Cada português gastará €1000 em compras online
O comércio electrónico representa já um quarto da riqueza produzida em Portugal. No final deste ano, quase 70% da população nacional estará online, com a língua portuguesa a ocupar o quinto lugar das mais faladas no mundo virtual
Ana Catarina Monteiro
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O comércio electrónico representa já um quarto da riqueza produzida em Portugal. No final deste ano, quase 70% da população nacional estará online, com a língua portuguesa a ocupar o quinto lugar das mais faladas no mundo virtual.
Pontos de interesse para o mercado a retalho, que aposta na exigência de rapidez e qualidade nos serviços para aumentar a confiança do consumidor.
A 11ª edição da Portugal Internet Week, organizada pela Associação do Comércio Electrónico e de Publicidade Interactiva (ACEPI), com o apoio do Governo, integrou a 5ª edição do eShow, nos dias 22 e 23 de Outubro. O Centro de Congressos de Lisboa foi a casa que acolheu mais de 100 oradores nacionais e internacionais.
No Fórum da Economia Digital, com um painel composto por representantes do Governo, PT Portugal, CTT, Sonae e Microsoft, o debate fez-se em busca dos desafios e oportunidades que a economia digital representa para as pequenas e médias empresas ao nível da competitividade e, sobretudo, da internacionalização.
Em 2014, o comércio electrónico vale 30% do PIB nacional. Apesar de Portugal ser o 29º País com maior acesso a conteúdos digitais, apenas 6% das Pequenas e Médias Empresas portuguesas recebem encomendas online. Neste sentido, a ACEPI anunciou o investimento de 2,8 mil milhões no projecto “PME Digital”, que assegura protocolos com Associações e Câmaras Municipais. “Os retalhistas têm que transitar para o mercado digital para que a economia do sector possa dar o salto”, sublinhou Alexandre Nilo Fonseca, Presidente da ACEPI. As perspectivas para 2020 apontam que 50% dos internautas façam compras online, numa altura em que o comércio electrónico B2B (Business to Business) e B2C (Business to Consumer) valerá 90 325 milhões de euros, números revelados pelo Presidente da ACEPI.
A via da internacionalização para as PME
“As empresas têm espaço para progredir”, não só em Portugal, mas no mercado internacional, se pensarmos na vantagem do português ser a quinta língua mais falada na internet. Como disse David Ferreira Alves, administrador da Sonae, “o país é demasiado pequeno para as ambições de crescimento”. O comércio transfronteiriço representa 11% dos consumidores das empresas portuguesas, cuja grande oportunidade passa pelo Reino Unido e França. Para 2016, o gasto médio em compras online por português será de 1000 euros. Apesar de o valor registar um aumento significativo nos próximos dois anos, ainda está muito abaixo das cifras previstasb para o Reino Unido, onde cada consumidor gastará, em média, de 2250 euros em compras online.
Se, por um lado, as empresas ainda não completaram a sua oferta nas lojas online, por outro os consumidores ainda não se sentem confortáveis a utilizar o comércio electrónico. “Há uma grande diferença entre a adesão dos consumidores e a aplicação das empresas”, disse o presidente da ACEPI. Alexandre Nilo Fonseca realçou que a literacia digital entre os portugueses é um tema a ser trabalhado nos próximos anos.
A necessidade de desenvolvimento das TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação) não é novidade para as empresas portuguesas, uma vez que a qualificação na área já representa 30% do investimento empresarial. Segundo o vice-presidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), “nos últimos cinco anos, 30 milhões de euros foram gastos na qualificação de profissionais”. Pedro Carneiro referiu que a fundação tem actualmente dois programas para combater a literacia digital, um dos “principais entraves na internacionalização deste sector”. As soluções da fundação passam pela atribuição de prémios e, através de acordos com o Governo e dos fundos europeus para o combate ao problema, desenvolver uma rede para promover a inclusão digital entre os idosos e pessoas não qualificadas, em Portugal. Além destas iniciativas, uma “coligação do emprego na área digital” junta várias empresas voluntárias, dando oportunidade a todas as que queriam participar. O Presidente da FCT realçou que se estima um aumento entre as 700 mil e as 800 mil vagas de emprego no virtual, com o projecto que pretende incrementar as competências e “sensibilizar para as ofertas na área das TIC”. “Recursos qualificados darão mais visibilidade ao nosso País no sentido da internacionalização”, destacou Pedro Carneiro.
Literacia digital como entrave
A necessidade de formação e empreendedorismo através das TIC leva a que “as escolas estejam pressionadas, apesar de não terem equipamentos nem professores preparados” , revelou Fernando Adão da Fonseca, administrador executivo da UNICRE. A PT Telecomunicações criou a Academia PT, que explica o ‘know-how’ a pequenas e médias empresas, como a jovens. Armando Almeida, Presidente Executivo da PT Portugal, revelou que a empresa já gastou 2.4 mil milhões de euros em infra-estruturas só nos últimos quatro anos, facilitando o acesso à rede a “93% da população nacional”. A Microsoft também segue com um projecto que pretende acabar com a literacia digital. João Couto, Presidente da Microsoft Portugal, deu conta de uma certa “falta de ambição na internacionalização por parte das empresas portuguesas”, razão pela qual lançou o projecto “Activar Portugal”, que apoia as pessoas a utilizar o e-government, para “capturar uma rede de 3 mil parceiros”. “Mais de 600 empregos já foram criados e até agora conta com 4 000 inscritos”.
“Os consumidores não compram por má experiencia ou por falta de competência”, afirmou a Directora-Geral da Direcção-Geral do Consumidor. Teresa Moreira revela que 33% dos consumidores não utilizam sequer a internet. O secretário de Estado para a Modernização Administrativa, Joaquim Pedro Costa, nomeou, por sua vez, algumas das áreas em que o Estado desafia para a cooperação. Reduzir o problema de nichos, incluir certas regiões no País onde a economia digital está muito menos desenvolvida e incentivar a “interoperabilidade” entre empresas e cidadãos, são as propostas do Governo para tornar o país mais homogéneo. O e-government assume um papel essencial quando se fala em homogeneidade, afirmando o Estado como repositório de informação pública. O representante sublinhou que “o Estado tem como dever disponibilizar e criar informação” e deu conta de um conceito que envolve a parceria com mais de 50 autarquias com vista a melhorar o ‘e-government’. O “Chave móvel digital” é o mecanismo standard partilhado com a administração pública, que o Governo quer abrir até ao público, salientando a “segurança como questão decisiva”.
Incompatibilidades retardam a confiança
Os profissionais esperam que o Governo promova uma lei do comércio de maior eficácia, que não ponha a credibilidade do sector em causa. A lei sofreu alterações que deram mais autonomia às entidades, porém os “mecanismos para resolver situações de conflito de consumo não têm funcionado bem”, avançou o administrador da ANACOM (Autoridade Nacional de Comunicações). A legislação permite a contratação à distância, com “regras únicas e favoráveis à UE”, mas a abertura judicial e autonomia legal dada às entidades, que passam a ter as mesmas competências que tem no mundo real, causam o litígio por não definirem responsabilidades. João Confraria avançou que “a autoridade de regulação da ANACOM não tem definidas as funções”, motivo pelo qual o consumidor não demonstra muita confiança nos sistemas de troca comercial através do e-commerce. No entanto, a União Europeia está a desenvolver uma plataforma para resolução de conflitos em linha.
“O cliente quer sistemas simples”, disse o administrador da Sonae, que se revelou descontente com incompatibilidades nos sistemas de devoluções. David Alves alertou que “não faz sentido ter uma carta à disposição no site, que se tem de preencher por escrito para proceder a devoluções. Há outras soluções, como o e-mail, por exemplo, já que debatemos o desenvolvimento da economia digital”. Outra medida sugerida para uma maior actividade no comércio electrónico foi o desimpedimento dos cartões de débito.
Os serviços de transporte de mercadorias têm desenvolvido mais facilidades nos sistemas, dando mais oportunidades de escolha ao consumidor para que ganhe mais confiança nos serviços. Tendo em conta que “17% das encomendas online são devolvidas na Europa”, o Administrador-Delegado da Chronospost Portugal, Olivier Establet, evidenciou que “o primeiro elemento a desenvolver é tornar as devoluções gratuitas”. A empresa tem uma das maiores redes europeias com 16 mil pontos preparados para devoluções e integrou medidas para fidelizar o consumidor, que apostam na interacção. A Chronopost propôs ao mercado medidas como um aviso no dia anterior à entrega e uma janela temporária para que o cliente possa delimitar o tempo para a receber. A tendência é para que, no futuro, quem decide a transportadora é o consumidor, como já acontece nos Estados Unidos da América.
Mundo real influencia padrão de compra
Além da proximidade física gerar poupança, a questão da geografia é essencial para o comércio electrónico, tendo em conta que os espaços físicos influenciam os hábitos de compra. Devido à questão logística, o sector alimentar, por envolver produtos perecíveis, tem sido o mais lento a entrar no e-commerce. David Alves, administrador da Sonae, evidenciou a “importância de criar espaços físicos para fidelizar”, afirmando que “a notoriedade da marca surge com o posicionamento e é preciso construir uma proposta de valor eficiente e depois interagir com o consumidor”. O responsável da Sonae referiu ainda a importância da aposta na publicidade para o reconhecimento das marcas, a fim de vender.
A criatividade nos clusters pode ser a grande arma para o combate à “dificuldade das marcas concorrerem em diferentes geografias”. O Presidente da Microsoft defendeu que “o comércio electrónico tem de ser encarado e integrado no conjunto de canais, e não como um mercado à parte”. A ‘Cloud’ pode ser um impulso importante para as empresas, uma vez que permite disponibilizar soluções modernas com investimentos reduzidos, disponíveis para todo o mundo e de acesso a todo o tipo de empresas.