CAP receia que acordo com a ‘troika’ crie dificuldades acrescidas ao sector
A Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) receia que o acordo assinado com a ‘troika’ vá criar dificuldades acrescidas ao cumprimento da componente nacional necessária para aplicação dos fundos comunitários.
Victor Jorge
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A Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) receia que o acordo assinado com a ‘troika’ vá criar dificuldades acrescidas ao cumprimento da componente nacional necessária para aplicação dos fundos comunitários.
“Mesmo antes da ‘troika’, em 2010 falta pagar 70 milhões de euros do Proder [Programa de Desenvolvimento Regional]. Com mais restrições espero que não venha a afectar a execução deste ano”, disse ontem [Quarta-feira] à agência Lusa Luís Mira, Secretário-geral da CAP e administrador do Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA), que organiza a Feira Nacional da Agricultura.
Sublinhando que para aplicação dos fundos comunitários é necessário garantir a componente nacional, Luís Mira afirmou que, mesmo representando apenas 6% do investimento total — em cada 100 euros, 70 são pagos pelos agricultores, 24 pela União Europeia e seis saem do Orçamento do Estado -, a “pequena parte” que cabe ao Estado “pode parar tudo”.
Segundo o responsável, no último concurso houve quatro vezes mais projectos do que verba disponível (900 milhões de euros de candidaturas para 150 milhões de euros), o que mostra “a vontade” do sector, sendo necessário garantir que a administração central assegure a sua parte para que os investimentos se possam concretizar.
Luís Mira frisou a importância do sector para a redução das importações, pois basta que o país produza mais para evitar a saída de divisas.
“O País é como uma família que tem problemas de dinheiro e tenta aumentar a receita familiar fazendo circular o dinheiro internamente — o pai paga 20 euros ao filho para este lavar o carro, o filho paga 30 euros ao pai para ter explicações e pagam 10 euros à mãe pelo jantar, mas precisam de dinheiro para pagar os empréstimos que pediram para comprar a casa e o carro”, afirmou.
O responsável da CAP acredita que a situação actual vai fazer com que as atenções se voltem finalmente para um sector que nos últimos 20 anos foi “sempre mal visto pelos políticos”, ficando de fora das suas preocupações.
Contudo, no seu entender, também os consumidores têm que mudar de atitude em relação aos produtos nacionais, já que a situação actual “não é sustentável”.
Como exemplos referiu a preferência dada aos frutos exóticos, até mesmo nos restaurantes, apelando a que se opte por fruta produzida no País “e no seu ciclo natural”, a bem dos agricultores e dos próprios consumidores, que deixam de ter de pagar com os seus impostos os produtos que são importados.
Este apelo vai estar mais uma vez presente na Feira Nacional da Agricultura/Feira do Ribatejo, que decorre de 04 a 12 de Junho em Santarém, disse, sublinhando que o próprio CNEMA criou uma forma de garantir a facturação, para que os produtos expostos possam ser vendidos.
Luís Mira realçou ainda o facto de o sector ser também exportador, nomeadamente nas florestas, referindo o peso nas exportações e a posição mundial de Portugal no que toca à cortiça (sobreiro) ou mesmo à pasta de papel (eucalipto) ou ainda nos contraplacados (pinho).
Também os horto-frutícolas, os vinhos e os azeites se têm vindo a impor externamente, sublinhou.