Norge: “Investimos €2 milhões em Portugal este ano”
A Norge investiu dois milhões de euros no mercado português para dar resposta à grave crise económica e comunicar os benefícios do bacalhau salgado seco, revela em entrevista ao HIPERSUPER Christian Nordahl, director-geral da Norge em Portugal
Rita Gonçalves
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Entrevista a Christian Nordahl, director-geral da Norge em Portugal
A Norge investiu este ano dois milhões de euros no mercado português para dar resposta à grave crise económica e comunicar os benefícios do bacalhau salgado seco, revela em entrevista ao HIPERSUPER Christian Nordahl, director-geral da Norge em Portugal
Como está a correr o ano em termos de vendas de bacalhau da Noruega em Portugal?
Apesar da grave crise económica, o consumo de bacalhau, em termos de volume, aumentou mais de 10% este ano, atingindo mais de 38,000 toneladas de consumo. Levando em consideração que ano passado também foi um ano de crescimento no consumo de bacalhau, isto mostra que bacalhau é um verdadeiro “fiel amigo”.
Quais as referências mais dinâmicas?
O “real bacalhau”, o salgado seco parece ser o vencedor, apresentando um crescimento de mais de 12%, enquanto o chamado demolhado/ultracongelado reduziu ligeiramente. Temos razões para acreditar que os portugueses consideram o bacalhau “real” como o melhor valor para o seu dinheiro, uma vez que este, depois de demolhado aumenta até 35% de peso. No entanto, o valor total das vendas de bacalhau no sector de retalho baixou 2,3%, devido a uma queda de preço média de 13% em comparação ao mesmo período do ano passado, segundo os dadosdo painel de análise de consumo da Kantar (até 6 de Outubro de 2013).
Quanto representa a venda de bacalhau da Noruega no mercado português em comparação com as outras origens?
Portugal é o mercado mais importante para o Bacalhau da Noruega. Em média, Portugal representa cerca de 30% do valor total do bacalhau exportado pela Noruega. Nos últimos 15 anos, tem aumentado passo a passo a sua quota de mercado. Chegámos a um nível em 2012 em que o consumo português de Bacalhau da Noruega é mais de 50% do total. 27 mil toneladas de bacalhau salgado seco chegam já prontas para consumir, enquanto 16 mil toneladas chegaram em salgado (bacalhau verde) para serem finalizadas por operadores portugueses. Em termos de origem, o bacalhau da Noruega está a registar também este ano um novo crescimento.
Qual a vossa estratégia para aumentar as vendas de bacalhau da Noruega no mercado português?
A nossa estratégia é como sempre foi: a de manter viva a tradição do bacalhau em geral e do Bacalhau da Noruega em particular. Nos últimos dez anos foram investidos mais de 15 milhões de euros para manter o mercado forte e saudável. É uma disputa com outras proteínas e alimentos do quotidiano que fazemos de forma responsável, tentando que o consumo continue a ser o que sempre foi. Nenhuma outra nacionalidade investiu tanto como a Noruega. Mas é preciso salientar que são os pescadores noruegueses e os produtores noruegueses que financiam esta operação. O estado norueguês não coloca um euro nesta operação, como alguns parecem acreditar. Cada produtor dispensa para este esforço de comunicação 0,75% do valor das suas exportações. Este ano, investimos perto de dois milhões de euros no mercado português, e ajustámos nossa estratégia de comunicação um pouco para responder à grave crise económica. Comunicámos com maior intensidade os benefícios do consumo de bacalhau salgado seco em termos de rendimento/valor bem como a sua versatilidade. Temos vindo a utilizar a TV comercial como principal veículo, apoiado pela imprensa e pela web, além de um forte apoio às lojas e pontos de venda.
Quais os vossos grandes objectivos a curto, médio e longo prazo?
A curto prazo tentamos reduzir os efeitos da crise. Mas, para os pescadores noruegueses o grande problema tem sido os preços muito baixos. Durante este ano os pescadores noruegueses capturaram mais 25% de bacalhau devido às fantásticas condições em que se encontra o stock marinho de bacalhau norueguês. Mas, esse aumento de capturas resultou numa queda de preços para o nível de 1992. Se tivermos em conta que nestes 21 anos houve inflação, estamos a falar de um preço real pago aos pescadores de 20% abaixo dos níveis praticados em 1992. Isto cria um problema drástico na Noruega. Sabemos que este ano vamos ter muitas falências no sector. No ano passado, tivemos um resultado negativo no sector dos produtores noruegueses de bacalhau com os preços a caírem drasticamente durante o Outono de 2012.
No retalho, o bacalhau está entre as quatro maiores categorias FMCG, em termos de valor. E como se sabe, no curto prazo, o bacalhau é um gerador de tráfego nas lojas. Os retalhistas em Portugal estão a criar uma enorme pressão sobre os preços. Isso está a levar muitas empresas a ficarem fora do negócio, tanto na Noruega e em Portugal, levando a uma maior concentração. Esta é a lei natural do mercado, mas é feroz e brutal quando acontece. Vemos que algumas empresas se estão a virar para outros mercados e para outro mix de produto.
E no longo prazo?
O nosso objectivo a longo prazo é o de continuar a transmitir as tradições às gerações mais jovens. Eles poderão tender para o consumo de conveniência e preferirem o demolhado/ultracongelado, um processo apenas utilizado em Portugal. Neste caso, é importante que os produtores usem bacalhau real (já seco e salgado e com menos de 47% de água) e não um bacalhau ligeiramente salgado. Este tipo de produto, feito sem ser com bacalhau bem curado, é um “falso amigo” porque de facto não possui o carácter exclusivo de um bacalhau seco salgado. Aqui, sentimos que os produtores portugueses (e alguns espanhóis) têm uma grande responsabilidade. Faço um apelo para que façam uma classificação do bacalhau demolhado/ultracongelado, tal como existe por lei para o bacalhau salgado seco. Em Espanha, começaram a “brincar” com o verdadeiro bacalhau, e hoje o resultado foi o dizimar do consumo. Devemos ser honestos sobre o que nós produzimos e vendemos. O bacalhau real tem uma cura de sal de pelo menos 4 a 5 semanas, sendo depois seco para um máximo de 47% de humidade. Se não for assim não é bacalhau, pelo menos como os portugueses o conhecem. O bacalhau fresco é fantástico, mas deve ser vendido como tal. Bacalhau ligeiramente salgado também é bom, mas deve ser vendido como tal e não como bacalhau salgado seco.
E no canal Horeca?
A hotelaria e restauração estão a perder valor em geral, mas temos a noção que muitos restaurantes realmente não tratam o bacalhau com o mesmo respeito que os clientes têm por este alimento. Eu pergunto sempre se o bacalhau é demolhado no restaurante, porque sei que muitos usam bacalhau demolhado/congelado. Estudos que fizemos mostraram que o bacalhau é o alimento mais tido em conta quando num restaurante se pensa numa refeição de peixe. Penso que todo o restaurante português deve tratar o bacalhau com orgulho e como uma parte do menu fixo da casa. Alguns restaurantes já perceberam isto, mas são ainda muito poucos.
Com o Natal à porta, quais as estimativas de evolução até ao final do ano?
Os números até hoje são bons e Dezembro é o mês pico de vendas, representando 20% da quantidade de bacalhau vendida em Portugal anualmente. No ano passado, em Dezembro venderam-se mais de 12 mil toneladas. Com o nível concorrencial de preços que se estão a praticar acredito que este ano os números serão muito idênticos ou superiores. De certeza que o bacalhau estará no topo da lista dos produtos de maior “valor pelo dinheiro” neste Natal.
Que acções estão a levar a cabo para contornar o actual contexto económico e a desaceleração do consumo em Portugal?
Isto está respondido na segunda pergunta. Nós, focámos efectivamente o real custo bacalhau. A demolha aumenta o peso em 35%. Logo um quilo de bacalhau salgado seco é, efectivamente, 1,350 quilos. Isto, além da versatilidade de receitas que se pode obter quando se compra um bacalhau inteiro.
As vendas de bacalhau estão a crescer, no entanto, o preço do produto está em queda. A que se deve este fenómeno?
A principal razão é o grande aumento das quotas de pesca de bacalhau durante 2013. As quotas cresceram 30% numa altura em que as capturas já se encontravam em alta. É uma situação positiva fantástica e estamos orgulhosos de gerir nossos stocks de uma forma tão sustentável. Não há muitos outros lugares do mundo onde se encontra esta gestão dos mares. Por outro lado, o mercado reagiu a este crescimento de oferta com uma grande porção de psicologia envolvida, resultando na queda de preços. Agora a situação está mais calma e vemos que os preços atingiram o seu nível mais baixo e que vão ter tendência para subir. Em 2014 haverá uma ligeira redução na quota de pesca e a indústria e os mercados também estarão mais preparados para lidar com as quantidades. Iremos assistir a uma maior exportação de bacalhau fresco no mercado global e acreditamos que os preços serão um pouco melhores do que este ano.
A Islândia lançou pela primeira vez em Portugal uma acção de divulgação do bacalhau junto dos portugueses. De que forma o vosso produto se diferencia do bacalhau de outras origens?
Uma vez que a Noruega investe na comunicação em Portugal há mais de 30 anos, é normal que não se fale tanto de bacalhau da Noruega. Mas nós saudamos todas as nações produtoras que façam divulgação no mercado local português. Pensamos que é benéfico para o consumidor e para e para fazer crescer o mercado total.
Vários estudos realizados em Portugal por instituições independentes, como a IPSOS, mostram que mais de 65% dos portugueses prefere a “origem Noruega”. Depois desta preferência surge a “origem Portugal”. A Islândia e outras origens não são, com todo o respeito, referidas frequentemente. Em Novembro de 2012 o Bacalhau da Noruega foi a origem preferida entre os portugueses, recebendo o troféu de Escolha do Consumidor 2013. Na semana passada, fomos de novo galardoados com o troféu Escolha do Consumidor 2014. Obviamente ficamos orgulhosos com esta preferência.
Existem algumas razões para esta preferência. O bacalhau norueguês é apanhado, principalmente, durante o período de inverno. Neste período, o bacalhau migra do mar de Barents até à costa norueguesa. Nenhum outro banco de bacalhau tem este comportamento. Crescendo lentamente durante cinco a sete anos, o bacalhau, ao atingir o peso de cinco a sete quilos regressa ao local onde nasceu para começar a procriar, nadando mais de 600 km até à costa do Norte Noruega. É esta viagem de longa distância, em que faz uma dieta apertada, que ‘apura’ a textura deste bacalhau que cresceu no mar de Barents a comer camarões, capelim e arenque, dando-lhe um sabor exclusivo e, acima de tudo, a sua capacidade para lascar.
O bacalhau norueguês é mais comprido e elegante que o Islandês, que é mais largo e mais pequeno. Esse bacalhau não é uma má escolha, mas o que nós dizemos é que o bacalhau norueguês é único pela seu apreciado sabor e pela foram como lasca, enquanto o islandês que é um bacalhau costeiro, se apresenta mais largo e de cor mais branca. Mas ambos são «gadus mohrua» e isto é a espécie de referência quando falamos de bacalhau real. O bacalhau do Canadá é da mesma espécie, mas quase não tem significado nos mercados, uma vez que a pesca excessiva feita nos anos 80 do século passado quase dizimou aqueles bancos de peixe. Mas é justo dizer que o bacalhau do Pacífico (gadus machrocephalus) não tem as mesmas características do bacalhau do Atlântico em geral, e muito menos do bacalhau da Noruega em particular, uma vez que a sua textura, por ser rija, não lasca, antes esfiapando quando se mastiga.