Está a IA a revolucionar a forma como as empresas encontram e selecionam talentos?
João Salvador Oliveira, associate director | digital da Randstad Portugal responde.
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A Inteligência Artificial está a revolucionar a forma como as empresas encontram e selecionam talentos, e esse impacto é profundo em várias etapas do processo de recrutamento.
Ferramentas de IA conseguem analisar e filtrar grandes volumes de currículos rapidamente, selecionando candidatos com base em critérios predefinidos, como qualificações, experiência e competências. Isto poupa tempo, pois é um processo automatizado e reduz o viés humano inicial.
A IA pode prever o sucesso de um candidato num cargo específico, com base na análise de dados de desempenho de colaboradores atuais e anteriores. Ferramentas de análise preditiva ajudam a identificar padrões em candidatos que têm maior probabilidade de sucesso na organização.
Existem também algumas empresas que já utilizam chatbots para interagir com candidatos nas fases iniciais do processo, respondendo a perguntas, agendando entrevistas e recolhendo informações importantes. Isto melhora a experiência do candidato e agiliza a comunicação.
Algumas soluções de IA utilizam a análise de linguagem natural e vídeos para avaliar traços de personalidade, estilo de comunicação e competências sociais durante as entrevistas. Estas ferramentas complementam as entrevistas tradicionais e ajudam a identificar qualidades que podem não ser visíveis em currículos.
Outra das áreas onde a IA atua é na diversidade e inclusão, ajudando a mitigar vieses inconscientes, assegurando que as decisões de recrutamento sejam baseadas em competências e qualificações, em vez de fatores como género, idade ou etnia. No entanto, é crucial garantir que os algoritmos não perpetuam preconceitos, o que requer um esforço contínuo para construir sistemas justos.
A análise de dados em tempo real também é possível com IA, pois fornece insights em tempo real sobre o mercado de trabalho, ajudando as empresas a ajustar as suas estratégias de recrutamento com base em tendências e necessidades emergentes. E, por isso, não podemos deixar de falar no impacto que esta está a ter já no mercado de trabalho, seja nas empresas e nos seus processos, como nos profissionais em si.
Um estudo da Randstad publicado no início deste ano dá nota de que em Portugal a IA pode levar à perda líquida de 80,3 mil empregos, que se traduzem na automatização de 481 mil e na criação de outros 400 mil. As estimativas colocam no topo dos empregos atuais que poderiam estar em risco os setores das atividades administrativas e das atividades informáticas e telecomunicações. A verdade é que a IA é uma realidade e os profissionais já a encaram como uma mais valia também. Veja-se, os dados do Randstad Employer Brand Research 2024 referem que cerca de 1 em cada 10 empregadores já utiliza a IA numa base regular; entre a geração mais jovem (GenZ), a utilização aumenta (17%). Bem mais de metade dos trabalhadores portugueses espera que a IA tenha pelo menos algum impacto no seu trabalho. Este valor é ainda mais elevado entre aqueles que já a utilizam no local de trabalho. A influência da IA na satisfação com o trabalho é esmagadoramente positiva, especialmente entre a Geração Z (69%) e nos trabalhadores com um elevado nível de educação (70%).
Apesar dos avanços, o uso de IA no recrutamento ainda enfrenta desafios, como a necessidade de supervisão humana para evitar preconceitos nos algoritmos e assegurar uma abordagem equilibrada. A IA não substitui a supervisão humana, mas complementa e optimiza o processo de recrutamento. Estas transformações reflectem-se também no sector tecnológico em Portugal, onde cada vez mais empresas estão a adoptar soluções de IA para atrair talentos, promovendo diversidade e eficiência no processo de selecção.