ESPECIAL. Aumenta consumo de cerveja sem álcool e artesanal
O mercado nacional cervejeiro derrapou 4,3% no ano passado, segundo dados da Nielsen. O resultado no canal alimentar reflecte um “mau Verão” para as marcas de bebidas.
Ana Catarina Monteiro
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“Há mais de 20 micro cervejeiras a produzirem em Portugal, que têm trazido variedade e sofisticação ao sector”, explicou João Abecasis, Presidente da APCV (Associação Portuguesa dos Produtores de Cerveja), por ocasião da conferência anual de apresentação dos resultados da associação que representa 100% do sector. “A queda de consumo tem sido contínua desde 2006”, mas em 2014, deu-se o “aparecimento de novas propostas de produtos e soluções de extracção”, que fizeram com que o canal Horeca – hotéis, restaurantes e cafés – recuperasse “pela primeira vez, em muitos anos”. A quota de comercialização de cerveja naquele canal subiu 1,3% face a 2013, passando a valer 64% do mercado, devido também ao “crescimento do turismo, sobretudo na faixa costeira portuguesa”.
Apesar da temperatura ter atraído turistas ao nosso País, os portugueses não se mostraram muito satisfeitos com o Verão do último ano. O consumo total de cerveja no mercado interno recuou 3,5% para os 4937 milhares de hectolitros. Dependente do mercado doméstico, o canal alimentar sofreu um decréscimo de 9% em vendas, situando-se nos 240,9 milhões de euros, em Portugal.
A produção, por outro lado, aumentou 0,7% para os 7290 milhares de hectolitros, em comparação com 2013. No último ano, o número de fábricas cervejeiras situava-se nas cinco unidades fabris, tendo a unidade de Santarém deixado de operar em 2013.
Há uma categoria, no entanto, a crescer. A produção de cervejas sem álcool subiu 8,6%, no último ano, acompanhando o aumento da procura que se fez sentir. O consumo da categoria cresceu 7,2% face a 2013.
Artesanal é a grande tendência
“Tem-se acentuado o gosto por produtos mais leves e frescos, alguns com menor teor alcoólico”, considera Maria Estarreja, Directora de Activação e Gestão de Marcas de Cervejas da Unicer. A dona da Super Bock e da Carlsberg conquistou uma quota de 50,1% no total de mercado de cervejas nacional em 2014, graças às “inovações para o canal Horeca” como a “Super Bock Stout em barril 10 litros ou a Best Beer Experience do mercado da Ribeira”.
“A procura de estilos de vida saudáveis é uma tendência pelo que o crescimento, ainda muito tímido, do consumo de cervejas sem álcool é uma boa notícia”. A Directora considera que nos próximos tempos, “o consumidor irá privilegiar as cervejas do segmento ‘mainstream’”, as variedades originais. No entanto “cada vez existem mais consumidores experimentalistas, que não apreciam tanto o sabor da cerveja pelo que o segmento das ‘beer mixers’, com o exemplo da Super Bock Green, irá continuar a apresentar-se como uma oferta complementar para atrair novos consumidores”.
As cinco cervejas artesanais da colecção Super Bock Selecção 1927, lançadas no último ano, “superaram todas as espectativas em vendas”, motivo pelo qual a responsável acredita que as cervejas artesanais continuarão a ser uma tendência. “Os consumidores começam a valorizar cada vez mais o consumo desta bebida à mesa, escolhendo cervejas diferentes que harmonizam bem com determinado tipo de prato, seja carne, peixe, ou mesmo sobremesa”, explica.
Francisco Sanches-Osório, Director-Geral da Welcome Moment, empresa responsável pela distribuição da cerveja angolana Cuca em Portugal, corrobora: a cerveja tradicional é a “grande tendência”.
“Toda esta área vai crescer. Vão aparecer novos produtos de grande qualidade. De forma a acompanhar o crescimento, vamos assistir à abertura de novos espaços que conjugam a produção com a venda de cerveja”. Francisco considera que a queda “nas vendas é multifactorial”, relacionada com “condições de temperatura não favoráveis em 2014”, as dificuldades económicas sentidas que levam os consumidores a “optarem por fazer mais refeições em casa” e, também, pela “maior dinâmica dos vinhos portugueses e de novas áreas como o gin e vodka”.
Admitindo que o consumidor “procura elementos de diferenciação” entre as marcas, actualmente, o responsável considera que de uma forma geral “a confiança do consumidor mantém-se ligada às duas principais marcas” que dominam o mercado nacional, em todas as variedades. “Portugal ainda não tem uma cultura de exigência ligada à cerveja como tem para o vinho. Nesse sentido irá privilegiar as que têm mais história que não são forçosamente as melhores”.
Maria Estarreja também considera que “o consumidor português é, por tradição, muito experimentalista, mas continua a privilegiar as cervejas que já têm uma longa e consistente actividade cervejeira. A cerveja é uma categoria que continua a merecer a confiança do consumidor”.
Exportações contrariam decréscimo
Se o negócio internamente não corre de feição, além-fronteiras o sector cervejeiro nacional cresceu 4,6% para os 2624 mil hectolitros.
A Sociedade Central de Cervejas e Bebidas, dona das cervejas Sagres e Heineken, registou em 2014 um comportamento em volume “idêntico ao do ano passado”, segundo dados da empresa. A entrada em dois mercados, nomeadamente África e Médio Oriente, compensou uma quebra de volume de um dígito. As exportações representaram em 2014 cerca de 20% do volume global de vendas de cerveja. A cerveja Heineken, em particular, teve “um comportamento bastante positivo, crescendo em volume cerca de 20% face a 2013”.
As exportações da Unicer, em 2014, por sua vez, registara “um crescimento de duplo dígito”. Os crescimentos percentuais “mais significativos vêm de mercados como a Arábia Saudita, Brasil, Moçambique e alguns países europeus”. A empresa vendeu mais de “600 milhões de litros de bebidas, sobretudo cerveja Super Bock”, tendo exportado um terço do volume de vendas, para os mais de 50 países onde opera. “O nosso crescimento no exterior tem uma expressão mais significativa nos mercados emergentes, nos quais “o crescimento em volume foi de 20%, mais de 60 milhões de litros”.
Para o Verão que se aproxima, a responsável deseja que “os portugueses comecem a conviver mais e a procurar experiências cervejeiras enriquecedoras”, para manter a saúde financeira do sector.
Relações entre Angola e Portugal
A decisão do Governo angolano de decretar uma quota máxima de importação de cerveja, traz algumas consequências para os cervejeiros nacionais. O Presidente da APCV aponta a possibilidade de “novas geografias em África, Europa e América do Sul”, como “caminho para compensar as quebras previstas em Angola”.
Em direcção oposta, a cerveja angolana Cuca, cujas exportações se destinam aos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), em particular para Angola, “cresce em pontos de venda” em território luso. A marca está “a estudar diferentes opções com outras referências existentes em Angola”, revela o Director-Geral, que considera as exportações, nomeadamente para África, são “significativas” para as empresas portuguesas.
A marca angolana “cresceu significativamente no canal horeca” em 2014. “Expandimos a nossa actividade comercial de forma a estarmos mais próximos da comunidade angolana em Portugal apoiando as suas iniciativas”. Em 2015, a empresa garante “continuar a abrir mais pontos de vendas para a cerveja Cuca Mini”.
União entre produtores
A Associação Portuguesa dos Produtores de Cerveja informou a 12 de Fevereiro que pretende avançar com uma queixa junto da Comissão Europeia sobre a discriminação fiscal da cerveja em relação ao vinho.
Questionada sobre a situação, Maria Estarreja disse que “não deveria existir discriminação fiscal entre estes dois sectores, até porque não se percebe a que se deve este tratamento desigual, quando ambos são extremamente significativos para a economia nacional”.
Já o responsável pela marca de cerveja africana diz que “apesar de não ser produtor apoia todas as iniciativas que visem não discriminar os diferentes produtos”.
Um dos grandes desafios para a APCV em 2015 é “aprofundar o relacionamento da associação com as micro cervejeiras, integrando-as “eventualmente”, remata João Abecasis.