Como a Sonae pretende democratizar a alimentação saudável
A Sonae inaugurou o primeiro supermercado Go Natural, insígnia com a qual ambiciona liderar a alimentação saudável em Portugal. Em 2017 abrem cinco espaços deste formato, onde 80% da oferta […]
Ana Catarina Monteiro
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A Sonae inaugurou o primeiro supermercado Go Natural, insígnia com a qual ambiciona liderar a alimentação saudável em Portugal. Em 2017 abrem cinco espaços deste formato, onde 80% da oferta é biológica. As vendas de bens orgânicos ascenderam a 21 milhões de euros no País em 2011.
É evidente que o consumidor está mais atento ao impacto da alimentação na saúde e ao modo como são produzidos os alimentos. Há cinco anos que os produtos frescos não ocupavam tanto espaço nos carrinhos de compra dos portugueses, representando 36,6% do total das vendas, efetuadas entre janeiro e setembro deste ano, no mercado de grande consumo em Portugal. De acordo com dados da consultora Kantar Worldpanel, a procura de alimentos frescos cresce à boleia da tendência de uma maior preocupação com a alimentação saudável entre os portugueses, destacando-se o aumento das compras de “cereais muesli, iogurtes funcionais, massas integrais, congelados não preparados, bolachas saudáveis, sumos de fruta, entre outros”.
À medida que cada vez mais indivíduos adotam uma alimentação vegetariana ou vegan, por outro lado, há uma maior apetência dos consumidores para a compra de produtos mais naturais, livres de químicos ou substâncias como a lactose ou o glúten. Ao mesmo tempo alarga a procura por produtos funcionais, como os suplementos ou as vitaminas, que fornecem energia para a prática de desporto ou ajudam no combate ao excesso de peso.
Quando um dos principais “players” do retalho nacional cria uma nova área de negócio para responder à tendência, é notório que a procura está a modelar a oferta. A divisão de retalho alimentar da Sonae estreou a nova insígnia de supermercados Go Natural, com a qual pretende democratizar o acesso à alimentação saudável. A primeira unidade do novo negócio, que tem como diretor Luís Marques, abriu no início de dezembro no número 85 da Avenida 5 de outubro, em Lisboa, depois de nove meses de preparação.
Cinco novas lojas em 2017
O formato de supermercado de rua conjuga restauração e mercearia. Nos lineares, abastecidos por 80 fornecedores, maioritariamente estrangeiros, encontram-se mais de 4000 referências de produto, divididas entre 40 diferentes categorias, que compõem as zonas de frescos, higiene e beleza, congelados, refrigerados, limpeza do lar, venda a granel e de produtos de conveniência como o espaço “Grab and Go”, onde se encontram por exemplo as sopas pré-preparadas. A loja está organizada numa simbologia de seis cores que ajudam a identificar os produtos indicados para vegetarianos, vegans, os que são biológicos (mais de 80% da oferta), os que não contêm glúten ou açúcar, os dietéticos e os de nutrição desportiva.
Nos 350 metros quadrados de área de venda há também uma zona de restauração, com capacidade para acolher 40 clientes sentados, que oferece menus de cafetaria para pequeno-almoço e lanche. 50 dos ingredientes utilizados na confeção dos mesmos, incluindo o leite e o café, são biológicos. As embalagens, por sua vez, são biodegradáveis.
A Sonae MC prevê estender a cadeia especializada em alimentação saudável a mais cinco lojas em 2017, privilegiando aberturas na rua e em centros urbanos de Porto e Lisboa, como explicou durante a apresentação do novo conceito Inês Valadas, administradora da Sonae MC. Antes de alargar a rede de lojas, o grupo quer operar nos próximos meses de forma exclusiva esta primeira loja.
Sonae adquire 51% da Go Well
O formato especializado em alimentação saudável é original do grupo mas o nome deriva de um acordo de licenciamento com a marca portuguesa de restauração Go Natural. Após sondar os consumidores, a Sonae verificou que “95% dos portugueses associa aquela marca a um estilo de alimentação saudável e 45%” confessa já ter visitado um dos 22 restaurantes da cadeia de fast food saudável distribuídos pelo País.
A abertura da loja dá-se uns dias depois de a empresa sediada na Maia anunciar a aquisição de uma participação maioritária de 51% da Go Well, empresa detentora da Go Natural que obteve em 2015 um volume de negócio de 6,4 milhões de euros. A operação está ainda sujeita à aprovação da Autoridade da Concorrência.
Os restaurantes da marca, tipicamente localizados em centros comerciais, mantêm a mesma designação e continuam nas mãos da Go Well, que tem ainda a seu cargo a gestão das áreas de restauração dos novos supermercados da Sonae. A administradora da divisão de retalho alimentar considera que os dois negócios sob alçada da mesma marca são compatíveis, descartando a possibilidade de abrir supermercados Go Natural em shoppings, território onde o grupo está presente com os hipermercados Continente. O objetivo delineado para o formato de grandes dimensões passa por introduzir uma zona dedicada exclusivamente à alimentação saudável em todo o parque de lojas.
Por sua vez, a cadeia de restaurantes prossegue com uma dinâmica de expansão independente. Abre “em breve o primeiro estabelecimento de rua”, revelaram Joana e Diogo Martorell, fundadores da Go Natural, na apresentação do novo conceito.
Loja online e produtos de marca própria
Com esta nova insígnia, a Sonae pretende democratizar a categoria de alimentação biológica e saudável em Portugal, trazendo para este tipo de produtos, que apresentam preços acima da média, “uma forte dinâmica promocional” através de folhetos e descontos em cartão. A loja deve estender-se “nos próximos meses” ao ecommerce. O canal online “está a ser preparado”, tendo como foco “oferecer informação técnica completa sobre alimentos e suas aplicações”. A insígnia terá uma loja virtual, à qual os utilizadores poderão aceder através do site do Continente.
Além disso, a administradora admitiu que a empresa está “a preparar novas gamas de fornecedores internacionais para acrescentar à sua marca própria durante o próximo ano”. O grupo detém neste momento a marca de produtos saudáveis Área Viva.
Apesar de não ser um conceito direcionado especificamente para os artigos produzidos biologicamente, “mais de 80% da oferta” dos supermercados Go Natural apresenta certificação biológica. “Nas áreas dos frescos, da venda a granel e em larga parte da mercearia os produtos são totalmente biológicos”. O público-alvo são sobretudo “os consumidores que querem entrar no mundo dos alimentos cultivados e processados de forma natural”, sendo que “as famílias com filhos pequenos são as primeiras a adotar esta tendência”, nota o grupo depois de analisar o mercado nacional e internacional.
Biológicos atingem vendas de €24 mil milhões na Europa
A Sonae MC viajou pelo mundo e verificou que nos últimos três anos o mercado de “alimentação nutritiva cresceu anualmente 11,2%” e as vendas de produtos biológicos sobem a um ritmo de “6% por ano”.
As vendas a retalho de produtos biológicos na União Europeia (UE) duplicaram em menos de dez anos, a partir dos 11,1 mil milhões de euros verificados em 2005 para 23, 9 mil milhões de euros registados em 2014. No mesmo ano, observou-se uma subida de 7,4% face ao período homólogo, segundo o estudo sobre a alimentação orgânica na Europa elaborado este ano pela IFOAM (Federação Internacional da Alimentação Biológica). A nível global, os bens biológicos atingiram vendas de 62,6 mil milhões de euros em 2014, refletindo uma subida de 8,7% em comparação com o ano anterior.
O consumo per capita deste tipo de alimentos entre os países da UE, contando ainda com os 28 membros, assenta nos 47,4 euros, sendo os consumidores dos países nórdicos os que mais compram produtos orgânicos. “Na Dinamarca há a ambição de que toda a produção de alimentos seja biológica”, destaca Inês Valadas.
A agricultura biológica representava há dois anos 5,7% no total da atividade agrícola desenvolvida nos Estados-membros da UE, o que significa que há ainda muito espaço para se poder expandir as culturas. Como explicou recentemente em entrevista ao HIPERSUPER o presidente da associação portuguesa de agricultura biológica Agrobio, Jaime Ferreira, este tipo de produção na Europa está a crescer entre “10% e 15% por ano e os volumes de faturação das maiores empresas produtoras e distribuidoras aumentam anualmente entre os 25 e os 30%”.
Venda de bens biológicos vale €21 milhões em Portugal
No mercado nacional, os dados mais recentes comprovam que as vendas de produtos biológicos ascenderam em 2011 aos 21 milhões de euros.
Nas lojas Continente, a venda de alimentos naturais e saudáveis “está a crescer a dois dígitos”. O que dá tranquilidade ao grupo na ambição de tornar a nova insígnia de retalho líder do mercado nacional, onde enfrenta como principal concorrente “a cadeia Celeiro”, que segue um conceito semelhante. A insígnia detém cerca de 30 lojas a nível nacional, das quais dez oferecem também espaço de restauração e 18 incluem refeições “Take away”. Além disso, disponibiliza loja online desde 2014 cartão de fidelização e aconselhamento técnico.
O grupo está também a “montar uma escola para dar formação específica” aos colaboradores que vão operar os supermercados Go Natural. A equipa de 18 colaboradores do primeiro espaço inclui desde psicólogos a nutricionistas, que estagiaram durante quatro meses entre as lojas do grupo, como as da insígnia Well’s, e junto dos agricultores.
No horizonte, a longo prazo, da divisão de retalho alimentar do grupo nacional está o desígnio de exportar o novo conceito de alimentação saudável. A empresa “já tem preferência dos mercados externos” para onde levar os novos supermercados especializados, explica, sem concretizar, a administradora da Sonae MC.