“Estamos a desenvolver o embrião de uma feira que tem pés para andar sozinho”
No dia em que fecham as portas da 13ª edição da Alimentaria&Horexpo Lisboa, publicamos a entrevista a Fátima Vila Maior e Paulo Rodrigues, da Feira Internacional de Lisboa, capa da edição de novembro do Hipersuper
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Fátima Vila Maior (F.V.M), diretora de área de feiras da Feira Internacional de Lisboa (FIL)
Paulo Rodrigues (P.R.), gestor da Alimentaria&Horexpo Lisboa
No dia em que fecham as portas da 13ª edição da Alimentaria&Horexpo Lisboa, publicamos a entrevista a Fátima Vila Maior e Paulo Rodrigues, da Feira Internacional de Lisboa, capa da edição de novembro do Hipersuper
Quais as grandes novidades da 13ª edição da Alimentaria & Horexpo Lisboa face à última edição?
F.V.M.: Costumamos dizer que as novidades são as empresas que as aportam mas enquanto estratégia da feira este ano vamos desenvolver uma área que se chama Alimentaria Experience, a grande novidade deste ano. Além de empresas portuguesas, conta também com participações oficiais e empresas de vários países.
Acreditamos estar a desenvolver o embrião de uma feira que tem pés para andar sozinho. Durante os últimos anos, a feira sofreu uma grande pressão por parte do público em geral na curiosidade pelo lançamento de novos produtos a até da possibilidade de degustar alguns. E, nesse sentido, desenvolvemos a Alimentaria Experience dando continuidade às expectativas dos profissionais e respondendo ao novo tipo de relacionamento que as empresas de grande consumo têm com os consumidores finais. Antes vinham cá para vender os seus produtos ao comprador profissional, das grandes superfícies e do retalho tradicional. Hoje, grande parte das marcas portuguesas e internacionais estão muito apostadas em aumentar a sua relação com o consumidor final. É por isso que todas têm site, fóruns, páginas nas redes sociais. Quando abrimos uma página online de um produto de grande consumo, vemos uma relação com o consumidor que é muito mais do que ter um catálogo. As pessoas têm que experienciar, aliás grande parte das grandes superfícies também têm zonas de degustação e lançamento de produtos, entre outros.
Esse é, então, o pavilhão que abre ao público em geral?
P.R.: Sim, é. As grandes empresas podem aqui demostrar os seus produtos mas numa ótica de promoção de workshops e outras iniciativas lúdicas. Uma vez aberto ao público, este espaço vai permitir o contato com os profissionais, num ambiente mais descontraído que possibilita experiências diferentes. São espaços diferentes dos stands e permitem outras valências.
F.V.M.: A Alimentaria Experience acaba por ter um posicionamento diferente da feira tradicional. É quase uma experiência para o visitante num formato que até hoje ainda não houve outra iniciativa a fazer. Existem iniciativas pontuais, como o Peixe em Lisboa, o Mercado dos Sabores Continente ou a Essência de Vinho, por exemplo, agora de uma forma alavancada é a primeira vez que se faz. Aqui as grandes marcas são a referência.
E abarca todo o setor agroalimentar?
P.R.: O nosso objetivo é que abarque todo o setor agroalimentar e, por isso, faz sentido ter a experimentação para promover e incentivar o consumo de produtos portugueses.
Estamos a falar de produtos nacionais e internacionais?
F.V.M.: Sim. Não é o Portugal Agro, que se realiza no mesmo espaço e promove os produtos da terra de norte a sul do País.
Qual vai ser a dimensão da Alimentaria Experience?
F.V.M.: Prevemos que tenha entre os 2.000 e 3.000 metros quadrados. E que seja a maior mostra neste género de feira multi-setorial, ligado a várias marcas. Não tem um patrocinador nem é dedicado a um só setor. A meta não é dar visibilidade às marcas parceiras mas a todas as que quiserem. É, no fundo, mais um espaço que a Alimentaria dá às marcas para se promoverem junto do consumidor final.
P.R.: Além de áreas de degustação, vamos ter zonas de estar onde as famílias podem fazer uma refeição. O importante não é só criar um espaço de degustação mas de experiências, como o próprio nome indica. E é um espaço lúdico, que promove a interação com os produtos.
Qualquer marca pode participar, não tem de ser expositor.
F.V.M.: Tem naturalmente de pagar para participar. Os expositores têm alguma vantagem financeira mas o espaço é aberto a qualquer marca de grande consumo, independentemente de participarem na Alimentaria. São investimentos reduzidos.
Então vai haver venda ao público?
F.V.M.: Sim, só na Alimentaria Experience e para consumir no local.
Qual é o lema desta edição? Na edição de 2013 era “Novos Compradores, Novos Mercados, Novas Oportunidades”.
F.V.M.: O lema mantém-se. Aumentar as exportações é quase um desígnio nacional. Por isso, fizemos este ano uma parceria com a Portugal Foods, além da FIPA e da Fundação AIP, no sentido de trabalhar em conjunto para este objetivo.
Queremos que as nossas empresas ganhem e exportem mais. A exportação tem sido e vai continuar a ser, não só pela dinâmica e resiliência dos nossos empresários mas também pela genuinidade dos nossos produtos, o caminho a seguir.
Ao longo dos últimos anos, fomos bombardeados com uma série de procedimentos e burocracias, ligadas à higiene e segurança alimentar, e hoje é um facto que as empresas portuguesas são conhecidas no mundo pelas excelentes práticas, morreram muitas pelo caminho mas as que ficaram são imaculadas. E isso hoje vale nos mercados TOP. Quem vende em Nova Iorque ou em Tóquio vende para o mundo inteiro. Estamos a agilizar a vinda de alguns compradores internacionais, a partir da nossa base de dados que tem 14 mil compradores internacionais.
Investiram 100 mil euros no programa de compradores internacionais.
F.V.M.: Sim, vamos trazer entre 80 a 100 compradores convidados, além dos 1500 a 2000 que estamos à espera que venham, como é tradição.
Muitas vezes, as empresas investem em feiras, sobretudo nos países não tradicionais, e basicamente trazem um contato. Por outro lado, ninguém vai participar numa feira no Japão para ter quatro clientes. Tem de ter um representante que distribua os seus produtos. O investimento feito para ir a um mercado é muito grande e o resultado é encontrar uma pessoa. Portanto, o nosso desafio é um pouco ao contrário. Do Japão vamos trazer cinco ou seis pessoas, que possam estar interessadas em serem representantes das empresas portuguesas. Importadores, distribuidores e grande distribuição incluídos.
É muito complicado para uma empresa portuguesa estar a exportar a partir daqui para 10 ou 20 clientes no Japão. Ou abre lá uma delegação, no caso de ser uma empresa grande, ou, se for pequena, tem de ter um importador. Às vezes, as empresas portuguesas nas feiras internacionais, em lugar de participarem no espaço que representa Portugal, preferem participar no stand do importador por que é quem lhe dá a logística de aproximação ao mercado.
Isto para explicar que neste despiste de novos mercados, achamos que a nossa função não é trazer os compradores que as empresas já conhecem e que virão naquele bolo dos dois mil. Temos uma plataforma online de agendamento de reuniões, uma mais-valia que começou no ano passado e este ano ambicionamos que seja ainda mais eficaz, que permite às empresas prepararem-se melhor porque já sabem com quem vão reunir.
Este programa desenvolve-se através de reuniões?
F.V.M.: Sim, reuniões com as empresas que vêm ao abrigo desse programa. Conseguimos monitorizar o que fazem em Portugal por que há um conjunto de requisitos que têm de seguir, como preparar as reuniões e ter um mínimo de seis, por exemplo. Queremos cada vez mais profissionalizar esta vertente da feira. Não basta ter cá compradores estrangeiros, é importante que exista negócio. A vantagem da feira é ter oportunidade de acesso a compradores de vários países.
Portanto, o lema é precisamente trazer novos compradores de mercados tradicionais e despistar novas geografias.
O que é exatamente o Clube Portugal Exportador?
F.V.M.: É uma linha de desenvolvimento da feira, onde convidamos estes compradores internacionais, faz parte deste programa, onde fazemos degustação de produtos portugueses, esses compradores têm um vaucher que dá acesso ao clube.
Acaba por ser uma zona física privada?
F.V.M.: Sim, embora seja uma atividade que não é confinada exclusivamente à feira. Tem uma atividade mais anual, não termina com a Alimentaria.
Quais os mercados sem tradição de virem cá que vão fazer parte do programa?
F.V.M.: Do Japão vamos trazer sete compradores mas também convidámos profissionais dos Emirados Árabes Unidos, da África do Sul, da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e dos EUA. Embora o Brasil e Angola sejam dois mercados prioritários. A Alimentaria sempre foi vista como uma porta de entrada para o Brasil, temos inclusive uma parceria com a associação brasileira das empresas de distribuição. Continuamos a acreditar que existe neste mercado para os produtos nacionais de valor acrescentado. Talvez, não nos canais discount ou nas grandes superfícies mas sim nas lojas gourmet e especializadas.
Há este ano um país convidado?
P.R.: Não. Achámos que a haver um país convidado esse país seria Portugal. Entrava um pouco em contradição convidar um país e depois dar ênfase àquilo que realmente queremos, a qualidade dos nossos produtos.
F.V.M.: Não somos um evento de empresas portuguesas para empresas portuguesas mas sim de empresas internacionais para compradores internacionais. As participações oficiais dos países estrangeiros representam 30% da oferta, o que para nós é um garante que o mercado funciona e que a feira é um excelente instrumento para exportação de produtos para Portugal e outros países.
Uma das grandes novidades é a data na qual se realiza. Costumava ter lugar na Primavera e vai agora acontecer em Novembro de forma a seguir calendário internacional de feiras deste setor. Assim, a concorrência para angariar expositores e mesmo visitantes não se torna mais difícil e aguerrida?
F.V.M.: Sim, com certeza. Mas foi um pedido dos nossos clientes para acompanhar o calendário de feiras internacionais. Claro que cada vez que há uma alteração de ciclo é difícil comunicar mas pensamos que é uma boa data, aliás há uns anos já foi nesta data.
A primeira edição, penso.
F.V.M.: Exato. Vamos ver. Estamos convencidos que a feira vai ter ótimos resultados. Há um conjunto de coincidências boas da nossa economia e hoje a perceção das pessoas é mais positiva, o que é bom para o consumo. Mas só no final da feira é que podemos fazer contas e perceber se foi uma boa aposta. Vamos fazer essa reflexão com os nossos clientes e as associações do setor.
P.R.: Como feira transversal que é, não estamos apenas a falar de produtos alimentares mas também equipamentos e tecnologia. E é nesta altura que são feitas as apresentações a nível internacional de equipamentos e quando os íamos receber cá em abril já tinham passado alguns meses. Há aqui a oportunidade de empresas que estão a ver algumas dessas novidades nas feiras internacionais de poderem dentro de pouco tempo mostrá-las aqui aos seus clientes em Portugal. Esta proximidade também permite ter mais novidades.
Qual a área global da feira? Quantos pavilhões da FIL vai ocupar?
F.V.M.: A nossa expectativa é de utilizar os quatro pavilhões. Cerca de 40 mil metros quadrados.
Qual o número de expositores previstos?
F.V.M.: Tem andado na ordem dos 800 expositores na Alimentaria, com o Portugal Agro vão ser mais. Um total de 30% dos expositores da Alimentaria no multiproduto são estrangeiros. Espanha, Itália, França, Luxemburgo, Bélgica, Polónia e Peru vão ter participações agrupadas, depois temos muitos países com participação indireta, através dos importadores.
Mesmo com a crise, Espanha é quem nos mantém vivos, é o principal importador de produtos portugueses.
A mesma pergunta para os visitantes.
P.R.: Ao longo dos anos, a nossa tendência foi tentar baixar o número de visitantes. Não interessa a quantidade mas sim a qualidade. Porque o expositor não tem tempo para atender todas as pessoas. Fazemos este filtro em conjunto com os nossos parceiros. Por outro lado, temos uma base de dados onde é feito um pré-registo.
Na apresentação oficial do certame, a ministra da Agricultura disse que “levar os potenciais compradores internacionais que participam na Alimentaria&Horexpo Lisboa a conhecerem as produções e fábricas ‘in loco’, é um bom ponto de partida para “trabalhar em conjunto como país”. Planeiam fazer alguma atividade deste tipo?
Sim, pensámos. Mas o investimento é elevado, há algumas empresas dispostas e algumas irão fazê-lo individualmente. Caminhamos nesse sentido embora esse trabalho não se faça numa edição.