Sofia Santos, secretária-geral do BCSD Portugal
O desafio da economia circular, por Sofia Santos (BCSD Portugal)
A economia circular está relacionada com o ciclo de vida de um produto desde o design, processo de produção e reciclagem até à gestão de resíduos
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Opinião de Sofia Santos, secretária-geral do BCSD Portugal
Economia circular é “um modelo económico regenerativo e restaurador por design, em que os recursos (materiais, componentes, produtos, serviço) são geridos de modo a preservar o seu valor e utilidade pelo maior período de tempo possível, aumentando assim a sua produtividade e preservando o capital natural e o capital financeiro das empresas e sociedade civil” (Fonte: portal eco.nomia).
A economia circular está, assim, relacionada com o ciclo de vida de um produto: desde o design, processo de produção, utilização e gestão do potencial resíduo/ reciclagem do material no fim da linha de vida e, por fim, a gestão dos resíduos. A economia circular ambiciona que os resíduos sejam zero e, por isso, o design dos produtos tem um papel fundamental nesta abordagem. Assim, a inovação e a procura por novas fontes de matéria-prima de forma a obtermos uma economia eficiente e produtiva no uso dos recursos constitui uma das áreas de trabalho da economia circular. Procurar novas matérias-primas (recicladas, reutilizadas e subprodutos) poderá implicar um novo design, um novo produto, um novo processo e uma nova forma de comunicar o produto ou serviço que se vende ao mercado. A economia circular pode ser vista como uma oportunidade para implementar, de forma mais massificada, os conceitos de eco-design, eco-inovação e marketing verde.
Assim, quando se desenvolve um produto ou serviço, além dos habituais critérios de marketing e “design thinking” associados ao processo inovador, também os seguintes aspetos deverão ser tidos em conta:
Ø a manutenção dos ecossistemas que asseguram a existência das matérias-primas;
Ø a gestão dos vários recursos utilizados no processo de produção e logístico;
Ø a gestão dos resíduos decorrentes do processo de produção;
Ø os impactos ambientais decorrentes do consumo do bem;
Ø o destino final dos produtos após consumo ou após o fim de linha (reutilização).
À cadeia de valor tradicional (linear), a economia circular adiciona novas etapas e aumenta os fatores a considerar nas etapas já conhecidas – tudo é integrado e assimilado sem gerar disfunções, sejam elas quais forem.
Não esquecer que uma economia circular também está intimamente relacionada com alterações climáticas. Uma economia circular, ao ambicionar ser eficiente no uso dos recursos, implica também ter preocupação com os impactes ambientais que os processos de produção e de logística têm na sociedade.
Orientações políticas
A economia circular constitui hoje um tema central na política pública nacional e europeia. Nos últimos dois anos o tema ganhou notoriedade através da estratégia e do pacote europeu para a economia circular. Em Portugal, de julho a setembro de 2017, esteve em consulta pública a proposta de Plano de Ação para a Economia Circular em Portugal:2017-2020, que aponta uma visão para o País sobre este tema, identificando vários setores e ações prioritárias.
Na opinião do BCSD, o Plano de Ação para a Economia Circular em Portugal apresenta de forma sólida os fundamentos e o contexto internacional e nacional que justificam a importância de um plano de economia circular para Portugal, sendo muito interessante ver no documento a existência de informação sobre os exemplos do que os outros países já fazem nestas áreas. Consideramos também muito positivo a existência clara da necessidade de vários setores trabalharem em conjunto – ambiente, educação, ciência, agricultura e finanças – para se alcançarem estes desafios. Consideramos por isso que seria relevante que o Governo conseguisse dar um sinal claro às empresas através de algumas medidas de política fiscal (incidindo sobre vários agentes económicos) de que a circularidade é efetivamente uma aposta do Governo como um todo.
Simbioses industriais
Associado ao conceito de economia circular, estão as simbioses industriais. Estas simbioses têm por base os conceitos de ecologia industrial, em que os processos assentam numa colaboração entre empresas de diferentes setores, e onde a troca de materiais, a partilha de energia residual ou de serviços, ou a reutilização de águas tratadas, gera vantagens competitivas para todos os intervenientes. No caso dos resíduos, por exemplo, a simbiose industrial procura integrar uma ou mais indústrias, tornando cíclico o fluxo de materiais e energia, onde os resíduos em vez de serem produzidos são antes reinseridos na cadeia produtiva como matérias-primas.
Economia circular e o financiamento
O atual modelo económico necessita de incluir, na sua fórmula de crescimento, os riscos e as oportunidades ambientais associados à gestão eficiente dos recursos, às alterações climáticas, à biodiversidade e outros temas relacionados com o desenvolvimento sustentável. Neste aspeto, o setor financeiro assume papel fundamental porque é essencial existir financiamento para promover os investimentos e negócios que implementam uma economia mais eficiente no uso dos recursos e com menor emissões de CO2.
Para que uma economia circular possa desenvolver novos produtos e modelos de negócio é necessário que o financiamento privado esteja disponível. Ou seja, é necessário que o setor bancário consiga compreender e identificar as oportunidades de negócio dos projetos circulares para lhes proporcionar o financiamento. Claro está que, em simultâneo, seria muito útil existir uma política fiscal que induzisse os consumidores, as empresas e o setor financeiro a promover a economia circular.
Projetos nacionais
No BCSD Portugal temos dois projetos relacionados com a economia circular e com as simbioses industriais: o Meet 2030 que está a desenvolver cenários para 2030 e a identificar potenciais oportunidades e inovações que possam criar vantagens competitivas para as empresas, de forma a promover um crescimento sustentável da economia; e o projeto Sinergias Circulares que, na fase de arranque, está a potenciar sinergias entre os associados do BCSD na área dos resíduos e subprodutos.
Em suma, a economia circular não é uma moda. Veio para ficar e deve ser vista como uma forma de todos contribuirmos para melhorar o planeta e o bem-estar.
*Texto originalmente publicado na edição de outubro do Jornal Hipersuper, integrado num dossier sobre Economia Circular