Mobile checkout: a evolução da compra em loja
Uma start-up do Porto inventou um sistema para ajudar os retalhistas a reduzir as penosas filas de espera nos supermercados. 40 mil portugueses já descarregam esta aplicação que já tem um pé no Reino Unido
Rita Gonçalves
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É um dos maiores e mais antigos problemas da distribuição moderna. “A velocidade de checkout está sempre entre as principais cinco críticas dos consumidores de supermercado”.
A frase de Tom Litchford, da norte-americana Nacional Retail Federation, a maior associação de retalhistas do Mundo, ilustra bem uma das principais dores de cabeça dos retalhistas: as filas de espera.
Com intenção de pôr um ponto final nas penosas filas de espera de supermercado, a Xhockware, uma ‘start up’ portuguesa incubada no Parque de Ciências e Tecnologia da Universidade do Porto, desenvolveu uma aplicação denominada YouBeep. A ‘app’ de mobile checkout descarregada por 40 mil portugueses em cinco meses está em piloto em cinco lojas das cadeias de retalho alimentar Lidl e Pingo Doce (supermercados do grupo Jerónimo Martins).
Caixa exclusiva
“Com o lançamento deste sistema pretendemos acabar com as filas de espera, através do pagamento do conteúdo do carrinho de compras em menos de um minuto”, explicou em entrevista ao HIPERSUPER João Rodrigues, CEO e co-fundador da tecnológica. Como? “O cliente vai registando os produtos na aplicação à medida que os vai colocando no carrinho e quando chega à caixa registadora exclusiva para este sistema necessita apenas de efetuar o pagamento. Como a aplicação elimina a necessidade de colocar os produtos no tapete e tem uma caixa de pagamento dedicada, há uma redução no tempo de espera na ordem dos 50% que acaba por influenciar positivamente as restantes caixas e, consequentemente, o desempenho da loja”.
A aplicação é gratuita e está disponível para smartphone (Android e IOS). “Depois do conceito de self-service que nos anos 20 trouxe maior liberdade ao consumidor e, mais recentemente, o conceito de self-checkout que conferiu mais independência ao shopper, o mobile checkout representa a evolução natural da compra em loja”, acredita João Paulo Rodrigues.
Apesar de a aplicação não permitir fazer o pagamento, o CEO da Xhockware acredita num “futuro próximo” no qual a app integrará outras funcionalidades dos retalhistas, como “programas de fidelização, cupões personalizados, beacons, a aplicação do retalhista ou pagamentos móveis”, para revolucionar a experiência de compra, seja através de ofertas personalizadas ou da redução da barreira entre o mundo físico e digital no ponto de venda.
O sistema patenteado funciona com dois componentes: a aplicação mobile para os consumidores e uma caixa de hardware estrategicamente localizada na caixa de saída. A combinação dos dois representa a maior vantagem competitiva do produto, explica o co-fundador. “Permite que a solução possa ser utilizada por qualquer utilizador de um smartphone e pode ser integrada em qualquer retalhista do mundo, basta ligar um cabo USB”.
O sistema é inovador, no sentido em que é único em Portugal, embora os responsáveis assumam que há um sistema concorrente: o self-scanning (pistola levantada à entrada da loja que permite ir registando os produtos e também tem caixas exclusivas), disponível nos hipermercados Jumbo, por exemplo. A grande diferença é que neste caso as pistolas só podem ser utilizadas para clientes portadores do cartão de fidelização. Enquanto no sistema da empresa do Porto não há essa obrigatoriedade e a utilização do sistema é anónima. “Sabemos, por exemplo, o perfil de compras daquele smartphone mas não temos acesso aos dados pessoais, ou seja não sabemos quem é o utilizador”.
Aumenta cabaz médio
Os resultados do piloto, que tiveram início em janeiro deste ano, são animadores, revela João Rodrigues. Além de reduzirem para metade o tempo de espera na caixa, os utilizadores da aplicação aumentaram em 15% o seu cabaz médio e mais de 70% ficaram fidelizados. “Verificámos que nas caixas exclusivas para o Youbeep as vendas são superiores (+15%) face à média das restantes caixas. Achamos que está ligado ao facto de darmos às pessoas a confiança de saberem quanto vão pagar antes de chegarem à caixa. Um dos maiores receios dos consumidores é chegar à caixa e ter de abandonar produtos por não ter dinheiro suficiente para as compras. E como gostam da experiência, repetem”.
A faixa etária dos utilizadores foi uma surpresa. “O nosso público vai dos 8 aos 80, quando pensávamos que a adesão ia ser maior junto dos jovens. Outra dificuldade que não antecipámos foi a dificuldade dos utilizadores de smartphone em descarregar aplicações e, por isso, apostamos em colocar promotoras na loja que ensinaram os clientes a utilizar o telefone”.
Serviço com mensalidade
O sistema não é vendido aos retalhistas. “Estamos convictos que geramos mais-valias e ganhos operacionais para os distribuidores que lhes permitem pagar mensalidade, que varia de acordo com o nível de serviço acordado”. Que vantagens são essas? “Em primeiro lugar, há desde logo uma melhoria na perceção dos consumidores em relação ao retalhista. Depois, verificamos que há uma redução dos custos operacionais, através da diminuição do tempo de espera e do aumento do carrinho médio de compras”.
A xhockware garante a segurança do sistema através de um sistema de auditorias, aplicado, nesta fase inicial a todas as compras. São auditados, ou seja confirmados pela operadora de caixa, uma pequena percentagem das compras, em média um ou dois artigos, sublinha o CEO.
Sem comunicação, a aplicação conquistou 40 mil portugueses em cinco meses. “A única comunicação atualmente disponível está dentro da loja” – um ecrã à entrada do ponto de venda dá início à compra a partir da leitura de um QR Code, além de folhetos explicativos que dão conta do novo serviço e do seu funcionamento.
Como nasceu?
João Paulo Rodrigues e João Neiva (CFO) fundaram a Xhocware em Fevereiro de 2014, depois de desenharem um protótipo, conquistarem investidores e a baterem à porta de retalhistas com operação em Portugal, um processo que demorou mais de um ano. A empresa contou com financiamento da Portugal Ventures, “hoje o maior investidor em capital de risco” no nosso País, e de uma ‘business angel’ com experiência neste setor. Mais tarde, recebeu €50 mil apoio comunitário.
“Trabalhei durante seis anos no retalho alimentar e tinha também a experiência tecnológica. E sempre foi uma preocupação o tempo que as pessoas passam nas filas de espera. Percebi logo que a inovação teria de passar pela eliminação da necessidade de leitura dos produtos na caixa. Entretanto, o meu sócio tinha saído da empresa onde estava e lançámos a aventura”.
Hoje, a empresa emprega 13 pessoas e tem projetos em pipeline ligados ao retalho físico, onde a tecnológica se quer especializar.
Com um pé no Reino Unido
Apesar dos resultados conquistados nesta fase de teste, a startup não fechou, até à data, contrato com retalhistas nacionais mas já está de olhos postos nos palcos internacionais, concretamente no Reino Unido, o mercado de retalho mais desenvolvido do mundo. “Até ao final do ano, vamos apresentar a aplicação a alguns retalhistas com operação no Reino Unido. Sabemos por exemplo que a retalhista Sainsbury tem um sistema idêntico mas penso que o nosso piloto alcançou melhores resultados e oferece uma melhor relação custo-investimento. Uma coisa é certa, se conseguirmos vender o nosso serviço em Inglaterra temos um cartão de visita para conquistar o resto do mundo”.