Estamos preparados para ter “lineares” de produtos financeiros?
A capacidade de adaptar o seu negócio às exigências dos novos hábitos de consumo é um ponto fundamental de diferenciação (e muitas vezes de sobrevivência) das grandes empresas. O retalho não foge à regra, sendo que a grande questão que aqui se coloca é só: onde se “esconde” o próximo desafio? Será na banca? E estará o retalho preparado para invadir o setor financeiro expandindo a sua área de atuação? Os exemplos internacionais dizem que sim… Mas terão os retalhistas portugueses a mesma audácia?
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Análise do ComparaJá.pt
A capacidade de adaptar o seu negócio às exigências dos novos hábitos de consumo é um ponto fundamental de diferenciação (e muitas vezes de sobrevivência) das grandes empresas. O retalho não foge à regra, sendo que a grande questão que aqui se coloca é só: onde se “esconde” o próximo desafio? Será na banca? E estará o retalho preparado para invadir o setor financeiro expandindo a sua área de atuação? Os exemplos internacionais dizem que sim… Mas terão os retalhistas portugueses a mesma audácia?
Em Portugal viu-se recentemente uma empresa de correios a entrar no negócio bancário. O Banco CTT abriu com uma grande vantagem competitiva em relação à concorrência: já dispõe de uma grande infraestrutura em termos de balcões que podem perfeitamente ser adaptados para serviços bancários, além da elevada notoriedade que tem por ser uma marca centenária.
Mas a questão coloca-se: se uma companhia de correios abre um banco, poderão empresas de retalho entrar no negócio? Teremos supermercados ou mercearias a prestar este tipo de serviços?
A plataforma gratuita de simulação de produtos financeiros ComparaJá.pt faz uma análise à realidade de alguns países apontando o que poderá ser o futuro em Portugal.
Ir jogar na lotaria e aproveitar para pagar as contas
Não é preciso mudar de língua para encontrar um país com serviços bancários em locais alternativos. No Brasil existe a figura do “correspondente bancário” que, não sendo um banco, oferece serviços financeiros. As “lotéricas”, que servem para fazer apostas, têm ainda outra função. Oferecem uma vasta gama de serviços.
Quer deseje abrir uma conta de depósito, fazer uma transferência, proceder a pagamentos das contas do mês, adquirir um cartão de crédito ou mesmo efetuar câmbios com moedas estrangeiras, tudo isto pode ser feito através de um destes estabelecimentos. Normalmente, a respetiva “lotérica” tem um acordo com determinado banco e facilita pagamentos e transferências entre empresas ou particulares que também têm acordos com o banco em questão.
Este sistema brasileiro surgiu para fazer chegar a banca a regiões mais empobrecidas e com pouca penetração deste tipo de serviços. A verdade é que tem sido um sucesso. E Portugal, que tem perante si um desafio de desertificação do interior, poderia utilizar este sistema para levar mais serviços às regiões isoladas. Porque não o típico “Café Central” que toda a aldeia tem a oferecer serviços bancários?
Ir ao supermercado e conseguir um empréstimo no mesmo dia
Haverá poucas empresas melhor posicionadas para entrar no mercado dos produtos bancários menos complexos do que as grandes superfícies de supermercados. Afinal, a verdade é que possuem uma grande base de clientes e a infraestrutura necessária para alargar as operações.
E isto não é algo em que os bancos e os supermercados no Reino Unido e no México não tenham pensado. No Reino Unido, já há bancos a investir em agências dentro de supermercados e, claro, também há supermercados a investir no negócio bancário. Por exemplo, o Barclays anunciou recentemente que iria abrir uma série de dependências estrategicamente colocadas em vários supermercados da cadeia Asda.
As cadeias de supermercados também responderam e procuraram investir em serviços bancários que, tradicionalmente, pertenciam à banca. No México é possível ir ao supermercado e realizar uma série de operações: pagamentos de cartões de crédito, depósitos bancários, cobrança de cheques, pagamentos de serviços, entre outros. Grandes ‘players’ do retalho já entraram no negócio e começam a concorrer entre si na prestação deste serviço. São exemplos a cadeia de lojas de conveniência Oxxo, a operadora de lojas de franquia 7-Eleven, o grupo de supermercados Soriana e a cadeia multinacional Walmart.
Voltando ao Reino Unido, o grande ‘player’ do retalho que aqui se destaca é a Tesco. Em 2014, este gigante do retalho lançou uma conta-corrente com o intuito de concorrer diretamente com os grandes bancos. A Tesco tem mesmo um banco próprio, o Tesco Bank, que nasceu de uma “joint-venture” entre a empresa e o Royal Bank of Scotland.
Lojas de conveniência japonesas funcionam como mini-bancos
No Japão também as lojas de conveniência começaram a penetrar nalgumas áreas de negócio tradicionalmente associadas aos bancos. Precisa de pagar a mensalidade do telemóvel? Pode usar uma loja de conveniência. Quer tratar da conta do gás? Há uma loja de conveniência à sua disposição. Está atrasado para pagar o IMI? Corra já para a loja de conveniência mais perto.
E não é só este tipo de contas que pode pagar nas lojas de conveniência japonesas. Nestes estabelecimentos podem comprar bilhetes de avião, bilhetes para concertos e proceder a outro tipo de pagamentos online. Além disto tudo, pode ainda pagar aqui as prestações dos seus empréstimos.
Fica a questão: de que forma é que o alargamento dos serviços bancários às lojas de conveniência ajuda os empresários japoneses que estão neste negócio? Podem identificar-se três fatores: em primeiro lugar as transações geram comissões para os retalhistas, em segundo lugar aumentam o número de clientes a procurar os serviços da loja e, por fim, incentiva a fidelização do cliente através da disposição de novos serviços.
Uma ‘app’ para aproximar a banca e as mercearias
Num mundo permeado pelas novas tecnologias em que os tablets e os smartphones são cada vez mais reis e senhores, é natural que surjam ‘apps’ para dar resposta às exigências dos novos serviços bancários no retalho. Exemplo disso é a aplicação lançada pela Number26. Este software permite aos utilizadores fazerem depósitos e levantamentos nas mais de 3.000 mercearias existentes na Alemanha.
Para aceder ao serviço basta aos clientes acederem à ‘app’, estarem numa zona de ‘checkout’ e inserirem o montante a ser depositado ou levantado. Depois basta ‘scannizar’ um código de barras, inserir o PIN e entregar o depósito. Este aparece imediatamente nas suas contas. Desta forma, o número de locais para proceder a este tipo de operações multiplica-se instantaneamente.
E em Portugal como ficamos?
Face às transformações existentes um pouco por todo o mundo, como respondem os grandes retalhistas em Portugal? Podemos dizer que a mudança é lenta mas existe. Repare-se que muitos dos grandes operadores do retalho já oferecem produtos financeiros próprios, nomeadamente cartões de crédito. A Sonae até tem uma empresa subsidiária própria só direcionada a esta área de negócios (a Sonae Financial Services). Aliás, a própria Sonae tem um cartão de crédito (Cartão Universo) que já faz ligação com todo o mundo do retalho (oferece descontos no Continente e numa série de lojas associadas).
Contudo, ainda há bastante espaço para evolução. Os retalhistas portugueses, fazendo face aos exemplos que veem de fora, poderão ter que começar a oferecer outro tipo de serviços aos seus clientes. Se isso será através da criação de novos bancos (como foi o caso do Banco CTT), com parcerias com instituições já existentes ou através de serviços integrados nas infraestruturas já existentes, ainda não se pode precisar.
Para já há questões que devem começar a interessar aos retalhistas: este tipo de serviços permitirá atrair mais clientes? São novas fontes de receitas? A empresa tem a infraestrutura e o ‘know-how’ necessários para entrar nesta nova área de negócio? Só o futuro o dirá.