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Opinião

Ponto de viragem na tendência plant-based?

Apesar de tudo, continuamos confiantes na tendência, que tem crescido relativamente a 2019. Este é um ajuste pós pandemia e o momento para as marcas colocarem mais foco na proposta de valor dos seus produtos. O número de veggies continuará a crescer nos próximos anos, mas o mercado, acreditamos, terá de reajustar a oferta e as suas expectativas.

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Ponto de viragem na tendência plant-based?

Apesar de tudo, continuamos confiantes na tendência, que tem crescido relativamente a 2019. Este é um ajuste pós pandemia e o momento para as marcas colocarem mais foco na proposta de valor dos seus produtos. O número de veggies continuará a crescer nos próximos anos, mas o mercado, acreditamos, terá de reajustar a oferta e as suas expectativas.

David Lacasa
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David Lacasa

Publicámos recentemente os últimos dados do nosso relatório The Green Revolution em Portugal. Neste estudo, o peso dos veggies, a soma de vegans, vegetarianos e flexitarianos, diminuiu 1,5% em relação a 2021. Em 2023, 10,4% da população portuguesa seguirá uma destas dietas, contra 11,9% em 2021.
Podemos dizer que o fenómeno veggie (a soma de vegans, vegetarianos e flexitarianos) abrandou nos últimos dois anos. Em 2021, estávamos a falar de uma incorporação de quase 250.000 novos veggies em Portugal, dos quais um terço perderam-se hoje (90.000), principalmente vegetarianos e vegans. A pandemia e o confinamento aumentaram a consciencialização das pessoas para a saúde, o ambiente e os animais. O fim destas circunstâncias “excecionais” parece ter provocado um “efeito de ricochete” na população, ávida de prazer e de disfrutar em todos os sentidos, incluindo a sua alimentação.
A fotografia detalhada atual em que nos encontramos é a seguinte. Um 8,6% dos portugueses consideram-se flexitarianos, menos 0,7 pontos do que há dois anos, quando atingiam 9,3% da população. Atualmente, 750.000 pessoas afirmam seguir uma dieta flexitariana (dieta eminentemente vegetal mais ocasionalmente consomem carne ou peixe).
Pela outra parte, a soma total de vegetarianos e veganos continua a crescer lentamente nos últimos quatro anos, de 1,6% em 2019 para 1,8% em 2023, se bem que em 2021 chegaram a ser um 2,6% da população. Há um total de 122.000 vegetarianos. Representam 1,4% da população adulta (frente a 2,1% em 2021 e 0,9% em 2019). Assim mesmo, um 0,4% dos adultos portugueses consideram-se veganos (vs. 0,5% em 2021 e 0,7% em 2019). Ou seja, 35.000 pessoas.
Mas quem é o consumidor veggie? As mulheres continuam a liderar a tendência em Portugal e representam 69% dos veggies e 67% dos vegetarianos e vegans. É entre os homens que se regista uma diminuição na adoção destas dietas. Por faixas etárias, as maiores penetrações registam-se entre os 25 e os 34 anos. Outro grupo a salientar é o da população com mais de 65 anos: 13% segue uma dieta à base de vegetais e é, na maioria, flexitariano.
As motivações para seguir as diferentes dietas mudam. Para os flexitarianos, a saúde é a razão principal para reduzir o consumo de carne. Já para os vegetarianos e vegans, o ambiente e os animais são o principal motivo.
Más alem dos dados mais sociodemográficos o mais importante é olhar para o mercado de productos plant- based. Neste caso, o mercado tem dois percursos diferentes. As alternativas vegetais aos laticínios mantiveram o seu crescimento (42,3 milhões de euros, face a 40,6 milhões em 2022). Por outro lado, as alternativas vegetais à carne registaram uma queda nas vendas de 8,8% em valor (5,4 milhões de euros) e 9,8% em volume (480 toneladas), de acordo com os dados da Nielsen IQ de finais de 2023.
Uma das grandes aprendizagens destes dados é que uma categoria tem atraído a consumidores alem dos veggies, as bebidas vegetais, e u outro, as alternativas a carne, não. E a razão principal é que no primeiro caso á um reason to change, uma proposta relevante que as proteínas alternativas não têm conseguido construir.
O consumidor das bebidas vegetais, e alternativas aos lacticínios em geral, procura mudar a leite, bem por intolerância ou porque não lhe senta bem, por um produto que tem um sabor bom, que não tenta imitar o produto a substituir e que é mais fácil de digerir. No resto das categorias, estes argumentos apenas existem.
E também á um problema de marca. As marcas de alternativas aos lacticínios têm sido construídas melhor, com mais notoriedade e com posicionamentos relevantes para o consumidor. No resto dos casos, a mensagem que se repete é de que é melhor para sim e para o planeta, dois argumentos que são difíceis de acreditar pelo consumidor. Fica ainda muito trabalho neste aspeto.
Apesar de tudo, continuamos confiantes na tendência, que tem crescido relativamente a 2019. Este é um ajuste pós pandemia e o momento para as marcas colocarem mais foco na proposta de valor dos seus produtos. O número de veggies continuará a crescer nos próximos anos, mas o mercado, acreditamos, terá de reajustar a oferta e as suas expectativas.

Sobre o autorDavid Lacasa

David Lacasa

Partner da Lantern
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