Quem disse que a cerveja não pode ser sofisticada?
A gastronomia pode ser o segredo para a sustentabilidade da indústria de cerveja, que assiste desde início da década à redução do consumo interno. Os cervejeiros nacionais tiveram uma “aula” com a sommelier belga Sofie Vanrafelghem para fazer face à exigência de “sofisticação” do setor
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Ana Catarina Monteiro
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A gastronomia pode ser o segredo para a sustentabilidade da indústria de cerveja, que assiste desde início da década à redução do consumo interno. Os cervejeiros nacionais tiveram uma “aula” com a sommelier belga Sofie Vanrafelghem para fazer face à exigência de “sofisticação” do setor.
No sentido de alargar os horizontes dos cervejeiros em Portugal, a Associação Portuguesa de Produtores de Cerveja (APCV) convidou a “beer sommelier” belga Sofie Vanrafelghem para dar um workshop aos seus associados. A meta da formação é ajudar o setor a “dignificar a cerveja junto do consumidor” e aumentar a “notoriedade” desta bebida milenar que, tal como o vinho, é “um produto igualmente diversificado e adaptado a diferentes ocasiões de consumo”, explica em entrevista ao HIPERSUPER Francisco Gírio, secretário-geral da ACPV.
A sustentabilidade pode estar garantida se os produtores aprenderem a tirar partido da gastronomia, “através da harmonização dos diferentes estilos de cerveja com os mais variados alimentos, e do aumento das ocasiões de consumo. Sem esquecer a ajuda que pode dar o turismo”, considera o secretário-geral da associação.
A belga Sofie Vanrafelghem trocou o vinho pela cerveja. Quando estudava para se tornar uma “wine sommelier” (especialista em harmonização de vinhos), descobriu que a cerveja é, afinal, “muito mais complexa”. Em entrevista, a especialista considera que, se a indústria mundial se empenhar em exigir o mesmo tratamento que recebe o vinho, “em dez anos o consumo das duas bebidas alcoólicas pode-se tornar equivalente”. E para que tal aconteça, os setores ligados ao “turismo e ao lazer” são importantes aliados.
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Campanhas direcionadas a público feminino
Com a missão de desmistificar o consumo da bebida entre o público feminino, que “ainda encara muitos mitos e preconceitos sobre o consumo”, a especialista belga fundou o movimento “Vrouwen en Bier” (Mulheres e Cerveja). Ainda assim, há “cada vez mais mulheres” a experimentarem cerveja, uma oportunidade para a indústria se aproximar deste segmento. “O meu conselho é que não se apliquem técnicas de marketing genéricas, porque já se provou que não aumentam vendas nem capturam a audiência feminina. Deve-se manter o foco no valor acrescentado do produto e comunicá-lo de formas direcionadas para mulheres e homens, separadamente”.
E como se divulga, então, de forma eficaz o valor da cerveja para o público em geral? O segredo está na informação como, por exemplo, a origem do produto, para enriquecer a perceção do consumidor sobre o produto. “A indústria hesita muito em dar conhecimento ao público, mas isso ajuda-o a ver a complexidade e riqueza da bebida”.
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Francisco Gírio, secretário-geral ACPV
A especialista destaca a “evolução atual” do mercado de cerveja na Europa, cuja capacidade de inovação era até agora “subestimada” face ao mercado norte-americano. Assiste-se atualmente ao surgimento de “excelentes produtos, com novos mercados a destacarem-se, como é o caso de Portugal”. Uma maior aposta na variedade leva tem aumentado o número de “compradores de cerveja” sobretudo nos supermercados, que são uma “ótima montra para o público comum se aperceber da variedade disponível”.
Venda de cervejas “especiais” impulsiona consumo
Portugal tem “grandes oportunidades de se tornar num dos mais importantes países de cerveja na Europa” se a indústria nacional mantiver o “espírito de inovação”. Além dos pequenos produtores de cerveja artesanal que têm surgido, também as principais marcas lançam edições premium. “As maiores produtoras estão também a criar fórmulas mais sofisticadas que os consumidores podem encontrar nas grandes superfícies e não apenas em lojas especializadas. Esta aproximação gera curiosidade, que se converte em desejo de compra e, por fim, moldam o paladar o público para saber saborear a cerveja”, destaca a belga.
Apesar de concordar que o consumo de cerveja a nível mundial está a diminuir, principalmente na Europa, a sommelier diz que “se olharmos com mais detalhe, vemos que a venda dos produtos ‘especiais’ está a crescer”. Podemos considerar que, no geral, o consumo está a ter uma “evolução positiva porque as pessoas estão a descobrir novas variedades”, sublinha a beer sommelier, acrescentando que as variedades “amargas” e as elaboradas a partir de lúpulo e de aveia são as grandes tendências de consumo.