Comércio no Brasil favorável a grossistas
A diminuição dos rendimentos a par do agravamento da inflação levam o consumidor brasileiro a comprar de forma mais racional, em função da relação entre custo e qualidade, e a preferir o ‘cash and carry’, formato que reúne maior potencial de crescimento no país
Ana Catarina Monteiro
El Corte Inglés ilumina-se de azul para sensibilizar importância da luta contra o Cancro da Próstata
Quinta da Vacaria investe na produção de azeite biológico
Grupo Rotom reforça presença no Reino Unido com aquisição da Kingsbury Pallets
Diogo Costa: “Estamos sempre atentos às necessidades e preferências dos nossos consumidores”
Staples une-se à EDP e dá passo importante na descarbonização de toda a sua cadeia de valor
CTT prepara peak season com reforço da capacidade da operação
Já são conhecidos os três projetos vencedores do Prémio TransforMAR
Campolide recebe a terceira loja My Auchan Saúde e Bem-Estar
Montiqueijo renova Selo da Igualdade Salarial
Sensodyne com novidades nos seus dentífricos mais populares
A diminuição dos rendimentos a par do agravamento da inflação levam o consumidor brasileiro a comprar de forma mais racional, em função da relação entre custo e qualidade, e a preferir o ‘cash and carry’, formato que reúne maior potencial de crescimento no país.
O maior impacto da racionalização do consumo no Brasil sente-se nas categorias de alimentos e bebidas, que no último ano caíram, ambas, 16% em vendas. Ainda assim, os produtos perecíveis representam 10,3 % das compras em cada ida ao supermercado. A categoria é a que mais pesa no carrinho de compras, seguida da de bebidas alcoólicas, que representa 6,9% das compras do consumidor brasileiro. O terceiro colocado na lista da consultora Nielsen, segundo um estudo coordenado pela Associação Paulista de Supermercados, são as bebidas não alcoólicas.
Sem deixar de fora os “pequenos prazeres”, relacionados com beleza ou alimentação ‘gourmet’, os brasileiros poupam sobretudo nos produtos básicos para contornar o declínio do poder de compra. O que representa uma oportunidade para as marcas próprias. Só no último ano, as vendas de produtos básicos da distribuição cresceram 11,6%, prevendo-se que este ano cresçam até 15%.
Hipermercados perdem espaço
Para esticar o orçamento mensal, os consumidores seguem também a filosofia de que “comprar mais em quantidade pesa menos na conta ”. As idas ao ponto de venda caíram 4,7% em 2014, com o gasto médio por compra a aumentar 5,6%. Neste sentido, a penetração do modelo ‘cash and carry’ conquistou dois pontos percentuais no mercado brasileiro, e está entre os formatos mais procurados pela população no último ano. Os hipermercados, por sua vez, são os espaços de retalho alimentar que mais público perdem (-0,7%). A seguir ao modelo grossista, os supers (6,5%) e minimercados (6,2%) são os que ganham mais clientes, comparando com 2013.
De realçar a dinâmica do canal “atacarejo” nos primeiros seis meses do ano. A modalidade praticada no Brasil, que mistura vendas a retalho e a grosso na mesma insígnia, foi a única a crescer (18%) no primeiro semestre, apresentando preços em média 15% inferiores aos praticados em supermercados tradicionais.
A maioria das compras feitas (61%) são planeadas, sendo que 17% dos consumidores brasileiros admite comprar por impulso quando entra na loja. A preocupação com a relação entre custo e benefício na aquisição de um produto leva à procura por embalagens mais económicas, formato que ganhou mais importância nas contas de 60% da população. Os ‘big packs’ representam 13% da faturação do retalho alimentar.
A prioridade do consumidor brasileiro é “manter o bem-estar”, no entanto, são os produtos para o “bem-estar” das crianças, como as fraldas descartáveis (-0,5%) e o ‘petit suisse’ (-0,2%) que mais caíram em frequência de compra. As compras de produtos considerados não básicos – categorias que possuem menos de 70% de penetração no total do Brasil – representam 13% da faturação total do retalho alimentar.
Domínio de cadeias regionais
Proximidade e conveniência são duas características que se intensificam nos padrões de exigência do consumidor brasileiro, uma vez que os formatos que privilegiam estes fatores registam um crescimento de vendas e maior frequência de compra. Ao contrário dos hiper, os minimercados cresceram 7,4% em média de vendas por loja no ano transato face ao período homólogo, assim como os supermercados, que registam um aumento de 4,9%. No que diz respeito ao número de aquisições por ida ao ponto de venda, nos mini cresceram em 24 artigos e nos supermercados, onde se dá uma maior frequência de compra, as listas de compra cresceram em 12 itens a cada visita. 70% das lojas ‘super’ são detidas por cadeias regionais, que aumentam a faturação a um ritmo duas vezes superior ao das redes globais.
Apesar da desfavorável situação económica do país, as cadeias de retalho encontram oportunidades de crescimento no alargamento a novas regiões de atuação em território brasileiro, o quinto maior do mundo, onde os retalhistas instalados não servem uniformemente a crescente população, que apresenta índices de fidelização inferiores à média mundial. Apenas 15% dos brasileiros são fiéis às marcas, enquanto a média mundial é de 18%.
Muito território a explorar
Se em Portugal, composto por 92 212 quilómetros quadrados, para uma cadeia estar persente em todas as regiões são necessárias cerca de 500 lojas, a dimensão do Brasil não deixa adivinhar o número de espaços suficientes para cobrir uma área acima dos oito milhões de quilómetros quadrados.
Em 2013, o setor de “autosserviços” – considerado no Brasil o conjunto de formatos com atividade assente no retalho alimentar (mini, super e hipermercados, entre outros) – constituía um universo de quase 84 mil lojas e uma faturação de 272 biliões de reais. Em termos de comparação, no mesmo ano, o retalho português conquistou vendas no valor de 19,124 milhões de euros, cerca de 86 mil milhões de reais, na moeda brasileira, segundo dados da APED (Associação Portuguesa de Empresas da Distribuição).
As oportunidades de expansão mais evidentes são para os modelos ‘cash and carry’ no interior do Brasil, onde a atuação deste formato corresponde apenas a 25% do potencial do consumo. O formato cresceu dois pontos percentuais em penetração no último ano, contudo, 96% do crescimento foi obtido por via dos consumidores já existentes.
Consumidores em vários canais
“A falta de investimento penaliza o crescimento a longo prazo, com atenção para os baixos índices de qualificação da força de trabalho e infraestrutura”, conclui um outro estudo, designado “Mudanças de mercado brasileiro 2015”, também elaborado pela Nielsen, que aponta duas alternativas eficazes para impulsionar o consumo nos vários modelos: “Diversificação de canais e regiões” e “Excelência de execução”.
No Brasil, 94% dos lares abastecem-se a partir de mais de três canais, destacando-se os formatos de loja menores e ‘cash and carry’ que crescem impulsionados pelo aumento do volume de compra.
Para investir no canal online, há que ter em conta que apenas 18% da população possui ‘smartphone’ e a internet de banda larga está presente em 50% dos lares. Por outro lado, 63% dos ‘shoppers’ constatam uma diminuição de gastos com refeições fora do lar, como forma de economizar, o que pode representar uma vantagem apelativa ao comodismo do comércio eletrónico.
Para dar resposta ao consumidor mais exigente, os operadores de retalho no maior país da América do Sul estão também a investir de forma mais seletiva. À medida que o mercado evoluiu para um cenário mais transparente, com a regulação definida nos últimos anos, os retalhistas adotam novas práticas operacionais para adequar a execução às características e ao perfil dos consumidores.
Entre as dinâmicas visíveis, os principais pontos de atenção, nos produtos de necessidade básica, passam pela assertividade na definição de preço e promoção, a gestão do portefólio e criação de alternativas para reter o ‘shopper’ em loja. No que diz respeito às categorias que satisfazem necessidades específicas, o baixo nível de presença nas lojas está a reverter. A exibição deste tipo de produtos serve como atrativo para o consumidor. Para promover o consumo, os retalhistas concentram também o foco nos canais subaproveitados e na inovação.