Quando as tarefas são mais complicadas para os computadores do que para os humanos, por Pedro Fernandes (DISPLAX)
Agora, como então, somos frequentemente levados a acreditar que há tarefas que são desempenhadas por computadores, algoritmos e ‘software’, quando na realidade são fruto de trabalho humano
Rita Gonçalves
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Por Pedro Fernandes, Diretor de Marketing da DISPLAX Multitouch Technologies
No séc. XVIII a Europa ficou deslumbrada com uma formidável invenção conhecida como “O Turco”. Na gíria atual “O Turco” seria o equivalente a um computador com Inteligência Artificial. Tratava-se de uma máquina que enfrentava (e na maioria das vezes derrotava) oponentes humanos num jogo de xadrez. Uma espécie de ‘Deep Blue’ versus Garry Kasparov, com a diferença de ocorrer em 1770 e não em 1996. À parte de alguns mestres de xadrez da sua época, a máquina enfrentou também nomes sonantes como Napoleão Bonaparte ou Benjamin Franklin, além de numerosos membros da Nobreza e Realeza contemporâneos.
Os mecanismos por trás d’O Turco inspiraram, de certa forma, Sir Charles Wheatstone a patentear o tear e Alexander Graham Bell a patentear o telefone, o que não deixa de ser impressionante uma vez que a máquina não passava de um truque de ilusionismo. Na realidade, a máquina dissimulava no seu interior um operador humano que fazia as vezes da máquina e jogava na sua vez.
Apesar de haver já na época quem afirmasse que a máquina era uma fraude, a verdade é que a maioria tinha esta invenção como verosímil, e acreditava efetivamente que as ações d’O Turco eram decididas pela própria máquina.
É trabalho humano!
Agora, como então, somos frequentemente levados a acreditar que há tarefas que são desempenhadas por computadores, algoritmos e ‘software’, quando na realidade são fruto de trabalho humano. Falamos de tarefas que podem ser complicadas para um computador mas que são bastante fáceis para humanos, como por exemplo identificar objetos numa imagem, identificar e barrar conteúdos inapropriados, ou editar e transcrever conteúdos áudio. Por exemplo, é bastante fácil programar um computador para encontrar fotografias de uma determinada loja, mas é extremamente difícil fazer com que o computador consiga selecionar a melhor fotografia (uma delas pode ter reflexos na imagem e não se conseguir ver bem a loja, noutra pode haver um transeunte a tapar parte do nome da loja, entre outros). São tarefas que um ser humano desempenha com facilidade e que muitas vezes são críticas.
Limar as arestas da Web
Por exemplo, a Zappos recorre a trabalho humano para corrigir erros nos testemunhos de ‘feedback’ que os seus clientes escrevem quando fazem uma compra, e descobriu que a inexistência de erros nestes textos está relacionada com um aumento nas vendas. O software do LinkedIn tem um problema em identificar que três indivíduos trabalham na mesma empresa quando um escreve “IBM”, outro “I.B.M”. e outro ainda “International Business Machines Corporation”, e usa humanos para o resolver.
A deteção desta necessidade levou a Amazon a criar o serviço “Amazon Mechanical Turk” para desempenhar tarefas humanas, como por exemplo garantir que os produtos sugeridos pelo algoritmo do computador são, de fato, apropriados. Hoje, a Amazon já disponibiliza este serviço a terceiros.
Empresas de e-commerce recorrem a este tipo de serviços também para criar descrições dos seus produtos (quando têm catálogos muito extensos), ou para otimizar campanhas de ‘Pay Per Click’ (enviando fotografia dos seus produtos para saber de que forma a pessoa pesquisaria o produto online).
Estes serviços servem para limar as arestas da Web. Se, por um lado, uma grande parte do trabalho pode ser automatizado e desenvolvido por software, há muitas vezes a necessidade de rever, refinar ou esmerar pormenores. E esse trabalho é mais eficientemente desenvolvido por humanos do que por máquinas. Hoje, como então, nem tudo aquilo que parece ser trabalho de máquinas, efetivamente o é.