terço são aqueles de adesão relativamente fácil, os com Denominação de Origem Protegida (DOP) ou os produtos que são reconhecidos como tradicionais, incluindo algumas coisas de artesanato”. Estes produtos têm entrada direta para o programa, sendo que, os restantes têm que passar por uma avaliação, feita através de “um mecanismo de cálculo dos níveis de incorporação nacional”, explica Miguel Cruz, presidente do IAPMEI, e muitas vezes porta-voz do projeto PSE.
Em entrevista ao HIPERSUPER, o presidente da agência assume novamente esse papel, destacando o agroalimentar como principal motor para a visibilidade do programa, devido ao facto de produzir sobretudo para consumo final, ao contrário do que acontece com as restantes indústrias envolvidas, cuja produção é na generalidade a matéria-prima ou a ferramenta de trabalho para outras fileiras.
Perceção do consumidor final
Um dos objetivos do programa consiste em “aproximar do consumidor final a perceção dos níveis de incorporação nacional”, fazendo com que perceba a importância que tem a integração dos produtos nacionais na indústria para o bem-estar da economia portuguesa.
Missão que tem sido cumprida pelo PSE, segundo Miguel Cruz. “Os últimos estudos mostram que já começa a haver um reconhecimento, relativamente elevado, da importância da aquisição de produtos com altos níveis de incorporação nacional, nos campos económico e social”. Para atingir este resultado, o setor agroalimentar “tem sido um dos principais focos de atenção do PSE”.
Além de ser o segmento industrial ao qual pertence a maioria dos produtos com o selo “Portugal Sou Eu”, é o que tem uma visibilidade que o presidente diz ser “mais fácil” do ponto de vista dos consumidores. Por isso, é o melhor interlocutor da imagem de “qualidade e confiança” debaixo da qual o programa pretende reunir um leque de produtos portugueses.
1400 lojas em processo de avaliação
Desde o início de este ano, o selo do programa pode ser também aplicado a estabelecimentos de comércio, além de produtos. O que significa que o PSE “entrou numa segunda fase”, em que se pretende fazer um “alargamento da marca através de uma divulgação por meio de vários agentes”.
No primeiro semestre, 51 lojas aderiram ao estatuto de “Estabelecimento Aderente” e estão neste momento “1400 espaços” em processo de avaliação. “A distribuição aqui é exatamente a mesma, mais de 50% são do setor agroalimentar, e esperamos que estas lojas possam estar dentro do sistema com alguma brevidade. Temos uma expetativa grande de crescimento”.
A rede de estabelecimentos aderentes vem reforçar a divulgação dos produtos envolvidos e do programa em si, junto dos consumidores. Nesta matéria, o responsável destaca o “papel muito importante” das grandes superfícies. “Reconhecem a utilidade do programa e divulgam-no inclusivamente no âmbito daquelas que são reconhecidas como marcas brancas”.
A distribuição e suas marcas
Nesta segunda fase de divulgação do programa, “a adesão da distribuição é um dos temas a explorar”, quer enquanto serviço aderente quer no que diz respeito aos seus produtos. Alguns produtos de marcas da distribuição já têm o selo atribuído e “há várias marcas brancas a serem trabalhadas em termos de adesão ao programa. Várias estão em processo de avaliação. Temos um conjunto de empresas a fazerem os cálculos e a prepararem-se para a adesão”, revela o presidente do IAPMEI.
O alargamento das atribuições do selo aos serviços trouxe outras entidades para o âmbito do programa, como a AHRESP (Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal) ou a APED (Associação Portuguesa das Empresas da Distribuição). “Temos um conselho estratégico, do qual faz parte a APED, que tem sido essencial no relacionamento com as grandes superfícies na passagem da imagem do programa para os consumidores”.
Substituição da matéria-prima importada
O programa visa, por outro lado, “aprofundar a imagem de credibilidade” que está associada aos produtos portugueses na própria indústria nacional, através do “aprofundamento de redes e ligações entre empresas e potenciais fornecedores”.
O que tem levado ao “recuo da necessidade de importação” de matéria-prima. “Existe uma apetência maior por parte da generalidade das empresas, por vários motivos, inclusivamente por questões de proximidade, para reduzirem a dependência das importações. Há, transversalmente a todos os setores, uma tendência de substituição das matérias-primas importadas, que possam ser encontradas na produção nacional, como qualidade e em quantidade sustentável ao longo do tempo. O que nem sempre acontece. Mas tem-se verificado um certo interesse de investimento na redução das importações e no estabelecimento de atividades que tradicionalmente, ou que conjunturalmente, não existiam em Portugal”.
O presidente destaca a dinâmica de aproveitamento dos produtos agroalimentares em outras áreas, enquanto “essencial” para o desenvolvimento do setor. “Há uma aposta muito significativa em inovação, essencialmente nos processos, e também numa diversificação da utilização dos próprios produtos finais, por exemplo, nas atividades que relacionam a produção agroalimentar com outros setores, como a cosmética ou a produção de medicamentos”.
Mais (pequenas) empresas a exportar
Refletindo a diversificação de competências, neste momento, “há mais empresas a exportar”, revela o responsável. “Muitas da empresas exportadoras, que surgiram nos últimos números de exportação, são empresas de pequena dimensão que ainda não têm uma exportação sustentável, que fizeram pequenas exportações. Mas os sinais que vamos tendo é de consolidação destes volumes de exportação e de um acréscimo das pequenas empresas que se juntam ao conjunto de empresas exportadoras”.
Em termos de visibilidade nos mercados externos, Portugal começa a ter uma imagem a consolidar. “Há aqui um trabalho de consolidação da apetência do consumidor internacional para o produto português que temos que explorar. É um tema que temos vindo a trabalhar por toda a cadeia de valor, integrando desde as competências até ao conhecimento de mercado, imagem externa, abordagem de mercados externos e diversificação de mercados”, aponta Miguel Cruz. Neste processo de internacionalização da produção nacional, “há um potencial grande de crescimento dos produtos tradicionais, de artesanato, até do próprio azeite”.
Quanto aos resultados para este ano, os sinais “em termos de economia agregada”, remetem para “um potencial grande de crescimento de exportações, consolidação dos volumes de exportação e um acréscimo do número de empresas que exportam”.