A direção da Associação dos Produtores de Leite de Portugal reuniu-se em Lisboa com o Ministro da Agricultura, Luís Capoulas Santos
Produtores do leite em reunião com Ministro da Agricultura: “Portugal não acompanhou recuperação europeia”
“Em fevereiro passado, Portugal teve o preço ao produtor mais baixo de toda a região comunitária”, explica em comunicado a APROLEP
Ana Catarina Monteiro
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A direção da Associação dos Produtores de Leite de Portugal (APROLEP) reuniu-se esta segunda-feira (21 de agosto) com o Ministro da Agricultura, Luís Capoulas Santos, para mostrar que a crise do setor do leite em Portugal ainda não foi ultrapassada.
Enquanto os produtores de leite europeus parecem estar a recuperar da crise que assombra o setor há cerca de três anos, em Portugal as queixas continuam. Em 2016, o preço médio do leite vendido aos consumidores em Portugal fixou-se nos 29 cêntimos por litro. No entanto, o custo de produção foi de 35 cêntimos, contando amortizações. O que levou à criação de apoios extraordinários ao setor por parte do Governo.
“Por razões que não sabemos explicar, o preço do leite ao produtor em Portugal não acompanhou a recuperação registada na Europa desde a segunda metade de 2016 até agora. Em fevereiro passado, Portugal teve o preço ao produtor mais baixo de toda a região comunitária”, explica em comunicado a APROLEP, no seguimento da reunião com o Ministro da Agricultura.
Este ano, além de uma “fraca evolução” dos preços do leite, a situação agravou-se com o surgimento e uma “seca extrema” e aumento e “outros custos de produção com aquisição e produção de forragem”.
Assim, a associação está preocupada com o surgimento de um novo desequilíbrio do mercado europeu, que possa prejudicar a produção lusa. “Os melhores preços recebidos no centro e norte da Europa estão a criar boas expectativas na produção que se podem traduzir em novos desequilíbrios entre a oferta e a procura, que certamente irão desaguar no nosso País”.
A política das cadeias de distribuição “com constantes promoções que desvalorizam o leite e seus derivados de uma forma dramática” foi também um dos assuntos em cima da mesa. “Consideramos fundamental que o Governo investigue o que se passa na fileira nacional do leite, nomeadamente ao nível de indústria e distribuição para estarmos com preços da cauda da Europa que colocam em causa a sobrevivência da produção de leite”.
Quanto à taxa no âmbito do Sistema de Recolha de Cadáveres de Animais Mortos na Exploração (SIRCA), definida em Despacho publicado em abril deste ano, os leiteiros sugerem que os custos sejam partilhados entre distribuição e o consumidor. “É uma injustiça porque transmite sucessivamente a obrigação de descontar o valor da taxa até ao criador das vacas, produtor de leite, sendo o engordador e os matadouros apenas cobradores e portadores da taxa. A título de exemplo, uma vacaria com 100 vacas leiteiras, que venda anualmente 50 vitelos (valor multiplicado por 7,5 euros) e 40 vacas de refugo (multiplicado por 12,5 euros), paga anualmente um novo imposto de 875 euros”.
A associação sugere que devem ser criados circuitos que aproximem o produtor do consumidor, fomentando a aquisição de leite e produtos lácteos “a nível regional, de forma a promover o comércio e a produção locais”. Defende ainda a educação dos consumidores, desde logo a partir das escolas, sobre a segurança de produção e valor alimentar do leite de modo a reverter a redução no consumo registada nos últimos anos.
Desde 2014 que os produtores de leite na Europa vivem tempos difíceis. Um cenário que se deve ao fim das quotas leiteiras, assim como ao embargo russo, à estagnação económica e à quebra no consumo, entre outros fatores. Protestos dos produtores levaram a Comissão Europeia a dispensar, em 2015, de um pacote de 500 milhões de euros para os países-membros, sendo a maior fatia do valor para apoiar os produtores de leite e transformados. Em Portugal, deste 1 de julho deste ano que é obrigatória indicação da origem do leite nas embalagens dos laticínios.