O sempre admirável mundo novo do café
Além da inovação, as principais empresas de café do País estão a apostar cada vez mais na sustentabilidade e em produtos biológicos
Filipe Pacheco
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Além da inovação, as principais empresas de café do País estão a apostar cada vez mais na sustentabilidade e em produtos biológicos.
Alguns dos principais operadores na categoria de café antecipam um bom desempenho em 2020, indicando que as vendas deverão continuar a rota de crescimento. A inovação, os mercados internacionais e a sustentabilidade continuam a ser alguns dos drivers de crescimento da categoria.
Blends funcionais, cápsulas biodegradáveis, cafés sem necessidade de adicionar açúcar, gamas de café biológicos invadem os lineares de supermercado, as lojas especializadas e o canal Horeca. O grupo Nabeiro -Delta Cafés, a NewsCoffee, a Kaffa e a espanhola Candelas são algumas das empresas que estão a atalhar caminho para apresentar soluções cada vez mais diversificadas ao consumidor final. Em um “mercado estável e consolidado, que tem vindo a manter a sua trajetória de crescimento sustentado”, há uma evolução significativa do consumo de café nos últimos anos, assinala Marco Nanita, diretor de marketing da Delta Cafés. “Destaca-se também o consumo de café em cápsula que continua a ser o mais popular entre os consumidores de café em casa”, realça. Notando que os consumidores estão ávidos de novas experiências, Marco Nanita afirma ser visível “a diversidade de formatos que existem atualmente pensados para as diversas ocasiões de consumo”.
É, aliás, no pilar da inovação que entronca o desenvolvimento da categoria nos últimos anos em Portugal, estando as empresas conscientes da resposta que têm de dar à predisposição dos consumidores para a experimentação. E o consumo de café está longe dos dias em que as referências eram limitadas, uma vez que os portugueses pretendem ser desafiados para o consumo de várias origens. “Os consumidores procuram cada vez mais diversidade de produtos e querem ser surpreendidos. Acreditamos que a cultura do café vai ser um tema cada vez mais importante, na medida em que há cada vez mais a vontade dos clientes em explorar as diferentes origens, saber mais da história dessas origens e a relação com a qualidade e as características organoléticas do café”, sustenta Gustavo Mendes, diretor de marketing da NewCoffee.
As empresas estimam, inclusive, a alteração de formatos para o consumo fora do lar. “Dado que a atual geração de jovens gosta do contexto out-of-home para partilhar momentos de bem-estar e convívio, temos uma expectativa elevada relativamente ao aparecimento de novas tipologias de pontos de venda, mais incentivadores do consumo de bebidas de café”, defende Gustavo Mendes. Salientando que o café de especialidade está a ser alvo de grande curiosidade por parte dos clientes, o responsável avança que, no último, foram abertos novos espaços que procuram criar experiências de degustação e explorar todo o potencial sensorial das diferentes origens. “Também aqui vamos querer fazer evoluir a nossa presença e apresentar aos nossos clientes soluções de café capazes de salientar os aromas e as notas mais especiais de cada grão”, garante o diretor de marketing da empresa. “A marca “Sanzala Coffee Roasters”, e o respetivo ponto de venda no Porto, é um exemplo concreto do alinhamento com esta tendência. Um espaço dedicado exclusivamente ao atendimento ao publico, com torrador próprio e com cafés torrados e moído diariamente para que seja possível saborear todo o aroma e frescura do blend ou origem preferida”, especifica.
Direcionando a estratégia para tendências que são transversais ao setor agroalimentar a nível mundial, a Kaffa está a colocar as fichas em produtos ligados à sustentabilidade ambiental e à produção biológica. “Há vários anos que damos especial atenção a estes dois temas e já desde 2015 que detemos algumas das mais importantes certificações de produto que comprovam a produção biológica e o fornecimento responsável de café, como UTZ, Sativa e FairTrade”, destaca Pedro Henriques, diretor comercial da Kaffa.
A empresa, neste âmbito, está a desenvolver, nos últimos meses, um “intenso” trabalho de investigação e desenvolvimento nas áreas da sustentabilidade e biológica. “Conseguimos concretizar um ambicioso projeto que nos posiciona como o maior produtor nacional de café encapsulado biológico, o que nos deixa, obviamente, muito satisfeitos. Atualmente temos um portefólio alargado de 5 referências de café biológico”, adianta Pedro Henriques. Três das referências são compatíveis com o sistema Dolce Gusto, enquanto existe outra para o sistema Delta Q. Outra das referências foi trabalhada para ser compatível com o sistema Kaffa.
O foco na sustentabilidade ambiental é ainda visível no desenvolvimento de novos produtos e no aperfeiçoamento das referências já existentes. “Em breve, disponibilizaremos no mercado nacional a primeira cápsula compostável que, nesta fase inicial, apenas está disponível em cápsulas compatíveis para o sistema Nespresso”, revela o diretor comercial da Kaffa.
Assinalando que a categoria de café tem um trajeto positivo nos últimos cinco anos, a Candelas considera que esta tendência de crescimento é apoiada na forte evolução das cápsulas monodose de café. “A introdução de novas variedades e sabores estão a atrair novos consumidores para este mercado”, afirma Lucía López Bayo, responsável de comunicação da Cafés. As tendências dos últimos anos assim o confirmam, com café gourmet, café mais sustentável, o aumento do consumo jovem, o consumo de café no formato monodose, o consumo de cafés com efeitos benéficos para o organismo, para o rendimento desportivo, intelectual e profissional, elenca a responsável de comunicação da empresa espanhola, não esquecendo a aposta na componente tecnológica. “A indústria do café e as próprias cafetarias caminham rumo à automatização completa, com máquinas e aparelhos de última geração”, antevê López Bayo.
Estando a decisão de compra cada mais focada na qualidade, na origem, na experiência e na história, a responsável de comunicação da Candelas sublinha que as cafetarias estão a assumir um papel-chave na criação “dessa experiência e conhecimento do consumidor”. “Abre oportunidades, na medida em que este pode querer transferir esta experiência para o seu lar e comprar mais e melhores tipos de café”, defende a responsável.
Assumindo-se não apenas como uma empresa produtora cafés, a a empresa espanhola presta também serviços consultoria na hotelaria. “Para nós é importante não só oferecer o café da melhor qualidade, mas também ensinar aos nossos profissionais da hotelaria a prepará-lo na perfeição, criar novas experiências de consumo e fazer com que o consumidor tenha mais conhecimento do café”, defende Lucía López Bayo. “A nossa melhor ferramenta para o conseguir é a nossa equipa de baristas e as formações e eventos que realizam na área da hotelaria”, acrescenta.
Proliferação de novas gamas no mercado
As tendências atuais refletem-se na quantidade de novas gamas e de novos produtos que estão a ser lançados no mercado nacional. A diversificação da oferta é um aspeto evidente no mercado português nos últimos anos. O ano de 2009 não foi exceção, estando mesmo a ser lançados novos conceitos.
O grupo Nabeiro -Delta Cafés está a lançar um conjunto de gamas e referências sustentado na inovação. O Delta Q eQo, um blend Delta Q com uma cápsula 100% orgânica e biodegradável, é um desses casos. O mythiQ, que tem origem nas plantações dos Camarões e de Angola, é o café mais intenso da gama de intensidades da Delta Q. Ainda há os cafés funcionais aQtive Coffees e o Delta Q Sweet Qoffee, este último não necessitando de adição de açúcar. A gama Delta Q aQtive Coffee, constituída por dois blends funcionais, pretende promover o bem-estar físico e mental. Mas a grande novidade que será lançada este ano é o Bruma, uma bebida de café frio extraída de um sistema de pressão. Já a Why Not Lemon`Mate, que resulta de uma parceria com a start-up Why Not, é uma “bebida ligeiramente gaseificada com limão, com um twist de chá mate e um pouco de açúcar orgânico de cana”, descreve Marco Nanita.
O grupo teve, em 2019, uma facturação de cerca de 400 milhões de euros. “O nosso objetivo é continuar a manter a trajetória de crescimento e estar presente no dia-a-dia dos consumidores”, aponta o diretor de marketing do grupo, acrescentando que os principais motores de crescimento são a inovação, os mercados internacionais e a sustentabilidade.
A NewCoffee apostou em 2019 fortemente na área da sustentabilidade, além da inovação que acompanha os novos produtos das várias marcas da empresa. A Bogani lançou uma nova gama de cápsulas, apresentada como uma solução biodegradável e 100% compostável. As cápsulas, que apresentam cinco variedades, têm compatibilidade com as máquinas Nespresso. Uma delas resulta de produção biológica. Nascida de um projeto de dois anos, a gama faz parte do projeto estratégico na Newcoffee. Em paralelo, a empresa lançou cápsulas da marca compatíveis com a Dolce Gusto. Para reforçar a política de sustentabilidade, ainda houve lugar, em 2019, para a apresentação da gama Bogani Bio, com cápsulas para o sistema Nespreso e outras para o sistema Dolce Gusto. A Lavazza, marca representada pela Newcoffee em Portugal, apresentou os lotes Alteco e o Kafa, em grão e em cápsulas Blue.
O crescimento da quota de mercado da empresa é sustentado por uma política de aquisições de pequenas e médias empresas no espaço temporal de mais de dez anos. A mais recente foi a da Novo Dia em 2016. A Sanzala foi adquirida em 2007. A compra da Caffècel foi realizada em 2008, assim como os direitos de exploração da marca Lavazza para o canal Horeca. Um ano mais tarde ocorreu a integração da Bogani e Caféeira. “O grupo tornou-se, nos últimos dez anos, um dos mais relevantes players do setor de café em Portugal, implementando a gestão e sinergias que lhe permitiram evoluir para uma faturação anual de 22 milhões de euros e uma fatia de cerca de 10% do mercado Horeca. O canal Horeca vale hoje aproximadamente 90% da facturação da marca”, salienta Gustavo Mendes.
Para este ano, o responsável indica que as perspetivas são “extremamente animadoras”. “Quer pela gama de produtos que temos hoje disponível e que nos permite atuar em todos os segmentos de mercado e responder às expectativas dos clientes e consumidores mais exigentes, quer pela dinâmica do sector, que mostra um movimento de crescimento e valorização do café”, indica. Tendo-se especializado no canal Horeca, a empresa tem como principais produtos vendidos os lotes de kg/grão das várias marcas. “Por sua vez, as pastilhas de café e as cápsulas são produtos com ainda enorme potencial de crescimento dentro da NewCoffee, pela sua qualidade, carácter de inovação e aposta na sustentabilidade”, garante.
Com tantos produtos novos a surgir no mercado, é natural que seja por via de referências diferenciados que as empresas estejam a fazer crescer o valor das suas vendas. A Kaffa, além de produtor de marcas próprias, também está a investir no lançamento de produtos biológicos da sua marca. Foi precisamente na área bio que se deu o grande lançamento da marca. Mesmo a terminar o ano, a Kaffa colocou no mercado quatro referências de café biológico, com três cápsulas para o sistema Dolce Gosto e uma para cápsulas compatíveis com o sistema Delta Q.
Com vendas de 161 milhões de cápsulas em 2019, a empresa espera chegar ao final de 2020 com 190 milhões de cápsulas comercializadas. Os blends mais comercializados para o sistema da marca são os de intensidade mais elevado, em concreto o Kaffa Fado, de intensidade 10, e o Kaffa Cravo, de intensidade 8. As cápsulas mais vendidas para o sistema da Nespresso são os blends Fortissimo. O blend Forte é o mais comercializado no sistema da Delta Q e o Negro no sistema Dolce Gusto. “Estamos conscientes que a inovação é um dos principais drivers de crescimento da categoria. Por isso apostamos no aprofundamento do conhecimento e no desenvolvimento de tecnologias inovadoras no processo de produção, investindo anualmente cerca de 500 mil euros em I&D”, afirma Pedro Henriques. Para tal, a empresa tem um laboratório próprio, com uma equipa permanente de oito colaboradores. “Diariamente, fazemos análises de controlo de qualidade e ensaios para o desenvolvimento de novos produtos e aperfeiçoamento de referências já existentes”, garante o responsável.
Para a Candelas, o ano passado também foi pródigo em lançamentos. Em cafés especializados, a empresa lançou, no primeiro trimestre de 2019, o Etiópia Yirgacheffe Natural e o Colômbia Santa Bárbara. O segundo semestre ficoumarcado pelos cafés solúveis liofilizado natural 100 g e pelo liofilizado descafeinado 100 g. Já no último trimestre de 2019, a empresa espanhola apontou baterias para as cápsulas compostáveis compatíveis com o sistema Nespresso. O café ecológico, o ecológico descafeinado, o da Colômbia e o Intenso foram as últimas novidades apresentadas ao mercado.
A empresa faturou 53 milhões de euros em 2019 com a venda de cafés, um crescimento de 3,9% face aos 51 milhões de euros de 2018. “O café natural e as cápsulas são as referências mais procuradas pelo mercado. Em paralelo, crescem outras referências, alinhadas com os crescentes interesses dos consumidores por produtos mais sustentáveis em termos de meio ambiente e sociais, como são o nosso The Organic Coffee ou o café de Comércio Justo”, informa Lucía López Bayo. Dispondo de uma ampla rede de distribuição em Espanha, Portugal, Ilhas Baleares, Ilhas Canárias e Andorra, a Candelas dá cobertura de produto e de serviços em cada ponto de vendas. “A Candelas cobre até ao último elo da cadeia de fornecimento. Com o seu serviço capilar coloca o produto diretamente nos centros de consumo”, explica a responsável.
Tendo concentrado 80% do seu volume de negócios na hotelaria, o dinamizador de crescimento da empresa assenta na sua capacidade de oferecer serviços de valor acrescentado aos profissionais da hotelaria, diz López Bayo.
Exportações ganham expressão
As vendas para os mercados internacionais representam já uma parcela relevante de algumas empresas. No caso do grupo Nabeiro – Delta Cafés, as vendas para os mercados internacionais correspondem a 32% do negócio. “Os mercados com posição mais interessante são aqueles em que a marca tem operação própria, com destaque para Espanha, Brasil, França, Angola, Suíça e Luxemburgo”, revela Marco Nanita. Embora esteja atento a novas oportunidades nos mercados externos, o grupo de Campo Maior defende ser mais importante “consolidar a nossa presença nos vários mercados onde já estamos presentes”, defende o responsável.
Quanto à NewCoffee iniciou as suas exportações para o mercado da saudade. “Já temos hoje uma presença em praticamente todos os países onde há comunidade portuguesa”, revela Gustavo Mendes. “Nesse mercado já há algum reconhecimento pelas marcas portuguesas e as pessoas tendem a prolongar os hábitos de consumo que tinham cá. Como especialistas em café expresso desenvolvemos uma estratégia de entrada nestes mercados com as nossas marcas”, indica o diretor de marketing da empresa.
A NewCoffee tem fé nas suas competências e vantagens comparativas para crescer e entrar em novos mercados internacionais. “Acreditamos na qualidade dos nossos produtos, na força das nossas marcas e na competitividade em termos de preço. Cada país tem a sua própria cultura quanto ao consumo de café, razão pela qual tentamos sempre compreender a melhor forma de entregar um produto que corresponda às expectativas, satisfazendo assim as necessidades mais exigentes”, defende Gustavo Mendes.
No caso da Kaffa, a empresa exporta para mais de nove mercados internacionais. As exportações representaram 10% do negócio da empresa. “Os mercados de exportação mais relevantes para a Kaffa são África do Sul, Angola, Brasil, Espanha, Holanda, Hungria, República Checa, Rússia e Suíça”, revela Pedro Henriques. “Embora a internacionalização da Kaffa seja já um projeto com alguma envergadura, pois já ultrapassámos as fronteiras europeias e estamos também presentes em África e na América do Sul, pretendemos, em 2020, expandir a presença na Europa Central consolidando a nossa posição internacional como um dos mais importantes players europeus”, finaliza.
A Candelas, sendo um operador espanhol, exporta os seus produtos para Portugal Andorra, Estados Unidos e Holanda. “Também estamos presentes em mais de 20 países europeus através de clientes do setor hoteleiro”, revela a responsável de comunicação da empresa. Nas exportações, que valem 2%, a empresa prevê a expansão para a Europa Central, principalmente nos Países Baixos e na Alemanha.
O canal Horeca vale 90% das vendas da Beira Douro Cafés, embora a empresa não revele números de faturação. Sendo o café em grão o mais vendido, a empresa nortenha pretende este ano aumentar a sua posição em algumas zonas do país. “Reforçar a presença da Beira Douro naquelas que são, atualmente, as nossas principais áreas de atuação, conquistar novas áreas mais a litoral e iniciar o processo de internacionalização”, refere Ana Monteiro, diretora comercial da empresa.
A qualidade, o preço e a capacidade de resposta são os eixos que a responsável considera ser os mais relevantes para os produtos da empresa serem procurados. “A Beira Douro Cafés é uma empresa focada na qualidade, qualidade transversal. Desde a matéria prima, ao processo de torrefação e embalamento, comercialização e assistência. Esta é a nossa resposta para um cliente cada vez mais exigente e rigoroso”, garante o responsável, assegurando que a proximidade ao cliente é crucial para o crescimento da empresa. Oferecer um produto a preço justo, com garantia de qualidade e estar próximo do cliente para prestar todo o apoio, desde a formação até à assistência técnica. O nosso cliente valoriza muito esta trilogia e é aí que queremos mantermo-nos fortes e diferenciadores para continuar a crescer”, conclui.