Estabilidade estratégica: a âncora em tempos de incerteza
A amplitude dos impactos geopolíticos e estratégicos que hoje enfrentamos superou as previsões mais dramáticas, mesmo aquelas que foram feitas num passado muito recente. Tenho consciência que comecei este artigo de uma forma menos leve do que habitualmente, mas o momento que vivemos no procurement, na supply chain, no retalho, na grande distribuição e logística assim o impõe.

Um novo consulado de Trump à frente dos Estados Unidos, longe de ser um mero déjà vu, veio intensificar a era de profundas transformações que estamos a viver. Das taxas de importação, à retórica “America first”, passando pela posição em relação ao canal do Panamá, veio redefinir, em tempo record, as relações comerciais globais, exigindo uma reconfiguração estratégica urgente por parte das organizações, independentemente do setor de atividade.
Este cenário de volatilidade e imprevisibilidade impulsiona, numa reação mais epidérmica, a diversificação de fornecedores, estratégia que ganhou força no pós-pandemia. As organizações procuram novos centros de comércio global que ofereçam estabilidade política e económica. O “friendshoring”, ou transferência de produção para países com afinidades políticas, emerge como uma tendência dominante, em busca por segurança e resiliência, num mundo cada vez mais fragmentado.
Contudo, a estabilidade dos negócios depende, mais do que nunca, da confiança e previsibilidade. Organizações que construíram relações de longo prazo com fornecedores, clientes e parceiros, devem reforçar esses laços através de maior integração e colaboração.
Trabalhar em conjunto não significa estagnar. Pelo contrário. Significa maximizar sinergias e otimizar soluções que já provaram o seu valor. A partilha de conhecimento, a integração de equipas multidisciplinares e o desenvolvimento conjunto de novos produtos ou estratégias permitem às empresas inovar sem comprometer a estabilidade assegurada até aqui.
A era Trump, com as suas tarifas e restrições comerciais, deve acelerar esta reconfiguração das cadeias de abastecimento. Mais do que uma resposta reativa, esta adaptação exige uma abordagem proativa e estratégica. Acreditamos que a chave reside na combinação da inovação com a estabilidade, da disrupção com a confiança.
Em tempos de turbulência global, a força das parcerias consolidadas revela-se um ativo de grande valor acrescentado. A confiança mútua, a experiência conjunta e o conhecimento profundo dos parceiros permitem antecipar desafios, identificar oportunidades e implementar soluções de forma ágil e eficaz.
A reconfiguração de alianças globais antigas, como agora acontece com o reforço da cooperação entre a UE e o Reino Unido, sublinham a importância da continuidade e estabilidade, com parceiros confiáveis, em tempos de incerteza.
Neste contexto, torna-se crucial que as organizações desenvolvam planos de contingência robustos e invistam em equipas especializadas em geopolítica. A monitorização constante do cenário global, a análise proativa de riscos e a capacidade de adaptação rápida são essenciais para prosperar num ambiente em constante mutação.
Em suma, a era Trump inaugurou uma nova realidade geopolítica, onde a incerteza e a volatilidade são a norma. Prosperar neste ambiente obriga a uma abordagem proativa, diversificando as cadeias de abastecimento, investindo em resiliência e na monitorização do cenário global. Acima de tudo, exige o reforço de parcerias que se mostram fiáveis, pois, em tempos de incerteza, a força da colaboração é o maior ativo.