Nuno Aguiar: “O setor dos plásticos continua empenhado em inovar”
“O setor dos plásticos continua empenhado em inovar, melhorando a reciclabilidade dos seus produtos e garantindo no seu fim de vida um maior aproveitamento possível dos resíduos plásticos das diversas aplicações, permitindo deste modo fechar o ciclo”, assegura Nuno Aguiar, diretor técnico da Associação Portuguesa da Indústria de Plásticos.
Ana Grácio Pinto
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Nuno Aguiar: “O setor dos plásticos continua empenhado em inovar”
O plástico é apontado quase como o ‘produto vilão’, quando o tema é a preservação do meio ambiente. Onde está o problema?
É uma realidade que ao longo dos anos temos vindo a assistir a uma ‘diabolização’ do plástico, onde a desinformação tem contribuído grandemente para esse desígnio. Falando em poluição dos oceanos, importa desde logo constatar que esse problema existe. A indústria de plásticos é a primeira a reconhecer que este é um problema grave, não pode ser menosprezado e exige uma ação global, para a qual tem vindo a contribuir decisivamente
Também é reconhecido que os plásticos que aparecem nos oceanos têm na sua maioria origem em terra, cerca de 80%, sendo o maior contributo proveniente dos quadrantes asiático e africano, onde genericamente não existem sistemas/infraestruturas de recolha e separação de resíduos. E, portanto, o problema não é o facto de serem plásticos, mas o facto de terem sido abandonados. Resíduos abandonados em terra ou no oceano de forma desregrada geram este problema.
É necessário termos uma visão holística e sistémica, onde todos os atores que integram a cadeia de valor dos materiais, têm um papel decisivo naquilo que será o desígnio da gestão de resíduos, desde logo, pelos objetivos futuros a que o país está obrigado em matéria de taxas de reciclagem e de deposição em aterro, ambas bastante ambiciosas.
Neste quadro, o consumidor continuará a desempenhar um papel fulcral no processo de desenvolvimento de uma verdadeira economia circular e no caminho para uma alteração de paradigma, em que o resíduo seja percebido como uma matéria-prima com valor e capaz de criar riqueza. Uma questão central será o estabelecimento de um sistema de incentivos eficaz que premeie o cidadão que tenha um comportamento mais responsável do ponto de vista ambiental e de alguma forma penalize quem não separa os resíduos. Do lado da indústria, o setor dos plásticos continua empenhado em inovar, melhorando a reciclabilidade dos seus produtos, através do ecodesign, e garantindo no seu fim de vida um maior aproveitamento possível dos resíduos plásticos das diversas aplicações, através da sua reciclagem e incorporação em novos produtos, permitindo deste modo fechar o ciclo.
De que forma é possível tirar partido sustentável do plástico?
Os plásticos oferecem uma variedade de claros benefícios para a sociedade, derivados das suas características e propriedades únicas, que os tornam materiais versáteis e essenciais nos mais diversos mercados de aplicação, quer ao nível da saúde, da garantia da higiene e segurança alimentar, do aumento do tempo de vida útil dos alimentos, da mobilidade, contribuindo para a diminuição das emissões dos GEE, fruto da sua leveza e reciclabilidade, e também para uma gestão mais eficiente dos recursos naturais.
No caso concreto da área da embalagem, é sabido que a utilização de embalagens de plástico, ou melhor, a sua não utilização, e o desperdício alimentar são dois temas que estão intimamente ligados. Na verdade, diversos estudos revelam que a ausência ou a substituição de embalagens de plástico por outros materiais alternativos, nomeadamente no setor alimentar, tem como efeito direto o aumento do consumo de energia e de água, das emissões de gases de efeito de estufa, do peso total dos Resíduos Sólidos Urbanos, do desperdício alimentar, decorrente da redução do tempo de conservação dos alimentos.
A solução para se retirar o maior partido dos benefícios da utilização dos plásticos passa efetivamente por uma mudança comportamental, que permita aproveitar as melhores e únicas características deste material e elimine, ou reduza substancialmente, as consequências do seu descarte incorreto.
Por outro lado, é imperioso que, a procura crescente de soluções mais circulares e sustentáveis, sejam comprovadas cientificamente, como forma de se combater as práticas de greenwashing. Neste particular, a futura diretiva das Green Claims contribuirá decisivamente para a concretização deste objetivo, já que irá impor às empresas exigências de verificação e comunicação, relativamente às alegações ambientais dos seus produtos, dotando os consumidores de informação transparente e fidedigna, por forma a apoiar as suas decisões.
Quais são as prioridades da APIP para alterar a imagem do plástico?
À medida que as políticas avançam em direção a objetivos mais ambiciosos de sustentabilidade, também o tecido industrial está hoje, mais do que nunca, desperto para a necessidade de integrar de raiz, nos seus modelos de negócio e gestão, as questões relacionadas com a sustentabilidade e o modo de medir e demonstrar o seu contributo para o compromisso global de um futuro mais sustentável. E esse futuro passa, obrigatoriamente, por uma economia mais circular, melhorando a reciclabilidade dos produtos, através do ecodesign, culminando com a sua posterior reciclagem – e de baixo carbono, onde a investigação & desenvolvimento e inovação continuam a assumir-se como fatores estratégicos para a concretização desse objetivo.
É neste quadro que a indústria dos plásticos, através da APIP, tem promovido diversas iniciativas, que representam o compromisso do setor com a sustentabilidade e, progressivamente, com o conceito de regeneração. A título de exemplo, destacam-se as mais recentes iniciativas:
A Agenda Mobilizadora ‘Sustainable Plastics’
O Projeto Sustainable Plastics, iniciativa da APIP e liderado pela Logoplaste Innovation Lab, que tem uma duração prevista de 36 meses, pretende constituir-se como a Agenda Mobilizadora para os Plásticos Sustentáveis em Portugal, capaz de alavancar a transição do setor para uma economia circular. Este projeto, aprovado no âmbito das Agendas Mobilizadoras para a Inovação Empresarial do PRR, cujo Consórcio reúne 39 empresas e 10 entidades não empresariais do Sistema Científico e Tecnológico, tem um investimento global de aproximadamente 39 milhões de euros. Esta iniciativa assenta sobre três pilares: redução de 30% na emissão de gases com efeito de estufa associadas aos processos produtivos; maior eficiência de recursos; criação de emprego.
O Roteiro para a Descarbonização da Indústria dos Plásticos
A APIP, em parceria com a Ernest & Young, se encontra a desenvolver um Roteiro para a Descarbonização da Indústria dos Plásticos Nacional, um projeto que terá uma duração de 24 meses e que procurará ser diferenciador e ao mesmo tempo uma referência a nível europeu, podendo vir a inspirar outros setores. Foi criado um advisory board, constituído por dois órgãos, um comité estratégico e um comité científico, que reúnem no total cerca de 30 personalidades, nacionais e internacionais, consideradas relevantes pelas suas competências técnicas e experiência profissional em domínios críticos para o desenvolvimento do mesmo e com uma representação multidisciplinar.
O Plastics Summit – Global Event (PSGE)
Considerado o maior fórum mundial de discussão pela sustentabilidade, organizado pelo setor dos plásticos. A APIP, uma vez mais com o apoio das suas congéneres de Espanha, Brasil e México, encontra-se a organizar a 2.9 Edição do Plastics Summit – Global Event, a realizar novamente em Lisboa, no dia 6 de outubro de 2025, cujo lançamento oficial decorreu no passado mês de outubro. Após o enorme sucesso da 1.9 edição, na qual marcaram presença mais de 1000 participantes nacionais e internacionais, realizada em outubro de 2022, na FIL, o Plastics Summit – Global Event regressará em 2025, reunindo novamente todos os stakeholders, incluindo a comunicação social, agentes da cadeia de valor dos plásticos e demais setores conexos, com o objetivo de debater diversas matérias de importância extrema para alcançar uma transição justa, sob o mote ‘Moving into action, changing our behaviour… creating a sustainable future’.
Artigo publicado na edição 428