Portugal está preparado para a Indústria 4.0?
A 4ª revolução industrial bateu à porta das fábricas e levou o Governo a definir uma estratégia para o País. O plano para a Indústria 4.0 faz parte do desafio da digitalização da economia, que prevê uma injeção de 4,5 milhões de euros. Que desafios enfrentam as empresas para competir neste novo contexto tecnológico?
Ana Catarina Monteiro
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A 4ª revolução industrial bateu à porta das fábricas e levou o Governo a definir uma estratégia para o País. O plano para a Indústria 4.0 faz parte do desafio da digitalização da economia, que prevê uma injeção de 4,5 milhões de euros. Que desafios enfrentam as empresas para competir neste novo contexto tecnológico?
A primeira revolução industrial, no séc. XVIII, foi um ponto de viragem para a aceleração do crescimento económico e dos padrões de vida das sociedades. Depois da introdução das primeiras máquinas que vieram substituir os processos industriais artesanais, a evolução tecnológica trouxe automatização às fábricas que, hoje, são confrontadas com a quarta revolução industrial, impulsionada pela digitalização da economia e da sociedade em geral. A chave está na comunicação e partilha de informação entre toda a cadeia de valor, sustentada por máquinas, softwares e indivíduos interligados.
“Aceleradores de inovação estão a transformar a indústria”
A IDC (International Data Corporation) cunhou em 2010 o termo “terceira plataforma digital”, quando constatou o surgimento de novas infraestruturas de informação, dentro das organizações, com base em quatro ferramentas tecnológicas: cloud computing, social media, big data e mobilidade.
O conceito designa um moderno e flexível ambiente de TI (Tecnologias de Informação), responsável por ajustar os negócios à era digital. “Nos últimos cinco anos assistimos a amadurecimento destes quatros pilares da terceira plataforma tecnológica, os quais são hoje utilizados por mais de 50% das empresas de média e grande dimensão em Portugal. Apenas o big data ainda se encontra com uma taxa de adoção de 35%”, revela em entrevista ao HIPERSUPER Gabriel Coimbra, country manager da IDC Portugal.
Agora, a empresa de “market intelligence” observa a chegada dos “aceleradores de inovação”, os quais vêm potenciar as tecnologias da “terceira plataforma”. São eles a “Internet of Things [IoT] e a Inteligência Artificial [IA], a par da computação cognitiva, da Realidade Aumentada e Virtual, a Impressão 3D, a Robótica e a Segurança de Próxima Geração”.
É a interligação das tecnologias englobadas na “terceira plataforma” e das descritas como “aceleradoras” que está a revolucionar a indústria, ao que acresce ainda a “significativa” redução do custo das mesmas “nos últimos anos”, o que fez acelerar a adoção por parte das empresas. “O real valor da IoT só é alcançado com big data e o verdadeiro potencial da robótica está intrinsecamente ligado à Inteligência Artificial”.
Portugal abaixo da média da Europa Ocidental
Na indústria agroalimentar, em particular, todas estas tecnologias “têm um potencial impacto no melhoramento” do processo produtivo. Gabriel Coimbra exemplifica: a “utilização de sensores para monitorização de condições do solo ou do estado de saúde e localização dos animais”, através da Internet das Coisas (IoT), “drones que podem analisar o estado das colheitas e identificar potenciais pragas ou outros problemas ainda em fase inicial de ocorrência”. Também a impressão 3D irá ter “a prazo um profundo efeito transformacional em qualquer indústria, do qual também a agricultura irá beneficiar à medida que o custo desta tecnologia se vai reduzindo e o âmbito de atuação se vai alargando”.
Atualmente, segundo a IDC, a IoT é a tecnologia que se encontra num “estado de maturidade mais avançado” a nível mundial. No entanto, “Portugal ainda tem um longo caminho a percorrer”, já que “apenas 44% das empresas de médio e grande porte no País mostram interesse em utilizar soluções com base na Internet das Coisas, o que contrasta com os 70% atribuídos ao total da Europa Ocidental e com os quase 90% apurados nos EUA”, alerta o responsável. Um estudo levado a cabo pela multinacional no início de 2016, junto de 236 empresas, concluiu que “as organizações portuguesas estão ligeiramente menos maduras” face às congéneres do ocidente europeu. “Na indústria, o nível ainda é menor” face às restantes atividades empresariais no País. “O que significa que estamos bastante abaixo da média destes países”, conclui o country manager da IDC.
Governo prevê investimento de 4,5 mil milhões de euros
Para apoiar o tecido empresarial na adaptação à Indústria 4.0 – conceito adotado na Europa para apelidar a quarta revolução industrial -, o Governo português lançou no início do ano a estratégia do País para a digitalização da economia. Depois de auscultar mais de 100 entidades e empresas de diferentes setores que vão desde a agroindústria, passado pelo retalho, até ao turismo, o executivo liderado por António Costa definiu mais de 60 medidas, para as quais prevê um investimento de até 4,5 mil milhões de euros nos próximos quatro anos, sendo que serão mobilizados até 2,26 mil milhões de euros através de fundos europeus, respeitantes ao programa Portugal 2020.
A fim de coordenar e monitorizar a incorporação do plano, foi assinado no final de janeiro um protocolo com a COTEC Portugal. Em declarações ao HIPERSUPER, Jorge Portugal, diretor-geral da Associação Empresarial para a Inovação, explica que o plano contempla a “capacitação tecnológica das empresas em diferentes tecnologias que incluem sensores, captação e transmissão de dados, plataformas de armazenamento em cloud, ferramentas analíticas de exploração de dados, algoritmos e automação inteligente, colaboração homem-máquina e capacitação dos trabalhadores para trabalharem com maior produtividade num ambiente rico em dados e máquinas inteligentes”. Os “cinco principais pilares” que guiam a estratégia do Governo são “a capacitação de pessoas, a adoção tecnológica, o investimento, a internacionalização da fileira i4.0 e [a definição] de normas e regulamentos”.
Showcase de unidade fabril agroindustrial
Nesta primeira fase, que assenta sobretudo na capacitação de recursos humanos, “algumas das medidas já estão em curso”. Enquanto umas são “de natureza privada”, outras envolvem “concursos públicos”, dá conta o responsável.
Uma das medidas consiste na “promoção de Learning Factories” com a criação de espaços que, com recursos a tecnologias, simulem ambientes empresariais num contexto de Indústria 4.0 e onde as empresas possam adquirir formação e apreender os conceitos da transformação digital. Para o setor agroalimentar, em particular, foi construído pela mão da Flow Technology um “showcase” de uma unidade fabril, com recursos a tecnologias e práticas de gestão avançadas.
Da mesma forma, a Siemens, a Bosch, a Axoom e a Goglio disponibilizam já no mercado nacional “plataformas comerciais de armazenamento e exploração de dados, dirigidas a diferentes indústrias”, para potenciar a Indústria 4.0 no País.
A COTEC tem estado a percorrer o País para sensibilizar as empresas para a quarta revolução industrial e “em breve” lançará “uma nova evolução da plataforma digital de informação e cooperação”, anuncia Jorge Portugal.
Capacitação de mão-de-obra é prioridade
O Governo estima que a Indústria 4.0 terá um impacto direto em 54% dos empregos existentes no País, pelo que a “grande maioria” das medidas estipuladas visa a capacitação de recursos humanos. De acordo com o estudo Digital Economy & Society Index 2016 da Comissão Europeia, metade da população portuguesa não tem competências digitais básicas e 28% nunca utilizou a internet. Por este motivo, a “reconversão dos trabalhadores e a criação de novos empregos” são as prioridades da estratégia para a digitalização da indústria no País que, numa primeira fase, passa por requalificar e formar mais de “mais de 20 mil” trabalhadores com competências digitais. O plano de formação deverá impactar “mais de 50 mil” empresas em atividade em Portugal. “Tendencialmente, teremos um segmento de serviços e produtos completamente novo e mais robusto, o que irá reposicionar o mercado e criar a necessidade de mais mão-de-obra”, diz ao HIPERSUPER Victor Pessanha, manager da empresa de recrutamento Hays Portugal, frisando que “será também um desafio para os quadros de liderança das empresas implementar toda a mudança cultural e de mentalidade a nível de recursos humanos”.