Susana Pais, Directora de Marketing da Vitacress Portugal
“Portugal começou por ser um teste, agora é um mercado” Se em Inglaterra a moda dos produtos biológicos já pegou há algum tempo, em Portugal, pode-se dizer que é uma […]
Rita Barradas
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“Portugal começou por ser um teste, agora é um mercado”
Se em Inglaterra a moda dos produtos biológicos já pegou há algum tempo, em Portugal, pode-se dizer que é uma tendência recente. Moda ou não, o facto é que cada vez mais os lineares portugueses exibem produtos ecologicamente certificados.
A aquisição de 100% do capital da empresa britânica Vitacresss por parte do grupo RAR não alterou os projectos traçados pela marca para Portugal. Deste modo, a especialista em produtos hortícolas presenteou os lineares portugueses com quatro produtos biológicos de IV Gama. Espinafres, rúcola, salada Mesclum e Ibérica são, por enquanto, as referências disponíveis.
Hipersuper (H): O que significa IV Gama?
Susana Pais (S.P.): IV Gama significa uma categoria de produtos lavados, desinfectados e embalados, prontos a serem ou consumidos ou confeccionados. Vai directo ao linear do nosso cliente e o consumidor a única coisa que tem que fazer é abrir a embalagem e consumir directamente. Não se tem que lavar e é um produto totalmente higienizado. Não há, à partida, qualquer tipo de desperdício, pois já fazemos esse trabalho pelo consumidor.
H: O que levou a Vitacress a apostar na produção produtos biológicos?
S.P.: A razão está nas novas tendências de mercado. O consumidor, hoje em dia, procura ter uma alimentação mais saudável e mais segura. Há cinco anos que produzimos biológicos em Portugal, no entanto, exportávamos na totalidade para o mercado inglês, uma vez que é muito mais desenvolvido nessa área. O mercado português não estava preparado. Decidimos então ganhar experiência em Inglaterra, onde estamos mais habituados a trabalhar. A aceitação destes produtos foi óptima, é um mercado com outra dinâmica, outro historial, mais maduro e com mais abertura. Acumulámos estes quatro anos de experiência e decidimos este ano apostar no mercado ibérico, pois acreditamos que está na altura, uma vez que, é um mercado sem acesso a uma gama de produtos IV Gama. E somos pioneiros nesse sentido. Vamos apostar no mercado ibérico com uma gama simples, por enquanto com quatro referências que acreditamos serem as ideais. Espinafre, Rúcola Selvagem, Saladas Ibérica e Salada Mesclum, nas saladas tivemos a preocupação de manter as receitas do convencional e convertê-las em gamas de biológicos, para que o consumidor possa ter a mesma oferta, tanto em convencional, como em biológico.
H: Pretendem alargar a gama de produtos biológicos?
S.P.: Sem dúvida. Para já queremos começar com uma gama reduzida, para perceber qual é a aceitação do consumidor. Mais tarde começaremos então a pensar numa gama mais alargada. É possível que até ao fim de 2008 apareça mais uma ou duas referências de biológicos. Tudo depende da reacção do consumidor a esta mini-gama de quatro referências.
H: A variação de preços é significativa?
S.P.: A variação de preços sente-se. Para que se perceba a razão, só em termos de produção a agricultura biológica é cerca de 30% mais cara do que a produção convencional. Os processos de fábrica têm que ser totalmente separados, o que exige certificações. Estamos a falar de processos completamente distintos. Acreditamos que é por isso que ninguém até agora lançou uma gama de produtos biológicos IV Gama.
H: Foram feitas alterações tecnológicas para iniciar a agricultura biológica?
S.P.: Tivemos que nos adaptar, tanto a nível de maquinaria, como de processos de fabrico, uma vez que são muito distintos. Como não podemos usar nem pesticidas, nem adubos de síntese, tivemos que aprender a produzir o nosso próprio composto, aprender a aplicá-lo e perceber como funciona em termos de baby-leaf, visto que não existe experiência no mercado, por isso mesmo tivemos aqueles três/quatro anos de aprendizagem em Inglaterra.
H: Receiam recorrer aos OGM´s de forma a combaterem a actual crise alimentar, tal como aconteceu com outras empresas do sector?
S.P.: Trabalhamos com várias empresas produtoras de sementes, com as quais temos protocolos. Em conjunto fazemos um trabalho continuado para, precisamente, garantir que temos sementes com qualidade e quantidade. Assim, do nosso ponto de vista não vamos ter esse problema. E não queremos sequer pensar nessa possibilidade. Somos nitidamente diferentes da concorrência, na forma como trabalhamos a IV Gama. Não colocamos qualquer tipo de conservante ou aditivos nas nossas embalagens, enquanto os nossos concorrentes colocam muitas vezes gás (atmosfera modificada) nas embalagens, de forma a ajudar a prolongar a vida útil das folhas. Tentamos ser o mais natural possível. Seja em convencional, seja em biológico.
H: Como é que a Vitacress vê o mercado português? É um mercado importante?
S.P.: Sem dúvida. Especialmente em termos de produção. Em Odemira, onde se localiza a unidade de produção com maior área em Portugal e que alberga uma unidade industrial e o projecto de conversão de terrenos para a produção biológica, temos a sorte de ter os solos ideais para o nosso tipo de produção, um micro-clima perfeito e a barragem de Santa Clara, que por estarmos dentro do perímetro de rega desta, temos a água, segundo a associação de regantes, mais pura, micro-biologicamente falando, da Europa. No que diz respeito aos consumidores, acreditamos que é um mercado muito importante. Portugal tem a vantagem de, por vezes, funcionar como mercado teste. O que aconteceu foi que estivemos 25 anos em Portugal sem marca própria, exportávamos tudo, e decidimos utilizar Portugal como um mercado teste, para perceber qual seria eventualmente a aceitação deste produto na Península Ibérica. Acho que o nosso País para muitas empresas funciona assim. Apesar de conservadores, quando gostamos de uma coisa, somos um exemplo de um bom consumidor. Portugal começou por ser um teste para nós, agora é um mercado. Os primeiros dois anos de marca funcionaram nesse sentido. Até porque quando lançámos a marca, foi com um produto não lavado, não investimos em fábrica. Esse ano correu tão bem que nos deu a segurança e a certeza que seria um bom passo construir uma fábrica e apostar na IV Gama.
H: Qual é o público-alvo?
S.P.: Quando começámos o nosso público-alvo era claramente A/B, era um produto premium. O que acontece, ou que tem vindo a acontecer, é que o preço dos produtos em granel tem vindo a subir e quando o consumidor começa a fazer uma relação entre o preço e o tempo de lavagem dos ingredientes necessários para fazer uma salada e uma embalagem de 150 gramas de IV Gama, percebe que lhe compensa e não paga mais por isso.
H: Pretendem ser líderes Ibéricos? Qual é o objectivo no mercado espanhol?
S.P.: Estamos há dois anos a trabalhar o mercado espanhol. É diferente do português, até porque em termos de IV gama é mais maduro e com consumidores com hábitos de consumo diferentes. Assim, estamos a tentar conciliar as duas realidades, a tentar trabalhar de uma forma conjunta para os dois mercados. Estamos a ter bons crescimentos em Espanha. O investimento passa igualmente por investir na gama de biológicos.
H: Em que locais se pode encontrar esta gama de biológicos?
S.P.: Neste momento, estamos a trabalhar com dois clientes. El Corte Inglês e Auchan, e estamos a começar, em temos de target, a entrar em supermercados mais pequenos, mais premium, que suportem este tipo de produtos.
H: Quais os objectivos e próximos investimentos da Vitacress?
S.P.: Vamos continuar a apostar forte na agricultura biológica e contamos converter mais área para a produção. Neste momento temos 25 hectares em modo biológico e esperamos, a curto prazo, aumentar consideravelmente a nossa área de produção. Como é mais difícil produzir neste modo, temos que ter garantias que temos área suficiente para conseguir produzir as nossas necessidades. O nosso objectivo para 2008 é atingir os 32,4 milhões de euros, o que significa mais 2 milhões do que em 2007. Somos pioneiros. Não estamos aqui para perder e como tal queremos estar na linha da frente.