Sustentável e digital são palavras de ordem na comunicação em loja
A loja continua a ser o ponto de contacto por excelência para as marcas interagirem com o consumidor. A maioria das escolhas de compra são ainda tomadas em frente ao linear, mas os critérios que determinam a decisão estão a mudar
Ana Catarina Monteiro
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A loja continua a ser o ponto de contacto por excelência para as marcas interagirem com o consumidor. A maioria das escolhas de compra são ainda tomadas em frente ao linear, mas os critérios que determinam a decisão estão a mudar.
O consumidor está cada vez melhor informado e decidido sobre os produtos a adquirir, antes de se deslocar à loja. No entanto, apenas no setor do grande consumo, 82% das decisões de compra são ainda tomadas no ponto de venda, de acordo com uma pesquisa da POPAI, citada por Pablo Bultó, diretor executivo da in-Store Media Portugal, em declarações ao Hipersuper. O valor subiu no último ano “três pontos percentuais” face ao ano anterior.
“Isto significa que não podemos limitar o efeito da comunicação do ponto de venda a produtos de impulso, mas também a compras racionais. Os nossos estudos mostram, também, que a grande maioria dos produtos nas listas de compras dos consumidores tem uma definição genérica e, portanto, a comunicação no ponto de venda influenciará decisivamente a decisão final de compra”, observa o responsável.
Em termos de projetos desenvolvidos pela In-Store Media em 2019, Paulo Bultó destaca o que foi desenvolvido em conjunto com o El Corte Inglés – o “Live Lisboa” -, que se sustenta no “ecrã mais procurado pelas marcas em Portugal”, indica.
Também “os suportes a que chamamos espetaculares, como as passarelas, com as quais uma marca consegue dominar visualmente o corredor de sua categoria, têm ganho o interesse dos anunciantes pelo impacto direto que geram nas vendas”, salienta o responsável.
No último ano, a fatia do orçamento disponível pelas marcas para a comunicação no ponto de venda apresentou “aumentos acima dos 15%” na maioria dos clientes da In-Store Media”. O diretor executivo acredita que 2020 “será o ano da comunicação digital no ponto de venda para o setor de grande consumo”, com as “principais cadeias a adotar estratégias de comunicação omnicanal e digital nas suas lojas”.
NetScreen aposta em soluções LED
Bruno Rosa, diretor de operações da NetScreen, concorda que a compra por impulso continua “obviamente” a ser estimulada pela comunicação no ponto de venda, mas não só. “Um consumidor que esteja indeciso entre duas marcas ou produtos acaba, muitas vezes, por ser influenciado no último minuto”. Neste sentido, “uma comunicação feita através de um meio digital apelativo faz toda a diferença na hora de comprar”, ressalva.
Esta é, aliás, uma das tendências atuais apuradas pela NetScreen, empresa especialista em comunicação digital. Bruno Rosa destaca a crescente utilização da tecnologia digital LED, que não só “valoriza os produtos publicitados”, como também “moderniza e dinamiza” os espaços onde os equipamentos são instalados.
Inovações “como POS LED Display”, já instalados em “inúmeras superfícies comerciais”, assim como soluções “transparentes, que permitem comunicar em simultâneo em interior e exterior, através das vidraças existentes nos espaços comerciais”, estão também entre as tendências atuais detetadas pela NetScreen, cujo número de instalações indoor superou as 130 no ano transato.
Com este resultado, a empresa do grupo Digidelta superou no último ano “a fasquia das mil” instalações desde que surgiu no mercado, em 2004. Apenas “15% daquele número foi implementado em 2019”, indica o responsável apontando para um “forte ritmo de crescimento no mercado indoor desde 2017”.
Entre os projetos desenvolvidos pela NetSreen, destaca-se o projeto realizado para o grupo Auchan. “Em um mês, instalámos cerca de 46 equipamentos LED Box nos respetivos supermercados. A parceria integrou ainda uma ação de mudança de imagem do próprio grupo, ao qual estamos bastante agradecidos pelo voto de confiança nas nossas soluções e serviços”.
As soluções LED “têm ganho relevo na comunicação no ponto de venda” e tudo indica que o seu “crescimento se vai manter”, já que combinam também com a exigência de sustentabilidade. “Comunicar através de painéis digitais implica não ter de utilizar outros materiais que podem ser recicláveis, mas acabam por contribuir para a pegada ecológica”, destaca o responsável, acrescentando que a “longevidade destes equipamentos pode ir, “em alguns casos, até aos dez anos de vida”.
Sem indicar valores de faturação, o responsável explica apenas que a NetScreen registou “um crescimento acima dos 50% face a 2018”. Perante “todas as oportunidades e projetos que tem em carteira, 2020 é “encarado como o ano de afirmação da NetScreen perante o mercado de comunicação digital LED”, sustenta Bruno Rosa.
DS Smith integra tecnologia em papel canelado
Há uma ferramenta de comunicação no ponto de venda que, na impossibilidade de ser digitalizada, está mais sujeita às exigências de sustentabilidade do mercado: a embalagem. Neste segmento, assiste-se “a uma alteração dos materiais utilizados para efeitos de comunicação promocional no ponto de venda com base no seu impacto na sustentabilidade”, diz Joana Gonçalves, marketing manager da DS Smith. “A procura de materiais sustentáveis, 100% recicláveis, tornou-se numa necessidade para as marcas”, sustenta.
A empresa tem procurado diferenciar-se através das soluções que desenvolve “em cartão canelado”, não só para o packaging dos produtos como também para expositores. “Podemos destacar soluções que integram luzes, som ou até mesmo sensores que reagem aos movimentos, gerando um efeito no próprio expositor”, explica a responsável.
Segundo dados facultados por Joana Gonçalves, “76 % das decisões de compra são tomadas no ponto de venda”, pelo que a diferenciação é determinante. “Através da personalização, as marcas procuram destacar-se da concorrência e levar o consumidor a efetuar compras por impulso. As avançadas tecnologias de impressão e os formatos originais garantem que o produto final oferece um forte impacto visual na loja e um elevado desempenho”, destaca.
A DS Smith desenvolve “expositores e materiais para ponto de venda totalmente personalizados”. Toda a oferta é “produzida com materiais reciclados e facilmente recicláveis”. A marketing manager destaca ainda “os expositores que proporcionam otimizações ao nível da cadeia de fornecimento, garantindo a segurança no transporte e fácil manipulação no ponto de venda”. Ainda há os SRP’s (Shelf Ready Packaging) que possibilitam aos profissionais do marketing a oportunidade de integrar o design das embalagens prontas a expor e a vender no mix do conjunto promocional para gerar mais vendas no ponto de venda.
Em termos de design, a DS Smith está também a desenvolver tecnologia que pode também ser integrada nos materiais, como por exemplo a introdução de códigos QR. Estes “remetem para páginas personalizadas ou aplicações de realidade aumentada ou virtual, que podem ser utilizadas para unir os mundos físico e digital e para desencadear novas interações”, salienta a responsável.
UP Partner promove estratégias “phygital”
Para Conceição Pinheiro, diretora comercial da UP Partner, os canais online e offline são neste momento indissociáveis. “Qualquer empresa que interaja com consumidores numa localização física, tal como acontece nos setores do retalho, restauração e hotelaria, tem de melhorar a sua experiência física, através do digital”, considera. E o principal componente de uma estratégia phygital [expressão que indica a junção dos canais físico e digital], com vista a impactar a fase final da decisão de compra, “é a tecnologia móvel”, observa.
“Ao envolver os consumidores quando estes estão fisicamente perto do ponto de venda com uma experiência que eles queiram partilhar nas suas redes sociais, por exemplo, eleva as marcas a um patamar muito mais relacional e próximo”. A UP Partner tem feito ativações especiais em algumas lojas, neste sentido, “que têm gerado milhares de partilhas nas redes sociais, levando as pessoas a interagir com as marcas de forma emocional”.
A responsável explica que atualmente existe “uma predisposição para a liberdade criativa” na construção de campanhas que gerem maior envolvimento com as marcas.
“Apps, câmaras que captam o movimento dos consumidores, jogos de luzes, tablets e outros dispositivos móveis que ajudam na seleção do produto e na busca de mais informação, de uma forma interativa, mas que também trazem um fator de diversão ao momento de compra, por exemplo, contribuem para uma experiência sensorial marcante que irá potenciar a compra e despoletar no shopper a necessidade de regressar à loja para repetir a experiência”, salienta a diretora comercial.
Por outro lado, nota que “os folhetos, físicos ou digitais, voltaram a ganhar relevância”, uma vez que “permitem descobrir oportunidades antes ou durante a visita à loja”.
As marcas mostram, assim, uma “crescente aposta na construção da sua ligação emocional”, tendo como veículo os diferentes suportes tecnológicos existentes, mas com vista a “trazer benefícios à experiência de compra, contribuindo para que seja ativa, imersiva e surpreendente”.
No final de contas, por permitir um contacto físico e direto, a loja é o ponto de contacto por excelência com os consumidores portugueses, que mostram “disponibilidade e predisposição” para as ações das marcas nas lojas. “Os portugueses são latinos, por isso a vertente emocional e sensorial tem um peso muito relevante no seu dia a dia”, lembra a diretora comercial, que considera a ascensão do retalho experiencial uma das principais tendências nível mundial, que irá marcar o mercado português em 2020.
“Os consumidores de hoje não procuram apenas produtos, procuram experiências envolventes, uma tendência que surge da preferência das novas gerações por experiências ao invés de bens materiais. É necessário que os retalhistas identifiquem os motivos que levam as pessoas a comprar na loja física e “redesenhar” as suas lojas para satisfazer essas necessidades”, enfatiza Conceição Pinheiro.
Em todos os processos de comunicação atuais há, no entanto, uma exigência transversal: a da transparência. O consumidor “prefere pagar um pouco mais por produtos que sejam transparentes, em termos de comunicação, do que aqueles que são omissos ou que não divulgam as suas origens”.
WD Retail lança duas novas soluções durante Euroshop
Apesar de considerar que as estratégias “phygital” são uma tendência a explorar, Hugo Nobre, CEO e director de vendas e marketing da WD Retail, não identifica as mesmas como parte da atual realidade da comunicação no ponto de venda. O cenário poderá mudar nos próximos tempos, quando despoletar “uma maior utilização de conteúdos e meios digitais no ponto de venda”, potenciada pela “realidade aumentada e a futura rede 5G”, sustenta.
A empresa, que trabalha também com clientes do norte da Europa, tem percebido que “o mercado português é muito mais dinâmico e criativo”, comparado com os parceiros europeus. “A grande diferença assenta no tipo de materiais que utilizam. Mais metálicos, madeiras, acrílicos e materiais rígidos, em contraponto com o mercado português, que trabalha mais cartão e materiais temporários”, explica Hugo Nobre. Apenas na área de comunicação no ponto de venda, a WD Retail alcançou no ano passado uma faturação “superior a 500 mil euros”, valor que espera dobrar este ano para um milhão de euros.
Em Portugal, Hugo Nobre verifica uma maior preocupação na escolha de materiais para os suportes de comunicação em loja. “Por exemplo, no último ano já foi possível ver alguma mudança estratégica na substituição de materiais mais temporários para materiais mais permanentes, assim como a procura por soluções mais ecológicos e que obedeçam a uma lógica baseada na economia circular e na política dos três R’s – reciclado, reutilizável e reciclável”, salienta. Outra evolução de mercado denotada pelo responsável em 2019 foi “o interesse cada vez maior pelas soluções digitais”.
No que diz respeito a formatos mais utilizados, o CEO destaca “os topos de gôndola, mais direcionados para o canal da grande distribuição e novos espaços como revestimento de pilares para marcas”. Estes “até há algum tempo eram espaços mortos dentro do ponto de venda e hoje são espaços com alto impacto e rentabilidade”. Também os “expositores cross selling são hoje uma solução muito procurada pelas marcas e com bons resultados em termos de eficácia”, especifica.
A WD Retail escolheu a feira europeia dedicada aos profissionais do retalho Euroshop, que decorreu de 16 a 20 de fevereiro, em Düsseldorf (Alemanha), para lançar dois produtos de marketing ponto de venda. Ambas soluções utilizam na sua base uma elevada percentagem de plástico reciclado, que pode ser reutilizado, alargando o ciclo de vida do produto, e que é 100% reciclável, salienta Hugo Nobre. “Embora ainda não estejam no mercado, a primeira abordagem aos grandes players (grande distribuição e marcas) tiveram um impacto bastante grande e fez-nos perceber que esse é o caminho que as marcas vão querer seguir no futuro”, afirma o CEO, concluindo que “as marcas, de uma forma geral, estão neste momento empenhadas em encontrar soluções que lhes permita posicionar no mercado com uma marca sustentável e com elevada responsabilidade ambiental”.
A visão de Mónica Chaves, CEO da Brandkey:
A comunicação no ponto de venda contribui, e muito, para a construção da imagem de marca. Ou pelo menos deveria fazer. Faz parte de uma cadeia de valor, que culmina na decisão de compra. E tem evoluído bastante ao longos dos anos, quer por parte das insígnias quer por parte dos produtores. Nos produtos de grande consumo, a compra no ponto de venda ainda é maioritariamente feita por impulso e muito provocada pela comunicação e campanhas de trade marketing. No geral, os topos permanentes vieram para ficar. Funcionam como autênticos “indoors”, comunicando a imagem de marca junto do consumidor, e cujo impactado “in loco” impulsiona a compra. Por outro lado, numa perspetiva financeira e, também, de sustentabilidade, tornam-se mais eficazes na medida em que os materiais são mais duradouros e, por conseguinte, evita-se o desperdício. Portugal é bem mais desenvolvido na comunicação de ponto de venda do que os outros países da Europa, pelo menos a nível de criatividade é notório.