Vinhos em 2017: Restauração está pela primeira vez mais dinâmica que retalho
As vendas de vinho no canal Horeca representavam, em 2001, 33% do total do mercado nacional. Fatia que tem vindo a reduzir, ano após ano, para hoje se fixar nos 18%. Em 2017, um consumidor mais confiante e a redução do preço médio das garrafas na restauração levaram à inversão da dinâmica. No que diz respeito ao retalho, as feiras de vinhos levadas a cabo pelas cadeias estão a ganhar um maior peso nas vendas anuais
Ana Catarina Monteiro
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As vendas de vinho no canal Horeca representavam, em 2001, 33% do total do mercado nacional. Fatia que tem vindo a reduzir, ano após ano, para hoje se fixar nos 18%. Em 2017, um consumidor mais confiante e a redução do preço médio das garrafas na restauração levaram à inversão da dinâmica. No que diz respeito ao retalho, as feiras de vinhos levadas a cabo pelas cadeias estão a ganhar um maior peso nas vendas anuais*
O consumo de vinhos em Portugal está a crescer no canal On Trade (canal Horeca) a um ritmo superior ao do canal alimentar (Off Trade). O volume de vendas associado às lojas subiu 4% para os 168 milhões de litros, enquanto o consumo fora de casa regista um aumento de 8% para os 60 milhões de litros, vendidos no ano móvel findo a 5 de novembro de 2017, face ao período homólogo anterior.
“Pela primeira vez desde que temos registo [2001] as vendas na restauração estão a crescer acima das da distribuição”, explica Manuel Carvalho Martins, New Business Development Manager da Nielsen, numa apresentação, aos jornalistas, dos resultados do setor vinícola nacional em 2017.
Não obstante 52,2% das vendas de vinho no País se realizarem ainda em supermercados, os restaurantes são o canal mais dinâmico, apresentando, isoladamente, um crescimento de 12% das vendas de vinho em garrafa. O que estica a quota de mercado da restauração para os 5,7% do total de vendas.
Desta forma, o canal Horeca (Hotéis, restaurantes e cafés), que em 2001 representava 33% das vendas de vinho em Portugal e hoje absorve 18%, dá sinais de um regresso aos bons resultados, impulsionados pela melhor conjuntura económica do País e maior confiança dos portugueses.
Os “consumidores perdem cada vez menos tempo nas compras e procuram mais conveniência”, ao que os restaurantes lusos respondem com a nova oferta de “vinho a copo”, a qual está “a alavancar o crescimento das vendas nestes espaços”, nota o responsável. Destaca-se o crescimento de 25% do volume de vendas do vinho em barril (horeca), nos 12 meses até novembro, atingindo uma quota de 8%.
Preço médio cai na restauração
O maior crescimento das vendas “On Trade” face às da distribuição está também associado a um decréscimo do preço médio dos vinhos. O custo das garrafas de vinho, formato que representa a maior fatia das vendas totais no País (com uma quota de mercado de 42,5%), fixou-se no ano transato nos 8,51 euros (8,68 em 2016), enquanto na distribuição subiu para os 3,33 euros por unidade vendida (3,22 em 2016).
O segundo formato de embalagem mais vendido – “Bag in Box” -, com uma quota de 39,6% no total do mercado, apresenta por sua vez uma queda do preço médio para os 4,13 euros (4,22 em 2017) no universo Horeca. Na distribuição, canal onde este formato representa “um terço das vendas”, o valor subiu para 1,20 euro (1,19 em 2019).
Ambos os segmentos (garrafa e Bag in Box) cresceram no período em análise a uma taxa de 5% face ao período homólogo, no total do mercado. O garrafão, por sua vez, “está a cair”, ostentando a atual quota de 3,5%.
Por regiões, os vinhos do Tejo (+ 48%), Douro (+24%) e Minho (+10%) lideram o aumento de vendas em garrafa na restauração. No retalho, por outro lado, são os vinhos de Lisboa (+26%), Península de Setúbal (+18%) e também o Douro (+15%) que lideram o crescimento. Ainda assim, o Alentejo continua a ser a região mais vendida, em ambos os canais, detendo uma quota de 30,3% na restauração (+6%) e de 35,7% (-5% face ao período homólogo) no canal alimentar, como ditam os resultados alcançados até novembro.
Feiras de vinhos no retalho ganham importância
A Nielsen nota que em 2017 as feiras de vinhos realizadas pela distribuição (nomeadamente Continente, Pingo Doce, Auchan, Intermarché e El Corte Inglés) ganharam importância no total de vendas do retalho alimentar, sobretudo no que diz respeito às vendas de produtos de denominação de origem protegida. No período em que realizam estes eventos (aquelas insígnias têm realizado as feiras de vinhos entre os meses de setembro e novembro), as vendas aumentaram 8%, em volume, e 14%, em valor, face a 2016. Estes eventos representam 17% do total das vendas de vinho no retalho até novembro.
As regiões que apresentaram maior dinamismo em volume no período das feiras são o Dão (+25%) e o Douro (+22%). Apesar de apresentar um ligeiro decréscimo (-1%) em quantidade, o Alentejo cresce 8% em faturação.
“As feiras de vinhos de 2017 confirmam a boa performance do mercado, com vendas bastante superiores e crescimentos ainda maiores em faturação, comparativamente com 2016. Também o verão deste ano foi muito positivo para os vinhos, assim como para todo o setor de bebidas, com vendas acima de 2016”, frisa Manuel Carvalho Martins.
Meta dos €1000 milhões em exportação à vista
Enquanto as promoções de bens de grande consumo “estabilizaram” fixando-se em 45% do volume de negócio no ano móvel terminado em novembro, o setor dos vinhos aumentou as vendas com promoção para os 54%. No entanto, “mesmo com promoções, os vinhos estão a crescer em preço médio, devido a inovações como edições ‘premium’ ou formatos mais pequenos”, dá conta o responsável.
No que diz respeito às marcas da distribuição, apesar de aumentarem a quota no total de bens de grande consumo para os 32,9% até novembro de 2017 (32,4% em 2016), no mercado de vinhos estas mantêm a perda de vendas, tendo caído 0,1 ponto percentual em quota de mercado para uma fatia de 5% do valor e 7% da quantidade de vendas.
No seu conjunto (Horeca + retalho), as vendas de vinho no País registam um aumento de 5% para os 228 milhões de litros vendidos no ano móvel encerrado a 5 de novembro passado. O consumo interno absorve 62% da produção vinícola nacional, considerando que apenas 1% do vinho vendido no País é importado. A comercialização além-fronteiras “deve atingir brevemente” os mil milhões de euros, estima o especialista da Nielsen.
*Texto originalmente publicado na edição impressa de janeiro do jornal HIPERSUPER