De Ílhavo para o mundo. Estratégia para conquistar o mercado internacional
Uma pequena empresa de software portuguesa, que exporta os seus produtos para todo o mundo, conseguiu motivar 200 profissionais de 12 nacionalidades a deslocarem-se a Portugal para uma apresentação. O fundador e CEO conta na primeira pessoa como alcançou o feito
Rita Gonçalves
Grupo Rotom reforça presença no Reino Unido com aquisição da Kingsbury Pallets
Diogo Costa: “Estamos sempre atentos às necessidades e preferências dos nossos consumidores”
Staples une-se à EDP e dá passo importante na descarbonização de toda a sua cadeia de valor
CTT prepara peak season com reforço da capacidade da operação
Já são conhecidos os três projetos vencedores do Prémio TransforMAR
Campolide recebe a terceira loja My Auchan Saúde e Bem-Estar
Montiqueijo renova Selo da Igualdade Salarial
Sensodyne com novidades nos seus dentífricos mais populares
Salutem lança Mini Tortitas com dois novos sabores
LIGARTE by Casa Ermelinda Freitas chega às prateleiras da Auchan para promover inclusão social
Uma pequena empresa de software portuguesa, que exporta os seus produtos para todo o mundo, conseguiu motivar 200 profissionais de 12 nacionalidades a deslocarem-se a Portugal para uma apresentação. O fundador e CEO conta na primeira pessoa como alcançou o feito
Por Arsenio Gil, CEO da Sysdev
A ideia do Kalipso surgiu-me há 12 anos, quando trabalhava noutras empresas, sempre da área de desenvolvimento de “software”. Verifiquei que existia muito trabalho repetitivo, vários programadores a fazerem a mesma coisa em projetos diferentes. Associado a isto, na altura, os ambientes de desenvolvimento eram bastante mais complexos, o que exigia que tivéssemos técnicos com especializações não fáceis de encontrar, e em que cada projeto demorava bastante tempo.
Foi então que me surgiu a ideia de que seria possível criar algo que pudesse ser muito mais abstraído de programação, sem ter de escrever milhares de linhas de código. Seria um produto com uma plataforma que funcionasse um pouco como os jogos Lego: íamos arrastando “coisas”, de forma a ir criando uma aplicação sem ter de escrever código, ou minimizando essa necessidade a um nível muito básico. Desta forma, seria possível não só aos programadores construírem aplicações mais rapidamente, mas também os não programadores passariam a ter a possibilidade de o fazer.
Também deveria ser uma plataforma escalável. Isto é, sempre que surgissem novas tecnologias deveríamos ir adicionando novos “blocos”, de forma a permitir aos utilizadores terem acesso simples a novas tecnologias.
As primeiras versões de teste foram um desastre! Muitas vezes, tivemos de reescrever tudo de novo, até encontramos uma plataforma base suficientemente estável e rápida. Foram meses muito stressantes e duros, com muitas horas de desenvolvimento. Mas valeu a pena pelo compensador resultado final!
A aposta na internacionalização
A Sysdev é uma tecnológica especializada no desenvolvimento de “software” para a área da mobilidade empresarial. E desde a sua génese, há nove anos, que a internacionalização faz parte da estratégia central da empresa. Existem atualmente clientes com o nosso software em mais de 70 países, nos cinco continentes.
A internacionalização de uma empresa de base tecnológica poderá – eventualmente – parecer mais fácil quando comparada com uma empresa tradicional (de produtos tangíveis), mas na realidade os desafios na área das TI (Tecnologias de Informação) sempre foram maiores do que as facilidades. Se queríamos vingar num setor tão exigente e competitivo, a par de desenvolver um bom produto, um bom serviço, tínhamos obrigatoriamente de eliminar fronteiras físicas e linguísticas.
Colocar o cliente no topo do organigrama, entender as suas necessidades, ter um conhecimento profundo do dia a dia e da sua área de atividade, têm sido fatores determinantes para o nosso percurso. E porque consideramos prioritário ser uma extensão do cliente, existe uma cultura de serviço transversal a toda a equipa: desenvolvimento, suporte, vendas… todos se empenham num atendimento de excelência e na criação de valor.
Mas numa altura em que é difícil falar de fidelização de clientes, como é que temos conseguimos retê-los, mesmo além-fronteiras? Acreditamos que um cliente selecionará o parceiro em quem mais confiar. Por isso, um dos nossos maiores desafios tem sido estar permanentemente alinhados com as novas necessidades dos clientes, atentos às tendências tecnológicas, com uma atitude profissional na procura de soluções e postura informal na relação.
Em termos internacionais, existem países onde temos 100 clientes, noutros 40, noutros apenas um, e é curioso observar que as fronteiras físicas são mesmo fictícias. Independentemente da sua origem, da cultura, o ciclo de retenção de um cliente passa pela excelência em cada interação. Chegar a tantas geografias foi um caminho bastante árduo, tendo sido determinante o estabelecimento de alianças estratégicas. O início do processo de evangelização da SYSDEV beneficiou muito das sinergias criadas com a Zebra, Datalogic, Citizen, CipherLab, ACD Elektronik, Intermec, Casio, Honeywell; de um compromisso forte de cooperação e de participação em eventos internacionais.
O mundo é cada vez mais global e, quer queiramos quer não, às vezes temos de nos sacrificar e de sair da nossa zona de conforto. Houve alturas em que saíamos de um evento na Alemanha para participarmos noutro, noutra geografia completamente distinta, sem passar por casa, sem ir à empresa! Como alguém disse num evento onde fui há muito tempo, “os aviões de hoje são os autocarros de ontem”. E, sejamos pragmáticos, também a Internet veio encurtar distâncias, permitindo ter um contacto com o cliente muito mais rápido e próximo.
Sendo uma empresa com ADN internacional, tornou-se obrigatório o domínio de três idiomas: português, espanhol e inglês. Comunicar bem é fundamental na criação de empatia com o cliente. Este é um ponto fundamental no processo de criação e fidelização de clientes.
O Kalipso: um software único
Hoje, debaixo da marca existem dois produtos: o Kalipso (Mobile Application Generator) e o MSS (Mobile Sales System). O primeiro é uma plataforma empresarial de Desenvolvimento Rápido de Aplicações (RAD) de mobilidade empresarial, que se torna um produto único ao disponibilizar acesso a tecnologias emergentes. Na prática, permite a qualquer pessoa com conhecimentos básicos de informática a criação rápida de aplicações móveis à medida de cada negócio, num esquema simples de “drag & drop”.
Os nossos clientes utilizam a plataforma para desenvolver aplicações para áreas comerciais, controlo de produção, controlo de qualidade, controlo de serviços técnicos, ‘business intelligence’, inventário, separação de encomendas, registo de entregas, leitura de códigos de barras, impressão de etiquetas, entre outros.
A crescente necessidade de soluções de mobilidade empresarial tem sido um desafio colossal para a generalidade das empresas. Defendemos a democratização do desenvolvimento de aplicações móveis multiplataforma e que esta deve estar ao serviço das empresas. As empresas podem desenhar um produto à sua medida de forma simples, rápida, integrada com os seus “backoffices”, com um “time to market” curto e com custos reduzidos.
O MSS, por sua vez, é um “software” de mobilidade para pré-venda, auto venda, distribuição e serviços técnicos, desenvolvido para terminais móveis (ex. Tablet e PDA), que disponibiliza às equipas de vendas e de técnicas todas as ferramentas necessárias para executarem o trabalho na perfeição, aumentando a produtividade e eficácia. Sendo as vendas uma tarefa cada vez mais sofisticada e exigente, o MSS tornou-se o aliado perfeito na conquista, desenvolvimento e fidelização de clientes.
Mais de 200 parceiros em Lisboa
Em abril deste ano fizemos o nosso primeiro evento internacional Kalipso, em Lisboa. Este evento foi focalizado na nova versão do “software”, fruto de dois anos de trabalho, que inclui um conjunto de novas tecnologias devidamente integradas e de simples utilização pelos nossos parceiros. Web services, push notifications, RFID, Near Field Communications, JSON (javascript), Internet of Things, M2M (machine to machine), são entre outras algumas das tecnologias disponibilizadas. Foi um sucesso. Tivemos de fechar as inscrições por não termos espaço disponível para todos os que se quiseram inscrever. Fazer deslocar parceiros de locais como Arábia Saudita ou Egipto demonstra bem a aceitação deste produto.
Seria, sem dúvida, mais confortável organizar um evento de dimensão nacional. Os convites não precisariam de ser enviados com tanta antecedência, as questões logísticas seriam facilitadas, haveria uma maior facilidade em mudar a data do lançamento. Sucede que não gostamos de desperdiçar oportunidades. Acreditamos que são uma excelente forma de aprendizagem; incluindo aquelas que não correm tão bem. Aliás, a célebre expressão de Nelson Mandela – “Nós nunca perdemos, só ganhamos ou aprendemos” – traduz bem a nossa postura de mercado.
O resultado? Conseguimos motivar 200 profissionais de 12 países a estarem presentes. Com este evento, aprendemos que o nosso sentido de compromisso com os clientes é não só percecionado por estes, como recíproco. A cultura de serviço ganhou ainda mais peso. A vontade de os surpreender subiu de patamar.
Em jeito de balanço, posso dizer que o conhecimento adquirido ao trabalharmos com tantos países e profissionais de diferentes nacionalidades, ao sermos parceiros tecnológicos de gigantes na área onde nos inserimos, leva-me a constatar que em Portugal existe um “know-how” e uma transversalidade de conhecimento brutal, que não é fácil de encontrar. Observo isso nas pessoas que fazem parte da nossa equipa. Identifico também essa postura nas empresas portuguesas que trabalham connosco. Temos um capital humano excelente em Portugal e não devemos ter medo de sair. No fundo, tudo se resume a pessoas a falar com pessoas, é só isso.