“Os brancos da região dos Vinhos Verdes envelhecem muito bem”
Brancos envelhecidos, tintos mais leves, rosés de cor aberta e monovarietais de castas típicas da região de Entre-Douro-e-Minho. Dora Simões, presidente da direção da Comissão dos Vinhos Verdes há cerca de um ano, conta, na primeira pessoa, a estratégia da organização interprofissional para os vinhos da região demarcada em 1908
Rita Gonçalves
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Brancos envelhecidos, tintos mais leves, rosés de cor aberta e monovarietais de castas típicas da região de Entre-Douro-e-Minho. Dora Simões, presidente da direção da Comissão dos Vinhos Verdes há cerca de um ano, conta, na primeira pessoa, a estratégia da organização interprofissional para os vinhos da região demarcada em 1908
Rita Gonçalves
A Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV) certificou (através da atribuição de selos de garantia de origem) 76 milhões de litros de vinho no ano passado. Cerca de metade ficou no mercado nacional e a outra metade partiu para os mercados externos.
As exportações de DOC Vinho Verde representaram 85 milhões de euros no ano passado (cerca de 35 milhões de litros), nas contas do Instituto Nacional de Estatística (INE) e do Eurostat.
Segundo dados da Nielsen, fornecidos pela CVRVV, as vendas dos vinhos desta região cifraram-se em 60 milhões de euros (20 milhões de litros) na grande distribuição, em 2022. Na restauração, a região vendeu cerca de seis milhões de litros que representaram 55 milhões de euros, embora, segundo a comissão, o tracking da Nielsen não inclua de forma exaustiva todos os pontos de venda.
Quando começa a sua ligação ao mundo do vinho?
Quando saí da universidade em Inglaterra fui viver para a Alemanha. Aí tive o meu primeiro trabalho no setor do vinho, na empresa californiana E & J Gallo Winery, a segunda maior produtora mundial de vinho. Foi uma das minhas primeiras experiências profissionais e marca a minha entrada no mundo do vinho.
Comecei com o cargo de responsável de marketing, numa altura que os vinhos californianos faziam as primeiras incursões na Europa Ocidental, depois de terem iniciado algum trabalho no Reino Unido.
A Gallo estava a dar início às exportações de vinhos para a Europa e, como em muitos casos, as grandes marcas vão um pouco à frente das regiões, porque têm interesses comerciais definidos e acabam por abrir caminho. Fiquei responsável, numa primeira fase, pela área de marketing e comunicação dos vinhos que iriam ser comercializados na Europa Central, na Alemanha, Suíça, Áustria e países nórdicos. Mais tarde, passei a trabalhar a categoria de fine wines, vinhos mais destinados à restauração e às lojas de especialidade, também na Europa Central.
Quando regressa a Portugal?
No final de 2002. E começo a trabalhar na ViniPortugal, recém-formada ainda sem atividade de promoção. Na altura, estava a criar-se a estratégia do estudo Porter para definir aquilo que seria a visão e a estratégia para os vinhos portugueses. Numa altura em que era preciso uma direção, uma orientação para as exportações, definir como se iria trabalhar a categoria de Vinhos de Portugal. Eu tinha acabado de chegar de fora, a ViniPortugal contratou-me para ser o pivô do estudo Porter.
Tive a sorte de integrar a equipa da Monitor Group e relacionar-me com todos os players que participaram no estudo. Foi uma forma ótima de conhecer o setor, a sua dinâmica e as pessoas chave. Depois disso, fui contratada ViniPortugal para o cargo de diretora geral que desempenhei durante seis anos. O presidente era o Vasco Avillez.
Do que se falava na altura?
Lembro-me que um dos temas era o vinho a copo. Um conceito difícil de colar e de passar em Portugal: de um consumo mais moderado, mas consistente, como forma rentabilizar a venda de vinho na restauração, e mantê-la viva, realizando mais dinheiro na venda do vinho. E até levar a uma experimentação de diferentes tipos de vinho na restauração, fosse esta mais económica ou de topo.
Naquela altura, ao contrário de muitos países na Europa, em Portugal a experiência de consumo de vinho a copo em Portugal era de muito baixa qualidade. Hoje, passados quase 20 anos, é raro ir a um restaurante, de qualquer categoria, que não tenha pelo menos um ou duas ofertas de vinho a copo.
Da ViniPortugal vai para a CVR do Alentejo.
Sim. Em 2008, a CVRA estava à procura de um novo presidente. O anterior presidente iria sair, numa altura em que as CVR deixaram de ter um representante do Estado. Candidatei-me e fiquei na posição durante sete anos. Saí no final de 2015 e dediquei-me ao negócio familiar, no Alentejo.
Entretanto, assumiu a presidência da CVRVV.
Há cerca de dois anos, estava já no Porto por motivos familiares, apresentou-se a possibilidade de me candidatar à comissão do vinho verde. Apesar de ter a minha atividade, que exercia entre o Porto e o Alentejo, tinha gostado muito de fazer este serviço na CVRA e, quando me desinquietaram para uma função similar, embora diferente, fiquei muito interessada e estou a gostar muito. Não é propriamente uma função fácil, mas tem desafios muitos interessantes, há sempre muita coisa a mudar, há muita coisa a pensar antes de mudar.
Faz, entretanto, em agosto um ano desde a sua tomada de posse.
Foi mesmo no final de julho que tomou posse a nova direção. Os meus colegas da direção são o Óscar Meireles (Quinta da Lixa) em representação do comércio e Rui Pinto (Terras Felgueiras) em representação da produção.
Que balanço faz do primeiro ano de atividade da comissão?
Numa altura em que o comércio está tão volátil e instável, e não sendo o vinho um bem essencial, é também verdade que é difícil retirá-lo dos hábitos de quem já o consome. É de facto uma forma muito gratificante de poder consumir algo que tem um apelo diferente dos outros produtos alimentares. Mas, mesmo assim, a situação económica tem vindo a dificultar a tarefa. Não é só no comércio, é em toda a cadeia, desde a viticultura à produção.
Quando entrei com os colegas desta direção, vivia-se um momento de grande incerteza que permanece. Há muitas áreas a precisarem de ser restruturadas, há os desafios da sustentabilidade, das alterações climáticas e do seu impacto na viticultura. Há muitos temas que já vêm de trás que precisam de ser pensados a médio e longo prazo para preparar a região para o futuro. É necessário priorizá-los, para os executar bem, ou pelo menos do que achamos que é bem aos olhos de hoje. Para isso, é preciso consultar bastante o setor.
Escutar. É o trabalho que têm vindo a fazer?
Sim, temos estado a fazer levantamento junto dos produtores e viticultores, a fazer visitas, comités técnicos e grupos técnicos de consulta onde vamos refletindo sobre estes levantamentos, procurando refletir as suas preocupações e expectativas no trabalho da comissão.
Não quero deixar de dizer que esta comissão está muito bem organizada, está muito sólida. Teve como presidente Manuel Pinheiro durante 22 anos, que fez um grande trabalho na área da promoção, na organização dos serviços, que permite à comissão pode fazer o seu trabalho de certificação quase sem mexidas. No entanto, é necessário ir adaptando aos tempos e às necessidades dos agentes económicos. Melhorar a eficiência dos serviços, a forma de os trabalhar, a informatização, o acesso à tecnologia por parte dos associados.
Que ilações já retiraram?
É preciso pensar em linhas gerais a Denominação de Origem (DO) e Identificação Geográfica (IP) Vinho Verde. Que caminho vão tomar? Quais as necessidades em termos de regulamentação e também daquilo que a região quer ter em termos de portefólio de produtos e estilos de vinho? Onde é que a região acha que deve ser um player e deve estar a jogar? Para nos prepararmos nessa medida, porque isso reflete-se na viticultura, na produção e nos estilos de vinho aprovados. Depois, há outras questões mais transversais e estratégicas ao setor, como as questões de auxílio aos produtores, no que diz respeito à implementação de medidas de sustentabilidade que são absolutamente necessárias. Dada a pulverização do negócio e da viticultura na região são mais difíceis de implementar porque são pequenos negócios, nos quais é necessário fazer um trabalho de proximidade no que diz respeito à formação, informação e passagem de conhecimento prático, que possa ser aplicado na viticultura no âmbito de boas práticas e que os leve a valorizar o valor da uva e do vinho.
Os desafios são muitos e estão identificados.
Sim, mas não ficam por aqui. Perceber em que áreas da investigação e desenvolvimento, e do conhecimento, é que vamos apostar para seguir caminho da melhor forma possível, como um acelerador da posição do vinho verde como um produto bem feito, de qualidade, que possa ser valorizado mais tarde.
Não quer isto dizer um produto totalmente moderno porque também é preciso valorizar a tradição, um aspeto a conhecer melhor através da história. Queremos preservar a herança da viticultura porque também é uma aposta em relação ao turismo e a uma série de outras áreas.
Falta ainda o património. Esta comissão é muito interessante e rica em património. O local onde estou a dar esta entrevista é a casa do vinho verde, o Palacete Silva Monteiro, que também necessita de ser restruturado e requalificado no sentido de servir o enoturismo e de ser o ponto de partida, o quilómetro zero, para a rota do vinho verde.
Temos ainda a Estação Vitivinícola Amândio Galhano (EVAG), localizada em Arcos de Valdevez, onde se fazia investigação, que necessita de ser revitalizada para continuar a fazer investigação e produzir essa experimentação em termos de viticultura. Este espaço deve ser exatamente um centro experimental que sirva aos produtores para se poderem ir lá informar e participar em estudos. Ter o seu próprio centro de inovação e desenvolvimento é uma coisa fantástica. Pelo que conheço não há nenhuma CVR que tenha. Demora algum tempo, mas temos de o fazer.
Já tem pistas sobre este caminho a seguir para o DO e IG? Falou por exemplo de necessidades de regulamentação.
Temos algumas pistas que resultam sobretudo de levantamentos feitos no passado. O vinho verde até há algum tempo era uma categoria muito ocupada por vinhos com um perfil mais jovem, leve e fresco. Atualmente, grande parte das empresas têm também no portefólio vinhos varietais, das castas Loureiro, Alvarinho, Avesso, Azal, entre outras, que resultam em vinhos com potencial de estágio.
A região ainda não fez, no entanto, o percurso de os colocar devidamente no conhecimento do público e deve fazer esse trabalho, porque atualmente o vinho branco está em alta, é muito procurado. Há até um défice de vinho branco de qualidade, que é o que a região mais tem, e isto está a ajudar-nos na comercialização. Uma região que quer ver a sua uva e o seu vinho valorizado tem de apostar, talvez, num menor volume dos lotes, mas ter vinhos de bastante qualidade, que estão bem em restaurantes, têm um preço mais elevado, afirmando-se pela qualidade em termos de topo de gama.
É este trabalho que é preciso ser feito. É uma das direções que é necessário continuar a trabalhar em segmentos específicos. O vinho verde tradicional tem o seu público e a sua ocasião. A ocasião de consumo determina também o tipo de vinho que bebemos. Depois, tem o outro segmento que tem de ser trabalhado e onde tem de ser feita uma aposta grande também por parte da CVR em termos de orçamento e de promoção.
Como se comportaram os vinhos verdes nos primeiros seis meses do ano?
Calculamos as vendas em função dos selos de garantia. A partir do momento em que o selo de garantia é vendido ao produtor, o vinho entrará no comércio, funcionando como uma antecipação do que vai ser comercializado. O que tem acontecido é que as vendas de vinho branco têm estado a aumentar. As vendas de selos analisadas no ano móvel de maio 2022 a maio deste ano, aumentaram 8% no vinho branco. Também aumentaram no rosado e mantiveram-se estáveis nos tintos.
É verdade que vendas estão a aumentar, em função de alguma sazonalidade neste período do ano e também das tendências de mercado.
Como estima que as vendas evoluam até ao final do ano?
A tendência não nos leva a acreditar que a situação se inverta. É verdade que pode haver alguma alteração, mas o mercado mantém-se bastante interessante pelo efeito muito positivo do turismo. Ainda que possa haver alguma estabilização no consumo de vinho por parte da população portuguesa, tem-se vindo a verificar que o consumo cresce, especialmente nos vinhos brancos.
Na exportação, se vai ter inflexão? Penso que tem muito a ver com os mercados. Há alguns mercados onde verificamos alguma retração, mercados onde o vinho verde tem posições importantes, o caso dos EUA e da Alemanha, por exemplo. Quando há retração de consumo nestes mercados em resposta a uma crise, o vinho está entre os produtos com maior decréscimo de consumo. Estamos a ver algum decréscimo nas vendas para os EUA, por exemplo, mas também há mercados onde as exportações estão a aumentar.
Se esta tendência de desvio nas exportações se mantiver, poderemos ficar numa situação mais neutra e não de grande impacto. Mas tudo depende das importações individuais de cada país. Para já, não vemos inflexão. A comercialização de selos aos produtores, que são quase de imediato colocados nas garrafas para serem comercializados está a subir e esse movimento dá-nos alguma segurança.
Quais são os mercados externos onde os verdes estão a ganhar vendas?
Há uma ideia generalizada de que tem havido uma valorização grande em todos os vinhos portugueses nos mercados de exportação. Penso que vendemos vinhos mais caros, de facto, porque os vinhos se tornaram mais caros para fazer face aos incrementos de preço nos componentes de embalagem, dos custos de produção, entre outros. Invariavelmente, todas as empresas fizeram uma atualização de preços nestes últimos dois anos. Mas esse aumento de preço está a fazer face a um aumento do custo de produção. Não é uma valorização intrínseca do produto, antes um reflexo dos seus custos.
Posto isto, o valor aumentou em todos os mercados, numa medida maior do que aumentou o volume, mas as maiores subidas em valor deram-se em Espanha, EUA, Letónia e Rússia. No Reino Unido também tem havido incremento, embora tenha um tracking diferente desde que não é membro da União Europeia, assim como na Irlanda e Polónia.
Pelo contrário, verificam-se decréscimos no Japão, no Brasil e na Estónia. Os que nos preocupam mais são países como Brasil, França, Canadá e Alemanha que tiveram algum decréscimo nas importações.
Noto que os produtores estão a dar atenção a outros mercados. Na organização da própria comissão estamos também a iniciar agora mercados onde não havia promoção, como é o caso da Coreia do Sul. Mesmo em Inglaterra não se fazia muita atividade. São iniciativas promocionais que ainda estão a arrancar, mas que têm em vista dar resposta a alterações de mercado que consideramos que vão acontecer nos próximos anos.
Quais as linhas estratégicas da promoção internacional?
A região tem vindo a acolher produtores que estão noutras regiões vinhateiras. Até pelo tipo de vinhos que aqui se pode produzir, a região tem vindo a receber uma série de novos agentes económicos. Ao ter produtores multi região, muitas vezes, por uma questão de oportunidade, a região organiza-se com a ViniPortugal mas também faz promoção com produtores locais que querem fazer parte daquilo que é a marca da região.
A região tem muita tradição de promoção no mercado nacional, mas principalmente em mercados externos. Tem uma vocação exportadora muito grande. A região dos vinhos verdes coordena-se com a ViniPortugal também no sentido de ter uma calendarização diferenciada. E temos também a possibilidade de ir a alguns mercados onde a ViniPortugal não está presente, da mesma forma que levamos produtores de menor dimensão, que de outra forma não tinham provavelmente capacidade para estar enquadrados nos programas da ViniPortugal. Os programas da região, pela sua especificidade, são ações mais micro e dedicados a determinadas categorias de produto.
Temos vindo a fazer ainda participações em feiras e recebemos a visita de jornalistas, importadores e líderes de opinião no sentido de divulgar o vinho verde e as virtudes da região.
Pode-se dizer que o alvarinho é a casta estrela da região?
É a estrela no topo de gama. Penso que talvez seja a casta mais valorizada em Portugal. Produz vinhos muito elegantes, frescos, vinhos que atualmente competem mundialmente, que estão a ganhar espaço nessa frente, e ajudam na promoção de qualidade da região.
O Loureiro é a casta mais plantada na região. Há ainda muito a descobrir sobre esta casta que já tinha alguma tradição em monovarietais e também em blends. Também o Avesso, o Azal, o Trajadura são muito utilizadas na produção de vinhos brancos.
A região faz uma produção muito baixa de vinhos tintos, dos que produz o Vinhão é a casta que se usa maioritariamente. Se bem que se começa a fazer um trabalho de descoberta de castas tintas mais aptas para fazer rosés. Este é um segmento que não existia nos verdes até há bem pouco tempo e os produtores estão a utilizar novas castas para fazer rosés de cor mais clara dando resposta às tendências de consumo.
Essa tendência já se materializa em vinhos?
Sim, o portefólio dos produtores abriu-se aos rosés. A maioria das empresas que têm castas tintas, há poucas só a fazer exclusivamente brancos, faz também rosés, com maior ou menor volume. Uma questão levantada nos comitês técnicos que temos feito com produtores e viticultores é exatamente a necessidade de plantar e saber mais sobre castas tintas que possam trazer à região bons vinhos rosés adaptados às necessidades de mercado. Porque naturalmente os vinhos da região já vão ter menos álcool e pouca acidez, sendo já muito adaptados às tendências de mercado no que diz respeito ao perfil. Vão ter de melhorar é a cor. O Vinhão não dá essa possibilidade. Dá um rosé bastante escuro. Há técnicas enológicas que permitem fazer um vinho mais claro, mas há uma necessidade de aperfeiçoar a região no que diz respeito a rosés e também tintos mais leves e de cor mais aberta.
Embora seja uma região altamente especializada em brancos e continuará a ser, quer também ter um percurso de qualidade e valor e de adaptação ao mercado nos tinto e rosés.
Qual a área cultivada de vinha na região?
São cerca de 17 mil os hectares plantados na região. Na última década e meia, a região modernizou-se. Era uma região muito tradicional nas técnicas de viticultura e de forma de condução da vinha. Apostou em conduções modernas que permitiram algum tipo de mecanização e também uma produção mais constante e com menos impacto das condições climáticas, porque permitem, por exemplo, maior arejamento e maior exposição solar.
O programa de apoio à reestruturação da vinha – o Vitis – teve um grande impacto no vinho verde. Apesar de ter diminuído a área de plantação de vinha, a modernização da viticultura no vinho verde tem aumentada a produção em virtude de um aumento da eficiência na vinha.
É preciso também ter cuidado com aquilo que é a paisagem tradicional de vinho verde, tem de haver um equilíbrio entre o que é a modernidade e a tradição para que não se percam valores importantes para o enoturismo. Ao nível da viticultura e da manutenção da paisagem, tem de haver também manutenção do enforcado, das ramadas, entre outros. Daquilo que é característico da região.
Como é que o terroir da região e as próprias castas influenciam o perfil dos vinhos e os distinguem dos restantes produzidos em Portugal?
Os vinhos verdes não são um estilo de vinho. São a DO. Há uma dificuldade em comunicar porque dizer vinho verde parece que é um tipo de vinho. Na verdade, é a DO. A região foi delimitada em 1908, assinala este ano 115 anos. Tem uma diversidade enorme, pela geografia montanhosa do próprio Minho. É quase um anfiteatro que vai até ao mar. Tem também muitos rios que são entradas de ventos do Atlântico na região. E tem altitude, uma vez que a região tem muita viticultura de montanha. Esta diversidade vai criar diferentes microclimas. A DO Vinho Verde permite assim vinhos de perfil muito diferente. Veja, por exemplo, o caso dos alvarinhos da sub-região de Monção e Melgaço.
O que se pode dizer transversalmente em relação ao vinho verde é que tradicionalmente têm acidez elevada, uma frescura aromática grande, graus de álcool inferiores e que muitas das castas utilizadas, se vinificadas da forma certa, vão ter potencial de envelhecimento. Estamos a ver esse potencial agora e já o podemos demonstrar. Há produtores que já podem fazer provas verticais com vinhos com mais de uma década de envelhecimento.
Este é um dos grandes tabus do vinho branco. Há a ideia de que o vinho branco não envelhece bem. Mas isto não é verdade em muitos vinhos brancos da região do vinho verde. Temos de alterar este paradigma que não é exclusivo dos vinhos verdes, nem de Portugal. Todos os brancos no mundo e em Portugal devem trilhar este caminho porque todos perdemos que não o fizermos.
*Entrevista originalmente publicada na edição 415