Especial Vinhos. Atrair a geração que “não bebe vinho”
Um dos principais desafios para o setor dos vinhos portugueses passa pela penetração do produto entre os seus futuros consumidores – os ‘millenials’. O grupo que representa a faixa etária que vai dos 18 aos 30 anos prefere consumir outro tipo de bebidas como “cerveja e bebidas brancas”
Ana Catarina Monteiro
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Habituadas a um estilo de público “conservador”, as marcas de vinhos necessitam agora de revolucionar a forma como comunicam no mercado, apostando na imagem como ferramenta essencial para a atração dos jovens.
Além disso, o canal Horeca pode ser um bom aliado na hora de mostrar aos consumidores do milénio como apreciar um copo de vinho, sendo que as produções “biológicas” podem ser a grande tendência para atrair a geração de comanda o consumo no futuro.
“Sabemos que os ‘millenials’ não têm hábitos de consumo de vinho. No entanto, vê-se alguma inversão, embora ténue, nestes hábitos de consumo, especialmente no grupo dos 25 aos 30 anos. Penso que a crescente adesão ao vinho a copo em bares e restaurantes trouxe essa possibilidade”, explica em entrevista ao HIPERSUPER Alexandre Gomes, CEO (chief executive officer) da A&D Wines. “Este está a ser um grande desafio – criar a possibilidade destes ‘millenials’ consumirem vinhos nos seus ambientes de consumo normais. Estamos conscientes de que aí estão os nossos consumidores futuros”.
A empresa que no último ano alargou a sua área de produção para as três propriedades na sub-região de Baião, com a aquisição da Quinta de Santa Teresa (33 hectares), está em processo de “Certificação Biológica”, enquanto uma das estratégias para tentar chegar à nova geração de consumidores. “Depois vem toda a estratégia de comunicar com o público. A preocupação da A&D Wines com a imagem e com a comunicação, online e offline, transmite já essa aproximação aos ‘millenials’”, admite o responsável.
Desafios e oportunidades
A Adega Cooperativa de Monção, por sua vez, vê “desafios e oportunidades”, de acordo com o presidente da direção, Armando Fontainhas. “A nova geração está muito ligada à imagem e comunicação, tanto nacional como internacional. Cabe à empresa adaptar de forma suave, produtos já com bastantes anos de presença no mercado, a uma nova imagem, bem como apostar numa comunicação descomplicada e direta. Esta geração é uma excelente oportunidade para alargar o nosso portefólio de vinhos bem como repensar os atuais”.
A Adega viu as suas vendas cresceram “a dois dígitos” no último ano, sendo o seu vinho verde Muralhas “líder de mercado”, a nível nacional. Em 2015, realizou a “segunda maior colheita da sua história” e este ano “vai investir fortemente em rotulagem e imagem para acompanhar a elevada relação preço-qualidade dos vinhos, que já é por todos reconhecida no mercado”, explica o presidente.
A “agressividade da atividade promocional levou a que o consumidor seja atraído por ofertas além da redução de preço” e a “relação qualidade-preço” é para o responsável tendência para este ano. “Com um consumidor cada vez mais educado, a tendência será do consumidor procurar os vinhos com maior valor acrescentado e que lhe ofereçam a melhor relação qualidade preço. Julgo que em 2016 se irá observar um aumento no consumo de produtos de qualidade elevada, bem como uma maior dispersão sobre as regiões vinícolas mais consumidas. Com regiões menos conhecidas do que os vinhos Verdes, Douro ou o Alentejo a apresentarem produtos de elevada qualidade e a apostarem em comunicação direta ao consumidor final, julgo que será observado um fenómeno de “descentralização”.
Nascida em 2010, a produtora da região de vinhos de Lisboa Adega Mãe identifica-se com os consumidores do milénio. “Com grande satisfação, percebemos que os nossos vinhos, vinhos originais, mas sempre muito frescos e gastronómicos, são geralmente muito bem recebidos por parte dos consumidores mais jovens”, revela o diretor geral Bernardo Alves, apontando a importância da restauração. “Em 2015 vendemos no canal Horeca de Lisboa o dobro das garrafas quem vendemos em 2014. Estamos também inseridos na chamada Região de Vinhos de Lisboa, mas onde a própria Lisboa, nomeadamente a sua restauração, só agora começa a valorizar os seus bons vinhos e introduzi-los nas cartas. Mas temos muito trabalho pela frente”.
Autenticidade mas não antiguidade!
A Parras Vinhos tem também apostado na restauração para chegar aos consumidores jovens. “Na Quinta do Gradil, por exemplo, propriedade na Região de Lisboa, temos realizado várias ações dirigidas a este target. Com o surgimento do restaurante e um leque variado de atividades de Enoturismo, temos conseguido proporcionar experiências dirigidas ao público mais jovem. Além destas ligações, pontualmente também fazemos provas vínicas em restaurantes normalmente frequentados por jovens”, dá conta Miguel Mendes, diretor geral da produtora.
Os “millenials” são também um desafio para a Quinta da Lixa mas a “experiência diz que, posteriormente, tendem a alterar o consumo para vinhos e usualmente o vinho Verde atinge os públicos mais jovens mais facilmente”, sublinha Diogo Vieira, do departamento de Sales & Marketing da quinta que produz o vinho Alvarinho “mais vendido nos Estados Unidos – o Pouco Comum”.
“Os novos consumidores querem autenticidade mas rejeitam a antiguidade”, comenta Miguel Centeno, Marketing Operations Manager da produtora e distribuidora José Maria Viera, dona de marcas de várias regiões vitivinícolas do País, como os vinhos Borges, que no último ano lançaram os primeiros vinhos do Porto. “O rebranding que a Borges introduziu em marcas como o Lello, o Fita Azul ou a sua gama de vinhos de Quinta visam precisamente marcar positivamente os novos apreciadores e superar as suas expectativas particulares. Os novos consumidores querem autenticidade mas rejeitam a antiguidade. Além disto, a presença das marcas no mundo dos jovens é fundamental para conseguirmos atingir estes objetivos. A Borges criou páginas nas principais redes sociais, criou uma ‘app’ especifica dos vinhos e tem comunicado muito através dos meios digitais”.
O responsável explica ainda que em 2015, “as condições meteorológicas foram favoráveis dando a possibilidade de produzir vinhos bem equilibrados e de elevada qualidade. Na Região do Dão, apesar do receio de que os níveis de maturação pudessem ser afetados devido à falta de chuva, a ocorrência de precipitação no início de setembro veio garantir uma boa maturação do vinho. Na Região do Douro, o ano vitícola caracterizou-se por ser um ano atípico em termos climáticos. O inverno foi frio e seco, a primavera e o verão foram anormalmente quentes e secos. Foi um ano bom”.