A história dos últimos 20 anos do retalho, segundo Luís Reis
Luís Filipe Reis, Chief Corporate Center Officer da Sonae SGPS, conta na primeira pessoa a história dos últimos 20 anos do retalho em Portugal
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Luís Filipe Reis, Chief Corporate Center Officer da Sonae SGPS, conta na primeira pessoa a história dos últimos 20 anos do retalho em Portugal
A minha primeira experiência profissional no retalho foi há 20 anos, quando as encomendas ainda eram feitas à mão e os armazéns que se encontravam atrás das lojas tinham praticamente a mesma dimensão do estabelecimento comercial.
Em Portugal, nos anos 80, estavam na moda o Walkman, o Cubo de Rubik, as Doce, o Rui Veloso, o Marco Paulo e o microcomputador ZX Spectrum. Existiam metade das habitações (2,5 milhões) e apenas 158 km de auto-estrada, dos quais 60 se concentravam à entrada de Lisboa. Hoje, Portugal é um dos países da Europa com mais auto-estradas. Os portugueses assistiam apenas a dois canais de TV e pela primeira vez têm contacto com um telecomando. Não havia multibanco nem shoppings.
O retalho era extremamente atomizado. As pequenas mercearias de bairro dominavam, existiam apenas 4 ou 5 supermercados. Hoje, estão abertos 1.860 supers e hipermercados. A cobertura de supermercados por habitante é equivalente à dos países mais avançados.
Em 1985, a sociedade portuguesa vivia como uma criança deliciada a olhar para uma montra de pastelaria. Abriu a banca privada e dispararam os créditos ao consumo e à habitação. O consumismo ganhou fôlego. Reinava a ideia de que as pessoas eram o que tinham. Hoje, as pessoas têm porque são.
Entretanto, surgiram as primeiras superfícies comerciais organizadas. Em 1990, o Continente assinalava 5 anos de vida. Os primeiros supermercados vendiam tudo no mesmo espaço. Hoje, o conceito não faz sentido e foi ocupado pelos shoppings.
Quando explodiram novos formatos e nasceu o retalho especializado o hipermercado transformou-se numa loja alimentar, com cafetarias, zonas de preparação de alimentos e áreas de saúde e bem-estar. Deu-se uma revolução na cadeia de valor. Hoje, há uma integração completa das cadeias de valor. O stock é quase inexistente na loja e nas grandes indústrias, com excepção dos produtos importados.
Também os sistemas de informação sofreram uma revolução. Hoje, uma cadeia de distribuição processa mais informação do que um banco. Quando uma pasta de dentes é vendida, o inventário é automaticamente actualizado.
As previsões de venda têm em conta as condições meteorológicas, se chover há mais pessoas a fazer compras, o dia da semana, entre muitos outros factores. A definição do preço é feita com base em modelos gravitacionais tendo em conta os preços da concorrência.
Com a massificação dos cartões de fidelização, os retalhistas arrecadaram mais informação sobre o consumidor. Sabemos quando nasce uma criança, quando um cliente deixa de ser regular, a dimensão média de compra e qual é a nossa quota no estômago dos portugueses.
As lojas estão a sofrer actualmente grandes transformações. Os produtos comprados em lojas com 10km de distância podem ser completamente diferentes. Há mais variedade, preços mais baixos e uma oferta mais próxima, uma mais-valia para o consumidor. Mas também há mais benefícios para os colaboradores. Por exemplo, a expansão internacional da insígnia de vestuário infantil Zippy, da Sonae, permite reter talentos em Portugal, como os designers, porque as decisões são tomadas no nosso País.
As primeiras empresas organizadas de retalho foram pioneiras na responsabilidade corporativa e ainda hoje são accionistas da Sociedade Ponto Verde, que fez explodir a reciclagem em Portugal.
O futuro é um desafio. A envelhecimento da população vai influenciar muito o retalho. Portugal é o 10º. país mais envelhecido do Mundo e o 5º. país com menor taxa de fertilidade. Em 2020, um em cada dois portugueses terá mais de 50 anos. A preocupação com o ambiente está a aumentar embora se verifique um abrandamento na intenção de pagar mais por produtos “verdes”.
Apesar da crise, os consumidores continuam a compram mimos, sobretudo as mulheres, que representam 60% dos compradores. O camarão congelado foi o produto que mais cresceu em 2011 na lojas Continente. O tempo vai tornar-se cada vez mais importante. Vão nascer produtos e serviços que reduzem o tempo despendido pelas pessoas nas mais diversas tarefas. O tempo médio de uma refeição, incluindo a sua confecção, era de 2,5 horas, em 1960. Hoje, nas cidades urbanas europeias pode demorar apenas 10 minutos. Uma última palavra para o online e as redes sociais. Não sabemos como, quando, nem a que velocidade, mas temos a certeza que vão ser muito importantes no futuro do retalho
*Excertos do depoimento recolhido pela jornalista Rita Gonçalves