A era do retalho “Phygital”
O conceito de “Phygital” define o cruzamento entre o mundo físico e o digital, impulsionado pelo novo ecossistema tecnológico da Internet das Coisas. E está a transformar lojas e armazéns ao longo do globo
Ana Catarina Monteiro
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O conceito de “Phygital” define o cruzamento entre o mundo físico e o digital, impulsionado pelo novo ecossistema tecnológico da Internet das Coisas. E está a transformar lojas e armazéns ao longo do globo.
A migração do consumidor para o comércio online e mobile, com a democratização da internet e dos dispositivos móveis, não ditou o fim das lojas físicas. Estas absorvem atualmente ainda 91% das vendas a retalho.
No entanto, as expetativas do “shopper” em relação à experiência de compra alteraram-se, muito devido à ascensão dos “millennials”. A primeira geração de nativos digitais, que abrange a população nascida entre 1980 e 1995, ultrapassou os “baby boomers” enquanto maior grupo de compradores ativos.
O consumidor moderno está, assim, sempre conectado, tendo na ponta dos dedos acesso a um comércio globalizado. Oito em cada dez consumidores utiliza o smartphone em loja enquanto assistente de compras, para pesquisar produtos e comparar preços. Ao mesmo tempo, o percurso de compra tornou-se mais complexo, podendo começar em casa e acabar na loja, ou vice-versa.
Da conectividade e intercalação entre físico e digital emerge o retalho “Physical”, uma tendência que se intensifica à medida que alarga o ecossistema de objetos físicos ligados ao mundo virtual através de sensores.
Designado de Internet das Coisas (IoT – Internet of Things), este ambiente conectado traz numerosas possibilidades aos distribuidores, no que diz respeito à digitalização da experiência de compra em loja e automatização da cadeia de valor, com o propósito de oferecer um melhor serviço, aumentar as receitas e reduzir os custos de operação.
Entre as tecnologias que têm vindo a ser adotadas estão, por exemplo, os “beacons”, que permitem, entre outras ações, endereçar ofertas customizadas, ou as etiquetas de identificação por rádio-frequência (RFID) para uma mais eficiente gestão do stock. As potencialidades das tecnologias IoT parecem infinitas, como atesta a crescente oferta de produtos “smart” que chega aos lineares, como calçado de corrida que contabiliza automaticamente os quilómetros percorridos ou eletrodomésticos controlados a partir de dispositivos móveis.
Para perceber quais as tendências tecnológicas que moldam o retalho nos próximos anos, a Zebra, empresa que produz conhecimento e tecnologia para este setor, conduziu o estudo global “2017 Retail Vision” junto de retalhistas europeus, americanos e asiáticos de vários setores de atividade.
O estudo mostra que 70% dos retalhistas tenciona investir até 2021 em sistemas de Internet das Coisas, para “impulsionar a experiência de compra fornecida e alavancar a visibilidade sobre a cadeia de abastecimento”. 68% diz que vai, nos próximos quatro anos, apostar em “analítica e modelos preditivos que permitem personalizar” o serviço prestado e 57% prevê investir na automatização do embalamento, do envio de encomendas e do acompanhamento do inventário para ajudar os consumidores a encontrarem mais facilmente os produtos em loja. Eis as diretrizes sob as quais o retalho se irá transformar nos próximos anos:
1- IoT vem reinventar cadeia de valor
72% dos retalhistas planeia reinventar a sua cadeia de fornecimento através de sensores, automatização de processos e ferramentas de analítica. Com a missão de alavancar a experiência de compra e mitigar os pontos críticos para os colaboradores, os retalhistas estão a adotar soluções IoT, como sensores nas prateleiras para um melhor rastreamento e segurança dos produtos, que permitem verificar automaticamente o inventário.
Se, por um lado, os processos logísticos se automatizam, por outro, os colaboradores têm cada vez mais tecnologia em mãos, seja para prestar um melhor serviço na frente de loja seja para uma melhor gestão do armazém. Neste sentido, 87% dos retalhistas pretende até 2021 investir em dispositivos POS (point of sale) móveis através dos quais os colaboradores podem aceitar pagamentos através de cartão de crédito em qualquer parte da loja. 86% aponta para a introdução de computadores mobile com “scanners” para ler códigos de barras e verificar a disponibilidade dos artigos em tempo real.
Para os retalhistas, os fatores que mais impactam a satisfação dos consumidores são a falta de “stock”, a disponibilidade do mesmo produto com um preço mais baixo em outras lojas e a indisponibilidade do artigo quando o cliente o deseja comprar.
Com recurso ao RFID, tecnologia cujo preço tem vindo a descer e a ser encarada como “a próxima geração de códigos de barras” com um “elevado potencial de retorno de investimento”, os retalhistas podem fomentar em 95% a precisão do inventário e reduzir em entre 60% e 80% as situações de falta de stock, revela o estudo. Em loja, as etiquetas conferem um aumento de 19% no número de itens por compra e um crescimento de 6% no número de transações.
2- Personalização da visita à loja
Dentro do conceito de comércio “Phygital” proporcionado pela adoção de tecnologia, 75% das lojas em 2021 terá capacidade para identificar o consumidor quando entra num espaço comercial e será capaz de customizar a visita. Através de sistemas de localização, como os sensores “beacons” embutidos em prateleiras, entre outros dispositivos, o retalhista pode ir ao encontro das necessidades do consumidor em loja, no preciso momento em que estas surgem, seja pela via mobile – enviando sugestões e ofertas para o smartphone que o cliente carrega no bolso – seja através de um colaborador – o qual recebe alertas no tablet ou outro dispositivo que tem em mãos.
Além disso, estes sistemas capturam dados sobre o comportamento do cliente, importantes para as decisões de negócio e iniciativas de marketing. O retalhista consegue saber quais os locais em loja que trazem maior visibilidade para cada tipo de produto, por exemplo.
3- Recolha de encomendas onde o cliente desejar
A popularidade crescente do trajeto de “compra online e recolha em loja ou pontos ‘pickup’” ilustra a mudança dos padrões de consumo que o comércio digital tem provocado. Mas as possibilidades de um trajeto de compra cada vez mais omnicanal são várias. De acordo com o estudo da Zebra, 65% dos retalhistas estão a explorar serviços de entrega para que o consumidor encontre a encomenda onde quer que deseje: no local de trabalho, através de cacifos em loja, ao domicílio ou no parque de estacionamento, entre outros.
Com a demanda por conveniência a crescer, os distribuidores têm que ser ágeis. A integração entre ecommerce e experiência em loja, assim como a aposta no abastecimento e entrega de compras, feitas online ou no ponto de venda, são, assim, os objetivos estratégicos dos retalhistas para os próximos anos. Para isso, estes estão a migrar a partir de processos isolados para modelos de comércio unificado que lhes permitam uma visibilidade do negócio “ponta a ponta”.
Como os retalhistas ao longo do globo pensam investir nos próximos anos
Europa
As tecnologias de localização em loja são a prioridade dos retalhistas europeus. Atualmente, 36% destes consegue localizar um determinado consumidor em loja. Prevê-se que o valor cresça para os 75% nos próximos cinco anos.
América do Norte
São os retalhistas norte-americanos que mais preveem adotar tecnologias de IoT, como sistemas de verificação de inventário e sensores nas prateleiras. 79% dos distribuidores desta região pensam investir neste sentido nos próximos anos.
América Latina
Face às outras regiões do mundo, na América Latina o número de retalhistas que atualmente consegue customizar as lojas é menor. No entanto, estes mostram uma grande aposta em tecnologia para personalizar e alavancar a experiência em loja. 85% tenciona investir neste sentido até 2021.
Ásia-Pacífico
Nesta geografia é o online que mais ordena. 79% dos retalhistas da região Ásia-Pacífico concentra-se nos próximos anos no suporte à compra digital, pontos “pickup” ou outros serviços de conveniência de entregas, esperando uma maior adesão ao comércio eletrónico que em outras regiões.