Gerrit-Jan Steenbergen, especialista em rastreabilidade: “Retalho tem de redesenhar sistemas de informação”
O consumidor vai consultar na Web toda a informação que precisa para efectuar uma compra segura, prevê o em rastreabilidade. Quer saber qual a avaliação pública do produto, a localização exacta na loja e em que condições foi transportado.
Rita Gonçalves
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“A tendência mais forte na cadeia de abastecimento é actualmente o aumento da procura, por parte dos consumidores, por informação online sempre disponível para a compra”, sublinha Gerrit-Jan Steenbergen, da Zetes Burótica.
O especialista em rastreabilidade faz um balanço da evolução da tecnologia aplicada à cadeia de abastecimento nos últimos anos e adivinha como será em 2016.
Hipersuper (H): Quais as tendências de rastreabilidade na cadeia de abastecimento do retalho a nível mundial?
Gerrit-Jan Steenbergen (G.J.S): A tendência mais forte na cadeia de abastecimento é actualmente o aumento da procura, por parte dos consumidores, por informação online sempre disponível para a compra. Não apenas do que está disponível nas prateleiras das lojas, mas também da disponibilidade de stock em qualquer situação em que o cliente se encontra (compra online para ser entregue em casa, encomendar na loja para ser entregue no lar, comprar online e levantar na loja, entre outros). Com o crescente número de problemas a nível mundial ligado à produção de bens, como a falsificação e o envenenamento, entre outros, os clientes estão cada vez mais preocupados e precisam de informações mais seguras sobre a qualidade, os ingredientes e origem dos produtos. O preço baixo não será mais suficiente!
H: O que está exactamente a mudar na cadeia de abastecimento?
G.J.S.: A cadeia de fornecimento de bens tradicionais necessita, do ponto de vista da informação, de se tornar uma rede fiável e disponível. Onde fornecedor, fabricante e retalhista, trabalham juntos na mesma base (no tempo disponível e precisão) de informações de todos os membros individuais. A mudança é, exactamente, deixar de pensar a cadeia de forma tradicional. Porque o cliente é muito exigente para o segmentarmos em grupos ou produtos. Para cada grupo é preciso desenhar informação individual e necessária. Para controlar a cadeia de abastecimento a partir desse grupo. Por exemplo, fornecer tomates desde a exploração agrícola até à loja de um supermercado de qualidade, como o Carrefour, é diferente de fornecer tomates, com posicionamento diferente em preço, aos sensíveis clientes da Aldi. As decisões em soluções de rastreabilidade devem ser definidas caso a caso.
H: Em que ambientes estão a acontecer mais depressa essas mudanças?
G.J.S.: No sector farmacêutico, em países onde já existe regulamentação (por exemplo, de serialização de medicamentos). Como esta necessidade é regulada pela lei, a mudança é maior e dá-se de forma mais rápida. Com a criação de legislação contra os produtos contrafeitos esta tendência vai estender-se a outras cadeias. Redesenhar sistemas de informação
H: Quais os principais desafios para os retalhistas?
G.J.S.: As empresas vão ter de fazer um esforço importante para redesenhar os actuais sistemas centrais. Muitos sistemas legados não serão capazes de gerir as necessidades de informação online criticas para fechar a compra do cliente. Por exemplo, como é que as empresas vão interligar as lojas na web com os estabelecimentos físicos e o stock? Outra questão é que os dados necessários não estão desenhados nos sistemas corporativos actuais. Os sistemas foram originalmente desenvolvidos para o controlo da cadeia de abastecimento. Não estão a armazenar informação em função das necessidades do consumidor. Isso já começou com a evolução do e-commerce. Mas agora a evolução está a ir para o M-commerce (compras, avaliação de produto, localização da loja no telemóvel pessoal). É preciso também redesenhar estratégias para o E-commerce e M-commerce.
H: Como vê a cadeia de abastecimento daqui a cinco anos com a evolução da tecnologia?
G.J.S.: Alguns operadores tradicionais vão sair e novos “players” vão entrar. O aumento da procura de informação online por parte dos consumidores vai obrigar os operadores a reformular a cadeia de abastecimento por grupo de produto/cliente. Para optimizar a cadeia e promover a rastreabilidade. Por exemplo, além de fornecer produtos, os retalhistas vão oferecer informação cada vez mais necessária: condições do transporte, ingredientes do produto e questões de segurança. Os consumidores que procuram informação online são os mais exigentes. A correcta gestão dos dados é essencial para acompanhar as mudanças: stocks mais pequenos e sortido mais variado e flexível. O cross dock será cada vez mais necessário.
H: Que balanço faz da evolução tecnológica registada nos últimos 5 anos?
G.J.S.: Nos últimos anos, o foco na utilização da tecnologia (picking de voz código de barras, imagens, RFID) esteve centrado na redução de custos. A tecnologia traz mais produtividade, logo, menos custos e, eventualmente, permite baixar os preços dos produtos. Mas, a grande mudança a que vamos assistir é a de utilizar a tecnologia para proporcionar ao cliente uma experiência mais centrada na oferta do produto. Se deixarmos de focar a cadeia no preço e valorizar a diferenciação, a experiência de compra e todo o valor acrescentado (por exemplo, informações), é possível sair fora do ciclo de redução de custos e saltar para a evolução da criação de valor.
H: Quais os grandes desafios a médio prazo?
G.J.S.: Mudar a mentalidade dos gestores executivos: a condução de projectos não pode estar limitada aos custos do negócio. É necessário coragem, empreendedorismo e um novo tipo de liderança. Há alguns exemplos que provam isto, a Apple é um deles…
H: O que é que a Zetes está a fazer para acompanhar a mudança?
G.J.S.: A Zetes está continuamente à procura de novas tecnologias e competências para implementar soluções que ofereçam mais-valias. Comprando nova tecnologia ou estabelecendo parcerias de longo prazo. Reduzir os custos ainda é um factor importante para muitos projectos, mas a legislação está a apertar e os projectos de valor acrescentado a crescer. Por exemplo, a aquisição da ImageID, em Israel, é estratégica. Trata-se de uma nova tecnologia que captura dados múltiplos a partir de uma localização, de uma só vez. Não apenas para fornecer aos clientes o custo mais baixo e melhor produtividade, mas para ajudá-los a criar valor através do fornecimento de mais dados na venda de produtos. Por exemplo, números de série falsos, datas de validade, ingredientes, entre outros.
H: A Zetes vai comandar as transformações?
G.J.S.: A Zetes tem um histórico comprovado no fornecimento de novas tecnologias e de trazer para o mercado as tecnologias mais adequadas para os projectos. Por exemplo, a Zetes foi o adaptador precoce da tecnologia de voz e agora é líder de mercado na Europa em aplicações de voz na cadeia de abastecimento. O departamento de R&D gasta mais de 2 milhões de euros.