O invisível suporte básico de vida do retalho e distribuição
Qual é coisa, qual é ela? Ainda se lembra desta formulação, que era a base de todas as adivinhas que, com entusiasmo, perguntávamos aos nossos amigos na infância? Sem a inocência desses tempos, mas um entusiasmo quase pueril, pergunto: qual é coisa, qual é ela que, quando funciona, ninguém percebe que existe, mas, quando falha, abre ‘telejornais’?

Trata-se de um serviço que, na sua invisibilidade, o consumidor e, muitos de nós até, damos por garantido, a logística, naturalmente. Há alturas em que importa parar e refletir sobre a importância do que tomamos de tal forma por adquirido que, muitos, ignoram a sua existência.
A logística é o suporte básico de vida da distribuição moderna e do retalho, mas, também da vida de cada um de nós, enquanto consumidores. Contudo, permanece sem a devida valorização. Mesma queixa, aliás, que existe por parte dos profissionais desta exigente área que, todos os dias, asseguram que nada falta no linear de loja. Aqueles que, como escrevia aqui há uns meses, já pensam em filhoses, quando nós ainda estamos a banhos, de bola de Berlim na mão.
A invisível logística, a par dos recursos (humanos e equipamentos) e matéria-prima, forma a trilogia que está na base de qualquer produto, que, por sua vez, está assente em mais logística, recursos e matéria-prima, e assim sucessivamente, numa matrioska interminável.
Quando fazemos compras num hipermercado, por exemplo, raramente pensamos em todos os processos complexos que trouxeram centenas de milhares de produtos até ali, vindos das quatro partidas do mundo, em quantidades suficientes para dar resposta às nossas necessidades. Milhares de cadeias de abastecimento distintas convergem para aquele ponto, para nos oferecer o exato produto que procuramos. Como sabemos, todos os serviços e produtos que adquirimos dependem de cadeias de abastecimento complexas (que ignoramos). Mas, só as ignoramos até falharem.
Uma catástrofe natural, uma guerra, ataques de piratas, uma greve ou outros fatores críticos, são o que dá visibilidade à logística e, por consequência, nos dão consciência da sua existência e do quão crítica é para a pacatez do nosso dia-a-dia.
A pandemia de COVID-19 foi um dos exemplos mais marcantes sobre a fragilidade e interdependência dos sistemas logísticos. De repente, prateleiras vazias e atrasos nas entregas tornaram-se manchetes diárias. Produtos que considerávamos banais deixaram de estar disponíveis, não por escassez real, mas por impossibilidade de sincronização da cadeia de abastecimento. A logística é o suporte básico de vida ou se preferir, é mesmo o coração que faz pulsar o mundo moderno.
É um elemento crítico que impacta diretamente os custos operacionais, a competitividade das empresas e a satisfação do cliente. Quando bem gerida, permite eficiência, reduz desperdícios e garante que os produtos chegam no momento certo ao local certo. Contudo, se mal gerida, torna-se um entrave ao crescimento e pode resultar em perdas significativas. A gestão eficiente de stocks é um fator essencial, equilibrando a oferta e a procura, evitando excessos que aumentam custos de armazenamento ou escassez que comprometem as vendas. A rotação de stocks, aliada a previsões de procura, evita perdas ou produtos obsoletos e garante que os recursos são utilizados da melhor forma.
Subsequentemente, o transporte e a distribuição desempenham um papel fundamental na eficiência logística. Otimizar rotas, gerir frotas e adotar soluções sustentáveis são estratégias essenciais para reduzir custos e melhorar prazos de entrega. A digitalização e automação dos processos logísticos trazem maior precisão e previsibilidade, permitindo rastreamento em tempo real e uma gestão de inventário mais eficaz.
A resiliência e a gestão de riscos são igualmente determinantes, pois, eventos inesperados, como desastres naturais, conflitos geopolíticos e pandemias podem desestabilizar as cadeias de abastecimento. Empresas que investem em diversificação de fornecedores e planos de contingência estão mais preparadas para enfrentar esses desafios. Paralelamente, o crescimento do comércio eletrónico tem elevado as expectativas dos consumidores quanto à rapidez e qualidade das entregas, tornando a ‘last mile’ um dos maiores desafios logísticos. Estratégias como cacifos, drones e entregas programadas têm sido exploradas para garantir eficiência e manter a satisfação do cliente.
No final do dia, a logística é o fator invisível e determinante da competitividade empresarial e da experiência do consumidor. Um verdadeiro suporte básico de vida a cada negócio e a cada consumidor, a que deveria ser dada mais importância e visibilidade.