Eduardo Serra, Client Manager na Kantar
Higiene do Lar: estabilidade sem estagnação
Todas as categorias foram afetadas pela subida repentina dos preços em 2022, mas será que consegue identificar aquela que mais rapidamente começou a virar a página?
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A análise de Eduardo Serra, Client Manager na Kantar
Quase já parece normal o carrossel de dúvidas e mudanças a que o mundo tem vindo a assistir nos últimos anos. Longe vão os tempos em que os planos de longo prazo acertavam em grande medida com aquilo que efetivamente se verificava nos anos seguintes. Tempos de maiores certezas que traziam ao mercado uma previsibilidade difícil de imaginar atualmente. O mercado do FMCG tem, consequentemente, estado sujeito a muitos destes choques que fazem desta década umas das mais incertas de que há memória na história recente, e ainda lida com as réplicas causadas pelo último dos “sismos”: o da inflação. Todas as categorias foram afetadas pela subida repentina dos preços em 2022, mas será que consegue identificar aquela que mais rapidamente começou a virar a página?
Inicialmente, o setor de Limpeza e Higiene Caseira (HC) começou por ser aquele em que o crescimento dos preços foi sentido de forma mais abrupta, superando mesmo os aumentos verificados em muitas categorias de Alimentação. No entanto, à medida em que a inflação se foi adensando, o preço médio de HC atingiu o seu pico no final de 2022, ficando-se pelos +10%, enquanto que as categorias de Alimentação continuaram a ter aumentos cada vez maiores até ao final do primeiro semestre de 2023, aproximando-se dos +20%.
Apesar do ponto máximo da inflação já ter ficado para trás há mais de um ano, as categorias de Alimentação e Bebidas ainda estão sujeitas atualmente a um preço médio que continua a crescer, mas para HC isso mudou no primeiro semestre de 2024. Pela primeira vez, desde o início de 2022 podemos afirmar que os compradores portugueses conseguem ter acesso aos produtos deste setor a um preço igual ao de há um ano atrás.
Esta estabilidade de preços em HC apresenta desde logo resultados muito claros face aos restantes setores. Enquanto que os volumes transacionados de Alimentação e Bebidas para dentro do lar ainda estão em queda, HC conseguiu finalmente estancar as perdas neste primeiro semestre de 2024, encontrando-se fundamentalmente estável face aos volumes transacionados em igual período do ano passado.
A questão que agora se coloca é perceber a origem desta estabilidade do preço a que os portugueses conseguem atualmente ter acesso ao setor de HC. Será que houve uma redução efetiva dos preços no mercado? Ou será que os compradores alteraram a composição do seu carrinho de compras fazendo um downtrade de marcas e/ou de segmentos?
Pagar o mesmo preço num mundo de produtos mais caros
Em boa verdade, os preços que os portugueses encontram atualmente nas prateleiras dos supermercados quando se deslocam aos corredores de HC continuam a estar mais caros. Isto verifica-se tanto para marcas de fabricante (MDF) como para marcas da distribuição (MDD). Na realidade, as MDD até continuam a aumentar o seu preço a um ritmo quase duas vezes superior ao das MDF, mas na manga trazem o trunfo de mesmo com os aumentos apresentados, continuarem a aplicar no mercado um preço que é aproximadamente metade daquele praticado pelas MDF. Os compradores apercebem-se desta realidade e estão a comprar menos volume de MDF e mais de MDD. Alguns compradores abandonam mesmo as MDF por completo, enquanto que as MDD mantêm-se estáveis em número de compradores. No entanto, este efeito não é transversal a todas as MDD. Mesmo dentro deste tipo de oferta, os portugueses estão a ser altamente criteriosos e a escolher as MDD que apresentam o preço final mais baixo e a maior estabilidade desse mesmo preço, que vem fundamentalmente dos players de sortido curto emergentes.
Poupar na carteira, não na eficácia
Se a procura por marcas mais baratas em HC parece ser um fenómeno claríssimo, é preciso entender até que ponto estão os portugueses dispostos a ir com o intuito de reduzir os seus custos com a categoria. Estarão os compradores preparados para abdicar de segmentos mais especializados e a contentar-se com os mais básicos? A verdade é que não o precisam de fazer. Aditivos para complementar a lavagem da loiça continuam a ganhar compradores e os amaciadores e aditivos para completar a lavagem da roupa também estão a ser mais procurados. Enquanto que as lixívias perdem compradores, os produtos mais específicos para lavagem do WC não viram a sua procura afetada. Enquanto que a simples pá e vassoura demora agora mais tempo a sair da loja, as mopas, espanadores, baldes e esfregonas “voam” das prateleiras. Em todos estes segmentos mais especializados que estão a crescer existe um fator em comum: a maior presença de MDD.
Voltando ao início, e correndo o risco da ousadia de tentar antecipar tendências no mundo atual, o desafio que se avizinha para agora ir além da estabilidade e voltar a crescer em HC, passa por colocar as prioridades dos portugueses no centro das decisões. A mensagem dos compradores é clara: não se trata de limitar a rotina de higiene do lar, mas sim de limitar o gasto que essa rotina representa.
Artigo publicado na edição 426