Startup portuguesa Gumelo é “caso de estudo na Europa”
Três empresários portugueses desenvolveram o conceito “cultive você mesmo” para a produção doméstica de cogumelos, a partir de borras de café
Ana Catarina Monteiro
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Três empresários portugueses desenvolveram o conceito “cultive você mesmo” para a produção doméstica de cogumelos, a partir de borras de café.
A Gumelo ganhou a medalha de bronze do prémio Grand Prix, criado para comemorar os 50 anos daquele que é o maior ponto de encontro do sector agro-alimentar da Europa, a SIAL Paris, assinalados em 2014. Após a primeira participação na feira com o apoio da CAP, o projecto da empresa portuguesa, que consiste numa caixa na qual se cultivam cogumelos a partir de compostos de grãos de café, saltou para o mercado internacional. O Reino Unido foi o primeiro destino de exportação, seguindo-se a Suécia já no início de 2015. Espanha, Brasil e os países do Norte da Europa são “apostas de curto prazo que estão, neste momento, em fase de negociação”.
O produto entrou para o mercado em Setembro de 2012. Para se iniciar o processo de produção basta abrir a caixa e vaporizar o conteúdo. Alguns dias depois “surgem os primeiros cogumelos, que crescem da noite para o dia”. Depois de colhidos, podem ser cozinhados frescos ou guardados no frio durante um período de tempo.
Pensado no México, realizado em Portugal
A ideia nasceu em 2009 a partir de um estudo realizado no México, ao qual o Biólogo João Cavaleiro teve acesso, um dos três fundadores da Gumelo, despertando assim a paixão pela produção sustentável de cogumelos. “Baseado em ocorrências espontâneas nos resíduos da indústria do café, este estudo concluiu que seria possível produzir vários tipos de cogumelos a partir de subprodutos do café”, explica, em entrevista ao HIPERSUPER, Tiago Marques, co-Fundador e responsável pela área do Design, Marketing e Suporte da empresa sedeada em Almerim. “Além da informação constante no estudo, tivemos como inspiração um projecto comunitário desenvolvido por Chido Govera, que fez diversas experiências no cultivo de cogumelos com substratos alternativos, entre eles a borra de café”.
Três anos depois da descoberta, os três amigos de infância – João Cavaleiro, Rui Apolinário e Tiago Marques – fundam a empresa no distrito de Santarém, em Almeirim, com o lançamento do “Eco Gumelo”, um cogumelo ‘gourmet’ pronto-a-crescer. “Um ano depois dos primeiros testes de cultivo de cogumelos em borra de café, em 2010, avançamos com a criação e o registo da marca, os primeiros protótipos de embalagens e a definição da estratégia de comunicação. Em 2011, desenvolvemos o plano de negócios final e, em 2012, fundámos a Gumelo Lda.”, conta o responsável. O primeiro formato ecológico para cultivar estes microrganismos em casa está actualmente no mercado com o nome “Gumelo Original”, sendo que a empresa entretanto alargou a oferta.
Em Julho de 2013, lançam o “Gumelo Citrus”, cogumelo amarelo pronto-a-crescer. Dois meses mais tarde chega ao mercado o “Pre Gumelo”, que permite acompanhar a evolução desde a sementeira até à colheita. E “O Meu Primeiro Gumelo”, formato dirigido ao público infantil, é apresentado em Outubro de 2014. “Hoje, três anos depois, já transformámos cerca de 50 toneladas de borra de café em blocos de produção de cogumelos e estamos a vender em Portugal, no Reino Unido e na Suécia. Até agora, já vendemos cerca de 30 mil unidades”.
“Case Study” na Europa
O projecto já deu origem a vários trabalhos de investigação académica, nas áreas de Economia e Marketing, por parte de estudantes portugueses e franceses. O facto de ser uma startup com uma equipa multidisciplinar, que arrancou apenas com capitais próprios, faz deste projecto uma “referência actual” no universo do empreendedorismo jovem. “Somos muitas vezes convidados para falar sobre a forma como começou o nosso projecto”, revela Tiago Marques.
A Gumelo é “pioneira, a nível europeu”, na produção de cogumelos cujo substrato é constituído, exclusivamente, por borra de café, um resíduo biodegradável de impacto reduzido. “Os consumidores acabam por ter a oportunidade de exercer uma acção efectiva de aproveitamento e de reutilização”, sendo que “os produtos contribuem para a redução e reutilização de uma forma geral”.
O responsável explica que por ser um conceito “grow-your-own” (cultive você mesmo) com uma envolvente ecológica, o público tem reagido “muito bem”, o que faz com que a empresa assuma a missão de promover a sustentabilidade no sector, além de o fazer junto dos consumidores. “Ao converter um resíduo agro-alimentar produzido em grande escala num alimento de valor acrescentado, estamos a promover a consciencialização da necessidade de repensarmos o impacto ambiental da produção alimentar”.
Escandinávia é objectivo para 2016
Todos os produtos são comercializados na loja online da marca, em estabelecimentos ‘gourmet’, lojas de presentes e em ‘concept stores’. 2015 será um ano “decisivo na afirmação do projecto, dado que os cogumelos prontos-a-crescer, que marcam a imagem da marca, são apenas o princípio de uma ideia”, confessa Tiago Marques, que acredita na concretização de alguns projectos relacionados com a internacionalização, iniciada em 2014, durante o presente ano.
“No Norte da Europa já começamos com a Suécia e esperamos alargar a outros países da Escandinávia até ao final de 2016. Espanha é um mercado onde existe muita curiosidade e muita procura através da nossa loja online internacional. Já estivemos presentes em duas feiras internacionais neste país, na Alimentaria em Barcelona e na Salón de Gourmets em Madrid, pelo que têm surgido diversos contactos ainda em processo de concretização. No Brasil existe muito interesse, mas também muitas dificuldades logísticas e aduaneiras que estamos a tentar encontrar forma de contornar. É um dos nossos objectivos até 2017”.
Para já, os cogumelos da marca portuguesa estão à venda, internacionalmente, no Reino Unido e na Suécia, em lojas ‘gourmet’, mercearia fina e de produtos regionais. Pontualmente, vendem também em algumas lojas de presentes e ‘concept stores’ nestes países. Apesar da grande distribuição não ser alvo preferencial, Tiago admite a possibilidade, sem data definida para já.
Os britânicos foram escolhidos como os primeiros consumidores além-fronteiras com acesso aos cogumelos, por serem um público com “grande consciência ambiental”, que “adere de forma entusiasta” à tendência do “cultive você mesmo”. Através da análise das visitas do website, a equipa constatou um grande interesse por parte deste mercado.
Fornecimento a partir do comércio regional
As referências são produzidas em Portugal, nas instalações da empresa, cujos principais fornecedores são cafés e restaurantes da região, que cedem as borras de café produzidas nos estabelecimentos, além de Fazendas de Almeirim, Santarém e Cartaxo. “Temos também parcerias de relevo com a Areas e com a Eurest, através da recolha de borra de café em áreas de serviço na autoestrada. De resto, temos fornecedores de material especializado como sementes, sacos de cultivo e embalagens, que são players de referência nas suas áreas de actuação”.
Além de aumentar a linha de cogumelos prontos-a-crescer em 2015, a equipa pretende lançar bebidas com base nos cogumelos, durante o Verão, e produtos prontos a confeccionar, no último trimestre deste ano. Para o desenvolvimento dos produtos recorrem a algumas matérias-primas “originárias de outros países” mas, no entanto, a startup procura, “sempre que possível, que os fornecedores sejam locais, regionais e nacionais”, diz o responsável.
Não só apenas a economia regional é dinamizada com este projecto, que engloba ainda a componente de responsabilidade social em Portugal, à qual destina uma parte das suas receitas. Neste sentido, desde Outubro de 2014 que, por cada caixa vendida de “O Meu Primeiro Gumelo”, a Fundação do Gil recebe um euro. Conta ainda com instituições parceiras como a Centro de Valorização de Resíduos de Guimarães da Universidade do Minho, Programa Portugal Sou Eu e A Vida Portuguesa.
Notícia alterada no dia 5 de Maio de 2015 – A Gumelo nunca esteve, até à data, envolvida no projecto Portugal Foods. Foi à SIAL, em Paris, com o apoio da CAP.