O que esperar do retalho em 2020?
Em 2020, a conveniência continua a ditar todas as tendências. Os formatos de proximidade brotam pelo País. As marcas próprias ganham destaque, impulsionadas pelas cadeias de discount. A comida pronta […]
Ana Catarina Monteiro
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Em 2020, a conveniência continua a ditar todas as tendências. Os formatos de proximidade brotam pelo País. As marcas próprias ganham destaque, impulsionadas pelas cadeias de discount. A comida pronta será pilar para o crescimento do retalho. E o consumidor não fechará olhos à sustentabilidade e ao valor acrescentado. Estas são as tendências que vão marcar o ano*
O fator conveniência será a chave para as decisões de compra em 2020. As propostas de valor que respondem a estilos de vida cada vez mais agitados ganham este ano ainda mais preponderância, perante um consumidor do qual se espera um “aumento da frequência de compra” e, consequentemente, uma diminuição do tamanho das cestas.“Ou seja, o shopper vai passar a fazer mais visitas às lojas para comprar artigos que cada vez mais servirão para cobrir necessidades imediatas e sem planeamento”, explica Ana Paula Barbosa, retailer vertical director da consultora Nielsen, em declarações ao Hipersuper. A especialista prevê que o tempo dedicado às compras, no retalho alimentar, diminua “drasticamente” em 2020, o que irá aguçar a disputa entre retalhistas pela atenção dos consumidores.
Conceitos de proximidade em expansão
Na luta pela conveniência, prevê-se maior expansão dos conceitos de proximidade. O Intermarché é uma das cadeias que pretende apostar neste sentido. “Nos próximos anos estaremos muito dinâmicos, com novas aberturas e aposta nos centros urbanos. Também durante 2020 iremos dar continuidade ao processo de renovação e modernização do parque de lojas”, avança o administrador do Intermarché, Martinho Lopes, ao Hipersuper.
A Sonae MC tem também na manga um forte investimento em um conceito de lojas de ultra proximidade, sob a marca Continente Bom Dia, com aberturas previstas para Lisboa e Porto nos próximos anos, segundo informações prestadas em outubro à CMVM. O primeiro espaço abriu em abril de 2019.
O Pingo Doce & Go é o nome das lojas de conveniência da cadeia do grupo Jerónimo Martins, que no último ano cresceu em quatro unidades.
Consumidores dispostos a pagar mais por soluções de conveniência
“Procurando um maior equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, os consumidores mostram-se disponíveis para pagar mais por produtos ou serviços que facilitem o seu dia-a-dia e lhes devolvam tempo disponível para as atividades de lazer. Esta é uma enorme oportunidade para categorias como refeições prontas, take away e produtos congelados, entre outras, assim como para todas as inovações que satisfaçam esta nova necessidade”, observa a responsável da Nielsen, Ana Paula Barbosa.
Em contrapartida, caso o contexto económico e a confiança dos consumidores se mantiverem “favoráveis ao consumo fora de casa e à entrega de refeições”, será de esperar uma “estagnação dos produtos básicos, que servem essencialmente para a preparação das refeições em casa”.
Consumo de refeições na loja ganham peso
A opinião é unânime entre o setor. As refeições estão a ganhar “cada vez mais importância” no retalho, sejam para levar para casa ou “até para consumo na loja”, destaca Ana Paula Barbosa.
Esta tendência foi detetada “em 2018” pela Mercadona, que desde então tem vindo a apostar em espaços onde os consumidores podem desfrutar, na própria loja, dos 35 pratos que os seus supermercados oferecem. “A nova secção Pronto a Comer é uma tendência do setor à qual a Mercadona dedicou muito esforço para poder dar resposta, não só no que diz respeito à qualidade dos produtos, mas também à eficiência dos serviços. Em Portugal, todas as nossas lojas abriram já com esta nova secção e, em Espanha, está já implementada em mais de 300 lojas. Continuaremos [a integrar estes espaços] até que esteja presente em toda a cadeia”, desvenda Inês Santos, diretora de relações externas para o centro e sul de Portugal da retalhista espanhola, ao Hipersuper.
Seguindo a mesma tendência, a Mercadona tem vindo a ampliar, além da secção Pronto a Comer, a sua linha de Pratos Preparados, que engloba já mais de 200 referências, entre produtos secos, refrigerados e congelados.
Para o Pingo Doce, esta é também uma das áreas a reforçar em 2020. “Ainda que não se possa generalizar, há uma tendência evidente: grande parte dos consumidores tem cada vez menos tempo e disponibilidade para preparar refeições. Por esse motivo, as propostas de refeições prontas têm vindo – e vão continuar – a ganhar espaço nos nossos supermercados”, garante fonte oficial da cadeia de supermercados da Jerónimo Martins, ao Hipersuper.
A cadeia corrobora que “a conveniência é um aspecto cada vez mais valorizado no mercado”, motivo pelo qual este ano veremos o Pingo Doce a “apostar no take away e em outras soluções que facilitem o dia-a-dia dos consumidores, respondendo à evolução das suas expectativas e preferências”, salienta a fonte da cadeia que no último ano abriu o primeiro supermercado sem caixas de saída no País, sob o conceito Pingo Doce & Go.
Sem previsão para expandir este formato automatizado, a retalhista destaca que este se trata apenas de uma “loja laboratório” para testar e analisar novas tendências de consumo e soluções inovadoras ao nível da tecnologia. “Daqui poderão vir a ser replicados processos, tecnologias ou sortido noutras lojas”, explica a mesma fonte, assegurando que “os clientes têm apreciado muito a conveniência e a rapidez de compras”.
Quanto ao sortido para aquele espaço, estão disponíveis “muitas soluções de refeições para take away, como sopas, sushi, massas, saladas, refeições unidoses, churrascaria e comida quente. Uma oferta que tem sido muito apreciada”, observa. Em 2020, o Pingo Doce pretende “continuar este trabalho de testar e analisar tendências de consumo”, através desta “loja laboratório”.
Nesta lógica de conveniência, “é importante destacar a expansão que os serviços de entrega de refeições tiveram em 2019. Tendência essa que se prevê que se mantenha em 2020, o que traz um novo paradigma para a compra no retalho tradicional”, considera também Marta Santos, manufacturers sector director da Kantar.
Oferta mais premium
No panorama geral do comportamento do consumidor, a responsável resume a uma só palavra tudo o que este privilegia este ano em termos de oferta: mais. “Mais inovadora, mais sustentável, mais saudável, mais conveniente e mais acessível”, sustenta Marta Costa. “Estaremos estes ano perante uma combinação com o prazer que os consumidores retiram dos produtos considerados mais saudáveis e do quão conveniente são, já que a falta de tempo continuará a ser uma condicionante do consumidor”, destaca a responsável da Kantar.
Não é novidade que os produtos mais saudáveis, como os biológicos, orgânicos e à base de vegetais, são uma cada vez maior imposição para o retalho, comandando a inovação que chega ao mercado, quer através de marcas de fabricantes quer pela produção das próprias distribuidoras. Neste sentido, adicionar apenas produtos saudáveis às linhas de produtos já não chega para conseguir visibilidade junto do consumidor. Estes produtos tendem a ganhar uma segunda dimensão, diferenciando-se através do valor acrescentado que aportam ao cliente.
Uma análise realizada pela consultora Nielsen esclarece que cerca um terço dos consumidores assumem estar “altamente dispostos” a pagar mais por produtos naturais, orgânicos e sustentáveis. A proporção sobe para os 90% quando questionados se pretendem pagar mais por produtos que lhes tragam algum tipo de valor acrescentado e benefício, seja isso uma maior qualidade (62%), a função ou performance superior (53%), o serviço prestado ao cliente (50%) e o facto de oferecer algo único e diferenciador (43%).
“Com efeito, a grande maioria dos consumidores nacionais afirma que estaria disposto a pagar um preço premium por produtos com estas características”, explica Ana Paula Barbosa, retailer vertical director da Nielsen. No que diz respeito às categorias de produto mais valorizadas, “os portugueses atribuem também uma importância significativa a produtos frescos de qualidade, como carne, peixe e marisco”.
Desta forma, para as marcas, “o desafio neste momento centra-se em entregar uma oferta para uma disponibilidade acrescida para gastar, mas que apresente uma mais-valia que seja percetível para os consumidores, que responda às suas necessidades e anseios e se enquadre em preocupações e estilos de vida em transformação”.
Disponibilidade de compra depende da confiança do consumidor
A disponibilidade do consumidor para gastar mais está dependente de um sentimento de confiança, que tem exaltado nos últimos anos. Mas podemos esperar este ano que o mesmo se mantenha?
Para Marta Santos “é expectável que o entusiasmo sentido em 2019, abrande em 2020”. A responsável da Kantar lembra que o “aumento da confiança do consumidor é muito facilmente acompanhado também pela retoma da taxa de natalidade, que aconteceu, ainda que de forma ligeira, em 2019. No entanto, é importante considerar que Portugal é um país envelhecido, com uma população total a diminuir de ano para ano e com uma dimensão familiar cada vez mais reduzida”.
Também Carlos Cotos, country manager da Kantar Portugal, alerta para “fatores macroeconómicos” – “grey swans” – que “convidam à prudência e à contenção, na medida em que uma recessão europeia se aproxima. Os portugueses terão razões de sobra para conter as despesas”, conjetura.
Neste sentido, as marcas próprias podem ganhar mais destaque, pesando o fator preço. E tendo por base as tendências de inovação, associadas ao “premium e ao saudável”, em termos de inovação, Carlos Cotos aponta para uma “emergência da marca própria” que será visível em 2020, suportada pelas cadeias de “hard discounters”. Para o country manager, este formato de distribuição estará este ano “a crescer mais”, conjetura. “Veremos todos os retalhistas a concorrer com as mesmas armas, o que gerará tensão nas marcas líderes e no crescimento em valor”.
Marca própria ganha expressão
Prova desta dinâmica é a expansão da discounter alemã Aldi, que em 2020 irá aumentar a frequência de aberturas em Portugal, sobretudo na zona norte do País. A cadeia, cuja grande maioria dos produtos são de marcas próprias ou exclusivas, leva a cabo um plano para triplicar o seu parque de lojas em Portugal, num “prazo inferior a cinco anos”. Entre as prioridades da cadeia está também a disponibilização de “uma vasta oferta de produtos diferenciadores, biológicos e veganos”, destaca fonte do Aldi, em declarações ao Hipersuper.
O ajuste da marca própria em termos de preço tem sido, aliás, um dos desafios da Mercadona em Portugal. “Quando iniciámos o processo de internacionalização em Portugal, em 2016, apercebemo-nos rapidamente do quão elevado é o consumo de produtos em promoção. Esta foi uma das principais características diferenciadoras que sobressaíram de imediato”, salienta Inês Santos, diretora de relações externas para o centro e sul de Portugal.
Em termos de investimentos na marca própria, ainda no final de 2019, O Intermarché deu provas de que esta é uma área prioritária em 2020. Num investimento de seis milhões de euros, a cadeia lançou a marca PorSi, com mil referências. “Acreditamos que esta marca seja capaz de entrar em casa dos consumidores. Será uma grande aposta em 2020. Através das nossas marcas e do nosso modelo de negócio, que conta com o apoio de uma forte central de compras, conseguimos oferecer ao cliente que visita as nossas lojas um melhor binómio preço-qualidade”, explica Martinho Lopes, administrador do Intermarché, ao Hipersuper.
Serviços associados ao online irão crescer
Além da aposta nos produtos de marca própria, a cadeia alimentar do grupo Os Mosqueteiros irá priorizar este ano “a expansão da loja online”, refletindo “exatamente as tendências a este nível, dentro da grande distribuição”, explica o
administrador. “A maioria das nossas lojas estão afastadas dos grandes centros urbanos. Fomos, aliás, a primeira insígnia a instalar-se no interior do País inaugurando o conceito de loja de proximidade. No entanto é de referir que a nossa plataforma de e-commerce e o nosso serviço drive – entrega das encomendas num espaço específico em que o cliente não necessita de sair do veículo – têm elevadas taxas de utilização e por isso vamos continuar a apostar nestes serviços”, assegura o responsável.
Fora do retalho alimentar, a Ikea segue a mesma tendência, estando a apostar em serviços de entrega e recolha em áreas afastadas das suas lojas. A retalhista de mobiliário criou parcerias com entidades externas como a Easy To Go, a Hertz e a Zaask” se tem como objetivo criar, até ao final de 2020 14 locais de recolha, operados por parceiros e onde os clientes possam levantar as suas compras online.
“Para além disso, durante este ano, procuraremos continuar o investimento na oferta de soluções e produtos inteligentes, de baixo custo e que ajudem a maioria das pessoas a poupar mais e melhor nas suas casas. Estas novidades têm como base as tendências que estão a mudar as nossas vidas em casa: a digitalização, a urbanização e a sustentabilidade”, destaca fonte oficial do Ikea.
Empresas continuam aposta na sustentabilidade
Atravessando todos os setores do retalho, a sustentabilidade tem sido também um dos principais “drivers” de inovação. Nas lojas, assistimos a uma otimização do consumo energético. Nos produtos há um maior cuidado com o ecodesign das embalagens, que tem um importante impacto na imagem das marcas. A tendência passa cada vez mais pela utilização do “cartão canelado”, enquanto “matéria-prima com uma maior taxa de reciclagem do que qualquer outro material de embalagem”, explica Joana Gonçalves, marketing manager da DS Smith Portugal. “O packaging permite às empresas destacarem-se num mundo onde a escolha se revela infinita e tornou-se também numa importante ferramenta de marketing, pois é muitas vezes o primeiro contacto do consumidor com as marcas”, salienta.
O cartão tem sido, aliás, o grande substituto do plástico, no que diz respeito às alternativas para os sacos de transporte de compras em supermercados. Neste sentido, 2020 arrancou com Lidl a anunciar a eliminação dos sacos de plástico de todas as suas lojas. Já o Continente foi a primeira cadeia a apresentar, ainda em dezembro, a primeira praça de frescos sem sacos de plástico, um conceito que pretende estender a outras lojas durantes este ano.
Profissionalização do recrutamento continuará a ser uma tendência no retalho
As tendências, na área do recrutamento, continuarão a ser baseadas na profissionalização do retalho. “Contudo, com base nos processos desenvolvidos ao longo de 2019 e com o próprio dinamismo do mercado, podemos assumir que em 2020 a procurar irá incidir em funções mais especializadas e com uma grande orientação de cliente”, destaca Margarida Monteiro, consultora Michael Page Retail.
O que explica este fenómeno? A entrada de grandes players em setores como o luxo e a alimentação. “No primeiro poderemos assistir a uma grande procura de perfis de loja, desde o vendedor até ao gerente de loja com um grande foco no cliente, assim como o desenvolvimento de competências linguísticas como o inglês”, adianta a responsável. Já no retalho alimentar, a procura incidirá sobre várias funções essenciais para as operações. “A procura poderá também incidir em funções de gestão de várias lojas, como area sales management. Contudo o grande foco será nas funções corporativas, nomeadamente, na área de compras, gestão de categoria, design e gestão de mercados externos”, indica Margarida Monteiro.
A responsável diz, por fim, que existirá uma maior valorização dos soft skills. OS exemplos dados são a “capacidade de trabalhar em equipa, a comunicação interpessoal e a orientação para o cliente”. “Competências como pensamento crítico e resolução de conflitos também são valorizados num setor onde o dinamismo é recorrente”, conclui a responsável da Michael Page.
*Com FP
Voz e dados para operações de loja
“Ainda que as encomendas por voz estejam numa fase muito inicial, a ascensão dos assistentes de voz demonstra ter as suas mais-valias em outras áreas do retalho. A utilização de tecnologia de voz continua a conquistar popularidade no apoio aos consumidores ao melhorar a eficiência nos processos de encomenda e envio e pode também ser implementada internamente pelos retalhistas para simplificar processos e operações”. Esta é uma das principais tendência para 2020 referidas por Sy Fahimi, vice-presidente sénior de estratégia de produtos da Symphony RetailAI e citadas pela APED.
Além da voz, os dados ganham cada vez mais importância para otimizar as operações de loja, dando força a ferramentas de machine learning, por exemplo. “Alimentar com dados o que hoje em dia se passa numa loja, que são hoje quase todas em regime de self service, é determinante para o futuro das lojas”, considera Paulo Magalhães, CEO da portuguesa Tlantic, em declarações ao Hipersuper. “Muitas vezes os retalhistas nem sabem quantas pessoas estiveram na loja sem comprar nada, porque não compraram, se não encontraram o que queriam ou se foi por outra razão”.
Neste sentido, os dados são um “elemento chave” para detetar tendências do consumidor, melhorar a proposta de valor e otimizar os processos de lojas. Os retalhistas que “não ouvirem os dados vão ficar para trás”, conclui.