Pedro Pimentel, diretor-geral Centromarca
Alianças na distribuição trazem riscos para fornecedores e consumidores, diz a Centromarca
Apesar de não surpreendida com a coligação entre o Intermarché e o grupo Dia em Portugal, a Centromarca defende que a nova central de compras, a Cindia, é uma ‘chinese wall’ para os fornecedores, que deixam de ter acesso a informação necessária para as negociações
Ana Catarina Monteiro
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Apesar de não surpreendida com a coligação entre o Intermarché e o grupo Dia em Portugal, a Centromarca defende que a nova central de compras, a CINDIA, é uma ‘chinese wall’ para os fornecedores, que deixam de ter acesso a informação necessária para as negociações.
A Centromarca defende que dois operadores distintos a negociarem com os fornecedores pela mesma voz viola a confidencialidade dos contratos, além de diminuir o poder negocial dos fornecedores, que deixam de poder estabelecer preços consoante as vendas de cada parte.
Depois de o Intermarché e o grupo Dia anunciarem a criação da central de negociação comum, denominada Cindia, para o mercado português, a Associação Portuguesa de Empresas de Produtos de Marca partiu em defesa dos direitos das marcas com um alerta às autoridades competentes para as consequências que este tipo de concentrações possam ter no mercado português, nomeadamente ao nível da concorrência.
Para a associação, em causa poderão estar potenciais riscos concorrenciais que podem prejudicar fornecedores e consumidores, além de se “estar a proceder a uma reorganização do mercado da distribuição em Portugal sem o necessário escrutínio”. Este tipo de coligações não carecem de notificações às autoridades competentes.
Leia também: Como vai funcionar a nova central de compras (Intermarché e Minipreço) em Portugal?
A Cindia “claramente traz mais vantagens para o Intermarché do que para o grupo Dia que, em Outubro de 2014, era apontado por um relatório divulgado pelo BPI como um operador mais débil e que poderia eventalmente abandonar o mercado português”, diz Pedro Pimentel. O diretor-geral da Centromarca não se mostra surpreendido com a união mas afirma que “nada com valor real nas vendas ao consumidor aparentemente exite, apenas defende a permanência das duas retalhistas em Portugal”, mercado “muito saturado” onde só se consegue “espaço para crescer pela morte de outro” ‘player’.
A parceria acontece entre duas cadeias de retalho com posicionamentos diferentes – o Minipreço aposta em lojas de proximidade e o Intermarché em grandes espaços fora dos centros urbanos – e unidas perante os fornecedores formam o terceiro ‘player’ mais importantes no mercado nacional. Se o Pingo Doce e o Continente em conjunto têm 51,9% de quota de mercado, o Intermarché e o Dia juntos representam 17,1% do total.
Segundo dados apresentados pela associação de marcas, o crescimento orgânico do mercado dos FMCG (Fast Moving Consumer Goods) em Portugal terminou em 2010. Pingo Doce e Continente são as únicas a apresentar ganhos de quotas de mercado a partir de 2011 para cá e a “segunda linha de operadores tem então passado por elevadas dificuldades”.
Ainda que as o Intermarché e o Munipreço continuem a concorrer com absoluta autonomia nos mercados retalhistas no que respeita à política comercial e à gestão das próprias redes de pontos de venda, a Centromarca teme que não seja possível manter a confidencialidade associada à relação contratual entre cada um dos fornecedoras e aqueles dois distribuidores.
A central Cindia comprometeu-se a não negociar com PME’s e não vai englobar a negociação de produtos frescos. Neste momento, a central de compras tem cerca de 30 fornecedores mas a meta é alcançar os 50 até Setembro. Número que a organização considera baixo para abastecer as duas cadeias, podendo “agravar a dependência económica”. Isto acontece quando mais de 40% das vendas de uma marca pertence a um cliente.
A criação de uma central de compras comum é uma “medida para conquistar valor e aumentar a rentabilidade a partir do poder negocial. Há outras formas eficazes de ganhar valor, esta é a mais fácil mas pode ser uma medida efêmera, que não resulte a longo prazo”, defende o responsável, dando o exemplo da Intercompra, central com o mesmo contexto criada em 2009 entre a Auchan e a Makro, que acabou por ficar funcionalmente extinta em 2012. Houve “fornecedores que optaram por deixar de trabalhar com estes operadores porque não fazia sentido”, uma vez que “decorreram agravamentos substanciais de descontos, ausência de contrapartidas, desreferenciações e boicotes de compras”.