Os preços globais do café atingiram um máximo histórico de 349,58 dólares (335,74 euros) meio quilo, em dezembro de 2024. Um aumento impulsionado, principalmente, pelo mau tempo nos principais países produtores de café, como o Brasil e o Vietname. Dificuldades que não impedem as empresas de acompanhar as tendências e responder, ou até mesmo antecipar-se, com novos investimentos.

Pedro Oliveira, CEO da NewCoffee
Na NewCoffee, 2024 foi globalmente positivo. A empresa fechou o ano com um crescimento de 9% nas vendas e ligeiramente menos em volume, “ainda que num contexto de forte pressão sobre as margens, resultante do contínuo crescimento dos preços do café verde”, revela o CEO. “A subida contínua dos preços do café verde acabou também por se repercutir num ajuste dos preços praticados junto do consumidor final, originando uma maior repartição do consumo entre casa, escritório e fora de casa, e uma maior polarização entre um consumo experiencial, onde a exigência do consumidor disponível para pagar é maior, e um consumo mais funcional, onde o consumidor quer gastar o menos possível”, analisa Pedro Oliveira.
Num ano marcado pela subida da matéria-prima, a NewCoffee esteve centrada em organizar a sua estrutura, a oferta e os processos “para estarmos melhor capacitados para atender uma nova realidade que é hoje mais diversa e exigente”, conta o CEO. 2024 foi, por exemplo, o ano da renovação da IFS Food, atribuída pela Global Food Safety Initiative, que certifica a segurança e a qualidade de produtos e processos alimentares, e uma importante certificação para a empresa.
Foco no consumidor premium
A atenção às tendências do consumo é uma constante, com a empresa a ajustar-se às mudanças e, até mesmo, a antecipar-se. Neste momento, a NewCoffee está particularmente focada no segmento de consumidor “cada vez mais sofisticado e exigente com a qualidade, consciente do ponto de vista social e ambiental e apreciador de uma experiência de consumo diferenciada”, revela Pedro Oliveira. Aposta que se traduziu no alargamento da Bogani Prestige, dedicada a espaços de referência no canal HoReCa, uma gama de qualidade superior e materiais de ponto de venda diferenciados.
Ainda em 2024, a empresa reforçou a presença no segmento premium com a gama de cafés sustentáveis ‘La Reserva de ¡Tierra! da Lavazza’, em particular com um lote orgânico e sustentável, 100% certificado pela RFA e totalmente rastreável com suporte em tecnologia blockchain. Tem ainda apostado no desenvolvimento da sua loja histórica de cafés de diferentes origens, a Sanzala Coffee Roasters, e desenvolveu uma gama de Slow Coffee para a marca Bogani.
No canal do retalho o foco está no desenvolvimento e promoção da loja online, ao mesmo tempo que está a reforçar a presença no retalho físico.
Atenção a cafés especiais
O consumo tem vindo a aumentar nos últimos meses, especialmente em grandes mercados como a China e os novos consumidores também influenciam novos hábitos e tendências. “O café é uma categoria que tem estado numa trajetória de valorização e especialização do consumo. Estamos a assistir a uma crescente procura por cafés cada vez mais especiais seja do ponto de vista da sua origem, seja da sua torra, do blend que é desenhado ou mesmo da forma de extração. Os consumidores de hoje demonstram um maior interesse por saber mais sobre o café que consomem, existem cada vez mais coffee lovers”, refere a diretora de marketing e comunicação do Grupo Nabeiro-Delta Cafés. “Em Delta Cafés e em Delta Q, a nossa gama de origens tem um papel fundamental na vertente educacional do café ao permitir um contacto com cafés de características diferentes e que se destinam a consumidores mais experimentalistas e que valorizam o papel da origem no perfil do café”, acrescenta Mónica Oliveira.

Mónica Oliveira, diretora de marketing e comunicação do Grupo Nabeiro-Delta Cafés
A importância deste produto é ainda valorizada, entre outras apostas, pela expansão das lojas ‘Delta Coffee House Experience’. A empresa está também atenta ao crescimento do consumo em casa, hábito que cresceu durante a pandemia e manteve-se depois, e ao “aumento de curiosidade por novas receitas e formatos de consumo, como bebidas compostas e café frio”, como assinala Mónica Oliveira. Nesse sentido, a gama de produtos tem sido reforçada com todas as marcas de café do Grupo Nabeiro “a definirem os seus territórios de oferta em linha com os targets a que se destinam”, explica a responsável.
Na Delta Q, por exemplo, houve o reforço da oferta para consumo em casa através de equipamentos destinados a vários tipos de consumidor.
Já no OOH (Out Of Home), “em resposta a consumidores cada vez mais globais e com o aumento do turismo que traz novos consumidores”, a Delta Cafés incorporou novas formas de consumo como bebidas compostas ou RTD, como é o caso de Go Chill.

Roberto Mulassano, fundador e diretor geral da Daily Coffee
Na Daily Coffee, observa-se, no ambiente corporativo, “um menor número de momentos de consumo, mas com maior intensidade e valorização da experiência”, revela Roberto Mulassano, fundador e diretor geral da empresa.
Distribuidora oficial da Lavazza para o segmento empresarial e de escritórios em Portugal, a Daily Coffee tem nessa marca mais de 60% do seu volume de negócios. Roberto Mulassano sublinha que a Lavazza tem acompanhado essa evolução “com cafés especiais, novas experiências sensoriais e um forte investimento social através da Fundação Lavazza, que apoia comunidades produtoras” e que, para as empresas, lançou uma linha de coffee corners adaptáveis a diferentes espaços de escritório. “Em conjunto com as máquinas de café italianas da Carimali, representadas exclusivamente pela Daily Coffee em Portugal, e as fontes de água premium da Borg & Overstrom, conseguimos criar verdadeiras coffee shops premium dentro das empresas, promovendo o convívio e a cultura corporativa”, assegura.
Investir é o caminho
Em 2025, os preços do café mantêm a tendência de subida, com as duas principais variedades, arábica e robusta, a estarem a negociar em máximos históricos. À agência de notícias Reuthers, especialistas e entidades explicaram que o aumento do preço do café nos supermercados está relacionado principalmente à redução da oferta global do grão diante do impacto de condições climáticas adversas sobre a produção no Brasil e no Vietname.
O cenário é adverso, mas as empresas não deixam de investir. Na NewCoffee o caminho passa pela ampliação da oferta para o segmento premium “com a introdução de uma nova gama Lavazza, que enfatiza a italianidade da marca”, avança Pedro Oliveira. Em paralelo, “e no sentido de mais uma vez ir ao encontro das tendências do consumidor que cada vez mais consome café de diferentes formas”, a empresa vai lançar uma nova gama de bebidas Lavazza no segmento ready to drink. “Bebidas de café tipicamente italianas em versão gelada, ready to drink, ready to pleasure”, revela o CEO. E na marca Bogani serão ainda desenvolvidos novos lotes e promovida a certificação de lotes estratégicos da marca.
No Grupo Nabeiro-Delta Cafés, 2025 será um ano de lançamento de “diferentes novidades no mundo do café”, assegura Mónica Oliveira. Novidades que vão incidir em todos os segmentos onde atuam “e com todas as marcas a dinamizar um conjunto de iniciativas que irão certamente contribuir para uma valorização da categoria de café em Portugal”, complementa.
A responsável recorda ainda o recente lançamento da a Delta Q Iconiq, uma nova máquina que combina um design inovador de linhas minimalistas com um ecrã touch intuitivo e que já conquistou o German Design Award 2025, na categoria de ‘Produto de Excelência’. “A nossa capacidade de antecipar tendências e procurar produtos que correspondam às necessidades e hábitos de consumo é essencial para a nossa relevância no mercado”, define a Diretora de Marketing e Comunicação do Grupo Nabeiro-Delta Cafés.
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O preço da matéria-prima e o aumento do consumo: desafios a ultrapassar
Num artigo publicado no seu site, em dezembro de 2024, o ING Group, instituição financeira global de serviços de banco, seguros e investimentos, defendia que o mercado global de café deverá enfrentar a sua quarta temporada consecutiva de déficit e, a depender dos resultados da safra brasileira de 2025/26, poderá enfrentar um quinto ano de déficit. Mas que desafios traz 2025, tanto na matéria-prima, como na comercialização?
Pedro Oliveira enumera ao Hipersuper vários, mas aponta como mais crítico a matéria-prima, em particular com a escassez e preço do café verde. “As persistentes alterações climáticas e consequentes perturbações na produção café, que geram escassez e pressão sobre os preços”. Também o aumento da procura de café, principalmente por parte dos países asiáticos e do norte da Europa, é outro desafio, já que, segundo o CEO da NewCoffee, “reforçará a escassez de cafés Robustas.
O responsável destaca também as tensões geopolíticas, as políticas protecionistas e as crescentes exigências ambientais nos processos de produção, no sourcing, nos materiais incorporados no produto e na própria gestão de resíduos, “obrigando a fortes investimentos dos torrefatores para serem sustentáveis em toda a sua cadeia de valor”. Sem esquecer o Regulamento Anti Desflorestação da UE que quando for implementado “condicionará igualmente a disponibilidade de café, ao limitar o número de produtores que serão elegíveis para fornecimento à Europa”, alerta.
Por último, o CEO da NewCoffee refere a diversidade de perfis de consumo e de conceitos de café como “um desafio adicional” que obriga a uma “constante adaptação das marcas”. “O Horeca é, cada vez mais, um mercado de nichos e as marcas tem de ter flexibilidade e capacidade de operar, em simultâneo, diferentes propostas de valor e ser, além disso, parceiras na definição e concretização de uma proposta de valor diferenciada, que os clientes profissionais, cada vez mais sofisticados, procuram”, define.