Veículos Comerciais. Será 2017 o ponto de viragem para o transporte elétrico?
Os sistemas elétricos são a grande aposta dos fabricantes de veículos comerciais para responder às atuais exigências de sustentabilidade ambiental e eficiência energética. E o reforço dos incentivos fiscais concedidos pelo Governo este ano está a intensificar a transição das empresas lusas para a mobilidade elétrica
Ana Catarina Monteiro
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Os sistemas elétricos são a grande aposta dos fabricantes de veículos comerciais para responder às atuais exigências de sustentabilidade ambiental e eficiência energética. E o reforço dos incentivos fiscais concedidos pelo Governo este ano está a intensificar a transição das empresas lusas para a mobilidade elétrica
São ainda uma pequena fatia do mercado mas estão a conduzir a inovação tecnológica no setor automóvel. Apesar de os elétricos ainda representarem uma quota de 1,5% nas vendas de veículos a nível nacional, conjugando o mercado empresarial e o particular, os operadores do setor automóvel notam um aumento da consciencialização do tecido empresarial português para as vantagens destes modelos. “Nos comerciais ligeiros, tal como nos automóveis de passageiros, o mercado português de veículos 100% elétricos está ainda abaixo de países do norte da Europa por exemplo. No entanto, é já notória a crescente preocupação e interesse por estes modelos. Ao que não é alheio o conjunto de benefícios fiscais que têm de momento em Portugal”, explica em entrevista ao HIPERSUPER Ricardo Oliveira, diretor de Comunicação e de Imagem da Renault, cujo modelo “Zoe” ostenta a bandeira de carro elétrico mais vendido em Portugal este ano.
Eficiência energética acima dos 90%
Livres de emissões de gases poluentes e de ruído, os transportes elétricos apresentam-se atualmente como a escolha ambientalmente mais responsável, o que favorece a imagem dos negócios junto dos consumidores. A poupança económica pode ser até “nove vezes superior” em relação aos veículos movidos a diesel, de acordo com dados da UVE (Associação Utilizadores de Veículos Elétricos). E enquanto os motores de combustão interna possibilitam uma “eficiência energética de entre 17% a 21%”, os motores elétricos assumem valores “acima dos 90%”.
Ainda assim, a aquisição de viaturas elétricas e híbridas “plug in” por parte das empresas só disparou no País em 2015, com a introdução das medidas de Fiscalidade Verde, evoluindo desde então a um ritmo superior ao das vendas para o consumidor final.
Naquele ano, os modelos elétricos a circular nas estradas portuguesas duplicaram face a 2014. No ano passado otimizaram-se os incentivos à compra de veículos elétricos e bateram-se todos os recordes de vendas, com um aumento anual de 51% em volume, indicam os dados da UVE.
Novo pacote de benefícios fiscais
Este ano, as novas regras comunitárias, que promovem uma maior sustentabilidade ambiental no tráfego rodoviário europeu, além do novo pacote de benefícios fiscais trazido pelo Orçamento de Estado (OE) 2017, para os que optem pela compra de veículos elétricos ou híbridos “plug in”, está a intensificar o interesse do mercado. Tal como os privados, as entidades empresariais beneficiam este ano de um incentivo monetário de 2250 euros na compra de um elétrico, suportado pelo Fundo Ambiental. As empresas podem reivindicar até um máximo de cinco veículos, sendo que o montante está disponível apenas para as primeiras mil candidaturas. Outras facilidades passam pela isenção de pagamento do Imposto Sobre Veículos (ISV), no caso dos elétricos, e de um incentivo de 562,59 euros para reduzir o mesmo imposto no que concerne à aquisição de híbridos “plug in” a estrear.
As empresas ficam também isentas de pagamento de tributação autónoma das despesas com carros elétricos e beneficiam de um aumento da taxa de depreciação da viatura, em relação às que apresentam motores de combustão, assim como da redução do Imposto Único de Circulação (IUC). Ao instalarem carregadores de baterias elétricas nas suas instalações, gozam ainda de desconto na fatura da eletricidade. Além disso, o OE2017 prevê a transferência de um montante máximo de 715 070 euros do Fundo Ambiental para reforçar a Mobi.e, rede de postos de carregamento de baterias elétricas distribuídos pelo País.
“Considerando os benefícios da fiscalidade verde, o Prius ‘plug in’, por exemplo, que tem um PVP [Preço de Venda ao Público] a rondar os 40 000 euros, pode ter um custo para as empresas de 29 990 euros”, exemplifica Ricardo Amaral, diretor de Comunicação e Marketing da Toyota. “Esta realidade torna a mobilidade eficiente mais atrativa para as empresas, dando maior competitividade aos TCO [Total Cost of Ownership – referente aos custos de utilização] das frotas ‘verdes’”.
Veículos comerciais crescem a dois dígitos
Assim, 2017 poderá ser o ano da mobilidade elétrica nas empresas. A recuperação económica e a maior confiança dos empresários estão a fazer o mercado nacional de veículos comerciais crescer a dois dígitos.
Entre modelos elétricos, híbridos e convencionais, as vendas de ligeiros subiram entre janeiro e agosto deste ano 11,9% face ao período homólogo anterior, registando um total de 24 181 viaturas vendidas. No segmento de pesados, que incluiu veículos de passageiros e de mercadorias, venderam-se nos primeiros oito meses do ano 3484 unidades, traduzindo um crescimento homólogo de 13,9%, de acordo com a Associação Automóvel de Portugal (ACAP).
Por sua vez, as vendas de modelos elétricos ou híbridos, na categoria de ligeiros, cresceram em termos homólogos 106% nos primeiros sete meses do ano, durante os quais se comercializaram 2062 unidades, segundo a UVE.
Hyundai lança 14 novos veículos até 2020
A mobilidade ecológica é um eixo estratégico para o crescimento da Hyundai, que prevê lançar até 2020 14 novos produtos com motorizações alternativas à dos veículos movidos a diesel, revela em entrevista Ricardo Lopes, COO (chief operations officer) da filial lusa da marca. “No caso das empresas, a mobilidade ecológica é cada vez mais uma opção a ter em conta, quer pela responsabilidade social quer pela potencial redução de custos que representa”. Para já, a empresa oferece a gama IONIQ, composta por três modelos (híbrido, ‘plug in’ e elétrico), que “permite adequar as diferentes soluções tecnológicas às necessidades do cliente”.
Aos “desafios constantes na indústria automóvel de cumprimento das normas ambientais, da redução de custos de utilização e de tempos de imobilização, juntam-se atualmente o desenvolvimento de novas soluções de mobilidade personalizadas que permitam aos clientes uma eficácia na gestão das frotas e a redução de custos de utilização”, dá conta o responsável.
Neste sentido, a abordagem ao canal empresarial é uma das prioridades da empresa, que tem implementado “diversas ações, tanto na vertente de produto como na dos serviços e soluções específicas” que confiram uma maior personalização para cada cliente do mercado empresarial. Exemplo disso é o Hyundai Renting. “Em 2016 lançamos este produto, disponível através da rede de concessionários. A solução é capaz de, em qualquer modelo, fornecer rapidamente os valores mais competitivos de acordo com as necessidades do cliente, adequando quilómetros, período de utilização e serviços”.
Já em 2017, desenvolveu o programa Hyundai Empresas, um programa de apoio à rede de concessionários com políticas de venda e após venda orientadas para empresas. “O objetivo é providenciar aos concessionários todas as ferramentas necessárias para que possam construir a solução ideal para cada negócio”, sublinha o diretor de operações.
A fornecedora reiniciou em 2015 a comercialização de veículos comerciais no mercado nacional, após o desenvolvimento em território nacional de uma versão de dois lugares do modelo de passageiros i20, denominada i20 Van. Mais tarde, no final de 2016, introduziu “o H350, um furgão de grande dimensão, disponível também como chassis-cabine, e o H1, um furgão já com história no mercado”.
Neste momento, as vendas de viaturas comerciais da Hyundai em Portugal registam um crescimento “na ordem dos 300% face ao ano anterior”, sendo que as viaturas comerciais ligeiras da empresa detêm uma quota de 0,9% em solo luso.
Toyota aposta na motorização híbrida
Para o diretor de Comunicação e Marketing da Toyota, que detém uma quota de 4,7% no mercado de veículos comerciais ligeiros, o maior desafio para a aquisição de veículos elétricos reside na “autonomia e tempo de carregamento”. Neste sentido, “os híbridos apresentam-se como a solução mais eficiente para uso geral”, uma vez que não necessitam de carregamento.
“As viaturas 100% elétricas, por todos os atributos associados à ansiedade da autonomia e conforto de utilização, ainda têm um longo caminho a percorrer para conseguir o patamar que as propostas híbridas e híbridas ‘plug in’ oferecem neste momento ao utilizador”, explica o responsável, que destaca a motorização híbrida como uma das mais emblemáticas inovações tecnológicas da produtora. A marca nipónica trouxe ao mercado o primeiro híbrido de produção em série (o Prius em 2000) e, desde então, tem puxado pelo desenvolvimento tecnológico neste segmento, de forma a atrair a atenção das empresas.
“Se há 15 anos existia uma abordagem específica da nossa parte às empresas para lhes apresentar as vantagens de ter um híbrido na frota, hoje são as empresas e gestoras de frota que nos consultam com especificidades muito claras para cotação dos híbridos. E estes, quando confrontados pelas opções, não hesitam em optar pela tecnologia mais avançada”, garante Ricardo Amaral.
A comercialização de viaturas híbridas, no geral, aumentou 44% na primeira metade do ano na Europa, totalizando as 208 300 unidades vendidas. Para a Toyota, estes modelos representam 40% das vendas totais na Europa. No que diz respeito à região mais ocidental do continente europeu, o valor sobe para os 50%. Em Portugal, as motorizações híbridas da Toyota e Lexus registam no primeiro semestre um peso de 38,7% nas vendas de ligeiros de passageiros, sendo os modelos “Yaris e Auris” os que apresentam maior penetração em frotas de empresas.
“Mais recentemente, com o lançamento do Prius ‘plug in’, muito apontado às empresas, e com o novo C-HR estamos a aumentar a nossa presença em frotas empresariais”, revela Ricardo Amaral.
As vendas de veículos comerciais ligeiros da empresa no País cresceram 38,1% no primeiro semestre face ao ano transato, com as empresas a “absorverem o grosso” do volume comercializado.
Renault aumenta autonomia de elétricos
Com uma quota de 21,4% alcançada em 2016 no mercado de veículos comerciais, meta “nunca antes conseguida” pela empresa no País, a Renault está empenhada na transição das empresas para a mobilidade eficiente através dos veículos 100% elétricos.
A empresa foi a primeira a oferecer em 2011 um modelo comercial ligeiro 100% elétrico: o Kangoo Z.E., cujas vendas “triplicaram” no primeiro semestre em Portugal. “Apesar de serem volumes ainda reduzidos (menos de 50 unidades) são um sinal da transformação que se está a operar na procura de soluções de transporte mais sustentáveis e com custos de utilização reduzidos”, observa Ricardo Oliveira, diretor de Comunicação e de Imagem da produtora.
O Kangoo Z.E. é também o veículo comercial ligeiro elétrico “mais vendido na Europa, com mais de 25 mil unidades vendidas até ao momento”. A este, junta-se “em breve” o novo Master Z.E., reforçando o portefólio de ligeiros 100% elétricos da marca.
Entre as mais recentes inovações tecnológicas, o responsável destaca ainda a nova bateria do Kangoo Z.E., que permite aumentar a autonomia do veículo em aproximadamente 50%. “Associada a um novo motor, reivindica a maior autonomia entre os veículos comerciais elétricos, tendo aumentado da capacidade de percorrer 170 quilómetros para os 270 em ciclo NEDC [New European Driving Cycle]”. A empresa desenvolveu ainda um novo sistema de carregamento de baterias “mais rápido e potente que permite uma recarga completa de bateria em menos de seis horas”.
No suporte aos negócios, a Renault dispõe do seu próprio sistema de gestão de frotas através da sua filial financeira RCI.
No último ano, as vendas de comerciais ligeiros da empresa no País cresceram 18,3% e no primeiro semestre do presente ano evidenciam um aumento de 3,1% relativamente ao período homólogo do ano anterior.