Sérgio Duarte, CEO da Domus Capital
Cerveja Quinas atrai segundo acionista internacional
O mercado português não é prioritário para a Quinas, mas já capta 20% da produção
Ana Catarina Monteiro
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É uma cerveja “portuguesa, com certeza”, como indica o slogan, mas a nova marca de cerveja Quinas pode ser mais facilmente encontrada à venda noutros países. Depois de apresentada pela primeira vez ao público em fevereiro de 2018, durante o Salão Internacional do Setor Alimentar e Bebidas (SISAB), a nova marca de cerveja partiu à conquista dos mercados externos, munida das cores, símbolos e paladares que representam Portugal.
Num mercado (português) dominado pelo duopólio criado pela Sagres e Super Bock e no qual 70% da cerveja produzida destina-se ao consumo interno, a Quinas voltou-se para as comunidades portuguesas no estrangeiro. Começou por ser comercializada em França, em agosto do último ano, e desde aí tem expandido a uma média de dois novos contratos por mês para entrar em diferentes países.
As várias referências que já compõem o portefólio da Quinas, desde as garrafas e latas de vários tamanhos às variedades artesanais, passando pelo formato de pressão, estão neste momento à venda em 17 mercados internacionais, desde os Estados Unidos à China, passando por Alemanha, México e São Tomé e Príncipe. A estratégia tem passado por firmar acordos com distribuidores locais, para o canal off trade, beneficiando do conhecimento acumulado durante os dez anos de experiência em exportação de marcas portuguesas que a casa-mãe da Quinas carrega. 2019 vai acabar com 24 países alcançados pela marca, dado os contratos prestes a serem selados. Entre os novos destinos estão Vietname, Reino Unido ou o Brasil.
Um espaço deixado pelos principais players
“Detetámos uma oportunidade que não existiu durante muitos anos, resultante da forma de como as mais importantes cervejas portuguesas estão no mercado e do crescente reconhecimento das marcas portuguesas lá fora”, explica ao Hipersuper Sérgio Duarte, admistrador da Domus Capital, a empresa de Alfena (Valongo) que criou a Quinas.
O responsável fala do facto de o grupo holandês Heineken deter neste momento 100% da Sociedade Central de Cervejas, dona da Sagres, e do dinamarquês Carlsberg, por sua vez, estar a ganhar cada vez mais espaço na estrutura acionista do Super Bock Group, antiga Unicer. Sérgio Duarte, fundador da Domus Capital, em 2009, e que anteriormente já trabalhava no ramo do comércio internacional, observou uma tendência para estes grupos privilegiarem cada vez mais a expansão das suas principais marcas em detrimento das cervejas lusas.
Ao mesmo tempo, com a marca Portugal a ganhar mais reconhecimento no exterior, verificou um aumento da procura por cervejas portuguesas em vários mercados. “Um espaço que decidimos preencher, já que não existiam muitas opções”, ressalva.
Fruto da sua estratégia de comunicação, os portugueses a viver no estrangeiro têm-se revelado “os principais embaixadores” daquela que quer ser “a cerveja portuguesa com maior representação internacional”, visando chegar a 150 mercados.
Novos acionistas captam 35% do capital
São, aliás, portugueses os donos das empresas estrangeiras que a Quinas já conseguiu atrair para a sua estrutura acionista. Em julho deste ano, a Société d’Investissements Cabral, distribuidora da Quinas no Canadá onde foi fundada pelo empresário português Emanuel A. Cabral, adquiriu por 1,5 milhões de euros uma participação de 15% na Domus Capital, a empresa de Alfena que criou a Quinas.
No processo de negociação com a empresa canadense, que Sérgio Duarte aponta como “maior importadora de vinhos do Porto”e cujas receitas anuais rondam os “25 milhões de euros”, a Quinas foi avaliada pela consultora internacional Crowe por 2,7 milhões de euros.
Agora há um novo acionista na calha, prestes a adquirir 20% da Domus Capital. Para o administrador, a aquisição é certa, mas escusa-se a avançar mais pormenores, revelando apenas que é “uma outra empresa estrangeira liderada por um português”.
Com a entrada do novo acionista, Sérgio Duarte e Augusto Pinto, os fundadores da marca e líderes da Domus Capital, continuam a deter a maior fatia do negócio da Quinas, embora passem dos 75% para os 55% do capital, onde está também presente a Armindo Sousa, empresa especializada em equipamentos de refrigeração, com 5% da Domus Capital.
Até à criação do negócio de cerveja, a Domus Capital detinha 37 marcas de vários setores, como azeite, turismo ou bebidas, as quais foram distribuídas por um total de oito empresas. Entre elas estão por exemplo a Portuguese Drinks, que alberga as marcas de bebidas espirituosas, e a Domus Fundo, que assume o negócio de café e água. A Quinas é de todas “a marca com maior faturação” e única detida diretamente pela holding Domus Capital.
Negócio de cinco milhões para China
A faturação da Quinas deve chegar este ano aos 1,2 milhões de euros – durante os quatro meses de comercialização, em 2018, atingiu os 400 mil euros em vendas -, e nos próximos pode “triplicar”, depois da entrada dos novos investidores no seu capital e do necessário aumento do volume de produção, que agora se encontra nos dois milhões de litros anuais. Isto porque apenas para a China – um dos últimos mercados onde a marca entrou, a empresa tem em cima da mesa um acordo de cinco milhões de euros para aumentar as vendas durante o próximo ano.
No gigante asiático, país onde o consumo de cerveja mais cresce, a nível mundial, a marca tem o apoio estratégico do empresário Tim Vieira, investidor conhecido pela participação no programa Shark Tank, da SIC, que tem cedido os seus contactos à Quinas.
Os primeiros volumes enviados para o mercado chinês serviram de teste, sendo que a empresa está agora a adaptar sabores e rótulos para um consumidor distinto do ocidental. A imagem criada poderá servir depois para os restantes países asiáticos.
Entrada em 80% das gasolineiras
O mercado português não é prioritário para a Quinas, mas já capta 20% da produção. Comparando com França, onde se encontra atualmente à venda em 600 supermercados, de insígnias como Auchan, Intermarché ou Leclerc, em Portugal a expressão da marca incide sobretudo no canal horeca. O administrador estima a penetração da Quinas em cerca de 200 estabelecimentos de restauração no país, concentrados sobretudo nas regiões acima de Trás-os-Montes, no norte do país, e do Algarve. No retalho, é possível encontrá-la à venda nos armazéns El Corte Inglés e também nos espaços Auchan e Leclerc.
Uma pegada que está prestes a crescer pela mão de uma empresa de distribuição em bombas de gasolina, que está neste momento a introduzir a cerveja em gasolineiras como “Prio e Cepsa”. No total, chegará a perto de “80% dos espaços das gasolineiras, a nível nacional”.
Investimento inicial de 500 mil euros
A Quinas não tem produção própria, pelo que o investimento inicial para se lançar ao mercado foi de 500 mil euros, aplicado no design, estratégia de comunicação, desenvolvimento da fórmula e produção das primeiras 500 garrafas que saíram para o mercado.
A fábrica de Santarém da empresa espanhola Font Salem, produtora em regime de outsourcing também envolvida na produção das primeiras duas marcas de cerveja da retalhista Mercadona para o mercado português, foi a aliada escolhida para desenvolver o sabor desta nova cerveja, depois de ouvidas as críticas do mercado. O administrador diz que tentaram criar para a Quinas um sabor “nem tão forte quanto o da Super Bock nem tão suave como o da Sagres”, como as caracterizavam os consumidores nacionais.
À versão original, que pode ser vendida em formatos que vão desde latas a garrafas de 20, 33 centilitros e de um litro, passando pelos sistemas de pressão ou barril, a Domus Capital tem vindo a juntar variedades artesanais. Ao contrário do grosso da produção, estas variedades saem de microcervejeiras.
Investimento em microcervejeiras
A este ponto, Sérgio Duarte revela que a sua empresa tem também capital investido em algumas pequenas produtoras, no entanto, não revela nomes e valores. Acentua apenas que “situam-se na zona de Aveiro”.
Até ao momento são sete as cervejas artesanais que compõem a gama permanente da Quinas, com nomes como Tripeira, Conquistadora, Pérola, Briosa ou Guerreira. Cada uma destas, alude a uma diferente cidade ou região do país e foram concebidas para harmonizar os respetivos pratos tradicionais. A Guerreira, por exemplo, é uma homenagem à cidade de Braga. “O objetivo é chegar às 20 ou 25 cervejas artesanais em homenagem a diferentes cidades portuguesas”, prevê Sérgio Duarte.
Além destas, a empresa conta ainda com edições limitadas que guarda para ocasiões sazonais, como o Dia da Mulher ou dos Namorados, por exemplo, estando neste momento a produzir a edição especial de cerveja de champagne Magno, que brevemente será apresentada ao mercado num formato de garrafa de três litros. Outras novas variedades chegarão ao mercado “em fevereiro de 2020”. Toda esta aposta na diversificação do portefólio da Quinas carimbou a recente entronização de Sérgio Duarte como membro da Confraria da Cerveja.
Favaíto alia-se à Quinas
O administrador espera que a expansão da Quinas proporcione um “efeito epidémico”, quer para as restantes marcas do grupo quer para as exportações portuguesas em geral.
Exemplo disso é a mais recente aliada da Quinas, a Favaios que se aliou à marca de cerveja para se promover nos mercados estrangeiros. Inicialmente, chegará a “França e África do Sul” um pack de seis cervejas Quinas e seis garrafas de Favaíto, remetendo para o hábito de juntar as duas bebidas que se assiste nos cafés portugueses.
* Texto originalmente publicado na edição de outubro do Hipersuper