Conserveiras nacionais correm atrás do público português
O projecto Loja das Conservas surgiu em 2013 para combater um mito que existe entre a população nacional. O mercado global já vê as conservas portuguesas como um produto ‘gourmet’ mas, em Portugal, ainda persistem barreiras quanto à valorização do pescado
Ana Catarina Monteiro
El Corte Inglés ilumina-se de azul para sensibilizar importância da luta contra o Cancro da Próstata
Quinta da Vacaria investe na produção de azeite biológico
Grupo Rotom reforça presença no Reino Unido com aquisição da Kingsbury Pallets
Diogo Costa: “Estamos sempre atentos às necessidades e preferências dos nossos consumidores”
Staples une-se à EDP e dá passo importante na descarbonização de toda a sua cadeia de valor
CTT prepara peak season com reforço da capacidade da operação
Já são conhecidos os três projetos vencedores do Prémio TransforMAR
Campolide recebe a terceira loja My Auchan Saúde e Bem-Estar
Montiqueijo renova Selo da Igualdade Salarial
Sensodyne com novidades nos seus dentífricos mais populares
O projecto Loja das Conservas surgiu em 2013 para combater um mito que existe entre a população nacional. O mercado global já vê as conservas portuguesas como um produto ‘gourmet’ mas, em Portugal, ainda persistem barreiras quanto à valorização do pescado.
As cores vivas das latas de conserva, algumas centenárias, funcionam como chamariz à Loja das Conservas, em plena baixa lisboeta. As paredes estão cobertas com mais de 600 referências provenientes de norte a sul do País e Ilhas, num projecto apadrinhado pela Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe (ANICP).
Ao todo, são 18 empresas que integram a associação, as quais foram responsáveis pela criação deste projecto, com a intenção de promover a indústria conserveira portuguesa junto do público, num único espaço.
No dia em que o Hipersuper visitou a Loja das Conservas, decorria a degustação dos produtos de uma das conserveiras que integram o projecto. À boa maneira portuguesa, serviam-se sardinhas e vinho, no decorrer da Semana da Marca, desta vez a promover a conserveira Luças, de Matosinhos. A iniciativa foi criada para promover semanalmente os produtores envolvidos no projecto.
Com o espaço “invadido”, a conversa com Sara Costa, responsável pelo projecto, foi tumultuosa. Os consumidores que chegavam eram, na maioria, turistas, o que acontece devido à localização da loja, numa das zonas mais turísticas da capital. “Eu não diria que esta loja está direccionada ao turismo”, esclarece Sara Costa, explicando que “devido à localização, o espaço acaba por atrair, obviamente, mais turistas, que passam e encontram a loja muitas vezes por acaso”.
Partiu daí a necessidade de abrir mais uma casa, a segunda, localizada na Praça das Flores, também no coração de Lisboa. “É um espaço muito diferente deste, mais pequeno, mais direccionado aos portugueses, que abrimos no passado mês de Março. Interessa-nos reapresentar este conceito nacional aos consumidores nacionais”, reforça.
O público português é o desafio enfrentado no projecto Loja das Conservas, que nasce em Agosto de 2013, a partir de uma iniciativa da ANIP, que representa 99% da indústria conserveira lusa. Praticamente todas as conserveiras nacionais expõem os seus produtos nas prateleiras das duas lojas abertas, para já.
Venda móvel em Portugal e Europa
Neste momento, o mercado vive uma fase de “valorização de um produto e as perspectivas são muito interessantes”, continua Sara, que denota que “as conservas estão na moda”.
Os resultados substanciais do projecto, além dos lucrativos, impulsionam a actividade além-fronteira da indústria. Às lojas, em Portugal, chegam contactos de comerciantes que são depois reencaminhados para os produtores.
A marca Loja das Conservas “está também presente com um ponto de venda móvel em Paris”. A associação decidiu exportar o conceito, pela primeira vez, para a capital francesa, onde o consumo se desenrola a favor das conservas e o comércio posiciona as latas portuguesas como uma oferta ‘gourmet’. A “mercearia móvel” representa todos os associados e o negócio tem contribuído para a valorização do produto, além da própria exportação.
“Estamos a falar de um sector que já exporta cerca de 60% a 70% daquilo que produz. De facto, as conservas portuguesas são reconhecidas internacionalmente pela sua qualidade e para qualquer supermercado em Londres, por exemplo, as conservas com o rótulo “portuguese sardines” são um sinal e garantia de qualidade”. Sara Costa realça que “nós, portugueses, esquecemo-nos mais das nossas conservas do que os de fora”.
Para reavivar a memória dos portugueses, o recurso à venda móvel é uma das ferramentas que a associação mais pensa em utilizar. Os próximos ‘corners’ a reproduzir o conceito estão em “vias de abrir em Cascais e Alfama”. Lá fora, a venda móvel estará também presente em “vários pontos da Polónia, já em 2015”, revela.
Reapresentar a conserva aos portugueses
Sardinhas, atum, enguia, chaputa, cavala, carapau e ovas. Alternativas não faltam a este produto cuja “mais-valia é a versatilidade”. Os enlatados, enquanto formato, provocam uma “expectativa no consumidor”, que não tem acesso ao conteúdo mas é atraído pelos ‘designs’ no qual as marcas têm investido. O objectivo da coligação de produtores é situar agora o produto como “sofisticado, saudável e versátil”.
Muitas conserveiras preservam uma longa tradição familiar. Desde imagens ‘vintage’ até às que recuperam elementos tradicionais, como as peixeiras que antigamente levavam as cestas com peixe à cabeça, todos os objectos são utilizados para promover uma indústria centenária, que sempre foi “construída e orientada para a exportação”.
“Os consumidores que mais se interessam e são mais conhecedores do produto são os franceses. São, de facto, os consumidores “por excelência” das conservas e consideram as portuguesas como conservas de qualidade”, considera a responsável.
O objectivo da associação é a voltar a apresentar este produto aos portugueses, mostrando que pode mais do que a lata de atum esquecida na dispensa. “Não tem que ser essa refeição de recurso a que nos habituamos. É muito mais do que isso. A aposta da indústria tem sido precisamente em requalificar este produto”.
Para Sara Costa, os portugueses não têm a consciência de que a conserva é um produto funcional e de baixo custo, que pode ser aproveitado para refeições rápidas no dia-a-dia. No entanto, a loja tem conseguido a fidelização de muitos clientes nacionais, apresentando artigos singulares que não encontram em outro estabelecimento.
O problema do escasso consumo dentro do país, que é necessário combater, é cultural e pontual. “Houve uma grande alteração de hábitos alimentares e os nossos produtos tradicionais foram esquecidos. O mesmo aconteceu com os azeites, nos anos 80, quando o óleo alimentar estava mais valorizado e o azeite ligado ao atraso, à ruralidade. Entretanto assistiu-se a uma recuperação do azeite e hoje é um produto de excelência, considerado saudável. Com as conservas isso também começa a acontecer, não têm qualquer tipo de aditivo ou conservante envolvido no processo de fabrico, é uma forma muito interessante de conservas às propriedades nutritivas do pescado, bastante em conta, mesmo em tempos de crise, e é português”, explica Sara Costa.
Criar uma rede de retalho no País
Apesar de ainda não ter data prevista para a próxima abertura, o propósito está em criar uma estrutura de pontos de venda, que “reúnam as mesmas características”, ou seja, que tenham um preço equilibrado e englobem todos os produtores nacionais.
“O próximo passo é abrir outros pontos em Lisboa mas a ideia também é expandir para o Norte e Sul do País, criando uma rede de distribuição de retalho. Estamos a trabalhar para isso”, revela.
As vendas têm sido “muito interessantes”, reflexo do investimento em actividades em loja, que atraem as pessoas pela experiência que proporcionam. “Vêm pela primeira vez, experimentam, consomem e depois voltam. Portanto, temos já uma serie de fiéis clientes, que nos visitam assiduamente para se fornecerem de conservas que não encontram em outros locais”.
A sardinha é o “produto estrela” da Loja das Conservas. Este peixe é símbolo da cultura portuguesa e é um mais vendidos nos espaços. No entanto, as degustações promovidas em loja têm conquistado fãs para outras qualidades de pescado, menos conhecidas. “As pessoas estão disponíveis para provar e depois voltam para comprar”.
A responsável tem notado que ,“quando as pessoas estão disponíveis para conhecer parte da inovação da indústria, mostram-se agradavelmente surpreendidas. O bacalhau em conserva, por exemplo, é relativamente desconhecido. As pessoas praticamente nem sabem que existe e quando provam ficam surpreendidas e rendidas à qualidade, versatilidade, e funcionalidade”.
Fotos: Ângela Picão, Frame it