“A transição para uma produção neutra exige enormes investimentos”
Na indústria do vidro de embalagem, a mudança para energias verdes renováveis e a crescente incorporação de vidro reciclado na produção das novas embalagens, são algumas das medidas importantes para a meta de produção totalmente neutra em carbono, até 2050, avança Beatriz Freitas, secretária-geral da AIVE.
Ana Grácio Pinto
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O setor do vidro de embalagem tem como meta a produção totalmente neutra em carbono até 2050. Que investimentos tem feito a indústria vidreira de embalagens para alcançar esse objetivo?
A indústria já percorreu, um longo caminho na descarbonização da sua produção. Atualmente, consome 70% menos energia, emite 50% menos CO2 e as embalagens de vidro são 30% mais leves, do que há cinquenta anos. No entanto, são necessárias agora mudanças significativas, com desafios estruturais e tecnológicos associados, para atingir o objetivo de zero emissões de carbono.
A transição para uma produção neutra em termos climáticos exige enormes investimentos, tanto de capital como operacionais e o apoio financeiro do setor público são, por conseguinte, imprescindíveis para apoiar a indústria a implantar as novas tecnologias inovadoras e assim ser possível cumprir os objetivos de descarbonização para 2050 estabelecidos pela Lei do Clima da UE.
A redução e otimização do seu consumo energético e a mudança para energias verdes renováveis, assim como a redução da utilização de matérias-primas virgens, aumentando a incorporação de vidro reciclado na produção das novas embalagens – para reduzir os impactos ambientais globais e os custos associados ao fabrico das embalagens de vidro – é sem dúvida o caminho para até 2050, a indústria do vidro de embalagem transformar a sua produção e oferecer soluções de embalagem totalmente neutras em termos de carbono, para além de totalmente circulares.
O que é o RODIV2050?
O Roteiro para a Descarbonização do Vidro em Portugal (RODIV2050), financiado pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), é um projeto liderado pela AIVE, com o apoio de consultores externos, com o objetivo de divulgar potenciais estratégias e tecnologias que possam contribuir para a redução das emissões de GEE associadas à produção de vidro, alinhando assim este setor com as metas de neutralidade carbónica estabelecidas pela União Europeia para 2050.
Este roteiro visa alavancar a descarbonização da indústria do vidro e promover uma mudança na utilização dos recursos, através da promoção de um conjunto de ações que vão desde a identificação de áreas de melhoria, de trajetórias custo-eficazes de redução de emissões e identificação de soluções tecnológicas de baixo carbono, bem como a promoção da economia circular, através da reciclagem das embalagens de vidro usadas e a utilização de biocombustíveis como o hidrogénio verde ou o biometano, promovendo a inovação em áreas que conduzam esta indústria às metas da neutralidade carbónica mas ainda posicionar o setor vidreiro nacional como um líder em práticas sustentáveis, promovendo uma indústria mais sustentável e preparada para os desafios futuros.
De uma forma clara serão apresentados também os vários desafios estruturais e tecnológicos com que este setor industrial se depara, desde a implementação de soluções tecnológicas para o uso de energias verdes, alternativas aos combustíveis fósseis, não só nos fornos, mas nos demais equipamentos do processo, que ainda requer investimentos avultados em infraestruturas e redes de distribuição; até ao aumento dos níveis de recolha das embalagens de vidro usadas para reciclagem, atualmente insuficientes para suprir as necessidades de uma produção mais sustentável, quando Portugal é líder europeu, na produção de vidro de embalagem per capita.
Reciclado infinitamente sem perder propriedades
Beatriz Freitas assegura que há poucos materiais tão circulares como o vidro de embalagem e que a sua indústria orgulha-se de produzir “embalagens, saudáveis, reutilizáveis e infinitamente recicláveis em circuito fechado”. “O vidro é um material permanente, o que significa que pode ser reciclado infinitamente sem perder nenhuma propriedade ou matéria constituinte” e as suas embalagens “são as únicas que garantem, não só todo o sabor e odor, como a qualidade e características originais dos produtos, independentemente do número de vezes que é reciclado”, assegura.
Apesar disso, a secretária-geral da AIVE lamenta que tenha um valor ainda não entendido por todos. “De acordo com os últimos dados oficiais (Eurostat), em Portugal foram recicladas 55% de todas as embalagens de vidro usadas em 2021 e todo esse vidro foi utilizado para fazer novas embalagens de vidro”, sublinha. Para que Portugal atinja níveis de reciclagem semelhantes aos de outros países europeus, precisa de “mais infraestruturas adequadas para a recolha deste material no canal Horeca, proliferação de vidrões e uma aposta na educação para a reciclagem”, alerta.
Artigo publicado na edição 428