Especial Logística. Transportadoras promovem comércio sincronizado
A pressão para redução de custos, aliada à exigência de uma rede de distribuição flexível que garanta rápidas entregas, levou o setor da logística a reinventar a sua proposta de valor. Recorrendo à inovação tecnológica, hoje um poderoso aliado na gestão dos negócios
Ana Catarina Monteiro
Exportações da indústria alimentar e bebidas em 2024 ultrapassam valores de 2023
Intermarché é o patrocinador oficial da Taça da Liga Portugal
O Meu Super foi eleito Escolha do Consumidor
Telepizza lança nova gama de produtos
CoRe investe na Bolseira para fazer crescer a empresa em Portugal e na Europa
“A José Maria da Fonseca vai ser uma empresa muito mais internacional”
Izidoro é Escolha do Consumidor 2025 na gama Forno a Lenha
Personalização e investimento em tecnologia são tendências no retalho em 2025
Vítor Hugo Gonçalves: “Estamos constantemente a medir a eficiência da nossa linha”
Pós-Graduação em Sustentabilidade e Inovação em Frutos Secos abre candidatura à 2ª fase
A globalização do comércio desenvolve-se à boleia das redes globais de distribuição inteligentes e dinâmicas, desenvolvidas pelas empresas de transporte. Desde a crise deflagrada em 2009, o retalho procura conter despesas e o setor dos serviços, onde se encaixam a logística e os transportes, tornou-se vulnerável a estes cortes. “A redução dos custos logísticos foi muito grande, a crise obrigou as empresas sobreviventes a repensar o negócio e a deduzir os desperdícios quer na área da produção, quer nas operações de suporte das quais a logística e transportes são parte integrante”, explica em entrevista ao HIPERSUPER Sofia Ferreira, general manager da Plogistics.
Esta situação concedeu uma consciência de otimização e inovação ao setor logístico, que foi alargando a outros segmentos de negócio, como por exemplo a analítica, para uma proposta de valor acrescentado. Os serviços disponibilizados abrangem hoje muito mais do que a simples gestão da cadeia de abastecimento, estendendo-se a todos os processos de um negócio, desde a atração do cliente final à antecipação das suas exigências.
“Fotografia de todos os processos”
“Os sistemas de gestão de transporte fornecem hoje uma fotografia clara de todos processos de uma empresa. Este conjunto de dados permite fazer análises rápidas e claras de forma a melhorar e otimizar as diferentes atividades, bem como as suas interligações, e, assim, gerir melhor os processos de negócio. A analítica possibilita à gestão definir a quantidade de indicadores que serão úteis na melhoria da sua performance global. Com esta tecnologia, as empresas têm todas as condições para conhecerem a sua atividade – os seus clientes e os recursos afetos à gestão das operações -, saber de forma mais fiável qual a rentabilidade de um determinado cliente e, consequentemente, decidir em conformidade”, explica em entrevista José Cardoso, administrador da portuguesa Klog, fundada em 2012.
O responsável da empresa que atua nos segmentos terrestre, aéreo, marítimo multimodal (short sea e rail) e logística contratual entende que “os retalhistas estão cada vez mais a apostar na velocidade das entregas”. Os maiores desafios que estes assumem na gestão logística prendem-se com a “conciliação da redução de custos fixos e o crescimento da atividade”. A contratação da logística em “outsourcing” permite à distribuição focar-se na qualidade de atendimento e estratégias de promoção, que formam o seu ‘core business’. “As empresas atualmente têm ‘know-how’ e experiência suficientes que lhes permitem saber o que querem, definindo um caderno de encargos claro e preciso que faz com que o parceiro logístico produza serviços com qualidade e competitividade que são medidos diariamente mediante os KPI (Key Performance Indicator) contratualizados. Juntando a todo este processo os sistemas de informação, o cliente acaba por nem se aperceber que tem a sua operação logística em outsourcing”, reforça.
Cadeia de fornecimento focada no “trade-in-time”
Para Carlos Pinheiro, BD manager da UPS, “assumindo-se como uma tendência cada vez mais forte, a estratégia relativa à ‘supply chain’ passa por localizar as várias etapas da produção – investigação e desenvolvimento, produção, fabricação de componentes, montagem final, marketing, distribuição e comercialização – o mais próximo possível dos melhores recursos disponíveis, para que assim se possa acrescentar valor aos produtos”. Desta forma, “os líderes na gestão das ‘supply chains’ encontram-se focados no ‘time-in-trade’, garantindo que cada componente da cadeia de valor se encontra precisamente no local certo, no momento certo, na condição certa e com um custo altamente competitivo. Em suma, falo do comércio sincronizado”. A empresa direciona “mil milhões de euros” do seu orçamento anual para tecnologia, apostando numa “abordagem holística na gestão da cadeia de abastecimento”. Uma das prioridades da multinacional é o aumento da sua “frota alternativa ao diesel, com intenção de reduzir o uso dos convencionais combustíveis fósseis até 12% por ano”. Além disso, lançou “nos Estados Unidos a solução de processamento de dados ORION (On-Road Integrated Optimization and Navigation) que utiliza detalhes da embalagem e mapas de dados online altamente personalizados, para criar a rota de entrega mais eficiente para os nossos motoristas”.
Para uma maior eficiência das redes “há uma série de facilidades que podem ser exploradas e algumas que já estão a ser testadas, como por exemplo a utilização de robots (drones) nas entregas e outros produtos inovadores, dá conta em entrevista José Ferreira, diretor de operações da DHL em Portugal. “Para isso, o grupo DPDHL tem atualmente dois Centros de Inovação, um na Alemanha e outro em Singapura”. Além disso, a empresa detém “um departamento dedicado ao estudo de tendências de mercado e respetivas soluções que possam prever, antecipar e dar resposta às necessidades mais prementes dos nossos clientes”.
Aplicar ‘big data’ à logística
Com a automatização de processos através do investimento em tecnologia, que permite retirar mais informações e controlar toda a cadeia, o setor de logística transforma-se num poderoso aliado para os processos de gestão dos negócios. “O setor está a orientar-se para rentabilizar a informação de que dispõe e encontra-se numa posição privilegiada para beneficiar dos avanços tecnológicos e metodológicos inerentes ao conceito ‘big data’. As empresas de logística gerem ao minuto um fluxo massivo de produtos que, por sua vez, origina muita informação. Por dia são monitorizados milhões de envios, com origem e destino diversos, e dimensões, peso e conteúdo distintos”.
A DHL realizou um estudo sobre o conceito ‘big data’ na área da logística (“Big Data in Logistics”), no âmbito do programa “Logistics Trend Radar”. Segundo este estudo, “o big data pode otimizar três categorias diferentes de informação na logística: eficiência operacional (otimização de rotas, gestão massiva de recolhas e entregas, planeamento estratégico de toda a rede e planeamento da capacidade operacional); a experiência do cliente (gestão dos níveis de fidelização de clientes, melhoria contínua do serviço e inovação de produtos, avaliação de risco e planeamento da capacidade de adaptação e de renovação); e os novos modelos de negócios (‘market intelligence’ para pequenas e médias empresas, análise financeira do mercado e de toda a cadeia de valor, e ‘environmental intelligence’). Sabemos que a análise de grandes volumes de informação, pelas áreas de gestão de produto, pode permitir fornecer serviços cada vez mais adaptados às necessidades do mercado e desejos dos clientes”.
Ecommerce: Aposta em pontos de recolha e ‘tracing’
Segundo o BD manager em Portugal da empresa UPS, sediada em Altanta, nos Estados Unidos, “os portugueses são cada vez mais adeptos do ecommerce, estando este setor a apresentar uma dinâmica de crescimento muito interessante. Os dados apontam que cerca de 4,8 milhões de cidadãos portugueses acederam a websites de comércio eletrónico a partir dos seus computadores pessoais no último trimestre de 2014. Este número corresponde, de acordo com os resultados do Netpanel da Marktest, a 79,7% dos internautas nacionais”.
O estudo da UPS “2014 Pulse of the Online Shopper”, revelou a ascensão do “cliente flex”, um comprador online que muda facilmente de canais e dispositivos para avaliar e comprar produtos. “Este novo modelo de consumo mudou os padrões de compra dos consumidores domésticos em muitos aspetos, nomeadamente ao nível da comparação de produtos. Usando cada vez mais múltiplos dispositivos, o omnicanal é também altamente valorizado por estes consumidores que esperam uma experiência positiva e consistente em todos os canais – desde o online e ‘mobile’ até à compra na loja física”.
As novas tecnologias revolucionaram a forma de fazer negócios e a atividade das transportadoras em particular. O mundo do comércio eletrónico abriu portas ao setor para as áreas de negócios B2C (Business to Consumer), que vieram trazer uma avalanche de novas possibilidades de operação.
Para a Chornospost Portugal, o ecommerce já representa “20% do volume da atividade e 15% da faturação”, revela Carla Pereira, diretora de Marketing e Comunicação da filial portuguesa da transportadora. Com a evolução do comércio eletrónico, a empresa sentiu necessidade de “alterar toda a estratégia e reformular a sua estrutura” para dar resposta às necessidades do eshopper, introduzindo uma série de novos serviços para otimizar a entregas.
Rede de recolha dos operadores logísticos
Uma das apostas foi a construção da rede ‘Pick up’, a partir de “2010”, formada em parceria com estabelecimentos comerciais. Em Portugal já conta com “500 lojas parceiras” e previsão aponta para as “600 insígnias aderentes no final de 2016”. Além do comércio tradicional, a rede ‘Pick up’ da Chronopost integra lojas de retalhistas como o AKI ou o Jumbo.
“O nosso objetivo é melhorar a conveniência destas lojas, sendo que atualmente já temos mais de 90% da população a menos de 15 minutos de distância de um destes pontos. Estamos certos da importância que a rede ‘Pick Up’ tem para os nossos clientes, razão pela qual passámos a entregar ao sábado, na nossa rede, as encomendas recolhidas à sexta-feira. A rede ‘Pick up’ teve um reforço superior a 10% em número de lojas e celebrou, em novembro passado, a encomenda cinco milhões”, explica a diretora.
“No setor da Distribuição são cada vez mais os retalhistas que procuram um operador logístico que lhes possibilite integrar as soluções de ‘shipping’, ‘tracing’ e de escolha do tipo de entrega nos seus próprios ‘websites’. E muitos já confiam as suas entregas na nossa rede de recolha para proporcionarem aos seus clientes uma nova experiência de entrega que dê resposta àquelas que são as necessidades de proximidade e de interatividade dos clientes finais”, salienta.
Focada no consumidor final, a empresa lançou no “início do verão passado”, a solução ‘LiveTracking’, que “permite ao destinatário da encomenda acompanhar o percurso da mesma em ambiente ‘Google Maps’”. Um outro dos serviços de “bandeira” é o ‘Predict’, um alerta interativo ao destinatário que lhe permite controlar o dia e hora de entrega da sua encomenda. A solução está no mercado “desde 2013”. Além disso, a empresa alargou o serviço de entregas e recolha de encomendas ao domingo, tornando-se a “primeira operadora de entregas expresso a oferecer esta possibilidade”.
Os operadores batalham pela “redução do número de tentativas” na entrega de encomendas. “Os operadores logísticos têm-se esforçado para reduzir custos, recorrendo a formas mais inteligentes de fazer entregas, evitando desperdícios”, considera Carla Pereira. Constrangimentos da entrega ao domicilio levaram também a UPS a apostar num modelo de recolha na Europa, assim como no serviço “My Choice”, que faz com que os consumidores controlem, “de forma abrangente e em vários domínios”, as suas entregas no lar.
Outras das operadoras que tem vindo a apostar num modelo de recolha associado a “lojas de proximidade” é a DHL, que assegura a distribuição em Portugal Continental e Ilhas, através de 13 centros de distribuição. Presente em mais de 220 países, a empresa também passou por uma adaptação do negócio para dar resposta à expansão do comércio online. “Com o aparecimento e o crescimento repentino do modelo de negócio B2C, passámos a pensar na ótica do destinatário final. Nesse sentindo, criámos a solução ‘On Demand Delivery’ (ODD), que permite ao destinatário ser informado assim que a encomenda é recolhia no local de origem e aceder a um link, para que de forma rápida e cómoda possa decidir em que dia, hora e local pretende receber a encomenda. Esta solução permite pensar em conjunto, com o destinatário, a forma como este pretende receber a sua encomenda aumentando decisivamente as probabilidades de as entregas serem feitas com sucesso à primeira”, dá conta o diretor de operações em Portugal.
Reduzir o ‘lead time’ com soluções flexíveis
Com três plataformas logísticas (Vila do Conde, Coimbra e Lisboa) em Portugal e dois ‘hubs’ internacionais, em França (Poitiers) e Alemanha (região de Frankfurt), a operadora nacional Klog está neste momento a “preparar uma novo segmento de negócio para responder à expansão das compras online”.
“A nossa experiência diz que os retalhistas estão cada vez mais a apostar na velocidade das entregas”, explica o administrador. A operadora portuguesa que no último ano conquistou uma faturação de 33 milhões de euros, oferece “janelas horárias fixas para realizar estas entregas no mercado de grande consumo, normalmente ao início do dia até final da manhã e já começa a “sentir necessidade de entregas frequentes noturnas”. “Temos equipas de ‘customer service’ que funcionam 24 horas, de forma a responder com eficiência a todo este processo. Disponibilizamos ainda retorno de informação e comprovativo de entrega online e fazemos toda gestão documental associada a este processo”, sustenta José Cardoso. Com seis agências no mercado nacional, que asseguram a distribuição em todo o País em 24 horas, a empresa oferece “rotas de distribuição bi-diárias nos principais centros urbanos” para reduzir o ‘lead time’.
Sendo que hoje as lojas “não têm stock devido à elevada rotatividade dos produtos”, a escolha no mercado de grande consumo passar por “centrar em grandes polos e distribuir”. “Aposta-se muito na troca entre lojas”, diz a diretora de marketing da Chornospost. O que sobrecarrega os operadores de transporte, que se deslocam com mais frequência e com volumes de encomendas fracionados, ao mesmo tempo que são pressionados para a redução do tempo de entrega.
Por outro lado, a dinâmica de abertura de lojas de proximidade também veio trazer novas exigências para os entrepostos logísticos, sobretudo ao nível da aquisição de espaços. “A concentração dos polos logísticos situados em locais estratégicos para o abastecimento das lojas é uma das consequências destas transformações a que temos assistido nos últimos anos e que comprovadamente criam sinergias, com a consequente redução de custos. A procura de armazéns e espaços logísticos está a aumentar novamente, mas a exigência dos ‘players’ é crescente. Vemos muitos espaços “abandonados” simplesmente porque a localização não faz sentido”, indica a general manager da Plogistics.
Para Carlos Pinheiro, da UPS, há uma tendência nos últimos anos “para abandonar armazéns em ‘velhos’ setores, abrindo novas lojas de grandes dimensões em áreas mais recentes e de maior desenvolvimento. Os operadores cuja atividade se baseia numa rede à escala nacional, desde a produção até à entrega final, tem que estar bem posicionado, de preferência perto dos aeroportos e da A1, a autoestrada que liga o Porto a Lisboa, dois dos principais centros populacionais. Para os operadores logísticos nacionais é mais rentável estar perto dos grandes centros de distribuição no País, o que, no caso do mercado alimentar, é a área da Azambuja, onde os grandes distribuidores estão concentrados”.
O setor logístico impulsiona também as exportações portuguesas e os centros de distribuição dos operadores logísticos devem estar localizados em zonas estratégicas. Para apoiar as exportações, a DHL inaugurou “em 2012 um terminal de carga expresso com mais de 12 500 metros quadrados no aeroporto do Porto e está a avançar com um projeto semelhante no aeroporto de Lisboa”. Por sua vez, a Chornospost tem apostado no serviço rodoviário “Chrono Classic”, que permite entregas “por exemplo do Porto para qualquer parte de França “em dois dias”. Já a Plogistics, além de ter parceiros em “praticamente todos os países do mundo”, garante “atrativas condições para envio de pequenas encomendas para destinos em Cabo Verde e Guiné-Bissau”.
Custo logístico está estável
A UPS apresenta uma “Rede Multimodal” conciliando soluções de transporte “marítimos, aéreo e rodoviário” para uma maior flexibilidade nas soluções que oferece a empresas exportadoras. O BD manager destaca o apoio a empresas nacionais, como o produtor de vinhos de mesa mais antigo de Portugal José Maria da Fonseca (JMF), que encontrou na empresa “um conjunto de soluções projetadas para agilizar todo o processo – carga, despacho aduaneiro e entrega das encomendas. Hoje, 75% dos vinhos de maior qualidade da marca são exportados para retalhistas de mais de 70 países”. No setor do retalho, a rede da da operadora permitiu à retalhista portuguesa Salsa reduzir o “time to market” para as suas lojas. Consegue “fazer envios em qualquer dia útil para qualquer destino com tempos de entrega reduzidos, assim como a escolha do tipo de serviço mediante a urgência no envio”.
Segundo administrador da Klog, depois de uma “ligeira queda desde 2009”, os preços no setor da logística “estabilizaram” assim devem ficar, pelo menos, até final de 2016”.