ESPECIAL Gestão de Frotas: Partilha de veículos chega às empresas
Partilha e flexibilidade. Estas são as palavras de ordem do sector de gestão de frotas que no ano passado mostrou sinais de retoma no nosso País. Os gestores de frotas vão transformar-se em “gestores de mobilidade”
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Partilha e flexibilidade. Estas são as palavras de ordem do sector de gestão de frotas que no ano passado mostrou sinais de retoma no nosso País. Os gestores de frotas vão transformar-se em “gestores de mobilidade”.
“A mobilidade está a tornar-se cada vez mais exigente: as tendências e as restrições – económicas, ambientais e regulamentares – evoluíram. Hoje e neste contexto, os desafios são mais que muitos”, revela em entrevista ao HIPERSUPER Nuno Jacinto, Director Comercial e de Comunicação da ALDAutomative. “A mudança de mentalidades, a procura por soluções inovadoras para responder eficazmente a este novo contexto, o aumento exponencial da tecnologia e informação disponibilizada e a expectável diminuição do tráfego e dos custos em cidade representam algumas das oportunidades”. Por outro lado, “algumas das possíveis dificuldades poderão ser os custos em novas soluções tecnológicas e os tempos de teste destas novas soluções, que poderão representar um adiar da sua implementação”.
Num futuro próximo, os gestores de frota vão tornar-se cada vez mais “gestores de mobilidade e não tanto “financiadores de mercado”, gerindo a mobilidade global dos clientes, acredita o responsável.
“Os clientes procuram actualmente serviços que maximizem a mobilidade dos seus utilizadores e que respondam à evolução, baseada em conceitos de ‘carsharing’, na integração de vários meios de transporte, na generalização da telemática, dos smartphones e de novas funcionalidades de geo-referenciação.
Pedro Pessoa, director comercial da LeasePlan, diferencia os conceitos de ‘carsharing’ e ‘fleetsharing’ e acredita que estes não resolvem todos os problemas de mobilidade. “O primeiro é utilizado numa lógica de uso particular de partilha de um veículo para pequenos percursos urbanos, já o fleetsharingconsiste na partilha de um veículo entre colaboradores de uma mesma empresa.Esta solução resolve apenas uma franja das necessidades de mobilidade das empresas, não resolvendo as questões estruturais das mesmas. Estamos atentos ao potencial deste conceito, constituindo-se como uma forma eficiente e racional de suprimir as necessidades de mobilidade dos colaboradores, mas acreditamos que a sua adoção seja um processo lento. Para dar resposta a esta tendência de mercado, a LeasePlan tem uma parceria com a rede de carsharing promovida pela Mobiag”.
Em 2015,o sector enfrenta ainda o desafio da reforma da fiscalidade verde, considera Nuno Jacinto. “Estas medidas poderão facilitar e introduzir alguns veículos pouco considerados até hoje na política de frotas das empresas, movidos a energias alternativas, como é o caso das“Bi Fuel” ou “Plug In”. Já os veículos puramente eléctricos, que já antes estavam isentos de tributação autónoma em sede de IRC, têm como novidade a possibilidade de dedução de IVA a 100%. Aguardamos expectantes a reacção do mercado no que respeita à reforma da fiscalidade verde e em que medida estas alterações, por si só, poderão ou não serem suficientes para impulsionar este segmento de veículos. Da nossa análise, o acréscimo destes benefícios implica uma redução significativa do TCO (Custo Total de Utilização) reposicionando-os relativamente aos modelos ditos tradicionais. A questão é verificar se a anunciada redução é suficiente para passarem a ser soluções reais para empresas e utilizadores”.
Sistemas “pool”
José João Claro, VP da Fleetsharing, empresa que lançou um sistema de partilha de viaturas internas que permite fazer a gestão de uma frota em sistema “pool” – utilização em função das necessidades de deslocação da empresa–afina pelo mesmo diapasão. 2014 contribuiu com um “novo ânimo” e “incentivo”às empresas para“diversificarem” a oferta. O mercado português necessita de “novas soluções de mobilidade, mais sustentadas e racionais” que permitam complementar a gestão de uma frota. “A gestão de frotas em sistemas pool está em crescimento acelerado e vamos assistir a um crescente interesse em termos tecnológicos de adicionar outros serviços à própria frota, integrando as soluções numa só aplicação”. Por outro lado, “nas cidades vamos assistir ao crescimento da criação de sistemas de mobilidade integrados onde o utilizador terá acesso a uma mobilidade total em troca de um valor único, tal como já existe no sector das telecomunicações”, prevê o responsável da Fleetsharing.
O serviço da Fleetsharing, que nasceu no seio da “startup” portuguesa mobiag, é destinado a empresas com frota própria e baseado numa aplicação “inovadora” que se destina à gestão de operações comerciais em “carsharing”. “Consiste em fazer a gestão de frota em sistema de ‘pool’ sem a carga operacional desde tipo de modelo e sem penalizar os utilizadores”. O novo serviço destina-se a empresas “cujas frotas já são geridas em sistema de ‘pool’, a empresas que pretendem alargar a utilização da sua frota a outros colaboradores, sem que seja necessário um aumento do número de viaturas, ou ainda a empresas que necessitam de redimensionar a sua frota sem penalizar os colaboradores.
Vantagens do “carsharing”
Operar uma frota em sistema ‘pool’ significa que, por exemplo, uma empresa tem uma frota de 10 viaturas para a equipa de vendas e que os comerciais usam os carros em função das necessidades de deslocação da empresa. Estes veículos estão sempre na empresa e saem apenas entre as 9h e as 18h. Estes carros não são para uso pessoal e, só em casos especiais, o comercial leva o carro de um dia para o outro ou no fim-de-semana.
Entre as principais vantagens, José João Claro destaca a redução do TCO – Total CostofOnwership, através “da melhoria de mobilidade e aumento da eficiência na utilização – diminuição do tempo parado da frota, diminuição dos quilómetros supérfluos, diminuição de consumo de combustível. Ou seja, trata-se de uma estimativa financeira que serve para avaliar os custos relacionados com determinada aquisição. No caso das viaturas é a depreciação, manutenção, pneus, combustível e IUC – Imposto Único de Circulação”; uma maior racionalização de custos, nomeadamente com táxis, rent-a-car, viaturas de substituição e pagamento de quilómetros a colaboradores;simplificação da gestão, com melhoria no sistema e controlo de acessos, ferramenta de ‘report’ automático de danos e incidentes (sinistros e multas) e custo por utilizador detalhado por tempo de utilização e quilómetros percorridos; e ainda o alargamento da utilização da frota a colaboradores que não tenham o benefício da viatura ou a título de empréstimo pessoal”.
Em ambiente Web
“Há uma tendência forte no mercado internacional para adoptar sistemas de carsharing à gestão de frotas, convertendo, por exemplo, frotas existentes numa pool de carsharing”, revela o responsável da ALD.
A empresa lançou a solução ALD sharing pela primeira vez em França e encontra-se já totalmente operacional em Espanha, Luxemburgo, Itália e Portugal, contando com mais de 100 veículos neste sistema.“É um serviço fácil de usar, flexível, de custo eficiente e ecológico, pois o veículo é partilhado entre vários condutores”.
Esta solução é suportada por um sistema “avançado” de gestão de frotas e inclui uma ferramenta de reservas online, “permitindo reservar e devolver um veículo com total autonomia, optimizando a utilização, a gestão administrativa e a logística da ‘pool’ de veículos, através de um acesso seguro, rápido e cómodo em ambiente Web”. A solução é especialmente indicada “para a gestão de custos extra frota, relativos a mobilidade profissional pontual, optimizando os custos das deslocações dos colaboradores. Além das recentes vantagens fiscais associadas a este produto, existem numerosas vantagens económicas com potencial de redução de custos, face a outras formas de mobilidade. A saber: “a optimização da utilização da frota “pool” de veículos, a eliminação das despesas pontuais em mobilidade, o aumento da motivação dos recursos humanos, através da possibilidade de utilização privada com acesso a preços empresariais mais vantajosos e ainda a gestão partilhada de veículos em regime de outsourcing, evitando assim o incremento de recursos da empresa”.
Renting recupera em 2014
Em 2014, as empresas voltaram a apostar na renovação das suas frotas em detrimento do cenário de prolongamentos que recuou ao ritmo normal de uma actividade de renting. “Os números do mercado de renting em 2014 comprovam isso mesmo. O crescimento de 36% alcançado em novos contratos é a prova mais reveladora das renovações. Essencialmente, os clientes procuraram actualmente formas de não incrementarem ou mesmo de diminuirem os custos relativos aos veículos da sua frota e o prolongamento pode cumprir esse objectivo, mas não é a única solução para os problemas de contenção orçamental”, sublinha Nuno Jacinto.
A crise obrigou as empresas a serem mais criativas, mais competitivas e a dedicarem cada vez mais tempo ao “core business”, explica, por outro lado, o responsável da Fleetsharing. “Nos últimos anos, temos assistido a um crescimento de empresas altamente especializadas em determinadas áreas”. O outsorcing também tem sido uma aposta das empresas para a “redução dos custos e riscos”.
O outsourcingpermite às empresas obter uma maior liquidez, optimizar a sua política de frota e ter um controlo técnico exigente, com serviços completos e preços competitivos, sublinha, por sua vez, Pedro Pessoa.
Quando optar, então, por uma frota própria ou subcontrada? “O grande risco de ter uma frota própria é o valor estimado de venda da viatura no final de vida. Nos últimos anos, a cotação do mercado de usados tem decrescido, o que fez aumentar a depreciação e, consequentemente os custos de propriedade”, sublinha José Claro. “Ter uma frota contratada, devido às incertezas do futuro, continua a ser a opção mais segura, cabendo às empresas fazerem uma negociação prévia dos contratos tendo em consideração os custos indirectos”, aconselha.