Paulo Amorim: “O maior e mais imediato desafio da fileira vitivinícola portuguesa é conseguir aumentar o valor acrescentado nos mercados internacionais”
O presidente da ANCEVE alerta para as dificuldades de produção e colheitas cada vez mais imprevisíveis no setor mas sublinha: não se pode, nem deve, baixar os braços.

Ana Grácio Pinto
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Paulo Amorim, presidente da ANCEVE, entidade que organizou, em setembro, a conferência sobre os desafios e as oportunidades para o setor do vinho, alerta que o setor regista dificuldades de produção e colheitas cada vez mais imprevisíveis, mas que não pode, nem deve, baixar os braços.
Que respostas, alertas, testemunhos obteve a conferência em relação à pergunta ‘Vem aí uma crise vitivinícola sem precedentes?’?
Estas conferências da ANCEVE na Aula Magna da Universidade Portucalense implicam uma carga de trabalho e dedicação muito intensas, ao longo de cerca de três meses, mas trazem-me uma enorme satisfação, pois têm decorrido muito bem, com grande impacto na fileira vitivinícola e nos media.
Todo o feedback que recebi antes, durante e após a conferência indicia de facto uma enorme preocupação com o momento atual do setor, que enfrenta desafios significativos, face à quebra e alterações dos padrões de consumo, à instabilidade do contexto internacional, à dificuldade em conseguir aumentar o valor acrescentado, à deficiente remuneração dos viticultores, aos apelos constantes às destilações de crise e aos negócios por elas proporcionados, ao controle relativo ao trânsito de vinhos, às reclamações sobre as deficiências da fiscalização, à problemática em redor do arranque de vinhas, ao futuro do Programa VITIS e às importações de vinho a granel de baixo preço, que desvirtuam o mercado.
A geração de excedentes de vinho e as alterações nos padrões de consumo, especialmente entre os mais jovens, são apenas dois dos grandes desafios do setor. A recente eleição nos EUA, com a vitória de Donald Trump, só veio agravar o problema, pelas ameaças de protecionismo e aumento exponencial das tarifas naquele grande mercado, que gerarão depois uma série de retaliações em cadeia de outros países, assim dificultando cada vez mais a rentabilidade da circulação de bens.
Referiu, na abertura da conferência, que a colheita de 2024 significou ‘a mais fraturante de todas as vindimas a que assistiu’. O que está na base desta declaração?
Ao longo da minha vida profissional nunca assisti a uma vindima tão difícil. O setor regista dificuldades de produção e colheitas cada vez mais imprevisíveis, devido às alterações climáticas, a que acrescem os novos problemas surgidos com os seguros de colheitas.
Muitos viticultores deixaram as uvas por colher, ou por não conseguirem encontrar compradores ou pelo facto de o preço que lhes foi oferecido implicar um prejuízo demasiado avultado e não compensar o trabalho da vindima, após um ano de investimento nas vinhas. É fundamental conseguir remunerar melhor os viticultores. Em muitas regiões estes só sobrevivem graças ao facto de desenvolverem outras atividades profissionais, que ajudam a complementar o trabalho na vinha.
Também muitos pequenos produtores resistem a unir esforços, o que lhes permitiria muito maior massa crítica e repartição de custos. Grupos de cinco, seis ou até mais produtores poderiam ter uma adega comum, um chefe de viticultura, um enólogo, um administrativo e um responsável comercial, que trabalhariam para todos e potenciariam uma muito maior competitividade global.
A partir desta vindima passamos a ter um setor diferente, mais crispado, menos unido e com muitos viticultores, produtores, comerciantes e exportadores a tentarem vender as suas empresas ou a ponderarem pura e simplesmente abandonar a atividade, por ser claramente e insustentavelmente deficitária.
Mas não podemos nem devemos baixar os braços. O maior e mais imediato desafio da fileira vitivinícola portuguesa é conseguir aumentar o valor acrescentado nos mercados internacionais, no sentido de remunerar melhor e mais condignamente os viticultores, dessa forma assegurando que as vinhas são rentáveis, cada vez mais bem tratadas e produzem as melhores uvas. É uma conjugação virtuosa de fatores que colocará finalmente Portugal na rota do sucesso.
Entrevista publicada na edição 428