Constança Casquinho, professora na Nova SBE
De “Morto Vivo” a Líder, por Constança Casquinho (Nova SBE)
“A prática de Mindfulness assenta na observação objectiva (atenção plena) do momento presente, da situação em que nos encontramos”
Hipersuper
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Opinião de Constança Casquinho, professora na Nova SBE*
“Eu refugiava-me nos números e nas tarefas. Fugia das pessoas. Com os números sentia-me mais seguro… focava em potenciar os meus skills analíticos… E olhe o que aconteceu: descobri que até consigo e gosto de trabalhar em equipa”. Teo (nome e detalhes de personagem alterados), 40 anos, europeu, gestor de êxito, partilha: “Sabe professora, o Mindfulness abriu-me uma nova perspectiva: deixei de ter medo das minhas emoções e creio que isso me permitiu abraçar com curiosidade cada momento em que estou com pessoas. Sinto-me agora capaz de ter verdadeiro êxito numa posição de liderança de equipa”.
Thich Nhat Hanh, monge vietnamita e considerado por muitos o “pai” do Mindfulness no Ocidente, refere na sua obra “O Milagre do Mindfulness”: “o trabalho é apenas uma parte da vida. Mas o trabalho é vida apenas quando feito em Mindfulness. Caso contrário, uma pessoa transforma-se num “morto-vivo”.
Encaramos os cursos de Gestão como processos de transformação pessoal, aventuras de auto-descoberta, no caminho para a liderança de êxito. Mindfulness (palavra sob pena de estar a “cair em moda”) surge como uma ferramenta essencial para o auto-conhecimento, para o processo que começa com a auto-liderança e avança para uma sólida liderança de equipas. Talvez… nas palavras de Thich Nhat Hanh… o Mindfulness surja para “ressuscitar mortos-vivos”, para criar Líderes verdadeiramente Vivos.
Para gestores e professores cujo “negócio é números”, o Mindfulness é recebido como “uma treta esotérica”. Recordo a recepção inicial à minha proposta de dar classes de Mindfulness aos alunos: “mas afinal Constança, o que é essa treta do Mindfulness? Sabe que os nossos alunos precisam é de fortes ferramentas analíticas”. Quando retorqui que Mindfulness é uma ferramenta analítica o riso descontraiu, num momento Mindful, o ambiente até então “tenso”.
E afinal o que é (esta não-treta) do Mindfulness? É o “milagre” da mudança de percepção que se oferece em cada instante em que estamos verdadeiramente presentes. Uma mudança de percepção do medo (de pessoas como no caso do Teo, ou de desafios, ou do mercado, ou dos KPI, ou do “chefe”) e do passado (dos “falhanços”, dos erros) para a confiança (em mim e nos outros) e do presente (base para a construção de um futuro com êxito para mim, para a equipa e para a empresa). Uma mudança de percepção que permite “ressuscitar” em cada momento e passar de “gestor morto-vivo” a Líder Vivo. Mindfulness permite-nos ganhar maior consciência do funcionamento da nossa mente, de tal modo que podemos transformar-nos no “observador” presente das dinâmicas de pensamento em vez de funcionarmos em piloto-automático.
A prática de Mindfulness assenta na observação objectiva (atenção plena) do momento presente, da situação em que nos encontramos. Observamos objectivamente a situação tal como ela se apresenta; não como gostaríamos que fosse, mas sim tal como ela se apresenta. E ainda que seja durante um breve momento abstraímo-nos de julgar a situação. Então Mindfulness pode ser “definido” (inicialmente no Ocidente por Jon Kabat-Zinn, Professor Emérito de Medicina da Universidade de Massachusetts) como o acto de prestar atenção objectiva ao momento presente sem julgamento. As técnicas de foco na respiração ou nas sensações do corpo são simples de experimentar e permitem imediatamente alterar a percepção do momento presente, dando espaço a que surjam novas possibilidades criativas de resolução de problemas.
Os benefícios cientificamente reconhecidos da prática recorrente de Mindfulness são múltiplos: dos efeitos visíveis ao nível da melhoria da saúde (de tal maneira que, ilustrativamente, o NHS do Reino Unido abraçou a oferta de serviços de Mindfulness como forma de redução de custos com doença) aos efeitos mais subtis da percepção do aumento da sensação de bem-estar e da construção de relações interpessoais mais gratificantes. E como “a cereja no topo do bolo” aumentamos a nossa percepção de abundância de tempo: como afirma Mark Williams, autor do livro “Mindfulness: O plano de oito semanas que libertou milhões de pessoas do stress e da ansiedade”, “em breve descobrirá que embora se sinta pobre de tempo você é na realidade rico em momentos”.
Parece milagre? Se calhar é, experimente e decida por si! Quer saber como? Respire… e aprenda a viver em Mindfulness.
*Programa de Gestão de Retalho e Consumer Analytics. A autora escreve segundo a antiga grafia